segunda-feira, 20 de abril de 2020

Mariana Vieira - EntreVista

Mariana Vieira é escritora, poeta, artista plástica e advogada. Participou da antologia poética "Sociedade dos Poetas Novos" e teve seu poema "Objeto de Palco" classificado no "Concurso Nacional de Novos Poetas - Prêmio Poetize 2015, integrando assim a antologia homônima já publicada. É Idealizadora da Linho & Letras, Artes em Versos - @linhoeletras,
Colunista do Observatório da Comunicação Institucional (O.C.I.) e autora do Livro SINTO MUITO, EU TE AMO - POÉTICA DOS AFETOS, pela Autografia Editora.

Artur Gomes - Como se processa o seu estado de poesia?

Mariana Vieira - Acontece, geralmente, no decantar das emoções por meio do autoconhecimento, do respirar mais fundo, processando tudo aquilo que me transtorna.
Também ocorre por meio do contato com o outro, com os dilemas dos amigos, histórias, imagens, sons, cenas do cotidiano e até mesmo do próprio cenário político que, aliás, tem facilitado bastante a produção de catarses em seu mais amplo espectro.

Assim, à medida que vou ouvindo as histórias, sinto uma espécie de combustão interna que me traz os versos prontos em verdadeiras nuvens de vapor. É um processo involuntário. Não tem data, nem hora. Não obedece a um ritual. Por isso estou sempre com o caderno de notas por perto para que nada se perca.

Artur Gomes -  Seu poema preferido?

Mariana Vieira - No momento, dois poemas me habitam de forma indissociável: Os três Mal Amados, do João Cabral de Melo Neto e Fanatismo, de Florbela Espanca.
Tenho outras referências poéticas que me influenciam diretamente, especialmente na música.

Artur Gomes - Qual o seu poeta de cabeceira?

Mariana Vieira - São vários, mas o Fernando Pessoa está sempre por perto. Pela versatilidade na escrita, acaba sendo uma fonte inesgotável de referência criativa.
Artur Gomes - Em seu instante de criação existe alguma pedra de toque, algo que o impulsione para escrever?

Mariana Vieira - Sim, existe. Não sou aquela pessoa que se impõe, artificialmente, uma meta de escrita por dia ou coisa assim. Acho até admirável quem consegue. Para escrever sobre algo eu preciso ter contato com a matéria orgânica da poesia e é nesse diálogo que surge a obra escrita ou mesmo qualquer outra expressão artística (pintura, escultura, bordados poéticos, dentre outros).
Eu preciso ser arrebatada por aquela história, tema, imagem ou sonho, por exemplo, e ter essa “conversa” com eles.
Às vezes a palavra salta de uma conversa e fica pulsando em minha mente como se me pedisse para virar verso e dali tudo decorre. Tudo flui.

Artur Gomes - Livro que considera definitivo em sua obra?

Mariana Vieira - O meu primeiro livro acaba de sair do forno: “Sinto Muito, Eu Te Amo (Poética dos Afetos)”, pela Autografia Editora, com lançamento previsto até início de maio de 2020.

Os demais livros, alguns em prosa e outros em poesia, estão sendo revisados para uma agenda de publicação futura.
Estou engatinhando ainda nessa longa jornada, buscando o aprimoramento no contato com os outros poetas, com os quais tenho aprendido bastante.

Artur Gomes - Além da poesia em verso, já exercitou ou exercita outra forma de linguagem com poesia?

Mariana Vieira - Sim. Os meus textos em prosa acabam carregando um pouco do lirismo poético.
Lembro de haver feito defesas jurídicas em razão do meu outro ofício e de ser advertida sobre o conteúdo literário de uma determinada peça técnica, por exemplo.
Com essa informação nas mãos, acabei investindo mais na possibilidade de escrever prosas poéticas e tenho gostado bastante do resultado.

Tenho experimentado trabalhar a poesia de forma mais inventiva, com frases curtas e impactantes, por vezes até duras, em contraste com um bordado rudimentar e frugal. Gosto dos contrastes e das provocações que este formato favorece.

Artur Gomes - Qual poema escreveu quando teve uma pedra no meio do caminho?

Mariana Vieira - Quase todos os meus poemas são construções alicerçadas nas pedras que encontro pelo caminho.

O que ocorre é que, às vezes, as pedras me encontram  de forma bem mais contundente (risos) e é desse ferimento que geralmente surgem as obras mais viscerais.

O poema “Objeto de Palco” que integrou Uma antologia em 2015 (Prêmio Poetize), o Poema “Vocação”, “O Grito dos Porcos”, “Desterro”, “A luta se Inicia”, são exemplos disso.

Artur Gomes - Revisitando Quintana: você acha que depois dessa crise virótica pandêmica, quem passará e quem passarinho?

Mariana Vieira - Passarão aqueles que não desejarem o voo, assim entendidos os que não se souberem passarinhos.

Artur Gomes - Escrevendo sobre o livro Pátria A(r)mada, o poeta e jornalista Ademir Assunção, afirma que cada poeta tem a sua tribo, de onde ele traz as suas referências. Você de onde vem, qual é a sua tribo?

Mariana Vieira - Não pertenço a nenhuma tribo e não me identifico com nenhum gênero literário também. Acho que, na busca pela construção poética, se estiver voltada para apenas um segmento ou grupo, acabo ficando muito limitada.
Por isso, procuro sempre ter contato com o maior número possível de fontes artísticas e pessoas.

Artur Gomes - Nos dias atuais o que é ser um poeta, militante de poesia?

Mariana Vieira - O poeta é o arauto das humanidades e dos papiros em branco.
É o visionário no escuro das celas.
É ser aquele que trará verdades em rimas e versos para que não nos esqueçamos mais delas.
Ele será ainda o bode expiatório da roda das conveniências.
Será aquele a quem se atribuirá a insanidade para que se contenha o motim ideológico nas massas.
Será o declamador do inaudito.
Gostaria de agradecer a oportunidade, o convite e todo esse carinho.
Beijos poéticos em todos vocês.


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