Nos conhecemos há pouco mais de
um ano, pelo face, mas já posso considerá-lo um velho amigo, dada a
interlocução que fazemos quase que diária, com as suas dicas de leituras. Em
2019 foi o primeiro Editor a publicar poemas do meu livro Pátria A(r)mada
(Editora Desconcertos - 2019) na Revista gueto.
Estávamos com encontro marcado para um café em Sampa, no próximo mês de
maio, mas a onda pandêmica, com certeza irá fazermos adiar esse encontro, que
espero aconteça em 2020 ainda. Ele diz que é mais escritor do que poeta, mas sua
poesia é instigante, pelo menos a que já tive acesso e publiquei na Balbúrdia
Poética. Aguardo com ansiedade chegar às minhas mãos para leitura, o seu livro
de Contos, e a Revista gueto impressa,
que já estão reservados, aguardando a possibilidade de uma nova esticada a São Paulo para pegá-los na Patuscada.
Rodrigo Novaes de Almeida é
escritor e editor. Formado em Comunicação Social — Jornalismo, com
pós-graduação em Publishing e passagens pelas editoras Apicuri, Saraiva, Ibep,
Ática e Estação Liberdade. Em novembro de 2016, criou a Revista Gueto [https://revistagueto.com/], portal de
literatura que publica, divulga e lança escritores e poetas. É autor dos livros
de contos Carnebruta (Editora
Oito e Meio e Editora Apicuri, 2012) e Das
pequenas corrupções cotidianas que nos levam à barbárie e outros contos
(Editora Patuá, 2018), finalista do 61º Prêmio Jabuti, em 2019, e do livro de
poesia A clareira e a cidade
(Editora Urutau, no prelo), entre outros.
Artur
Gomes - Como se
processa o seu estado de poesia?
Rodrigo Novaes de Almeida - Se
escrevo poema, o que é raro, nunca é planejado. Com o conto é diferente, há um
processo de preparação, reflexão etc. Mas a poesia pode estar na prosa, ou
melhor, certamente estará em alguns ou muitos dos meus textos em prosa. Não
costumo dizer que sou um poeta. Acho o poeta alguém grande demais para mim.
Maior do que o escritor, do que o filósofo. Além disso, se fosse para ser um
poeta, seria bissexto por definição e atrevimento. Prefiro, então, que me
reconheçam como um escritor.
Artur
Gomes - Seu
poema preferido?
Rodrigo Novaes de Almeida - Não tenho
um poema preferido. Como não tenho um conto preferido, nem um romance
preferido. Conseguiria fazer uma lista para cada, mesmo assim seriam listas permanentemente
incompletas.
Artur
Gomes - Qual o
seu poeta de cabeceira?
Rodrigo Novaes de Almeida - É
sempre o que estou lendo no momento, porque é lá que o livro desse poeta estará.
E no momento, em poesia, estou lendo A
divina comédia, de DanteAlighieri, na edição bilingue da Editora
34, tradução de Italo Eugenio Mauro. Claro que junto com outras leituras, pois tenho
o hábito de ler vários livros no mesmo período. Então, há alguns de poesia, de
poetas contemporâneos, principalmente daqueles que recebemos e acabamos
publicando na gueto.
Artur
Gomes - Em seu
instante de criação existe alguma pedra de toque, algo que o impulsione para
escrever?
Rodrigo Novaes de Almeida - Costumo
dizer que é a vaidade,como provocação, uma provocação que não deixa de ser
verdade. Mas há algo mais, sim, como dizia Saramago, que é a necessidade de
comunicar-se com as pessoas.
Artur
Gomes - Livro
que considera definitivo em sua obra?
Rodrigo Novaes de Almeida - Não
tenho ainda uma obra, menos ainda algo para apontar como definitivo. Quem sabe
vivendo mais quarenta anos eu consiga ter uma resposta para esta pergunta.
Ficaria feliz em poder responder. E assim olharia para trás e me sentiria
realizado.
Artur
Gomes - Além da
poesia em verso, já exercitou ou exercita outra forma de linguagem com poesia?
Rodrigo Novaes de Almeida - O poeta
e monge beneditino Tito Leite, que
também é mestre em Filosofia, quando escreveu o posfácio do meu próximo livro, o primeiro de poesia (e quinto no
geral), chamado A clareira e a cidade,
que seria lançado agora no primeiro semestre pela Editora Urutau, mas está com
lançamento adiado por conta da quarentena imposta pela pandemia do Covid-19,
comentou comigo uma excentricidade da minha literatura: minha poesia é mais
descritiva, enquanto parte de minha prosa é mais poética.
Artur
Gomes - Qual
poema escreveu quando teve uma pedra no meio do caminho?
Rodrigo Novaes de Almeida - Todos,
inclusive os da juventude, que tive a sensatez de jogar fora. Só escrevo para
tirar as pedras do caminho, seja em poesia, seja em prosa.
Artur
Gomes - Revisitando
Quintana: você acha que depois dessa crise virótica pandêmica, quem passará e
quem passarinho?
Rodrigo Novaes de Almeida - Estou
pessimista. Não aprenderemos nem o óbvio. Continuaremos a destruir o planeta,
até sermos expulsos dele. É como se com este vírus o planeta deixasse bem claro
que não está nada satisfeito conosco.
Artur
Gomes - Escrevendo
sobre o livro Pátria A(r)mada, o poeta e jornalista Ademir Assunção
afirma que cada poeta tem a sua tribo, de onde ele traz as suas referências.
Você de onde vem, qual é a sua tribo?
Rodrigo Novaes de Almeida - Essa
história de referências é complicada. Talvez para alguém mais jovem isso ainda
seja mensurável. Aprende-se copiando muito. Mas depois de algumas décadas a
humanidade inteira, de todas as épocas - os que viveram, os que vivem e os que ainda
viverão, estará sedimentada em você. Contudo, você pode continuar a ser pelo
resto da vida aquele garoto copiando seus autores prediletos, coisa de fã, não
literatura.
Artur
Gomes - Nos
dias atuais o que é ser um poeta, militante de poesia?
Rodrigo Novaes de Almeida - Para a
sociedade? Para o mundo? Nada. Talvez, na esfera individual, ou seja, para o
próprio poeta, algo que lhe dê sentido, apenas.
Artur
Gomes - A gueto
pode ser considerada de alguma forma uma extensão do que você pensou escrever
em poesia?
Rodrigo Novaes de Almeida - Não. A gueto
tem a ver com um outro lado meu, o de editor. Gosto de ser editor. Gosto de encontrar
novos autores, de reuní-los, divulgá-los. E também, não propriamente na gueto,
mas em relação ao ofício, de modo mais intrínseco, gosto de trabalhar com o
texto de terceiros, e de cooperar com o autor para que ele alcance o seu
melhor.
Artur
Gomes - Que
pergunta não fiz que você gostaria de responder?
Rodrigo Novaes de Almeida - No que
eu tenho trabalhado?
Resposta - É
uma pergunta que escritor adora responder. Então, vou aproveitar a oportunidade
e responder mais esta. Estou escrevendo um romance. Na verdade, já o escrevi
nos últimos meses. Mas aí vieram a pandemia e a quarentena e estou escrevendo
uns anexos ao romance, que não tenho certeza, no momento, se vão entrar nele ou
não. Além disso, estou com outro livro de contos pela metade.
Por fim, Artur, agradeço o
convite para esta entrevista. Abraços fraternos.
Fulinaíma MultiProjetos
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