terça-feira, 21 de abril de 2020

Gustavo Polycarpo - EntreVistas


Ele é um velho amigo, remanescente lá dos anos de 1973, quando comecei a frequentar São Fidélis, nos Festivais de Música, com o meu eterno parceiro Paulo Celso Ciranda. Como mesmo afirma descendente como eu de uma tribo de  índios goytacazes. Mesmo por um tempo que ele morou no Rio de Janeiro, nunca deixamos de nos encontrar nos Festivais de Música, Poesia Falada, Saraus, por todas as quebradas das bandas do Norte Fluminense. Além da Arquitetura a música, a poesia corre em suas veias, para que São Fidélis não deixe de ser carinhosamente chamada de "cidade poema".

Gustavo Polycarpo Nasceu em São Fidélis RJ, 1963. E morador na cidade. Escrevinhador desde os 8 anos, tocador de tambor desde os 6, de violão desde os 12, fazedor de letras e canções desde os 14. Arquiteto e Urbanista, formado pelas andanças já defendidas por Arariboia, na cidade de Niterói, e por São Sebastião, na Ria de Janeiro. Em música aperfeiçoei-me com Ian Guest. Em poesia, 2017, fui finalista do Prêmio Rio Literatura  com livro “poema Cidade”, convidado à Bienal do Livro Rio por conta.

Artur Gomes - Como se processa o seu estado de poesia?

Gustavo Polycarpo - Muitas das vezes por referência rítmica das sílabas, depois das palavras, enfim o sentido, mesmo como que prosodiando já.

Agora, os temas vêm por onde eu estiver, a andar a olhar a gostar a arguir a tocar a ouvir.

E nas diversas leituras em pessoas em livros em filmes em canções em músicas ...

Após recolhidos estes primeiros escritos rabiscados rapidamente é laborar lapidar labutar a escrita.

Artur Gomes - Seu poema preferido?

Gustavo Polycarpo - Me vêm sempre, há anos, versos de uma letra sua, acho, com música de Paulinho:

“não que me falte coragem, tá sobrando medo”.

Para mim é, também o da hora.

Artur Gomes - Qual o seu poeta de cabeceira?

Gustavo Polycarpo - Tô me reapaixonado por sêo Manoel de Barros, os 18 livros. Num tempo como este, que no temos de nos livrar de duas pestes, a subversão na realidade do (in)visível nos versos dele é uma das melhores formas de m’entender agora.

Artur Gomes - Em seu instante de criação existe alguma pedra de toque, algo que o impulsione para escrever?

Gustavo Polycarpo - A música, a que ouço já gravada e a que ouço a fazer. Os cenários que vou montando. O gozo.

Artur Gomes - Livro que considera definitivo em sua obra?

Gustavo Polycarpo - O último, “poema Cidade”, finaliza uma trilogia que me havia proposto quando iniciei a compor os outros dois, tenho que tocá-los ainda, pois são letras que servem para música, muitas são mesmo letras de música.
Não sei se o considero definitivo. Somente é o último que fiz.

Artur Gomes - Além da poesia em verso, já exercitou ou exercita outra forma de linguagem com poesia?

Gustavo Polycarpo - Letras de músicas e poema entoado, em que faço o tema musical que o acompanha. Não é fundo musical para versar, é música composta especificamente para ler aqueles tais específicos versos.

Artur Gomes - Qual poema escreveu quando teve uma pedra no meio do caminho?

Gustavo Polycarpo - Dei muito bicudo em pedras pelaí, vezes fiz poemas para exorcizar, mas quando percebi que existia ali o que no meu caminho eu sempre via e já não existe mais porque já não tem mais preferi, e prefiro, entoar versos de cantos que chamam o que acontece não o que acontecia.

Tá certo que, depois de um tempo, o que estava a acontecer já não está no caminho pois já não é o que acontece, mas aí ...

Artur Gomes - Revisitando Quintana: você acha que depois dessa crise virótica pandêmica, quem passará e quem passarinho?

Gustavo Polycarpo - Espero que os psicopatas sejam reconhecidos nus.

Sinceramente, acredito que passarão os que já são resilientes em suas atividades culturais e científicas; e quero, isto, sim, de modo novo, que possamos conversar mais sem porradaria, afetuosamente apresentar as coisas que fedem só para mostrar que fedem mas que esqueçamos rapidamente que elas existem e comecemos e cheirar gostoso, que é coisa que a gente sabe fazer.

Artur Gomes - Escrevendo sobre o livro Pátria A(r)mada, o poeta e jornalista Ademir Assunção, afirma que cada poeta tem a sua tribo, de onde ele traz as suas referências. Você de onde vem, qual é a sua tribo?

Gustavo Polycarpo - Sou da aldeia que a tribo puri e coroado ajudou a fundar (“sobreviventes” dos cobertores do Antônio Salema aos goitacá), rio acima sêo Paraíba do Sul, das audiências e palcos dos festivais de música aqui em São Fidélis, mas também em Campos, Cambuci, Itaocara, Pádua, Miracema.

Artur Gomes - Nos dias atuais o que é ser um poeta, militante de poesia?

Gustavo Polycarpo - Parece que descobrir uma mídia para poesias em versos em prosa em canções em pinturas em teatros em arquitetura cidades e palcos seja a mais instigante das propostas. Sem receber o nome de performer (ou recebendo), sem ser um influenciador (ou doendo assim). Parece-me que nichar seja a tribo do ponto anterior e expandir era palavra era de boca em boca que de olhos em tela ouve e desouve com um frenesi que tenha que entender em segundos senão muda o canal, velocidade não me faz sentido, movimento sim.

Artur Gomes - Que pergunta não fiz que você gostaria de responder?

Gustavo Polycarpo - Todas. Manda vir.

Artur Gomes - Do que você mais sente saudade em São Fidélis?

Gustavo Polycarpo - Dos meus 20 anos

Artur Gomes - O que São Fidélis tinha nos seus 20 anos que hoje não tem mais?

Gustavo Polycarpo - Festivais de Música, Poesia Falada, Teatro, Música Instrumental, Chorinho, Villa Lobos, Bossa Nova, Varais de Poesia  e corpos encantados pelas ruas. Não me esqueço que na minha juventude, havia sempre uma grande quantidade de compositores de canções e autores de encontros movidos a música e poesia autoral. O que de certa forma foi o que lhe fez ser reconhecida como "cidade poema", não apenas por suas belezas histórico naturais.

Fulinaíma MultiProjetos
portalfulinaima@gmail.com
(22)99815-1268 - whatsapp



2 comentários:

  1. A obra do Gustavo Polycarpo é preciso algumas vezes ler e reler e voltar, pois que ñ retrata e sim cria um mundo novo. Complexo e as vezes de difícil entendimento, mas a proposta, creio, ñ é entender. É sentir.

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    Respostas
    1. antes da palavra
      a sede da palavra
      e a causa do antes:
      palavra antes
      cala.

      faz-se
      sem antes feito:
      a palavra.

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