Nosso
primeiro encontro, foi um desse encontros inusitados. Em fevereiro de 2019, fui
ao Bar do Frango, na zona leste paulistana, com a minha amiga Silvia Passareli, para assistir ao lançamento
de um clip do Robson Timóteo sobre
uma canção do Edvaldo Santana, e num
determinado momento, o Paulo, se aproxima e me pergunta: - você é Artur Gomes¿
Sendo minha resposta positiva ele
continua: - cara aquele CD seu (Fulinaíma
Sax Blues Poesia), é do caralho!
- Vivo tentando memorizar aqueles
poemas, para ver se aprendo a falar poesia - Em seguida me apresenta ao Tatau, proprietário do Bar do Frango, que me pede uma canja. Aí foi soltar o verbo e correr pro abraço. Alguns meses depois lá estava eu novamente no
Bar do Frango, lançando o meu Pátria A(r)mada, com a parceria no
palco do meu querido Pedro Tostes. E recentemente
ele me manda uma mensagem dizendo que tinha conseguido falar, memorizado, o
poema Esfinge, no Sarau de Aniversário do Bar do Frango. São esses acasos, que acontecem, que não acredito que aconteçam por acaso. Quem sabe talvez Freud explique!
Artur Gomes - Como se processa o seu estado de poesia?
Paulo Gonçalves - geralmente com um encantamento sobre algo
que li, presenciei, ou mesmo me envolvi. O corpo todo participa. É como
escrever com os olhos, pensar com os pés, ouvir com a boca … o estado de
encantamento é a subversão dos sentidos dos órgãos.
Artur Gomes - Seu poema
preferido?
Paulo Gonçalves - escrevi um
poema , que seria uma espécie de reza, para um coração ateu: A Fuga . Está no meu último livro - O Absurdo .
Artur Gomes - Qual o seu
poeta de cabeceira?
Paulo Gonçalves - Paulo
Leminski. Genial
Artur Gomes - Em seu
instante de criação existe alguma pedra de toque, algo que o impulsione para
escrever?
Paulo Gonçalves - escrever é
como paixão repentina e passageira, como um estado febril, compulsão … É
preciso se afogar, ir ao fundo, porque depois passa o efeito .
Artur Gomes - Livro que considera definitivo em sua obra?
Paulo Gonçalves - Eu tenho três livros escritos . Mas o último O Absurdo, é bem marcante , tem o signo
do andarilho, nômade. Constrói outras linhas de fugas .
Artur Gomes - Além da poesia
em verso, já exercitou ou exercita outra
forma de linguagem com poesia?
Paulo Gonçalves - tenho poemas
musicados. Viraram canções entre vários autores da cena independente
paulistana.
Artur Gomes - Qual poema
escreveu quando teve uma pedra no meio do caminho?
Paulo Gonçalves - escrevi um
poema num momento de reflexão existencial, estará no próximo lançamento - Manual Prático Da Dor :
Fotossíntese
Quando
quarava as sobras de solidão
Nos
varais do passado
Senti
as solas do Tempo
Em
minhas costas
A
mesa já posta
O
café com pão
Os
resquícios da escuridão
Resistindo
a luz acesa
E
dentro dos quartos
A
manhã ainda presa
A
voz da mãe ao longe
O
dedo do pai bem perto
E
num canto deserto
O
livro de capa preta
Ditando
o errado e o certo
E
uma casa toda encoberta pela fuligem da distância
E
foi na infância que rompi
Com
o que restava de mim
E
saí
Vestido
com meus andrajos de Sol
Meu
colar de dores
Pendurado
no pescoço
E
ainda muito moço
Espalhei
pelos caminhos
Meus
sonhos adormecidos
E
minha gratidão
Por
ter amanhecido
…
Artur Gomes - Revisitando
Quintana: você acha que depois dessa crise virótica pandêmica, quem passará e
quem passarinho?
Paulo Gonçalves - O que já se
percebe, é que a maneira como vivíamos não é mais possível. O mundo se organiza
bem melhor sem o modo ditame da paranóia febril, sem igrejas, sem o
individualismo compulsivo, sem a espera do milagre divino .
E
novas formas de pensar e organizar num projeto coletivo que leve em conta uma
outra subjetividade. É preciso resgatar o desejo , depois que passar o
temporal.
E
só os olhos que não teme os abismos, enxergarão um novo horizonte.
Artur Gomes - Escrevendo
sobre o livro Pátria A(r)mada, o poeta e jornalista Ademir Assunção, afirma que
cada poeta tem a sua tribo, de onde ele traz as suas referências. Você de onde
vem, qual é a sua tribo?
Paulo Gonçalves - viver é
experimentação, é de onde vem a nossa construção, o nosso imaginário do que
somos. Sou da zona leste paulistana, a
maior concentração de operários e desocupados dessa capital.
Minha
origem vem de um movimento estudantil, sem escolas, de um movimento operário ,
sem emprego , de uma juventude sem perspectiva nenhuma. Sou filho desse campo
de batalha. Regado com muito vinho , drogas , sexo e rock n rolo.
Artur Gomes - Nos dias
atuais o que é ser um poeta, militante de poesia?
Paulo Gonçalves - É romper com o
mundo dos signos, imposto pela maneira
fabril , que nos faz morrer em vida em troca das migalhas do olhar complacente
e piedoso da puta materna do Capital . Desagregar
a sociopatia gregária, confundindo a sua linguagem . Que
o pensamento crie, e liberte a imaginação.
Artur Gomes - Que pergunta
não fiz que você gostaria de responder?
Paulo Gonçalves -Há sentido
nisso tudo?
Resposta
: Não, não há … E preciso inventá - lo … Viver é um fascinio !
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