terça-feira, 21 de abril de 2020

Winston Churchil - EntreVista

foto: Patricia Bueno 

Em 1977 ele me colocou com intérprete do Arauto no Auto da Fundação da Villa de São Salvador, que foi encenada nas escadarias do Ginásio de Esportes da então Escola Técnica Federal de Campos. Eu estava ainda engatinhando nos palcos campistas. Tinha acabado de interpretar Fando, da peça Fando e Lis de Fernando Arrabal, com Direção de Orávio de Campos Soares, no Teatro do SESC-Campos. Me deu um tremor, frio na barriga, não tinha certeza que iria dar conta do recado, quase desisti, mas ele me fez encarar o desafio. Ensaiávamos as vezes pela madrugada à fora, e depois da encenação a certeza: de que o Palco, o Teatro tinha me raptado para a vida inteira. Já nos anos 2014 a 2016,  foi o meu grande parceiro na produção do Sarau Baião de Dois, que realizávamos no SINASEFE - em Campos dos Goytacazes-RJ

Winston Churchill Rangel, nasci na Rua do Ouvidor em Campos quase em frente à Força e Luz mas fui criado no Matadouro pelo meu avô Sebastião de Oliveira Leitão, Tatão Leitão, que era administrador do matadouro municipal.  Sou filho de um vendedor de seguros de vida, João Belarmino Rangel, e uma cartomante, Bernardina Leitão Rangel, mais conhecida como Da. Galega.  Tive mais duas mães, Dalila Carvalho, anjo da guarda que se disfarçava como avó, e Antônia Leitão, Tequinha, minha tia que não teve filho e a quem o diabo, cumprindo o ditado, me deu pra sobrinho.

Artur Gomes- Como se processa o seu estado de poesia?

Winston Churchil - Pode ser por: compromisso profissional, publicações em jornal,  encomenda para comemorações de datas históricas como os 300 anos da fundação de Campos dos Goytacazes que resultou no Auto da Fundação da Villa de São Salvador.
Roteiros dos shows que faço com a banda Origami Amassado onde uso muito poesia de cordel.
Também acontece por inspiração vinda do dia a dia, de cenas de rua, de conversar ouvidas nos coletivos.
E quando estou apaixonado, arrastando asa pro lado de alguma mulher, o que acontece com muita frequência e rende, se não o amor da musa,bons versos.

Artur Gomes - Seu poema preferido?
Um dos que mais gosto, pela boca de Nelson Calunga um personagem do meu romance Do Grande Medo, lV. II – O tentáculo.

Ainda sou capaz de, em sonhos,
pelechar meu galo
pra brigar na rinha,
manter pendengas
e nadar um rio?

Sim, ainda sou capaz!

e, delirando,
estumar meu cão
pra caçar preá, 
fender bravatas com meu riso torto
e desgraçado?

Sim, ainda sou capaz!

e, me iludindo,
excitar mulheres,
minhas e alheias,
inundar seus ventres
e controlar seus gozos?

Sim, ainda sou capaz.

então, ainda sou capaz de mudar o mundo
porque o mundo sempre é
o resultado de nossa louca fé
em nossa mais sagrada alucinação.

Artur Gomes - Qual o seu poeta de cabeceira?

Winston Churchil - Tenho xodó por Neruda, Vinícius e Camões, queria ter a coragem deles quando se declaram.

Artur Gomes - Em seu instante de criação existe alguma pedra de toque, algo que o impulsione para escrever?

Winston Churchil - Escrever não é para mim um ato físico agradável, então, tomo banho, faço barba, arrumo a mesa, um monte de tarefas adiáveis, desejando intimamente que apareça alguém ou bata o telefone pra me tirar da lida.  Mas quando tem prazo pra entregar, danou-se.

 Artur Gomes- Livro que considera definitivo em sua obra?

Winston Churchil - A característica maior da minha obra, eu acho que é a subversão, sou definitivamente um subversivo, daí, não tenho heróis positivos, não faço proselitismo, não tenho mensagem muito menos lição de moral.  Meu negócio é falar uns troços que possam tirar a certeza que o leitor tem sobre qualquer coisa, família, governo, credo.

Artur Gomes - Além da poesia em verso, já exercitou ou exercita outra forma de linguagem com poesia?

Winston Churchil - Eu busco fazer literatura, até me iludo que faço, então, qualquer que seja a forma, menos intensamente nos textos teatrais, a linguagem é sempre poética.

Artur Gomes - Qual poema escreveu quando teve uma pedra no meio do caminho?

Winston Churchil - CANTO PERMANENTE

Todos os dias, quando acordo, eu canto
Apenas por saber que vivo.
Isso é tudo e me acende a alegria
Pois dos passarinhos sou irmão,
Correndo em nosso sangue o mesmo sol.

Todos os dias, quando levanto, eu me preparo
Para guerras e harmonias,
Para gritar ofensas e declarar amor,
O que me faz irmão dos homens
E par da humanidade.

Todas as noites,
Visito cidades e alguma gente revejo
Pois sou mais um iludido dedicado aos sonhos.
E, por saber a preciosidade do meu tempo,
Pulsa no peito a esperança
De cantar novamente
Amanhã pela manhã.

Artur Gomes - Revisitando Quintana: você acha que depois dessa crise virótica pandêmica, quem passará e quem passarinho.

Winston Churchil - Nós passaremos porque passarinhos.

Artur Gomes - Escrevendo sobre o livro Pátria A(r)mada, o poeta e jornalista Ademir Assunção, afirma que cada poeta tem a sua tribo, de onde ele traz suas referências. Você de onde vem, qual é a sua tribo?

Wisnton Churchil - Sou um campista típico do ciclo do gado, povo do boi, falo alto, gosto de jogar em briga de galos, frequentador de circo de cavalinhos e touradas, mulherengo, frequentador de zona, jogador de trunfo, contador de causos, e não bebo mais cachaça porque, na minha cabeça eu ia acabar com ela, então, fui expulso de campo.

Artur Gomes - Nos dias atuais o que é ser um poeta, militante de poesia?

Winston Churchil - Acho que é não gastar meu latim à toa, acender vela pra defunto barato, porque a direita sempre procede como se fosse durar mil anos e perde o poder com quatro ou cinco.

Artur Gomes - Que pergunta não fiz que você gostaria de responder?

Wisnton Churchil - Não perguntou se sou seu fã.  
Sou! Pronto, disse.

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foto feita numa das edições do 
Sarau Baião de Dois - 
 Tonico Baldan, Caxingulê, Churchil, 
Jorge Mothé e Wellington Cordeiro 

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