foto: Patricia Bueno
Em 1977 ele me colocou com intérprete do Arauto no Auto da
Fundação da Villa de São Salvador, que foi encenada nas escadarias do Ginásio
de Esportes da então Escola Técnica Federal de Campos. Eu estava ainda
engatinhando nos palcos campistas. Tinha acabado de interpretar Fando, da peça Fando e Lis de Fernando Arrabal, com
Direção de Orávio de Campos Soares, no Teatro do SESC-Campos. Me deu um tremor, frio
na barriga, não tinha certeza que iria dar conta do recado, quase desisti, mas
ele me fez encarar o desafio. Ensaiávamos as vezes pela madrugada à fora, e
depois da encenação a certeza: de que o Palco, o Teatro tinha me raptado para a
vida inteira. Já nos anos 2014 a 2016, foi o meu grande parceiro na produção do Sarau Baião de Dois, que realizávamos no SINASEFE - em Campos dos Goytacazes-RJ
Winston
Churchill Rangel, nasci na Rua do Ouvidor em Campos quase em
frente à Força e Luz mas fui criado no Matadouro pelo meu avô Sebastião de
Oliveira Leitão, Tatão Leitão, que era administrador do matadouro
municipal. Sou filho de um vendedor de
seguros de vida, João Belarmino Rangel, e uma cartomante, Bernardina Leitão
Rangel, mais conhecida como Da. Galega.
Tive mais duas mães, Dalila Carvalho, anjo da guarda que se disfarçava
como avó, e Antônia Leitão, Tequinha, minha tia que não teve filho e a quem o
diabo, cumprindo o ditado, me deu pra sobrinho.
Artur
Gomes- Como se processa o seu estado de poesia?
Winston
Churchil - Pode ser por: compromisso profissional, publicações em
jornal, encomenda para comemorações de
datas históricas como os 300 anos da fundação de Campos dos Goytacazes que
resultou no Auto da Fundação da Villa de São Salvador.
Roteiros dos shows que faço com a banda Origami Amassado
onde uso muito poesia de cordel.
Também acontece por inspiração vinda do dia a dia, de cenas
de rua, de conversar ouvidas nos coletivos.
E quando estou apaixonado, arrastando asa pro lado de alguma
mulher, o que acontece com muita frequência e rende, se não o amor da musa,bons
versos.
Artur
Gomes - Seu poema preferido?
Um dos que mais gosto, pela boca de Nelson Calunga um
personagem do meu romance Do Grande
Medo, lV. II – O tentáculo.
Ainda sou capaz de, em sonhos,
pelechar meu galo
pra brigar na rinha,
manter pendengas
e nadar um rio?
Sim, ainda sou capaz!
e, delirando,
estumar meu cão
pra caçar preá,
fender bravatas com meu riso torto
e desgraçado?
Sim, ainda sou capaz!
e, me iludindo,
excitar mulheres,
minhas e alheias,
inundar seus ventres
e controlar seus gozos?
Sim, ainda sou capaz.
então, ainda sou capaz de mudar o
mundo
porque o mundo sempre é
o resultado de nossa louca fé
em nossa mais sagrada alucinação.
Artur
Gomes - Qual o seu poeta de cabeceira?
Winston
Churchil - Tenho xodó por Neruda, Vinícius e Camões, queria ter a
coragem deles quando se declaram.
Artur
Gomes - Em seu instante de criação existe alguma pedra de toque,
algo que o impulsione para escrever?
Winston
Churchil - Escrever não é para mim um ato físico agradável, então,
tomo banho, faço barba, arrumo a mesa, um monte de tarefas adiáveis, desejando
intimamente que apareça alguém ou bata o telefone pra me tirar da lida. Mas quando tem prazo pra entregar, danou-se.
Artur
Gomes- Livro que considera definitivo em sua obra?
Winston
Churchil - A característica maior da minha obra, eu acho que é a
subversão, sou definitivamente um subversivo, daí, não tenho heróis positivos,
não faço proselitismo, não tenho mensagem muito menos lição de moral. Meu negócio é falar uns troços que possam
tirar a certeza que o leitor tem sobre qualquer coisa, família, governo, credo.
Artur
Gomes - Além da poesia em verso, já exercitou ou exercita outra
forma de linguagem com poesia?
Winston
Churchil - Eu busco fazer literatura, até me iludo que faço, então,
qualquer que seja a forma, menos intensamente nos textos teatrais, a linguagem
é sempre poética.
Artur
Gomes - Qual poema escreveu quando teve uma pedra no meio do
caminho?
Winston Churchil - CANTO PERMANENTE
Todos os dias, quando acordo, eu
canto
Apenas por saber que vivo.
Isso é tudo e me acende a alegria
Pois dos passarinhos sou irmão,
Correndo em nosso sangue o mesmo sol.
Todos os dias, quando levanto, eu me
preparo
Para guerras e harmonias,
Para gritar ofensas e declarar amor,
O que me faz irmão dos homens
E par da humanidade.
Todas as noites,
Visito cidades e alguma gente revejo
Pois sou mais um iludido dedicado aos
sonhos.
E, por saber a preciosidade do meu
tempo,
Pulsa no peito a esperança
De cantar novamente
Amanhã pela manhã.
Artur
Gomes - Revisitando Quintana: você acha que depois dessa crise
virótica pandêmica, quem passará e quem passarinho.
Winston Churchil - Nós passaremos porque passarinhos.
Artur
Gomes - Escrevendo sobre o livro Pátria A(r)mada, o poeta e
jornalista Ademir Assunção, afirma que cada poeta tem a sua tribo, de onde ele
traz suas referências. Você de onde vem, qual é a sua tribo?
Wisnton
Churchil - Sou um campista típico do ciclo do gado, povo do boi,
falo alto, gosto de jogar em briga de galos, frequentador de circo de
cavalinhos e touradas, mulherengo, frequentador de zona, jogador de trunfo, contador
de causos, e não bebo mais cachaça porque, na minha cabeça eu ia acabar com
ela, então, fui expulso de campo.
Artur
Gomes - Nos dias atuais o que é ser um poeta, militante de poesia?
Winston
Churchil - Acho que é não gastar meu latim à toa, acender vela pra
defunto barato, porque a direita sempre procede como se fosse durar mil anos e
perde o poder com quatro ou cinco.
Artur
Gomes - Que pergunta não fiz que você gostaria de responder?
Wisnton
Churchil - Não perguntou se sou seu fã.
Sou! Pronto, disse.
Fulinaíma Multi Projetos
portalfulinaima@gmail.com
(22)99815-1268 - whatsapp
foto feita numa das edições do
Sarau Baião de Dois -
Tonico Baldan, Caxingulê, Churchil,
Jorge Mothé e Wellington Cordeiro
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