terça-feira, 29 de outubro de 2019

Jura Secreta 48




Jura Secreta 48 
sagarínica  fulinaimânica 

não sou iluminista nem pretender 
eu quero o cravo e a rosa 
cumer o verso e a prosa 
devorar a lírica a métrica 
a carne da musa 
seja branca negra amarela 
vermelha verde ou cafuza 

eu sou do mato 
curupira carrapato 
sou da febre sou dos ossos 
sou da Lira do Delírio 
São Virgílio é o meu sócio 

Pernambuco Amaralina 
vida breve ou sempre vida/severina 
sendo mulher ou só menina 
que sendo santa prostituta 
ou cafetina devorar é minha sina 
e profanar é o meu negócio 


 Artur Gomes 
do livro Juras Secretas
Editora Penalux - 2019







segunda-feira, 28 de outubro de 2019


terra de santa cruz

ao batizarem-te
deram-te o nome:
posto que a tua profissão
é abrir-te em camas
dar-te em ferro
ouro
prata
rios
peixes
minas
mata
deixar que os abutres
devorem-te na carne
o derradeiro verme

salgado mar de fezes
batendo nas muralhas
do meu sangue confidente
quem botou o branco
na bandeira de alfenas
na certa se esqueceu
das orações dos penitentes
e da corda que estraçalha
com os culhões de Tiradentes


salve lindo pendão que balança
entre as pernas abertas da paz
tua nobre sifilítica herança
dos rendez-vous de impérios atrás

meu coração
é tão hipócrita que não janta
e mais imbecil que ainda canta:
ou
viram
no Ipiranga
às margens plácidas
uma bandeira arriada
num país que não levanta

só desfraldando
a bandeira tropicalha
é que a gente avacalha
com as chaves dos mistérios
dessa terra tão servil
tirania sacanagem safadeza
tudo rima uma beleza
com a pátria mãe que nos pariu

1º de Abril

telefonaram-me
avisando-me que vinhas
na noite uma estrela
ainda brigava contra a escuridão

na rua sob patas
tombavam homens indefesos

esperei-te 20 anos
ate hoje não vieste à minha porta

o poeta estraçalha a bandeira
raia o sol marginal quarta feira
na Geléia Geral brasileira
o céu de abril não é de anil
nem general é my Brazyl

minha verde/amarela esperança
Portugal já vendeu para França
e coração latino balança
entre o mar do dólar do norte
e o chão dos cruzeiros do sul

o poeta esfrangalha a bandeira
raia o sol marginal sexta feira
nesta porra estrangeira e azul
que há muito índio dizia:

meu coração marçal tupã
sangra tupy & rock and roll
meu sangue tupiniquim
em corpo tupinambá
samba jongo maculelê
maracatu boi bumbá
a veia de curumim
é coca cola & guaraná

o sangue rola no parque
o sonho ralo no tanque
nada a ver com tipo dark
e muito menos com punk
meu vício letal é baiafro
com ódio mortal de yank


ó baby a coisa por aqui
não mudou nada
embora sejam outras
siglas no emblema

espada continua a ser espada
poema continua a ser poema



Indigesta

ê fome negra incessante
febre voraz gigante
ê terra de tanta cruz

onde se deu primeira missa
índio rima com carniça
no pasto pros urubus

oh! myBrazyl
ainda em alto mar
Cabral quando te viu
foi logo gritando:
terra à vista!
e de bandeja te entregando
pra união democrática ruralista.

por aqui nem só beleza
nesses dias de paupéria
nação de tanta riqueza
país de tanta miséria


 olho de lince

onde engendro
a Sagarana

invento
a Sagaranagem

entre a vertigem
e a voragem

na palavra
de origem

entre a língua
e a miragem
São Bernardo e Diadema 


mordendo: o vírus da linguagem
no olho de lince do poema


Artur Gomes
poemas do livro Pátria A(r)mada
Editora Desconcertos - 2019
portalfulinaima@gmail.com
(22)99815-1266 - whatsapp

Artur Gomes é poeta, ator, videomaker e produtor cultural. Tem diversos livros publicados, sendo os mais recentes Juras Secretas (Editora Penalux, 2018) e Pátria A(r)mada (Editora Desconcertos, 2019). Dirigiu a Oficina de Artes Cênicas do Instituto Federal Fluminense  em Campos dos Goytacazes-RJ de 1975 a 2002. Em 1983, criou o projeto Mostra Visual de Poesia Brasileira e, em 1993, idealizou o projeto Mostra Visual de Poesia Brasileira Mário de Andrade — 100 anos — realizada pelo SESC São Paulo. Atualmente, leciona Poéticas no Curso Livre de Teatro em Campos dos Goytacazes-RJ e coordena a Balbúrdia Poética na La Taberna de Laura, no Rio de Janeiro  e a  Santa Balbúrdia na Casa Criativa Santa Paciência em Campos dos Goytacazes. Acaba de gravar no home studio Fil Buc — Produções o disco Poesia Para Desconcertos, com produção de seu filho Filipe Buchaul.


domingo, 27 de outubro de 2019

XXI FestCampos de Poesia Falada



XXI FestCampos de Poesia Falada

O XXI FestCampos de Poesia Falada será realizado nos dias 7, 8 e 9 de Novembro - a partir das 19h no Liceu de Humanidades de Campos. Nos intervalos entre o somatório das notas da Comissão Julgadora, haverá uma homenagem a poesia dos poetas Antonio Roberto de Góis Cavalcanti(Kapi), Lucia Miners e Antonio Roberto Fernandes.

O FestCaampos de Poesia Falada foi criado em 1999 pelo poeta, ator e produtor cultural Artur Gomes, e é realizado pela Fundação Cultural Jornalista Oswaldo Lima. Desde a sua primeira edição em 1999 o FestCampos de Poesia Falada vem atraindo a atenção de poetas de todos os estados brasileiros. Para se ter uma ideia clara da sua importância já passaram por ele poetas tais como: Viviane Mosé, Gilberto Mendonça Teles, Sérgio de Castro Pinto, todos premiados nas edições em que concorreram.

Este ano pós programação do Festival, os poeta participantes poderão participar da programação da Santa Balbúrdia 2, evento que reúne música, poesia, teatro, fotografia etc. na Santa Paciência Casa Criativa - Rua Barão de Miracema, 81.
no anexo a relação das 60 poesias que estarão nas fases seminais no XXI FestCampos de Poesia Falada e seus respectivos intérpretes.

Fulinaíma MultiProjetos
Coletivo Macunaíma de Cultura
portalfulinaima@gmail.com
(22)99815-1266 - whatsapp





Santa Balbúrdia


Santa Balbúrdia

A Santa Balbúrdia, nesta última sexta feira foi pra lavar a alma de quem esteve presente na Santa Paciência Casa Criativa. Estiveram por lá e soltaram a voz: Chico de Aguiar, Winston Churchil, Cristina Cruz,  Joilson Bessa, Jorge Basilio, Livia Prado, Nathália Florido Osório, Micaela Albertini e a dupla musical Fernando e Marcella.

Cristina Cruz, Livia Prado, Nathália Osório, Jorge Basilio, Micaela Alberti, apresentaram as poesias que interpretarão no XXI FestCampos de Poesia Falada. Micaela Albertini apresentou também suas leituras para poesia do livro Zona Branca de Ademir Assunção. Cristina Cruz falou também poesia de Lucia Miners, Jorgé Basílio além de poesias próprias falou Moenda, de minha autoria publicada no livro Pátria A(r)mada.

Joilson Bessa, Chico de Aguiar e Winston Churchil falaram textos de suas autorias. Nathália Osório, além de recitar a sua Epístola a Sombra, mandou um Augusto dos Anjos e Livia Prado estremeceu a noite com a sua Merda Preta, uma das suas poesias selecionadas para o XXI FestCampos de Poesia Falada, que será realizado nos dias 7, 8 e 9 de novembro a partir das 19h no Auditório do Liceu de Humanidades de Campos.

A Santa Balbúrdia volta a acontecer nos dias 7, 8 e 9 de novembro na mesma Santa Paciência Casa Criativa, pós programação do XXI FestCampos de Poesia Falada .

Artur Gomes
Fulinaíma MultiProjetos
Coletivo Macunaíma de Cultura
portalfulinaima@gmail.com

quinta-feira, 24 de outubro de 2019

Pátria A(r)mada


TRÊS TOQUES PARA PENETRAR NA NOITE ESCURA  DESTA
PÁTRIA A(R)MADA
1
Artur Gomes é daqueles poetas que não se contentam em grafar suas palavras apenas nas páginas de um livro. Ele inscreve seus poemas no próprio corpo, na própria voz. Misto de ator saltimbanco e trovador contemporâneo, seus versos ritmados e musicais redobram a força quando saltam do papel para a garganta. O cdFulinaíma – Sax, Blues e Poesia, que gravou em colaboração com os músicos Dalton Freire, Luiz Ribeiro, Naiman e ReubesPess, nos primórdios deste terceiro milênio, é uma das experiências mais bem-sucedidas da fusão entre poesia oralizada e música: os versos lancinantes surgem como navalhas de corte preciso entre os blues, bossas, rocks e baladas. Navalhas que acariciam, mas também cortam a pele do ouvinte.
Há delícia e dor em sua poética. Uma delícia sensual, sexual, que se explicita em versos como “poderia abrir teu corpo / com os meus dentes / rasgar panos e sedas // com as unhas /arreganhar as tuas fendas / desatar todos os nós // da tua cama arrancar os cobertores / rasgando as rendas dos lençóis”. Há dor por uma terra prometida e sempre adiada, “por uma bandeira arriada / num país que não levanta”. É nesse espaço entre a delícia e a dor que o trovador levanta sua voz e emite seus brasões em alto e bom salto, a plenos pulmões: “eu não tenho pretensões de ser moderno / nem escrevo poesia pensando em ser eterno / veja bem na minha língua as labaredas do inferno / e só use o meu poema com a força de quem xinga”.
2
Cada poeta escolhe sua tribo, reinventa seus ancestrais. A tribo de Artur Gomes vem de uma vasta tradição de trovadores inquietos e inquietantes, hábeis no trato do verso e ferinos no uso do humor, do amor e da revolta. Uma linhagem que vai de Arnaut Daniel a Zé Limeira e passa por Oswald de Andrade, Torquato Neto, Paulo Leminski e Uilcon Pereira, para listar alguns.
Cada poeta inventa também o território mítico onde mergulha sua poesia e sua própria vida. Alguns de maneira explícita, outros, mais velada. Há muitos anos surge na poesia de Artur o termo “Fulinaíma”, como uma Macondo espectral, que perpassa livros, sobe aos palcos, atravessa as faixas do cd. Seria um território de folias macunaímicas, uma terra de prazeres e ócios criativos, avessa ao eterno passado colonial que não conseguimos nunca superar, como o fantasma de antigos engenhos em que a “usina / mói a cana / o caldo e o bagaço // usina / mói o braço / a carne o osso // usina / mói o sangue / a fruta e o caroço // tritura suga torce / dos pés até o pescoço”?
3
Artur Gomes é também daqueles poetas que vivem reescrevendo seus poemas, reinserindo-os em outros contextos, reinventando “a poesia que a gente não vive”, aquela mesma que transforma “o tédio em melodia” - para relembrar Cazuza, outro bardo pertencente a mesma tribo.Quem acompanha sua trajetória errante e anárquica provavelmente vai identificar neste livro poemas já publicados em outros – porém, commodificações de tonalidades, de timbres, de intenções.
Se não é despropositado pensar que Dante Alighieri enxertou em sua Dívina Comédia inúmeras desavenças políticas, sociais e culturais de sua época e mandou para o inferno pencas de seus inimigos florentinos, é interessante perceber este Pátria A(r)mada reinventado no contexto deste Brasil que retrocedeu décadas depois do golpe político-jurídico-midiático deflagrado em 2016. Esses tempos passarão, é certo, mas este livro ficará – como um potente desconforto, um desajuste, um desconcerto desse mundo cão e chão. Se vale como trágica profecia – ao modo do cego Tirésias –, após um breve período de sonhos que mais uma vez não se cumpriram, os olhos abertos desses versos ecoarão nos ouvidos de muitos e cortarão a carne de tantos: “ó, baby, a coisa por aqui não mudou nada / embora sejam outras siglas no emblema / espada continua a ser espada / poema continua a ser poema”.

Ademir Assunção

Pátria A(r)mada


Indigesta

ê fome negra incessante
febre voraz gigante
ê terra de tanta cruz

onde se deu primeira missa
índio rima com carniça
no pasto pros urubus

oh! myBrazyl
ainda em alto mar
Cabral quando te viu
foi logo gritando:
terra à vista!
e de bandeja te entregando
pra união democrática ruralista.

por aqui nem só beleza
nesses dias de paupéria
nação de tanta riqueza
país de tanta miséria

Artur Gomes
poema do livro Pátria A(r)mada
Editora Desconcertos - 2019






quarta-feira, 23 de outubro de 2019

Santa Balbúrdia


Santa Balbúrdiapara ler os meninos
Dia 25 outubro - 19
Santa Paciência Casa Criativa
Rua Barão de Miracema, 81
Campos dos Goytacazes-RJ
convido: Adriana Medeiros, Aucilene Freitas, Adriano Moura, Joilson Bessa, Micaela Albertini, Jorge Lírio, Márcia Drummond,  Natalia Florido Osório DonaSimone Pedro,  Marcelle Louback  e Beatriz Agra para ler os poetas da Balbúrdia

Fulinaíma MultiProjetos
portalfulinaima@gmail.com
coletivo macunaíma de cultura
(22)99815-1266 - whatsapp


segunda-feira, 21 de outubro de 2019

gigi mocidade



divina comédia

tem mistérios no meu corpo
que ainda não tem nome
leio a Divina Comédia de Dante
enquanto o livro pega fogo
em minhas mãos num mar de quantas
vezes mergulhamos tanto
metáforas à parte
meu desejo explícito
desde aquela praia
no primeiro instante
que desvirginou  meu corpo
derramando mel e sal no  líquido
quando me fez amante



Gigi Mocidade



quarta-feira, 16 de outubro de 2019

Juras Secretas



Jura secreta 9 
não fosse o teu amor 
o meu conforto 
e eu teu anjo torto 
meu amor como seria 

se a jura secreta 
não fosse mais que um poema 
e se eu não te amasse 
como Glauber no cinema 

o que tenho aqui 
no corpo em transe
:
a quem daria? 




Jura secreta 10 
fosse o que eu quisesse 
apenas um beijo roubado em tua boca 
dentro do poema nada cabe 
nem o que sei nem o que não se sabe 

e o que não soubesse 
do que foi escrito 
está cravado em nós 
como cicatriz no corte 
entre uma palavra e outra 
do que não dissesse 

Artur Gomes
do livro Juras Secretas
Editora Penalux - 2018







cidade veracidade

onde tudo é carnaval minha madrinha se chamava cecília nunca soube onde minha mãe a conheceu por muitos anos morou na rua sacramento ao la...