Marcelo Mourão é outro poeta que comecei a ter
contato através do face, e a partir de 2018 nos conhecemos pessoalmente quando
comecei a frequentar o Sarau POLEM, onde fiz lançamentos no Rio de Janeiro do
meus livros Juras Secretas em 2018 e
Pátria A(r)mada em 2019. Foi no
POLEM, na Taberna de Laura, que surgiu a ideia da Balbúrdia Poética, nome sugerido por Sady Biachin. Além de poeta, escritor e crítico literário Marcelo Mourão é um grande ativista e
estudioso da produção poética carioca
dos anos 80, seu livro Rotas e Rostos é um bom raio x dos movimentos
poéticos no Rio de Janeiro nessa década. Uma das grandes edições do POLEM em que estive
presente, foi exatamente sobre a poesia dos anos 80 realizada em outubro de
2019 na Taberna de Laura, em Copacabana - Rio de Janeiro.
Marcelo Mourão é professor graduado em Letras (Língua
Portuguesa e Literatura), pós-graduado em Literaturas de Língua Portuguesa pela
Universidade Estácio de Sá (Unesa) e em Literatura Brasileira pela Universidade
do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Em 2020, tornou-se mestre em Literatura Brasileira,
pela UERJ. É também poeta, escritor, pesquisador, crítico literário e produtor
cultural. É o criador, produtor e apresentador do sarau POLEM, iniciado em 2008
no Leme (RJ). É, desde 2019, o diretor de comunicação da União Brasileira de
Escritores (UBE-RJ). Há textos seus publicados em várias antologias, periódicos
literários, sites e revistas acadêmicas, do Rio e de outros estados
brasileiros. Em 2018, organizou a coletânea comemorativa POLEM 10 anos, lançada
pela Ventura editora. Possui quatro livros solo editados antes deste: O
diário do camaleão, poesia
(2009); Temas em literaturas de língua portuguesa: os diferentes
olhares, crítica literária (2015); Máquina mundi, poesia (2016); e Rotas e rostos: questões de literatura brasileira, crítica literária (2019).
Artur
Gomes - Como se processa o seu estado de poesia?
Marcelo
Mourão - Antigamente, acreditava que era preciso esperar a inspiração
chegar. Hoje em dia, depois de dez anos de dedicação aos meus estudos
literários e, principalmente, praticando bastante a minha própria literatura,
resolvi experimentar o que muitos poetas fazem: escrever todos os dias, com
disciplina, com horários fixos, sozinho em meu escritório, tendo inspiração ou
não. E, olha, tem dado muito certo. Tenho escrito muitas coisas interessantes.
Claro que também sempre surgem escritos ruins no bojo da produção. Porém, é
preciso, depois, saber filtrar e publicar somente aqueles que alcançaram bons
resultados finais, bons índices de literariedade.
Artur
Gomes - Seu poema preferido?
Marcelo
Mourão - Meu? Se for meu, possuo bem mais de um preferido. Fica
injusto citar apenas um. Então acho melhor nem mencionar. Se for poema de algum
outro autor, aponto aqui mais de um também: “Meu pai” e “Flor amarela”,
de Ivan Junqueira e “Poema de sete
faces” e “Morte do leiteiro”, de
Carlos Drummond de Andrade. Porém, quero deixar aqui registrado que há ainda muitos
outros que amo, de vários outros autores.
Artur
Gomes - Qual o seu poeta de cabeceira?
Marcelo
Mourão - Muitos também! (Risos)
Vamos lá: Carlos Drummond de
Andrade, Ivan Junqueira, Fernando Pessoa, Charles Baudelaire, Augusto dos
Anjos, Federico García Lorca, Bertolt Brecht, Vladimir Maiakóvski, Manuel
Bandeira, Mário Quintana, Hilda Hilst, Paulo Leminski, Roberto Piva, João Cabral de Melo Neto e Álvares de
Azevedo. Chega, né? (risos) Melhor parar por aqui. Mas, o Drummond é, com
certeza,aquele que mais me influencia, embora ame todos esses outros também.
Artur
Gomes - Em seu instante de criação existe alguma pedra de toque,
algo que o impulsione para escrever?
Marcelo
Mourão - Antigamente, antes de me aprofundar nos estudos
literários, uma emoção, seja ela qual fosse, bastava para ser o gatilho queria disparar
a vontade de escrever. Hoje em dia, mais maduro como artista, concordo com João
Cabral de Melo Neto e acredito, assim como ele, no planejamento metódico do
poema, em arquitetá-lo minuciosamente, desde o recorte de seu tema até a sua
última revisão, seu último retoque de correção. É preciso acrescentar que todos
os poemas precisam ser trabalhados. Nenhum
texto nasce sem precisar de consertos. Uns até surgem mais próximos do ideal e
outros, pelo contrário, precisam de muito suor, de muito esforço para ser
considerados prontos. Bilac estava certo: é um trabalho resignado (“monástico”, segundo a descrição dele
em certos poemas), de ourivesaria. É uma difícil artesania, como costumo definir
ou, se você preferir, é poiésis, como gostavam de intitular
os gregos antigos.
Artur
Gomes - Livro que considera definitivo em sua obra?
Marcelo
Mourão - Por enquanto, o Máquina mundi, meu segundo livro de
poemas. É, com certeza, a mais madura das duas obras poéticas que lancei até
hoje. Ele ganhou o prêmio de livro do ano/2016 na União brasileira de
escritores (UBE-RJ) e foi alvo de mais de 12 resenhas de críticos espalhados
pelo Brasil todo. Foi um grande sucesso de público e crítica. Porém, pelo que
estou sentindo, o terceiro, que já está em fase avançada de produção, me parece
que irá superar o Máquina em termos
de amadurecimento artístico e profundidade de temas.
Artur
Gomes - Além da poesia em verso, já exercitou ou exercita outra
forma de linguagem com poesia?
Marcelo
Mourão - Sim, exercitei. O Máquina
mundi tinha poemas de todos os tipos, das mais variadas formas fixas e
não-fixas. Nele, coloquei sonetos tradicionais, sonetos pós-modernos, cordel,
redondilha maior, redondilha menor, vários haicais, versos livres, versos
brancos, mas também pus poemas visuais, figurativos, concretos e até dadaístas
só com imagens. A proposta dessa obra era justamente ser aquilo que o saudoso
mestre Pedro Lyra definiu tão bem em
sua crítica ao livro: “um imenso sincretismo pós-moderno”. Tinha de tudo ali.
Em breve, quero experimentar fazer vídeopoemas e poesia sonora.
Artur
Gomes - Qual poema escreveu quando teve uma pedra no meio do
caminho?
Marcelo
Mourão - Nossa... Muitos. Inclusive alguns que trabalhavam
justamente a metáfora da pedra, mesmo sem ser a do caminho, consagrada por
Drummond. Não sei citar um só... Talvez o “Língua
de fora”, que é do meu primeiro
livro, “O diário do camaleão”.
Artur
Gomes - Revisitando Quintana: você acha que depois dessa crise
virótica pandêmica, quem passará e quem passarinho?
Marcelo
Mourão - Posso dizer que muitos passarão e tantos outros
passarinho. Os fascistas, os pseudo-poetas, os pseudo-artistas, os políticos
sem nenhum lume, os homens e mulheres de pouquíssima sabedoria e valor, enfim, esses
e muitos e muitos outros passarão batidos. Os de grande valor, seja em qual
área for, como sempre, são os que irão ficar, os que irão voar, como
passarinhos, rumo à eternidade, à glória, à permanência, que paira acima do
tempo.
Artur
Gomes - Escrevendo sobre o livro Pátria A(r)mada, o poeta e
jornalista Ademir Assunção, afirma
que cada poeta tem a sua tribo, de onde ele traz as suas referências. Você de
onde vem, qual é a sua tribo?
Marcelo
Mourão - A minha tribo é a dos
poetas que cantam o social, o político e os sentimentos também. Adoro amalgamar
poesia com história, sociologia, filosofia, antropologia e psicologia. Minha
tribo é a dos poetas que leem compulsivamente e escrevem com muita dedicação e
amor. Eu sou, por formação, professor de História, de Língua Portuguesa e de
Literatura, então essas bases teóricas explicam praticamente tudo sobre a minha
escrita e o meu ativismo político-poético.
Artur
Gomes - Nos dias atuais o que é ser um poeta, militante de poesia?
Marcelo
Mourão - Não gosto do termo “militante”
para definir um artista. O poeta Karlos Chapul certa vez
escreveu: “Não milito. Militar me limita”. Esses versos resumem bem o que
penso. Prefiro a palavra “ativista”.
Eu me mantenho ativo ativando consciências, chamando a atenção dessas mesmas
consciências para os encantos da “Senhorita
Poesia”. Sigo incansavelmente ativando alguns botões na alma de quem me
ouve ou lê e aí sim nasce no leitor/espectador a paixão pelo texto. Militar
não. Militar me lembra muito a ideia do proselitismo, da pregação para tentar
trazer adeptos para o nosso lado, lutar para convencer as pessoas que a poesia
(e a arte em geral) é uma ambrosia a ser saboreada. Não quero convencer nem
impor nada a ninguém. A arte encanta ou não.
Não preciso me esforçar para
que ela conquiste adeptos ou ganhe espaços, ela faz isso por si mesma. Não sou
um soldado dela, a serviço dela, obediente a ela. Ela, em alguns poemas meus, é
descrita como uma namorada, uma amante, uma senhorita, uma mulher. Será que forçar uma mulher a querer você é correto? Claro que não, né? Tem que surgir naturalmente a emoção
que te prende a ela. Então, sou muito implicante com a expressão “militante de poesia”. Não milito, não. Militar me limitaria e limitaria a poesia
também. Ser um ativista de arte e cultura (e aí a poesia está nesse contexto
incluída) é aquilo que descrevi ali em cima. É nisso em que acredito.
Artur
Gomes - Que pergunta não fiz que você gostaria de responder?
Marcelo
Mourão - Se, além de poeta, eu trabalho com outros gêneros literários?
Resposta - E eu te respondo:
Sim. Já escrevi 5 livros de crítica literária (só dois, até agora, foram
publicados) e um romance (ainda no prelo). Em breve, vou começar a me dedicar a
lançar biografias de poetas e de grupos e movimentos poéticos, todos estes dos
anos 1980, daqui do Rio de Janeiro, que são objetos do meu campo de pesquisa no
mestrado e no doutorado, que é a Poesia
Verbalista Urbana carioca e oitentista.
Contato:polem.rio@gmail.com
Fulinaíma
Multi Projetos
portalfulinaima@gmail.com
(22)99815-1268 -
whatsapp
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ExcluirArtur, querido meu, muito agradecido por essa oportunidade de me expressar, dada mais uma vez por você. Sou muito grato. Um abração!
ResponderExcluirMarcelo Mourão
Excelente entrevista. Perguntas instigantes e respostas impactantes. Parabéns a ambos!
ResponderExcluirMarcelo Mourão é dos grandes poetas contemporâneos, um estudioso de poesia, um ativista cultural que orgulha o Rio de Janeiro. Jovem, com um caminho inteiro a sua frente, já tem lastro da melhor poesia que se faz, atualmente, no Brasil. Sua entrevista é honesta e, mesmo, impactante, por expor, verdadeira e corajosamente, suas ideias sobre o que entende do fazer poético. Orgulho de sua amizade. Parabéns!
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