segunda-feira, 27 de abril de 2020

Malu Pera - Entrevistas


Nos conhecemos no Bar do Frango, zona leste paulista, em noite do lançamento do meu Pátria A(r)mada. Me acompanhava na noite, Pedro Tostes, poeta parceiro de longas jornadas, que  ampliou nosso bate papo   sobre Artes praticamente a noite inteira. 

Nos meus momentos de palco, Malu Pera gentilmente registrou os meus  instantes de poesia sonora com a a língua solta na palavração. Desde então estamos conectados no face e no zap trocando nossas impressões sobre Arte e sobre esse tempo de sobressaltos, que sobre nós paira mais uma vez, trazendo a todo momento nuvens de tempestades, que não sabemos para onde irá nos levar. 


Malu Pera - Nasci na Zona Leste de São Paulo, me formei em Educação Artística onde conheci o teatro mas segui carreira burocrática. Essa contradição me fez percorrer uma estrada sem grandes performances (rsrs).

Descobri que era possível escrever muito cedo, creio que sempre escrevi pra mim mesma, muito e nunca havia interpretado meus próprios escritos mesmo frequentando saraus e me reunindo com amigos artistas. Da mesma forma sempre fotografei, não profissionalmente, até que comecei aos poucos manifestar meus pensamentos nos saraus e em 2018 quando me aposentei comecei a fotografar profissionalmente.

Não sou atriz, modelo, dançarina... talvez não seja nem poeta nem fotógrafa, mas trago comigo um olhar amoroso para as expressões dos rostos, dos corpos diversos, dos pensamentos e procuro trazer esse drama para o papel ou para a câmera fotográfica.

Atualmente trabalho no projeto Humanes que retrata o ser humano em todas as suas formas e diversidades.  Até o final deste ano 2020 pretendo lançar um livro de poesias que a muito ensaio pra terminar e um foto-livro dos sonhos que andei retratando por ai.

Aguardando o COVID-19  sair de cena para retomar a exposição fotográfica adiada do Projeto Transcender – Um olhar para a mulher transexual e travesti e o do livro fotográfico Imagens do Som com previsão de lançamento para setembro/2020.

 Artur Gomes -  Como se processa o seu estado de poesia?

Malu Pera - Não existe uma regra para que eu queira ou possa escrever. A inspiração se dá no instante em que algo me afeta, de mim mesma, por outro alguém, uma canção, uma indignação ou uma vista e neste caso a poesia se processa por meio da fotografia.

Artur Gomes - Seu poema preferido?

Malu Pera - Sou uma pessoa imprevisível do ponto de vista emocional, sendo assim, hora prefiro um poema de Clarice que me fortalece, hora um de Leminski que afirma, ora os de Paulo Gonçalves que me devolve Catarina (infância), os de Artur Gomes que desestabiliza total. Por hora, Desobediência de  Dalila Teles Veras, que revela como me sinto agora.

Dos meus poemas, Alma que transmite um conflito quase que teatral... rsrs

Artur Gomes - Qual o seu poeta de cabeceira?

Malu Pera - Nunca tive um só. Gosto de ter Paulo Leminski, mas, ultimamente tenho me debruçado em livros escritos por mulheres. Hoje na cabeceira, Calibã e a Bruxa de Silvia Federici.

Artur Gomes - Em seu instante de criação existe alguma pedra de toque, algo que o impulsione para escrever?

Malu Pera - Talvez a solidão, o vinho ou uma boa indignação!

Artur Gomes  - Livro que considera definitivo em sua obra.

Malu Pera - Não tenho livros publicados, tenho quase que um diário cheio de insônias, mas estou estudando a possibilidade de lançar o primeiro que reunirá memórias de uma menina chamada Catarina e suas viagens por quintais imaginários ou não (isso o leitor é que decidirá).

Artur Gomes - Além da poesia em verso, já exercitou ou exercita outra forma de linguagem com poesia?

Malu Pera - A fotografia. Descobri nela vários outros tipos de linguagem poética.

Artur Gomes - Qual poema  escreveu quando teve uma pedra no meio do caminho?

Malu Pera - Ao passado escrevi Amargo Trago, após descobrir uma doença degenerativa em minhas mãos.

Artur Gomes - Revisitando Quintana: você acha que depois dessa crise virótica pandêmica, quem passará e quem passarinho?

Malu Pera - Toda forma de poesia e resistência passarinho, somente e toda.

Artur Gomes - Escrevendo sobre o livro Pátria A(r)mada, o poeta e jornalista Ademir Assunção, afirma que cada poeta tem a sua tribo, de onde ele traz as suas referências, Você de onde vem, qual é a sua tribo?

Malu Pera - Amo as artes, toda forma de expressão. Sempre me senti assim e com intensidade suficiente para não me entender apegada a uma só referência. Sobrevivi entre a Zona Leste de São Paulo onde nasci e a periferia de Diadema em cenários de guerra, luta e escolhas.

Aprendi cedo a olhar para o mundo com desconfiança, mas consegui carregar comigo as artes, sobretudo a música, a poesia e a fotografia, que sempre me libertaram e em todos os momentos da minha vida mesmo impossibilitada de me dedicar exclusivamente a elas, elas foram minha escolha.

Artur Gomes - Nos dias atuais o que é ser um poeta, militante de poesia?

Malu Pera - Resistência pura e necessária.

Obrigado amigo!

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no Bar do Frango - foto: Malu Pera 


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