quinta-feira, 23 de abril de 2020

Rodrigo Novaes de Almeida - EntreVistas



Nos conhecemos há pouco mais de um ano, pelo face, mas já posso considerá-lo um velho amigo, dada a interlocução que fazemos quase que diária, com as suas dicas de leituras. Em 2019 foi o primeiro Editor a publicar poemas do meu livro Pátria A(r)mada (Editora Desconcertos - 2019) na Revista gueto. Estávamos com encontro marcado para um café em Sampa, no próximo mês de maio, mas a onda pandêmica, com certeza irá fazermos adiar esse encontro, que espero aconteça em 2020 ainda. Ele diz que é mais escritor do que poeta, mas sua poesia é instigante, pelo menos a que já tive acesso e publiquei na Balbúrdia Poética. Aguardo com ansiedade chegar às minhas mãos para leitura, o seu livro de Contos, e a Revista gueto impressa, que já estão reservados, aguardando a possibilidade de uma nova esticada  a São Paulo para pegá-los na Patuscada.

Rodrigo Novaes de Almeida é escritor e editor. Formado em Comunicação Social — Jornalismo, com pós-graduação em Publishing e passagens pelas editoras Apicuri, Saraiva, Ibep, Ática e Estação Liberdade. Em novembro de 2016, criou a Revista Gueto [https://revistagueto.com/], portal de literatura que publica, divulga e lança escritores e poetas. É autor dos livros de contos Carnebruta (Editora Oito e Meio e Editora Apicuri, 2012) e Das pequenas corrupções cotidianas que nos levam à barbárie e outros contos (Editora Patuá, 2018), finalista do 61º Prêmio Jabuti, em 2019, e do livro de poesia A clareira e a cidade (Editora Urutau, no prelo), entre outros.

Artur Gomes - Como se processa o seu estado de poesia?

Rodrigo Novaes de Almeida - Se escrevo poema, o que é raro, nunca é planejado. Com o conto é diferente, há um processo de preparação, reflexão etc. Mas a poesia pode estar na prosa, ou melhor, certamente estará em alguns ou muitos dos meus textos em prosa. Não costumo dizer que sou um poeta. Acho o poeta alguém grande demais para mim. Maior do que o escritor, do que o filósofo. Além disso, se fosse para ser um poeta, seria bissexto por definição e atrevimento. Prefiro, então, que me reconheçam como um escritor.

Artur Gomes - Seu poema preferido?

Rodrigo Novaes de Almeida - Não tenho um poema preferido. Como não tenho um conto preferido, nem um romance preferido. Conseguiria fazer uma lista para cada, mesmo assim seriam listas permanentemente incompletas.

Artur Gomes - Qual o seu poeta de cabeceira?

Rodrigo Novaes de Almeida - É sempre o que estou lendo no momento, porque é lá que o livro desse poeta estará. E no momento, em poesia, estou lendo A divina comédia, de DanteAlighieri, na edição bilingue da Editora 34, tradução de Italo Eugenio Mauro. Claro que junto com outras leituras, pois tenho o hábito de ler vários livros no mesmo período. Então, há alguns de poesia, de poetas contemporâneos, principalmente daqueles que recebemos e acabamos publicando na gueto.

Artur Gomes - Em seu instante de criação existe alguma pedra de toque, algo que o impulsione para escrever?

Rodrigo Novaes de Almeida - Costumo dizer que é a vaidade,como provocação, uma provocação que não deixa de ser verdade. Mas há algo mais, sim, como dizia Saramago, que é a necessidade de comunicar-se com as pessoas.

Artur Gomes - Livro que considera definitivo em sua obra?

Rodrigo Novaes de Almeida - Não tenho ainda uma obra, menos ainda algo para apontar como definitivo. Quem sabe vivendo mais quarenta anos eu consiga ter uma resposta para esta pergunta. Ficaria feliz em poder responder. E assim olharia para trás e me sentiria realizado.

Artur Gomes - Além da poesia em verso, já exercitou ou exercita outra forma de linguagem com poesia?

Rodrigo Novaes de Almeida - O poeta e monge beneditino Tito Leite, que também é mestre em Filosofia, quando escreveu o posfácio do meu próximo livro, o primeiro de poesia (e quinto no geral), chamado A clareira e a cidade, que seria lançado agora no primeiro semestre pela Editora Urutau, mas está com lançamento adiado por conta da quarentena imposta pela pandemia do Covid-19, comentou comigo uma excentricidade da minha literatura: minha poesia é mais descritiva, enquanto parte de minha prosa é mais poética.

Artur Gomes - Qual poema escreveu quando teve uma pedra no meio do caminho?

Rodrigo Novaes de Almeida - Todos, inclusive os da juventude, que tive a sensatez de jogar fora. Só escrevo para tirar as pedras do caminho, seja em poesia, seja em prosa.

Artur Gomes - Revisitando Quintana: você acha que depois dessa crise virótica pandêmica, quem passará e quem passarinho?

Rodrigo Novaes de Almeida - Estou pessimista. Não aprenderemos nem o óbvio. Continuaremos a destruir o planeta, até sermos expulsos dele. É como se com este vírus o planeta deixasse bem claro que não está nada satisfeito conosco.

Artur Gomes - Escrevendo sobre o livro Pátria A(r)mada, o poeta e jornalista Ademir Assunção afirma que cada poeta tem a sua tribo, de onde ele traz as suas referências. Você de onde vem, qual é a sua tribo?

Rodrigo Novaes de Almeida - Essa história de referências é complicada. Talvez para alguém mais jovem isso ainda seja mensurável. Aprende-se copiando muito. Mas depois de algumas décadas a humanidade inteira, de todas as épocas -  os que viveram, os que vivem e os que ainda viverão, estará sedimentada em você. Contudo, você pode continuar a ser pelo resto da vida aquele garoto copiando seus autores prediletos, coisa de fã, não literatura.

Artur Gomes - Nos dias atuais o que é ser um poeta, militante de poesia?

Rodrigo Novaes de Almeida - Para a sociedade? Para o mundo? Nada. Talvez, na esfera individual, ou seja, para o próprio poeta, algo que lhe dê sentido, apenas.

Artur Gomes - A gueto pode ser considerada de alguma forma uma extensão do que você pensou escrever em poesia?

Rodrigo Novaes de Almeida - Não. A gueto tem a ver com um outro lado meu, o de editor. Gosto de ser editor. Gosto de encontrar novos autores, de reuní-los, divulgá-los. E também, não propriamente na gueto, mas em relação ao ofício, de modo mais intrínseco, gosto de trabalhar com o texto de terceiros, e de cooperar com o autor para que ele alcance o seu melhor.

Artur Gomes - Que pergunta não fiz que você gostaria de responder?

Rodrigo Novaes de Almeida - No que eu tenho trabalhado?

Resposta - É uma pergunta que escritor adora responder. Então, vou aproveitar a oportunidade e responder mais esta. Estou escrevendo um romance. Na verdade, já o escrevi nos últimos meses. Mas aí vieram a pandemia e a quarentena e estou escrevendo uns anexos ao romance, que não tenho certeza, no momento, se vão entrar nele ou não. Além disso, estou com outro livro de contos pela metade.

Por fim, Artur, agradeço o convite para esta entrevista. Abraços fraternos.

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