Ela foi uma das minhas primeiras professoras de literatura
na Então Escola Técnica Federal de Campos lá pelos idos dos anos 6070. Com ela
aprendi a dar os primeiros passos com poesia. Depois já nos anos 80, ela já doutora
em semiótica, e eu coordenador da Oficina de Artes Cênicas, fomos colegas de
trabalho quando ela criou e coordenou a
Rádio Vanguarda Educativa, no período em que Luciano D´Angelo foi
Diretor da ETFC. Recentemente nos surpreendeu com a trilogia "o avesso da mulher" encenadas no Teatro de Bolso, com direção
de Fernando Rossi, tendo o elenco de
cada uma delas: Katiana Rodrigues, Rosângela Queiroz, e Adriana Medeiros, com
previsão de voltar ao palco pós pandemia.
Arlete
Sendra, Doutora em Semiótica e um doutorado em Literaturas de
língua portuguesa.
Me inaugurei dramaturga com a trilogia "O avesso da mulher". Gosto de conversar. De ouvir música. Teoria literária é
minha leitura preferida. Acho que a vida por si só não é suficiente. É preciso
colocar nela mais vida. É como fazer o dever de casa. Pós doutorado em Semiótica pela Universidade de
Salamanca/Espanha. Doutorado em Literaturas de Língua Portuguesa pela Puc/ Rio.
Artur
Gomes - Como se processa o
seu estado de poesia?
Arlete
Sendra - Artur, sou uma enamorada da vida. Vivo com ela uma
relação metafísica. Ela me impôs e me impõe viver uma travessia épica e para
chegar a Itaca, faço a ela permanentes declaração de amor.
Artur
Gomes - Seu poema preferido?
Arlete
Sendra - Me dê um momento. Vou ali na adolescência, segunda metade
dos anos 40, quando conheci o "poeta
das cigarras ", Olegário Mariano:
Água corrente
Água corrente, água corrente/
O teu destino é igual ao destino da gente/"
Para onde vais? Tu mesma ignorar tua sorte/
Vais para a vida, para o sonho ou para a morte?
..............................
Li e leio poemas lindos.
Ponho-me a escrever teu nome/
Com letras de macarrão/
......................................
Desgraçadamente falta uma letra/
Uma letra somente
para acabar teu nome/
-- Está sonhando? Olhe que a sopa esfria/
Eu estava sonhando.../
E há em todas as consciências este cartaz amarelo: /
Neste país é proibido sonhar.
Drummond.
Artur
Gomes - Qual o seu poeta de cabeceira?
Arlete
Sendra - Difícil responder com o singular. Cito : Carlos Drummond
de Andrade e Rainer Maria Rilke.
Artur
Gomes - Em seu instante de criação existe alguma pedra de toque,
algo que o impulsione para escrever?
Arlete
Sendra - Escrevo em estado de nostalgia, essa dor do "nostos"
, presente em dias que noites parecem ser. E dialogamos com as incertezas da vida.
Artur
Gomes - Livro que
considera definitivo em sua obra?
Arlete
Sendra - Obra minha definitiva ainda não escrevi. Acho, Artur que
obra definitiva é a nossa própria vida.
Artur
Gomes - Além da poesia em verso, já exercitou ou exercita outra forma de
linguagem com poesia¿
Arlete
Sendra - Exercito o poema em prosa que é minha forma preferida de
escrever. Escrevo fragmentos, que são
como todo fragmento, parte de um todo. Mas raramente público.
Timidez? Medo da crítica? Só Freud para explicar.
Artur
Gomes - Qual poema escreveu quando teve uma pedra no meio do
caminho¿
Arlete
Sendra - Não sei se é poema. Lembro-me que um dia nem a esperança me fez
companhia. Vivi o vazio. E aquele vazio queria ser preenchido com dor. Deixei a
página em branco.
Artur
Gomes - Revisitando Quintana: você acha que depois dessa crise
virótica pandêmica, quem passará e quem passarinho¿
Arlete
Sendra - Imprevisível o "Eu
passarinho" de Quintana. Seremos novos humanos? Inauguraremos uma
pandemia de amor?
Artur
Gomes - Escrevendo sobre o livro Pátria A(r)mada, o poeta e jornalista
Ademir Assunção, afirma que cada poeta tem a sua tribo, de onde ele traz as
suas referências. Você de onde vem, qual é a sua tribo?
Arlete
Sendra - Venho de terras taquarais. De alambique que o capitalismo
quebrou . Sou da tribo das Mulheres guerreiras, tribo que não aceita tempos
mortos e acredita que " enquanto
houver vida/ não haverá ponto final" . Versos finais de poema
autobiográfico que escrevi quando fiz 65 anos: Sem contestação.
Artur
Gomes - Nos dias atuais o que é ser um poeta, militante de
poesia¿
Arlete
Sendra - Gosto da expressão "poeta
militante". Eu diria que é
aquele que rasga a palavra para mostrar como sangra o que ela revela.
Mostra. Escancara.
Artur
Gomes - Que pergunta não fiz que você gostaria de responder¿
Arlete
Sendra - Você poderia me perguntar: quando você fez a travessia
para a poesia social de denúncia?
Resposta
- Esta travessia eu a fiz lendo você, Artur.
Deixei de apenas "ouvir
estrelas" E comecei a escutar o
grito da rua em tempos da Escola Técnica Federal de Campos.
Obrigada.
Beleza de entrevista.Artur, você é um felizardo em ter tido uma professora desse naipe. Invejável. Deu vontade de conhece-la pessoalmente. Parabéns ao entrevistado e ao entrevistador.
ResponderExcluir