com o multi artista - mímico poeta cineasta diretor de teatro
Jiddu Saldanha
Artur Gomes -
Jiddu vou condensar a entrevista em 3 perguntas básicas sobre a nossa
convivência e a sua trajetória nessas múltiplas linguagens.
Arutur Gomes - Quando
você chegou ao Rio de Janeiro em 1992, fomos apresentados por Samaral
que na época publicava o jornal de
poesia Urbana.
Antes de conhecer você com a sua mímica, cheguei a ler alguns textos teus publicado na revista Urbana. A primeira vez que te vi atuando como mímico foi em 1996 no Congresso Brasileiro de Poesia em Bento Gonçalves.
Mas lá você já se apresentava falando poesia.
Quando se deu e de que forma começou a acontecer o seu diálogo com essas duas linguagens?
Antes de conhecer você com a sua mímica, cheguei a ler alguns textos teus publicado na revista Urbana. A primeira vez que te vi atuando como mímico foi em 1996 no Congresso Brasileiro de Poesia em Bento Gonçalves.
Mas lá você já se apresentava falando poesia.
Quando se deu e de que forma começou a acontecer o seu diálogo com essas duas linguagens?
Jidduks -
Você tocou num assunto que me emociona, essa pergunta oferece uma radiografia e
um recorte de toda a minha vida até aqui. As coisas foram acontecendo. De forma
concatenada, nada era pensado ou calculado, mas eu tinha uma intuição de que eu
era muito mais um cara da literatura do que do teatro.
Em Curitiba, entre 1985 a 1992, eu bebi no grande Rio. Andava com Hélio Leites,
Kátia Horn e Carlos Careqa. Mas já no final dos anos 70 eu tinha topado várias
vezes com Leonardo Henke, Helena Kolody e Geraldo Magela. O Helio Leites e o
Marcelo Miguel tinham um coisa comigo, eles queriam me ver incluídos, pois eu
tinha uma forte timidez social.
Tive uma fase Leminski em por volta de 1987 e em 88 eu já fazia performance na
rua das flores, em Curitiba. Inclusive, fiquei sabendo da morte do Leminski
entre uma e outra apresentação. A gente também freqüentava o “Bar do Cardoso”,
que era um bar universitário criado por um grande poeta de lá. Logo quando me
tornei mímico carimbado na cidade, o Wilson Bueno cedeu várias colunas sobre
mim nos jornais e me entrevistou para um TV importante de lá. Eu cheguei ao Rio
de Janeiro depois de uma grande viagem pelo Brasil, que culminou no Amapá, na
cidade de Macapá. Foi uma viagem alavancada pelo Poeta Herbert Emanuel. Como
você pode ver, eu sempre fui guiado pelos braços da literatura. Eu ainda não me
sentia poeta, embora escrevesse, mas o Herbert realmente me contagiou, ele
tinha uma vida totalmente devotada e dedicada à literatura, à poesia em
especial e ele também me via com um poeta, aí senti o peso da responsabilidade.
Cheguei no Rio de Janeiro depois de tentar a vida em São Paulo, foi um alívio
para mim. Em plena conferência da Eco 1992, dei de cara com o exército nas ruas
do Rio de Janeiro. Blindados apontando para as favelas do Rio. Foi doideira.
Estava ensaiando uma peça com o decano da mímica no Brasil, Luis de lima, no IBAN, e fazia minhas performances no largo da carioca, Cinelândia, orla de Copacabana, Ipanema e Leblon. Algumas vezes ia, também, para o calçadão de Madureira, onde dava para tirar ótimas “chapeladas”.
Um dia, estava passeando no parque do catete, quando deparei com o Paco Cac levando a Pilar, ainda bebê, para tomar sol.
Estava ensaiando uma peça com o decano da mímica no Brasil, Luis de lima, no IBAN, e fazia minhas performances no largo da carioca, Cinelândia, orla de Copacabana, Ipanema e Leblon. Algumas vezes ia, também, para o calçadão de Madureira, onde dava para tirar ótimas “chapeladas”.
Um dia, estava passeando no parque do catete, quando deparei com o Paco Cac levando a Pilar, ainda bebê, para tomar sol.
Paco Cac- arte digital: Ademir Antonio Bacca
Conheci o Paco na cidade de Nova Prata – RS, no segundo encontro de poesia
produzido pelo Ademir Bacca. O Paco me deu a ficha do Samaral, me contou que era
um cara “fodástico”, que tinha um jornal. Era um agitador cultural.. O Samaral
precisava pagar os custos do jornal URBANA. Se eu entrasse no racha, talvez ele
me oferecesse para morar na casa dele, que tinha dois quartos, cozinha, sala,
banheiro e ele morava sozinho. Ele topou a permuta e devido à forte empatia que
tivemos, passei também, a trabalhar no jornal.
No Urbana eu fazia de tudo: Era boi, colava cartaz de divulgação dos lançamentos, ia na tribuna da imprensa buscar a impressão e ia buscar “Letra de computador” no apartamento do João de Abreu Borges, na Tijuca.
Quando o lançamento acontecia eu virava “pinto no lixo”, encontrava a fina-flor da poesia carioca, na verdade da Cultura Carioca: Salgado Maranhão, Kzé Magalhães, Brasil Barreto, Márcia X, Maria Helena Elle (Lattini), Beatriz Chacon, Jujú Campbel Penna, Lúcia Nobre, Dirval, Sady Bianchin, o cineasta Sylivio Bach, Elle Semog, Geraldo Periassú, Elisa Lucinda, Helena Ortiz, Rita Lacerda, Wladimir Dias Pino, Regina Pouchaim. A galera do Desmaio Público, o Carlos Manthra, Tanussi Cardoso, João Carlos Luz, Artur Gomes (você) e tantos outros dos quais não estou lembrando agora.
No Urbana eu fazia de tudo: Era boi, colava cartaz de divulgação dos lançamentos, ia na tribuna da imprensa buscar a impressão e ia buscar “Letra de computador” no apartamento do João de Abreu Borges, na Tijuca.
Quando o lançamento acontecia eu virava “pinto no lixo”, encontrava a fina-flor da poesia carioca, na verdade da Cultura Carioca: Salgado Maranhão, Kzé Magalhães, Brasil Barreto, Márcia X, Maria Helena Elle (Lattini), Beatriz Chacon, Jujú Campbel Penna, Lúcia Nobre, Dirval, Sady Bianchin, o cineasta Sylivio Bach, Elle Semog, Geraldo Periassú, Elisa Lucinda, Helena Ortiz, Rita Lacerda, Wladimir Dias Pino, Regina Pouchaim. A galera do Desmaio Público, o Carlos Manthra, Tanussi Cardoso, João Carlos Luz, Artur Gomes (você) e tantos outros dos quais não estou lembrando agora.
Tanussi Cardoso poeta homenageado
no XXIII Congresso Brasileiro de Poesia - 2015
Quase 20 anos depois, num bate papo com o artista plástico Jorge Cerqueira, já
em Cabo Frio, ele me disse “Jiddu, você bebeu do grande rio”. Acho que foi isso
mesmo, eu bebi do grande rio em pleno Rio!
Artur Gomes -- A partir de 1996, nossa convivência, se
estreitou no Rio, devido a proximidade do seu endereço na Rua Soares Cabral, e
o endereço de Filipe e Flora (meus filhos), na Rua das Laranjeiras. Nunca me
esqueço das hilárias panelas de macarrão ao alho e óleo preparadas por você.
Bem, no início dos anos 2000 você se envereda também com produção cultural, realizando no Centro Cultural da Carioca, o
inesquecível evento 4ª Capa. A mímica e a poesia, já não te bastava completamente, para você se embrenhar
nessa nova empreitada?
Arte Digital: Ademir Antonio Bacca
Jiddu Saldanha – Eu tinha uma relação de amor e ódio com a mímica. Não sei porque, mas alguma coisa não acontecia. Eu me sentia rejeitado pela classe teatral carioca. Não tinha uma agenda legal de trabalho, percebia que as pessoas me procuravam porque queriam aprender minha técnica e depois “cagavam” pra mim. Fui ficando machucado com isso. É triste ver gente famosa, que deram os primeiros passos na arte comigo, nunca citarem meu nome quando iam no programa do Jô, por exemplo.
Como os poetas sempre me ajudaram, alguns eram professores e arranjavam shows
para eu fazer em suas escolas. O próprio Sady Bianchin me levava para vender
meus cartões de pintura e poesia na Estácio e na Hélio Alonso, que era onde ele
dava aula. Eu fazia bilheteria nas escolas do Rio, graças aos poetas que eram
amigos de diretores de escolas e me indicavam.
O Tanussi Cardoso fez um poema em minha homenagem, por volta de 1994 que me
rendeu uma capilaridade incrível nos eventos alternativos do Rio. As pessoas se
cotizavam para pagar meu cachê. Quando ia trabalhar no Rio Grande do Sul,
sempre ganhava um cachê do Ademir Bacca, que abria, inclusive sua casa para me
hospedar, além de me apresentar para a fina-flor da literatura gaúcha e dos
países do Merco Sul.
Mas voltando ao Rio de Janeiro!
Um dia, encontrei a Cristina Ondemburg, que era uma produtora que me contratava para fazer shows de mímica em empresas. Ela tinha acabado de criar o Centro Cultural da Constituição e queria que eu fizesse um evento no espaço dela, ligado a teatro, mas consegui convencê-la a me aceitar como produtor de um evento literário e foi quando nasceu o POESIA NA QUARTA CAPA, um evento que durou do ano 2000 a 2004.
Um dia, encontrei a Cristina Ondemburg, que era uma produtora que me contratava para fazer shows de mímica em empresas. Ela tinha acabado de criar o Centro Cultural da Constituição e queria que eu fizesse um evento no espaço dela, ligado a teatro, mas consegui convencê-la a me aceitar como produtor de um evento literário e foi quando nasceu o POESIA NA QUARTA CAPA, um evento que durou do ano 2000 a 2004.
Foi um sucesso retumbante, tínhamos sempre casa
lotada e a poesia comia solta. De vez em quando eu fazia mímica e era um
sucesso total. Chamei um jovem poeta chamado Rodolfo Muanis para ser
apresentador e comentarista e o Adagoberto Arruda, para ser o mestre de
cerimônias. A Cristina aprovou o formato do evento e foi uma grande alegria,
tenho todos os folders guardados, até hoje.
O Quarta Capa era um evento de convergência, devido à nossa localização, no
centro do Rio de Janeiro, tínhamos a honra de lotar nosso evento com muitos
poetas vindos da zona Oeste e Zona Norte do Rio de Janeiro, o ambiente, ao lado
da praça Tiradentes e nas proximidades da Rua do Lavradio, dava um tom aglutinador
e histórico para a poesia.
Os poetas acadêmicos costumavam ir e o Carlos Nejar
um dia, aceitou recitar no Quarta Capa e foi estupendo.
Lá a gente abria para os prosadores também, havia uma garota de grande talento chamada Gisela Gold que abri para que lêssemos seus contos lá. O Grupo Saliva Voadora, Claudio Lyra e Mariana Dias nos brindavam com suas presenças, levam o público da Gávea para lá. Era um evento muito bonito. Foi histórico!
Lá a gente abria para os prosadores também, havia uma garota de grande talento chamada Gisela Gold que abri para que lêssemos seus contos lá. O Grupo Saliva Voadora, Claudio Lyra e Mariana Dias nos brindavam com suas presenças, levam o público da Gávea para lá. Era um evento muito bonito. Foi histórico!
Artur Gomes - Sei que o livro, enquanto objeto formador de
cidadania, sempre foi também, uma de suas grandes paixões, e o 4ª Capa de uma
certa forma, nos mostrava essa extensão do seu olhar sobre o mundo.
Nessa terceira fase da nossa convivência você já está situado em Cabo Frio, e aí começamos nossas aventuras com o audiovisual, o que te leva a se embrenhar numa outra empreitada a criação do Cine Mosquito. E num outro momento mais recente a criação do Sebo do Jidduks, e com ele agora o projeto de doação de livros.
Essas mudanças em sua vida, nascem espontaneamente, ou elas são impulsionadas também, por um desejo, de estar cada vez mais próximo das pessoas, para ter a possibilidade, de alguma forma, ajudá-las na formação enquanto seres humanos em potencial?
Jiddu Saldanha - Eu cheguei em Cabo Frio, em
2004 e comecei a ter uma vida teatral intensa na cidade. Aqui, ao contrário do
Rio de Janeiro, fui bem recebido pela classe teatral local. Lembro que o José
Facury, me levou na casa dos artistas locais e contratou minha primeira oficina
de mímica. Me inseriu nos eventos públicos da cidade para que as pessoas me
conhecessem.
Mas Cabo Frio não é uma cidade preparada para o sustento de um artista, a vida
do artista aqui é complexa. Para você ter um trabalho precisa estar alinhado
com a política local, que costuma ser fisiológica, num jogo de cartas marcadas.
Eu nunca me adaptei a isso, mas, como sempre fui respeitado e amado aqui,
consegui ter pequenos ganhos dando oficinas de mímica, teatro e dramaturgia.
Em 2013 o José Facury e Yuri Vasconcelos convidaram o Italo Luiz Moreira para
ser professor do Curso de Teatro do teatro municipal. Italo queria mexer na
estrutura e pediu ao Facury que me contratasse.
Eu tinha acabado de fazer um curso importante no CECIP e a APS, da Holanda. O
CECIP, pra quem não sabe, é uma ONG fundada pelo educador Paulo Freire, o
Cineasta Eduardo Coutinho e o cartunista Claudius Ceccon. O curso chamava-se Facilitador de
Mudanças Educacionais.
Artur Gomes -
Performance no Cine Mosquito - Maio 2019
Com o aval do Italo, Facury e Yuri, comecei a aplicar a metodologia que aprendi
com uma das maiores educadoras de São Paulo na atualidade, a Sra. Madza Ednir.
E foi então que criei o OFICENA – Curso Livre de Teatro que, nada mais era, que
um nome fantasia criado para o Curso que já havia no Teatro Municipal da cidade
desde a década de 1990.
As crises sucessivas nos governos de Cabo Frio, fez com que eu perdesse meu salário como professor do OFICENA e passei então a trabalhar como voluntário de 2014 a 2018 até quando fui dispensado pela gestão do atual prefeito da cidade, Dr. Adriano.
As crises sucessivas nos governos de Cabo Frio, fez com que eu perdesse meu salário como professor do OFICENA e passei então a trabalhar como voluntário de 2014 a 2018 até quando fui dispensado pela gestão do atual prefeito da cidade, Dr. Adriano.
Em Cabo Frio eu acabei ativando outros talentos e projetos que tinha
engavetado, um deles era o de ter um cine clube e um pólo de cinema
independente. Em 2007 eu criei o projeto Cinema Possível, junto com você e em
2008 criei o Cine Mosquito, um cine clube que completou 10 anos em 2018, mas só
conseguimos fazer a entrega do troféu MOSQUITÃO em 2019.
Sem dinheiro para sobreviver, uma separação do meu primeiro casamento,
praticamente sem eira e nem beira, resolvi vender a minha biblioteca para
tentar algum dinheiro, mas durante este processo, acabei descobrindo que tinha
vocação para vender livros.
Os livros salvaram minha infância e agora que estou a caminho da velhice eles voltaram a me salvar novamente. Com o Sebo do Jidduks eu aprendi rápido a vender livros e fui conseguindo dinheiro para contas básicas. Mas vender é um ofício, uma das profissões mais antigas do mundo. Hoje passei a vender produtos digitais, vendo cursos online, e-books e páginas na internet.
Oficena -
Teatro Municipal Cabo Frio
Os livros salvaram minha infância e agora que estou a caminho da velhice eles voltaram a me salvar novamente. Com o Sebo do Jidduks eu aprendi rápido a vender livros e fui conseguindo dinheiro para contas básicas. Mas vender é um ofício, uma das profissões mais antigas do mundo. Hoje passei a vender produtos digitais, vendo cursos online, e-books e páginas na internet.
Também cuido de canais no youtube, para pessoas que estejam começando, muitas
das vezes faço uma troca de serviço para meus clientes que já compram livros do
meu sebo, oferecendo a eles, serviços complementares de internet e, aos poucos,
estou me levantando.
Uma semana antes da Pandemia do Covid19
migrar para o Brasil eu tinha criado um projeto de doação assistida de
livros. O projeto caiu nas graças da escritora Roseana Murray, que além de ser
referência em poesia, vendeu mais de 2 milhões de cópias de seus livros. É,
hoje, uma das escritoras mais lidas no país. Roseana tornou-se Madrinha do meu
projeto, além de ser uma das principais doadoras. Hoje tenho potencial para
chegar a 100 doadores, mas devido à pandemia, estamos crescendo de forma lenta,
porém, sustentável.
Pretendo criar o maior projeto independente de doação de livros do interior do estado do Rio de Janeiro. Estamos a caminho disso. Nossos doadores são de diversos estados brasileiros, mas a região está cada vez mais consciente e participativa.
Nosso projeto chama-se “Abrace um Leitor” e quem quiser doar um kit de livros basta entrar neste endereço e ver como a coisa funciona:
Pretendo criar o maior projeto independente de doação de livros do interior do estado do Rio de Janeiro. Estamos a caminho disso. Nossos doadores são de diversos estados brasileiros, mas a região está cada vez mais consciente e participativa.
Pessoas como Luciana Branco, Lélia Queiroz, Silvana Lima, Italo Luiz Moreira e
Joarez Lopes, só pra citar Cabo Frio. Mas temos doadores empresariais também,
como o Restaurante Babel, de Visconde de Mauá e a Fundação Planeta D’O, uma
organização franco-brasileira. Tivemos doações inclusive de Juan Árias,
repórter do jornal El Pais e mais uma lista imensa de doadores pessoas físicas,
além de poetas como Roseana Murray, Artur Gomes (você), Luis Gustavo Pires e
Claudia Gonzalez, do RS.
Nosso projeto chama-se “Abrace um Leitor” e quem quiser doar um kit de livros
basta entrar neste endereço e ver como a coisa funciona:
https://jidduksonline.com.br/abrace-um-leitor/
Fulinaíma MultiProjetos
portalfulinaima@gmail.com
(22)99815-1268 - whatsapp
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