sábado, 25 de abril de 2020

Paulo Gonçalves - EntreVista



Nosso primeiro encontro, foi um desse encontros inusitados. Em fevereiro de 2019, fui ao Bar do Frango, na zona leste paulistana, com a minha amiga Silvia Passareli, para assistir ao lançamento de um clip do Robson Timóteo sobre uma canção do Edvaldo Santana, e num determinado momento, o Paulo, se aproxima e me pergunta: - você é Artur Gomes¿ Sendo  minha resposta positiva ele continua: - cara aquele CD seu (Fulinaíma Sax Blues Poesia), é do caralho!  - Vivo tentando memorizar aqueles poemas, para ver se aprendo a falar poesia - Em seguida me apresenta ao Tatau, proprietário do Bar do Frango, que me pede uma canja.  Aí foi soltar o verbo e correr  pro abraço.  Alguns meses depois lá estava eu novamente no Bar do Frango, lançando  o meu Pátria A(r)mada, com a parceria no palco do meu querido Pedro Tostes.  E recentemente ele me manda uma mensagem dizendo que tinha conseguido falar, memorizado, o poema Esfinge, no Sarau de Aniversário do Bar do Frango. São esses acasos, que acontecem,  que não acredito que  aconteçam por acaso.  Quem sabe talvez Freud explique!


 Paulo Gonçalves, Nascido em fevereiro de 1966 Formado em Ciências Sociais Pós graduação em Sócio- psicologia. Escreveu três livros : Sinto Muito … 2002 Era um dia assim… 2010 O Absurdo 2019 E prepara o que será o seu último e definitivo livro : Manual Prático Da Dor

Artur Gomes -  Como se processa o seu estado de poesia?

Paulo Gonçalves  - geralmente com um encantamento sobre algo que li, presenciei, ou mesmo me envolvi. O corpo todo participa. É como escrever com os olhos, pensar com os pés, ouvir com a boca … o estado de encantamento é a subversão dos sentidos dos órgãos.

Artur Gomes - Seu poema preferido?

Paulo Gonçalves - escrevi um poema , que seria uma espécie de reza, para um coração ateu: A Fuga . Está no meu último livro - O Absurdo .

Artur Gomes - Qual o seu poeta de cabeceira?

Paulo Gonçalves - Paulo Leminski. Genial

Artur Gomes - Em seu instante de criação existe alguma pedra de toque, algo que o impulsione para escrever?

Paulo Gonçalves - escrever é como paixão repentina e passageira, como um estado febril, compulsão … É preciso se afogar, ir ao fundo, porque depois passa o efeito .

Artur Gomes -  Livro que considera definitivo em sua obra?

Paulo Gonçalves - Eu tenho  três livros escritos . Mas o último O Absurdo, é bem marcante , tem o signo do andarilho, nômade. Constrói outras linhas de fugas .

Artur Gomes - Além da poesia em verso,  já exercitou ou exercita outra forma de linguagem com poesia?

Paulo Gonçalves - tenho poemas musicados. Viraram canções entre vários autores da cena independente paulistana.

Artur Gomes - Qual poema escreveu quando teve uma pedra no meio do caminho?

Paulo Gonçalves - escrevi um poema num momento de reflexão existencial, estará no próximo lançamento - Manual Prático Da Dor :

Fotossíntese

Quando quarava as sobras de solidão
Nos varais do passado
Senti as solas do Tempo
Em minhas costas
A mesa já posta
O café com pão
Os resquícios da escuridão
Resistindo a luz acesa
E dentro dos quartos
A manhã ainda presa
A voz da mãe ao longe
O dedo do pai bem perto
E num canto deserto
O livro de capa preta
Ditando o errado e o certo
E uma casa toda encoberta pela fuligem da distância
E foi na infância que rompi
Com o que restava de mim
E saí
Vestido com meus andrajos de Sol
Meu colar de dores
Pendurado no pescoço
E ainda muito moço
Espalhei pelos caminhos
Meus sonhos adormecidos
E minha gratidão
Por ter amanhecido
Artur Gomes - Revisitando Quintana: você acha que depois dessa crise virótica pandêmica, quem passará e quem passarinho?

Paulo Gonçalves - O que já se percebe, é que a maneira como vivíamos não é mais possível. O mundo se organiza bem melhor sem o modo ditame da paranóia febril, sem igrejas, sem o individualismo compulsivo, sem a espera do milagre divino .

E novas formas de pensar e organizar num projeto coletivo que leve em conta uma outra subjetividade. É preciso resgatar o desejo , depois que passar o temporal.
E só os olhos que não teme os abismos, enxergarão um novo horizonte.

Artur Gomes - Escrevendo sobre o livro Pátria A(r)mada, o poeta e jornalista Ademir Assunção, afirma que cada poeta tem a sua tribo, de onde ele traz as suas referências. Você de onde vem, qual é a sua tribo?

Paulo Gonçalves - viver é experimentação, é de onde vem a nossa construção, o nosso imaginário do que somos.  Sou da zona leste paulistana, a maior concentração de operários e desocupados dessa capital.

Minha origem vem de um movimento estudantil, sem escolas, de um movimento operário , sem emprego , de uma juventude sem perspectiva nenhuma. Sou filho desse campo de batalha. Regado com muito vinho , drogas , sexo e rock n rolo.

Artur Gomes - Nos dias atuais o que é ser um poeta, militante de poesia?

Paulo Gonçalves - É romper com o mundo dos signos,  imposto pela maneira fabril , que nos faz morrer em vida em troca das migalhas do olhar complacente e piedoso da puta materna do Capital . Desagregar a sociopatia gregária, confundindo a sua linguagem . Que o pensamento crie, e liberte a imaginação.

Artur Gomes - Que pergunta não fiz que você gostaria de responder?

Paulo Gonçalves -Há sentido nisso tudo?
Resposta : Não, não há … E preciso inventá - lo … Viver é um fascinio !

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