quarta-feira, 29 de abril de 2020

Daniel Wachowicz - EntreVistas



Tenho a impressão que  o Daniel Wachowicz numa noite dos Artefatos Poéticos, criado pelo meu querido Cesar Augusto de Carvalho, depois tivemos vários encontros em noites de Poesia  na Patuscada, o Bar Café Livraria da Editora Patuá, o QG do  Eduardo Lacerda. Ali mesmo trocamos contatos e nos tornamos amigos  de face. Depois vieram outros encontros lá mesmo, na Patuscada, e os laços de amizade se estreitaram, hoje faço parte do seu grupo Encontro dos Malditos, que ele mantém no face, com a participação de vários poetas multifacetados.  

Daniel Wachowicz nasceu em Taboão da Serra (por ele chamada de Taboão das Trevas), é formado em Letras e atua como professor do estado de São Paulo. É o organizador do evento Encontro dos Malditos que teve sua primeira edição na noite de finados (02/11) no ano de 2019, um evento que celebra a poesia dark, mórbida e de influência gótica. Publicou os livros Convite ao abismo (Multifoco, 2014), As Musas estão esmagadas no asfalto (Benfazeja, 2016), Cosmopeles (plaquete independente, 2017), Tempos de penhasco (Patuá, 2018) e a plaquete X (Primata, 2018) e Masmorra (Patuá, 2019).

Artur Gomes - Como se processa o seu estado de poesia?

Daniel Wachowicz  - Acredito que seja uma mistura das leituras que faço, sejam elas de poesias, contos, romances, textos sobre artes visuais, etc, assim como os filmes que assisto e as músicas que ouço. Ou seja, tudo aquilo que me toca a alma e gera um êxtase impulsiona o meu processo criativo, que é bem desregrado. Não tenho nenhum tipo de disciplina para escrever, deixo as ideias fluírem e vou depois adequando as palavras e expressões para que eu consiga alcançar os efeitos de sentido que quero.

Artur Gomes - Seu poema preferido? Próprio. Ou de outro poeta de sua admiração?

Daniel Wachowicz - Um dos poemas de minha autoria por qual tenho mais estima, chama-se Arte Poética. É um soneto em versos decassílabos no estilo clássico (sáficos e heróicos) em que consegui, de uma certa forma, concretizar na linguagem a própria construção poética. Sempre tive muito interesse em metalinguagem e considero esse poema como um dos mais perfeitos que consegui fazer com essa proposta. Ele está em uma plaquete que fiz chamada Cosmopeles (Independente, 2017) e também integra meu livro Tempos de Penhasco (Patuá, 2018).

Artur Gomes - Qual o seu poeta de cabeceira?

Daniel Wachowicz  - Sem sombra de dúvidas o Charles Baudelaire. Considero-o a base de tudo para mim, seja em meus interesses poéticos e estéticos. Os textos dele sobre arte moderna instigaram meu interesse por pintura, escultura, performance, às óperas de Richard Wagner e me levaram a buscar posteriormente as vanguardas do século XX, em especial as Surrealistas e Dadaístas.

Artur Gomes - Em seu instante de criação existe alguma pedra de toque, algo que o impulsione para escrever?

Daniel Wachowicz  - Na maior parte das vezes que escrevo ou estou lendo ou ouço música e isso geralmente impulsiona o insight para escrever e geralmente a ideia jorra com muita intensidade.

Artur Gomes - Livro que considera definitivo em sua obra?

Daniel Wachowicz  - Creio que a obra completa de Charles Baudelaire até hora gera um reflexo no que escrevo.

Artur Gomes - Além da poesia em verso já exercitou ou exercita outra forma de linguagem com poesia?

Daniel Wachowicz  - Já fiz alguns projetos musicais com minhas poesias, com uma ideia de heavy metal experimental e também escrevo prosa poética, porém com pouca intensidade, não tenho um volume tão grande desse tipo de texto.

Artur Gomes - Qual poema escreveu quando teve uma pedra no meio do caminho?

Daniel Wachowicz - Creio que todo o poema seja uma pedra no meio do caminho se pensarmos na questão da escolha das palavras e na organização de sentido para formar o todo. Acho que todos os meus poemas foram escritos nesse contexto, pois reflito muito sobre a escolha de cada palavra para formar cada verso e toda a obra tem seu desafio a ser superado e creio que escrever um poema é exatamente isso.

Artur Gomes - Revisitando Quintana: você acha que depois dessa crise virótica pandêmica, quem passará e quem passarinho?

Daniel Wachowicz  - Acredito que os hipócritas que odeiam a humanidade passarão, entre eles o Bolsonaro com sua política genocida, que mata tanto fisicamente como culturalmente. Esse tipo de gente não passará.

E creio que nós, os artistas, passarinho, para parafrasear  Quintana. A arte sobreviveu a todo o tipo de pandemia na história da humanidade e agora é a nossa vez de mantermos essa chama acesa que as artes oferecem ao mundo.

Artur Gomes - Escrevendo sobre o livro Pátria A(r)mada, o poeta e jornalista Ademir Assunção, afirma que cada poeta tem a sua tribo, de onde ele traz as suas referências. Você de onde vem, qual é a sua tribo?

Daniel Wachowicz  - Desde a adolescência que gosto de heavy metal e desde aquela época simpatizo com o aspecto visual e continuo sendo um fanático por bandas como Judas Priest, Dio, etc. Embora não me considere mais como pertencente a algum grupo, mantenho o visual dark, metal como parte de minha personalidade.

Artur Gomes - Nos dias atuais o que é ser um poeta, militante de poesia?

Daniel Wachowicz  - O que me faz escrever é o amor, e tão necessário quanto respirar e, para mim, ser poeta é isso. A ideia de militância para mim é ser honesto e sincero com meu estilo. Manter um estilo, construir uma poética e não traí-la é o grande engajamento.

Artur Gomes - Que pergunta não fiz que você gostaria de responder?

Daniel Wachowicz Talvez, como a pandemia influencia meu processo de criação?

Resposta - Muitos artistas nesse momento se indagam sobre isso. Estamos passando por um momento de incerteza quando a segurança da vida e isso tem me feito refletir sobre muita coisa e, devido a essa fixação de pensamento, já produzi alguns poemas que se relacionam com toda essa atmosfera.

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