Nos conhecemos no Bar do Frango, zona leste paulista, em
noite do lançamento do meu Pátria
A(r)mada. Me acompanhava na noite, Pedro Tostes, poeta parceiro de longas jornadas, que ampliou nosso bate papo sobre Artes praticamente a noite inteira.
Nos meus
momentos de palco, Malu Pera gentilmente registrou os meus instantes de poesia sonora com a a língua solta na palavração. Desde então estamos conectados
no face e no zap trocando nossas impressões sobre Arte e sobre esse tempo de
sobressaltos, que sobre nós paira mais uma vez, trazendo a todo momento nuvens
de tempestades, que não sabemos para onde irá nos levar.
Malu Pera - Nasci na Zona Leste de São Paulo, me formei em
Educação Artística onde conheci o teatro mas segui carreira burocrática. Essa
contradição me fez percorrer uma estrada sem grandes performances (rsrs).
Descobri que era
possível escrever muito cedo, creio que sempre escrevi pra mim mesma, muito e
nunca havia interpretado meus próprios escritos mesmo frequentando saraus e me
reunindo com amigos artistas. Da mesma forma sempre fotografei, não
profissionalmente, até que comecei aos poucos manifestar meus pensamentos nos
saraus e em 2018 quando me aposentei comecei a fotografar profissionalmente.
Não sou atriz,
modelo, dançarina... talvez não seja nem poeta nem fotógrafa, mas trago comigo
um olhar amoroso para as expressões dos rostos, dos corpos diversos, dos
pensamentos e procuro trazer esse drama para o papel ou para a câmera
fotográfica.
Atualmente trabalho
no projeto Humanes que retrata o ser
humano em todas as suas formas e diversidades.
Até o final deste ano 2020 pretendo lançar um livro de poesias que a
muito ensaio pra terminar e um foto-livro dos sonhos que andei retratando por
ai.
Aguardando o COVID-19
sair de cena para retomar a exposição
fotográfica adiada do Projeto
Transcender – Um olhar para a mulher transexual e travesti e o do livro
fotográfico Imagens do Som com
previsão de lançamento para setembro/2020.
Malu Pera - Não existe uma regra para que eu queira ou possa
escrever. A inspiração se dá no instante em que algo me afeta, de mim mesma,
por outro alguém, uma canção, uma indignação ou uma vista e neste caso a poesia
se processa por meio da fotografia.
Artur Gomes - Seu poema preferido?
Malu Pera - Sou uma pessoa imprevisível do ponto de vista
emocional, sendo assim, hora prefiro um poema de Clarice que me fortalece, hora um de Leminski que afirma, ora os de Paulo
Gonçalves que me devolve Catarina (infância), os de Artur Gomes que desestabiliza total. Por hora, Desobediência
de Dalila
Teles Veras, que revela como me sinto agora.
Dos meus poemas, Alma que transmite um conflito quase
que teatral... rsrs
Artur Gomes - Qual o seu poeta de cabeceira?
Malu Pera - Nunca tive um só. Gosto de ter Paulo Leminski,
mas, ultimamente tenho me debruçado em livros escritos por mulheres. Hoje na
cabeceira, Calibã e a Bruxa de Silvia Federici.
Artur Gomes - Em seu instante de criação existe alguma pedra de toque,
algo que o impulsione para escrever?
Malu Pera - Talvez a solidão, o vinho ou uma boa indignação!
Artur Gomes - Livro que considera definitivo
em sua obra.
Malu Pera - Não tenho livros publicados, tenho quase que um
diário cheio de insônias, mas estou estudando a possibilidade de lançar o
primeiro que reunirá memórias de uma menina chamada Catarina e suas viagens por quintais imaginários ou não (isso o
leitor é que decidirá).
Artur Gomes - Além da poesia em verso, já exercitou ou exercita outra forma de
linguagem com poesia?
Malu Pera - A fotografia. Descobri nela vários outros tipos
de linguagem poética.
Artur Gomes - Qual poema escreveu quando
teve uma pedra no meio do caminho?
Malu Pera - Ao passado escrevi Amargo Trago, após descobrir uma doença degenerativa em minhas
mãos.
Artur Gomes - Revisitando Quintana: você acha que depois dessa crise virótica
pandêmica, quem passará e quem passarinho?
Malu Pera - Toda forma de poesia e resistência passarinho,
somente e toda.
Artur Gomes - Escrevendo sobre o livro Pátria A(r)mada, o poeta e jornalista Ademir
Assunção, afirma que cada poeta tem a sua tribo, de onde ele traz as suas
referências, Você de onde vem, qual é a sua tribo?
Malu Pera - Amo as artes, toda forma de expressão. Sempre me
senti assim e com intensidade suficiente para não me entender apegada a uma só
referência. Sobrevivi entre a Zona Leste de São Paulo onde nasci e a periferia
de Diadema em cenários de guerra, luta e escolhas.
Aprendi cedo a olhar para o mundo
com desconfiança, mas consegui carregar comigo as artes, sobretudo a música, a
poesia e a fotografia, que sempre me libertaram e em todos os momentos da minha
vida mesmo impossibilitada de me dedicar exclusivamente a elas, elas foram
minha escolha.
Artur Gomes - Nos dias atuais o que é ser um poeta, militante de poesia?
Malu Pera - Resistência pura e necessária.
Obrigado amigo!
Fulinaíma MultiProjetos
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(22)99815-1268 - whatsapp
no Bar do Frango - foto: Malu Pera
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