Nos conhecemos em Brasília,
numa das minhas primeiras idas convocado
por Lilia Diniz. Desde então nosso diálogo pelo face e posteriormente pelo zap
tem sido constante. Em 2016 ele me convidou para uma performance no lançamento
do Transe Poéticas - I Festival de Brasília da Poesia Brasileira, na Sala
Plínio Marcos. Em 2018 sob a sua coordenação o Festival foi realizado no Museu
da República, e eu tive a felicidade de ser escalado numa noite onde se
apresentaram também Mano Melo e Arnaldo Antunes. Adeilton, além de poeta é um
grande ator, exímio intérprete de Artaud, Gogol, que não descanso enquanto não
vê-lo encarnando esses dois monstros sagrados no palco do Teatro de Bolso, em
Campos dos Goytacazes-RJ.
Adeilton Lima é
ator e professor de literatura, teatro e cinema, com mestrado em teoria
literária e doutorado em artes, pela Universidade de Brasília. Há 30 anos, atua
em Brasília onde é conhecido pelo trabalho direcionado para a poesia e pelos
solos de investigação teatral como A
Conferência, de sua própria autoria, Diário
de um Louco, de Nicolai Gogol e Para
Acabar com o Julgamento de Deus, de Antonin Artaud, que acaba de completar
26 anos de estrada. Estreou recentemente
seu novo espetáculo Glauber Rocha, O
Profeta do Delírio. Lançou, em 2016,
seu primeiro livro de poesias com o título "Sempre
Diga Eu te Amo da Boca pra Dentro".
Artur Gomes -Como se processa o seu estado de poesia?
Adeilton Lima - Isso é bem relativo... Às vezes, pode ser de súbito, e acontece.
Noutras, uma ideia guardada nos embornais da memória... Mas, sobretudo, seja lá
qual o caminho ou processo, tudo vira contemplação, crítica social, reflexão
existencial e autoconhecimento.
Artur Gomes - Seu poema preferido?
Adeilton Lima - Não há um preferido,
mas várias preferências, memórias afetivas de tempos, contextos e amorosidades.
Mas “Tabacaria”, de Álvaro de Campos, heterônimo de Fernando Pessoa, é muito
significativo para mim, pois foi o primeiro texto que interpretei como ator de
teatro.
Artur Gomes - Qual o seu poeta de cabeceira?
Adeilton Lima - Autores fundamentais para mim: Fernando Pessoa, Antonin Artaud,
Vinicius de Moraes e Carlos Dummond de Andrade. Florberla Espanca e Cora
Coralina também.
Artur Gomes - Em seu instante de criação existe alguma pedra de toque,
algo que o impulsione para escrever?
Adeilton Lima - Acho que sempre fui conduzido pela inquietação
existencial.
Artur Gomes -Livro que considera definitivo em sua obra?
Adeilton Lima - É sempre difícil identificar apenas um, mas sou uma
pessoa antes e depois de Kafka, Machado de Assis e Artaud.
Artur Gomes - Além da poesia em verso, já exercitou ou exercita outra
forma de linguagem com poesia?
Adeilton Lima - Sou ator de teatro. Sempre procurei estabelecer esse
diálogo, possibilita belos desafios e outras possibilidades estéticas.
Artur Gomes - Qual poema escreveu quando teve uma pedra no meio do
caminho?
Adeilton Lima - Meu livro “Sempre Diga
Eu te Amo da Boca pra Dentro” é
resultado de muitas pedras...
Artur Gomes - Revisitando Quintana: você acha que depois dessa crise
virótica pandêmica, quem passará e quem passarinho?
Adeilton Lima - Não há mais lugar neste mundo para quem não quer ouvir o
conselho dos pássaros... Essa sabedoria ancestral está há muito tempo enviando
mensagens. O sábio aprende a decodificá-las e a transformá-las numa cultura de
paz e num mundo mais saudável.
Artur Gomes - Escrevendo sobre o livro Pátria A(r)mada, o poeta e
jornalista Ademir Assunção, afirma que cada poeta tem a sua tribo, de onde ele
traz as suas referências. Você de onde vem, qual é a sua tribo?
Adeilton Lima - Minha tribo primeira é a minha ancestralidade, que se
liga a uma ideia de sagrado e corresponde também a um plano espiritual, mas sem
conotações religiosas no sentido tradicional. No mais, encontramos irmandades
pela estrada, que muito enriquecem a caminhada.
Artur Gomes - Nos dias atuais o que é ser um poeta, militante de
poesia?
Adeilton Lima - Não acredito numa poesia que não tenha alma, que não
tenha nascido ou surgido com o desafio de
encarar aquelas pedras no caminho... Ser
poeta é algo muito profundo e mais além do que escrever poesia ou textos em
verso... Costumo dizer que há os poetas, mas há também os “egoetas”. O poeta vive com, pela e para a poesia, o “egoeta” é um farsante, geralmente ou
meramente mercadológico, sem compromisso com nada, que jamais terá coragem para
encarar um precipício. Ele estará sempre com um discurso como o de quem “acabou de inventar” a poesia. O poeta,
este reinventa gravidades assim como não tem medo de cortar as próprias veias
para alcançar outras profundezas com a mesma alegria dos desapegos tão
necessários...
Artur Gomes - Que pergunta não fiz que você gostaria de responder?
Adeilton Lima Apenas agradeço pelo convite e pelo espaço. A poesia é
caminho possível e necessário. Obrigado! Saravastê!
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