sexta-feira, 9 de abril de 2021

Fernando Aguiar - EntreVistas


Meu primeiro contato com Fernando Aguiar, se dá lá pelas bandas 1983 através dos Correios, convidando-o para a Mostra Visual de Poesia Brasileira, onde esteve presente com sua poesia experimental, visual, em quase todas as edições até 1993. Em 1996 nos conhecemos pessoalmente em Bento Gonçalves-RS na 4ª Edição do Congresso Brasileiro de Poesia, ali assisti a sua performance com o poema “Problemática da Dificuldade”, que me arrebatou de vez. Voltamos a nos encontrar mais uma vez em Bento Gonçalves e depois em Belo Horizonte, em uma das edições do Belô Poético e nunca mais nos perdemos de vista. Considero Fernando Aguiar ao lado do brasileiro Hugo Pontes, os principais poetas visuais em atividade hoje no planeta. Há muito estava tentando este bate papo com ele, finalmente consegui e compartilho com vocês.

 

PROBLEMÁTICA DA DIFICULDADE

está difícil. está muito difícil.
está mesmo muito difícil. es
tá  realmente  mesmo  muito
difícil. não há dúvida que est
á realmente mesmo muito di
fícil.

está difícil. está muito difícil.
está muito mais difícil, está
mesmo muito mais difícil. es
tá realmente mesmo muito m
ais difícil. não há dúvida que
está realmente mesmo muito
mais difícil.

está difícil. está muito difícil.
está ainda mais difícil. está a
inda muito mais difícil. está
mesmo ainda muito mais dif
ícil. está realmente mesmo ai
nda muito mais difícil. não h
á dúvida que está realmente
mesmo ainda muito mais dif
ícil.

está difícil. está muito difícil.
está cada vez mais difícil. est
á cada vez ainda muito mais
difícil. está mesmo cada vez
ainda muito mais difícil. está
realmente mesmo cada vez a
inda muito mais difícil. não h
á dúvida que está realmente
mesmo cada vez ainda muito
mais difícil.

para quem julga que estou a e
xagerar, não digo apenas que
não há dúvida que está realme
nte mesmo cada vez ainda mu
ito mais difícil. nem que está d
ificílimo. está dificilíssimo !

                                                  Fernando Aguiar

Fernando Aguiar - 
Arte Digital: - Ademir Bacca

FERNANDO AGUIAR - Nasceu em Lisboa, em 1956. Autor de 37 livros de poesia, performance, contos, infantis e antologias poéticas publicados em Portugal, Espanha, Itália, Canadá, Irlanda, U.S.A., Inglaterra, Alemanha, Suécia e no Brasil.

Foi incluído em 99 antologias de literatura contemporânea e colaborou em cerca de 850 jornais e revistas de arte e literatura de 39 países. Realizou 48 exposições individuais em Portugal, Hungria, México, Polónia, Itália, Espanha, Emiratos Árabes Unidos e em Cuba, e participou em inúmeras exposições coletivas de poesia visual, fotografia, pintura, vídeo, instalação e mail-art.

Desde 1983 participou em mais de 120 festivais Internacionais de Poesia e de Performance em 26 países.

Organizou diversas exposições de Poesia Visual Portuguesa e Internacional e Encontros de Performance em Portugal, Itália, França e no Brasil.

É autor do “Soneto Ecológico”, uma obra de poesia ambiental constituída por 70 árvores plantadas em 14 filas de 5 árvores (4+4+3+3), numa área aproximada de 110x36 metros, em Matosinhos, 2005.


Artur Gomes - Como se processa o seu estado de poesia?

 Fernando Aguiar - No meu caso, é o poema que vai mudando de estado…

 Artur Gomes - Seu poema preferido? Seu ou de um outro poeta de sua preferência.

 Fernando Aguiar - São tantos e de tantos poetas que eu admiro, que seria preciso gastar demasiado papel…mesmo no formato digital…

 Artur Gomes - Qual o seu poeta de cabeceira?

 Fernando Aguiar - O que estou a ler no momento. Mas como leio sempre 4 ou 5 livros em simultâneo, eles vão-se revezando…

Reparo agora que, ao ler na cama, acabo por fazer uma espécie de orgia literária com esses escritores antes de adormecer…

 Artur Gomes - Em seu instante de criação existe alguma pedra de toque, algo que o impulsionar para escrever?

 Fernando Aguiar - Sim, pode ser algo que vi,  algo que ouvi, algo que senti ou simplesmente algo sem sentido, mais exatamente um não-algo.

 Artur Gomes - Livro que considera definitivo em sua vida¿

 Fernando Aguiar - O primeiro que comprei aos 16 anos, e que me levou para a poesia experimental: “Mais Exactamente P(r)o(bl)emas”, de António Aragão (que faria agora 100 anos de vida…)

 Artur Gomes - Além da poesia em verso , já exercitou ou exercita outra forma de linguagem com poesia?

 Fernando Aguiar - Poesia visual, poema-objeto, livro de artista, instalação poética, performance poética, fotopoesia, poesia ambiental com elementos da natureza…


Artur Gomes - Qual poema escreveu quando teve uma pedra no meio do caminho?

 O poema “Uma Rosa"

Uma Rosa 

Para Ana Hatherly

 Se uma rosa é uma rosa é uma rosa é uma rosa

E o amor o amor é o desamor de amar o amor

Se o verde tão verde é o verde que te quero verde

E o gosto que gosto é um gosto é o gosto

Se a pedra é a pedra no meio do caminho de pedra

E o caminho é o trajeto por onde me encaminho

Se o orgástico orgasmo é o espanto do organismo

E o corpo é um corpo e um corpo é o corpo

Se fogo é amor que arde e se contempla na queima

O sentimento que sinto é o sentido de um momento

A palavra palavra é toda a palavra numa só palavra

A razão da razoabilidade da causa fica sem fundamento

O encanto que enleio enlaço no canto da sedução

O estigma é o enigma da enigmática mácula

A força da força é o esforço que forço e reforço

Assumir é o arrogar do que depressa se assume

A sonoridade que nos soa e ecoa é a maviosidade

O processo é o possesso de um longo processo

O fecho é um conluio que se abre e logo se fecha     

O abismo onde precipito é no abismo que principia

O adensar é o compacto que pretensamente adenso

O pasmo é um êxtase que pasmo em pasmar

O adágio é o desaforo de um atrevido aforismo

O reflexo é um clarão que se flete e reflete

O que digo é o que digo mesmo quando desdigo

O que sinto é o que vejo é o que oiço é o que toco

E sonhar é o desejo com que todo o sonho sonha                    

A hipótese é a hipotenusa de um neutro hipotético

O que refiro é o refrão da referência a que se refere

A forma que deformo é uma forma noutra forma

O quando é a mera circunstância do quanto

O súbito é um súbdito dependente da subida

O agrado é um dilatado deleite por agradecer

A cerca é um cerco que cerca que nos cerca

A certeza é decerto a incerteza pela certa

A saída é a entrada por onde saio onde se sai

A tarde regressa tarde demais ao entardecer

O tardar a retardar o atraso que regride            

Os seios vazios ou cheios são sempre seios

A sombra a macular a mesma sombra

Outra sombra a somar a outra sombra

Sombra que sombreia o m que sobra

Escasso é o processo por onde passo e repasso    

As mãos são uma mão que se revê noutra mão

Um olhar é o observar de quem me olha

O cheiro é um odor cheio de aroma

O saber é a sabedoria de quem se encontra

O alguém é o ninguém perduravelmente além   

E ninguém é o alguém eternamente aquém

A verdade é a veracidade da inverdade

A realidade é o realismo de outra realidade

O presente é o futuro que tarda em chegar

O passado é o presente que logrou passar        

O nome é um nome nome que se nomeia

O anseio é o que almejo quando não o sei

Retornar é onde torno quando regresso

O outro é sempre o outro um mesmo outro

Ceder é conceber o que se cede e concede  

O todo é o tanto enquanto tento o portanto

E o tanto é o pleno prodígio de todo o portento

O encontro são os desencontros que em vão encontro

Aquela esta lua minguante ou crescente a mesma lua

Os dedos os idênticos dedos são outros dedos os dedos

A dádiva é um presente que raramente se oferece

A questão em questão suscita muitas outras questões

E uma rosa é uma rosa é uma rosa sempre rosa…

Artur Gomes - Revisitando Quintana: você acha que depois dessa crise virótica pandêmica, quem passará e quem passarinho?

 Fernando Aguiar - Acho que a maior parte da humanidade, passaralho…

 Artur Gomes – No prefácio do livro Pátria A(r)mada  o poeta e jornalista Ademir Assunção, afirma que cada poeta tem a sua tribo, de onde ele trás as suas referências. Você de onde vem, qual é a sua tribo?

 Fernando Aguiar - A tribo concretista e experimental.

 Artur Gomes - Nos dias atuais o que é ser um poeta, militante de poesia?

 Fernando Aguiar - É ser um trabalhador do desnecessário…

 Artur Gomes - Que pergunta não fiz que você gostaria de responder?

 Fernando Aguiar - Essa mesmo.


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Sofia Brito - EntreVistas

A primeira vez que encontrei Sofia Brito no face foi através de um vídeo onde ela fala um poema de Florbela Espanca. Gostei e fui beber mais dos teus olhos atlânticos e da sua delicada voz, aí me deparei com ela falando poemas de Fernando Pessoa(Alberto Caieiro) e aí me fez viajar ao Livro do Desassossego.

https://www.facebook.com/biblioteca.municipal.lagoa/videos/463627121358482

Imediatamente convidei-a para o Festival Cine Vídeo De Poesia Falada, no que foi aceito imediatamente com promessa de gravar alguns vídeos exclusivos para o Festival. Convidei-a também para o projeto EntreVistas com esse bate papo que segue. 

Ana Sofia Brito - Algarve (Portugal), é performer e artista de rua por opção, embora também mantenha a arte de palco; frequentou o Chapitô e estudou teatro físico na Moveo, em Barcelona.

Artur Gomes - Como se processa o seu estado de poesia?

 Sofia Brito - O meu estado de poesia processa-se ao analisar os acontecimentos que mais me marcam na vida. O que me faz pensar, remete-me para o estado de querer entender através de palavras para decifrar o que sinto e penso disso mesmo.

 Artur Gomes - Seu poema preferido? Seu ou de um outro poeta de sua preferência.

 Sofia Brito - É muito complicado escolher um poema favorito porque os estados de alma se alteram consoante o que se vive; neste momento, apontava para o "Testamento”, de Ana Luisa Amaral

 Artur Gomes - Em seu instante de criação existe alguma pedra de toque, algo que o impulsionar para escrever?

 Sofia Brito – O que me impulsiona a escrever é sempre o estado do mundo, no momento em que escrevo. 

 Saberei ser quem sou¿

 Que me fosse concedido o desejo de aquietar a consciência,

aquele dom invejável dos sábios discretos;
às tantas, vivo cansada de uma mente desobediente
a perturbar cada instante que a vida me dispõe.

 

Parece que, afinal, o sonho é obra do ego, e o ego é obra do diabo.

 

No regaço do meu cansaço, imploro o meu avesso;
dai-me vida, sabedoria para trocar a obsessão por uma sã e eterna dose
da quietude do pensamento!

Dai-me vida o que despretensiosamente te imploro!

Quero aprender os sorrisos sem cobrança que nunca soube dar.

 

Admiráveis são os que realizam os seus sonhos
enfrentando lutas desenfreadas para consegui-lo;
mais admiráveis ainda, os que são gratuitamente felizes,
mesmo que, por toda a vida vão, sem ambição de sonhos realizados.


In 7Margens

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 Artur Gomes - Além da poesia em verso , já exercitou ou exercita outra forma de linguagem com poesia?

 Sofia Brito - Gosto da reflexão poética, aliás, não sei escrever sem ser recorrendo a metáforas maleáveis; que levem o leitor a identificar-se com o que penso ainda que eles vivam estados diferentes do mesmo sentimento.

Artur Gomes - Revisitando Quintana: você acha que depois dessa crise virótica pandêmica, quem passará e quem passarinho?

 Sofia Brito - passarão os amantes, como sempre. Passarinho os que são vazios.

 Artur Gomes – No prefácio do livro Pátria A(r)mada  o poeta e jornalista Ademir Assunção, afirma que cada poeta tem a sua tribo, de onde ele trás as suas referências. Você de onde vem, qual é a sua tribo?

 Sofia Brito - A minha tribo, e os que me inspiram são os que, apesar do infortúnio, recorrem a linguagem para se expressar. Os que recorrem a inspirações consolidadas para parafraseá-las na atualidade.

 Artur Gomes - Nos dias atuais o que é ser um poeta, militante de poesia?

 Sofia Brito - Ser poeta hoje, é ser um livre pensador. Ir a fundo nas questões da atualidade sem medo dos dedos que se apontem ao que se pensa.

 Artur Gomes - Que pergunta não fiz que você gostaria de responder?

 Sofia Brito - Não há nenhuma pergunta à qual eu pudesse responder porque considero a minha opinião um campo infértil, desprovido de razão. Ou melhor, talvez gostasse de responder à questão: o que mais te vale a pena em estar viva? eu diria: a poesia.   

 


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