O meu primeiro contato com Tanussi Cardoso, se deu através de
cartas, lá pelos idos de 1983, em tempos de Mostra Visual de Poesia Brasileira, quando recebi dele o seu livro Boca Maldita, que havia sido lançado em
1982. Lá se vão 37 anos de uma amizade irmã, um diálogo constante com a sua
produção poética. Não foram poucos os nossos encontros pelas noites de poesia
no Rio de Janeiro e em Bento Gonçalves-RS nas edições do Congresso Brasileiro
de Poesia, onde Tanussi foi o poeta homenageado em 2014.
Em todo os grupos, páginas que administro no face tem a presença da sua lírica, fonte onde sempre vou beber para me deliciar com a poesia das
coisas e os seus significados. Nosso
último encontro pessoal se deu numa das edições do Sarau POLEM na Taberna de
Laura em Copacabana. Tenho grande
orgulho de ter em dois de meus livros o seu texto A
Carne da Palavra como prefácio do
meu livro SagaraNAgens Fulinaímicas,
2015 - e posfácio do Juras Secretas, Editora Penalux - 2018.
Tanussi Cardoso - Poeta. Letrista. Crítico
literário. Jornalista. Advogado. Irmão da escritora e poeta Carmen Moreno.
Formado em Jornalismo pela PUC-Rio, e em Língua Inglesa pelo British Brazilian
Course do Rio de Janeiro. Trabalhou como Técnico-Judiciário do Tribunal de Justiça
do Rio de Janeiro. Em 2000 formou-se em Direito, na Faculdade Bennett, no Rio
de Janeiro. Com Leila Míccolis, Glória Perez e Carlos Araújo, fundou a Editora
Trote na década de 1980. Em 1975 participou da "Abertura poética - 1ª antologia de novos poetas do Rio de
Janeiro", organizada por Walmir Ayala e César de Araújo. Como jornalista,
trabalhou como repórter na Rádio JB, no Jornal Rio Letras e no jornal O
Fluminense. Publicou os livros de poesias "Desintegração"
(1979) e "Boca maldita"
(prefácio de Leila Miccolis - Editora Trote, 1982), "Viagem em torno de" (prefácio de Salgado Maranhão - Ed.
7Letras, 2000) e "A medida do deserto e outros poemas revisitados",
inserido na coletânea de poemas "Rios",
apresentação de Thereza Christina Rocque da Motta (Editora ÍbisLibris, 2003),
além de poesias e artigos em diversas antologias e periódicos por todo o
Brasil.
Como poeta integrou os grupos Bandidos
do Céu, Bazar dos Baratos e Teatrote. Dentre os vários prêmios literários que
ganhou, destacam-se "Menção Honrosa" no "II Concurso Escrita de Literatura",
com o livro "O homem e suas
paredes", "Primeiro
Concurso Nacional de Poesias Vinicius de Moraes" e "Menção Honrosa", da União Brasileira dos Escritores com o livro "Beco com saídas" (Edicon,
1991), além de prêmios internacionais, entre eles 1º lugar no "Concurso Internacional de Poesia
- Prêmio Saturnino Paccitti",
da Associação de Escritores de Bragança Paulista, 1º lugar no "Concurso Internacional Il Convívio" - sezione Poesia in língua
portoghese, Sicília/Itália e 1º lugar no "Concurso
Internacional de Arte, Prosa e Poesia", da UBENY - União Brasileira de
Escritores com sede em Nova York.
Nos anos 90, participou como ator em
uma peça de Isis Baião e ainda apresentou um monólogo poético musical, "O olhar nosso de cada dia",
com direção de Beth Araújo, violão de Thiago Silva e roteiro com poemas de sua
autoria. Tem poemas publicados na Argentina, Colômbia, EUA, Itália,
Portugal e Uruguai, e traduzidos para o francês, espanhol, castelhano e
italiano, além de poemas lidos no programa "Dicho
sea de paso", da poeta Perpetua Flores, na rádio Argentina, Onda
Latina, AM.
Fez a apresentação do livro "Habitar el Tiempo", da poeta mexicana Angélica García Santa Olaya,
Tintanueva Ediciones, México D.F, 2005. Sua obra tem sido avaliada
positivamente por grandes críticos, escritores e poetas brasileiros, como
Anderson Braga Hiorta, Antonio Carlos Secchin, Assis Brasil, Carlos Nejar,
Fabrício Carpinejar, Fernando Py, Gilberto Mendonça Teles, Luiz Horácio, Moacy
Cirne, Neide Archanjo, Olga Savary, Reynaldo Valinho Alvarez, Stella Leonardos,
D. Pedro Casaldáliga, entre outros. Seu trabalho poético foi tema de monografia
na UERJ, apresentado por Márcia Miranda Jayme.
Pertenceu à Diretoria do Sindicato dos
Escritores do Estado do Rio de Janeiro, onde atuou em vários cargos, inclusive
de presidente em 2005. Seu poema "Miragens",
baseado no óleo s/tela "Beduíno",
de Majon, foi publicado em cartão da Telemar, numa tiragem de 200.000
exemplares. Seu poema "Substantivos"
é tema de estudo, no capítulo introdutório ao tema da Morfologia, no livro "Gramática Contemporânea da Língua
Portuguesa", de José de Nicola e Ulisses Infante, Ed. Scipione/SP, 15a
edição1997.
Em 2011 lançou o livro de poemas "Do aprendizado do ar" (Editora FiveStar), antologia
poética bilíngue (português e castellano - Del Aprendizaje Del Aire) com
tradução de Leo Lobos e Angélica Santa Olaya. O lançamento aconteceu na
Cafeteria Espaço Antique, em Copacabana, Zona Sul do Rio de Janeiro.
Sobre o poeta declarou Gilberto Mendonça
Telles - poeta, ensaísta, crítico e professor:
"Não tenho dúvidas em escrever que
Tanussi Cardoso é o poeta que mais admiro atualmente no Rio de Janeiro. Tanussi
tem o timbre diferente, o seu valor especial e marcante. Com muito talento, com
uma grande capacidade de ler os bons autores, nacionais e estrangeiros, e com o
seu projeto literário diuturnamente construído é que se vai fazendo a excelente
poesia de Tanussi Cardoso, uma das melhores atualmente no Brasil".
"Um livro irretocável, maduro,
diverso em seus matizes, embora uno em sua sintaxe reconhecível. O poeta
Tanussi Cardoso, cuja obra, desde o início, já procura depurar o estilo,
agregando ao coloquial a palavra aberta ao significante, neste seu 'EU e Outras Consequências', firma o traço e toma posse do caminho escolhido,
com total domínio da carruagem da poesia."
Artur Gomes - Como se processa o seu estado de
poesia?
Tanussi
Cardoso - Creio
que me vem, sempre que brota esse “estado” de poesia, uma espécie de
euforia misturada à angústia da incerteza do que virá. Como traduzir todo esse êxtase,
essa epifania, em palavra? Qual o meu limite? O que nascerá do parto? Na
verdade, esse “estado” é uma obsessão permanente, um alerta sempre
ligado, entre a realidade exterior e o meu sentido interno. Minha escrita,
talvez, venha da explosão desses “sintomas”: realidade X meu eu. Por
isso, às vezes, ela seja triste e pungente; outras, esperançosa e cheia de
humor. Nasce, como dizia o Gullar, do “espanto”, e, claro, da magia
existente no desconhecido; como uma explosão de estrelas. “A poesia
sopra onde quer”, já dizia Murilo Mendes. Nasce no e do Mistério.
Borges dizia que “a poesia está logo ali, à espreita. Pode
saltar sobre nós a qualquer instante”. Cabe ao poeta, então, aceitá-la,
abraçá-la e convidá-la para o seu banquete. Até Cabral, construtivista e
antilírico, no seu “O último poema”, disse: “Não sei quem me manda
a poesia”.
É, para mim, alguma coisa quase inconsciente, ainda
que o seu nascimento tenha surgido de algo objetivo. Escrevo, então, na
possibilidade do instante, num papel qualquer; depois, debruço-me sobre aquela “expressão
rascunhada” para criar o poema, que é outra coisa diferente. Ou seja,
debruço-me sobre o texto, trabalho para que a realidade que é de todos seja uma
nova realidade diante dos olhos atentos do poeta. Por isso, ao primeiro verso
ou frase, me deixo levar por eles. Depois, sim, vem o trabalho de depuração,
cerebral, intelectual. Por isso, o texto, quando nasce, surpreende o autor;
depois, toma rumos inesperados, tantas vezes, diversos do seu sentido
originário. Penso que cada texto tem seu próprio tempo e voz interior. Assim,
não tenho regras para escrever. Posso ficar dias sem produzir nada e, de
repente, escrever muito. São os próprios textos, no nascedouro, que me indicam
como trabalhá-lo.
Entretanto, não sou daqueles poetas que suam e se
esforçam para tirar das vísceras, um poema, quase como obrigação. Não torturo a
criação. Há poetas que se sentam e trabalham e fazem poemas belíssimos. Eu não
consigo. Na maioria das vezes, em que tentei fazer do meu prazer uma obrigação,
o poema saiu triste, carrancudo, ruim, como se nascido a fórceps. Saiu
mentiroso, caricatural, meio gauche. Não era meu. Admiro quem consegue, mas não
é o meu caso.
Então, meu processo de criação se traduz, logo que o
“espanto” me toma e a “luz” se faça, em debruçar-me sobre as
palavras, e tal a mãe se debruça sobre o filho ou o toureiro guerreia com seu touro, eu possa sentir a cadência, o
ritmo, a harmonia e a sonoridade das palavras, geralmente, lendo o poema várias
vezes, em voz alta, para sentir como ele soa em meus ouvidos, já que, creio,
meus poemas, em sua maioria, são bem orais.
Costumo dizer que a poesia se encontra no ar e em
tudo e em todos os lugares, como um Deus possível; ela é do campo do ver, do
olhar, do observar; já o poema é do campo do criar, do fazer, do construir, do
imaginar, do experimentar. O poema, portanto, não é só um veículo de epifania,
de revelação, mas de conhecimento da construção da beleza possível.
Artur Gomes - Seu poema preferido? Próprio. Ou de outro poeta de sua admiração.
Tanussi
Cardoso - Difícil
responder a isso. É como perguntar aos pais qual o filho preferido. Na verdade,
sou um crítico muito atento da minha própria poesia. Costumo dizer que sou meu
próprio algoz. Tanto é, que, em mais de 40 anos rodando por aí, só publiquei 12
livros. Assim, quando lanço algum, é porque os poemas já foram muito observados
e maturados por mim, e, assim mesmo, depois de publicados, sempre acho que
poderiam ter ficado melhores. Entretanto, o público tem o seu preferido, que é
o “As
Mortes”, que virou uma espécie de minha “Conceição”, e tenho de recitar
sempre que me apresento em algum lugar, pra não sair vaiado, ao final, rs.
A questão da morte não é uma coisa muito agradável
de ser aceita, o tema não é muito sensível à maioria das pessoas. Por isso, é
muito estranho o sucesso desse poema. Sempre digo que existem poucas maneiras
da aceitação da morte: a religião, por exemplo. Uma outra é a arte. Creio que a
morte seja a única situação de transcendência do homem, daí, deve haver algum
tipo de beleza nela. O que procuro retratar no poema é o paradoxo existente na
máxima de que a morte traz a vida para mais perto. Ao pensar nela, começo a
pensar em Deus e nos homens. Com a morte, me parece, o homem passa a olhar mais
para o seu próprio tempo, entender sua finitude, e tenta olhar o outro e,
principalmente, para si mesmo, com mais compaixão. Meu poema tem esse potencial
de esperança, de como encarar a morte, visualizando a vida. Há nele, certa
leveza e, mesmo, ludicidade. Segue aí:
AS MORTES
quando o primeiro amor morreu
eu disse: morri
quando meu pai se foi
coração descontrolado
eu disse: morri
quando as irmãs mortas
a tia morta
eu disse: morri
depois, a avó do Norte
os amigos da sorte
os primos perdidos
o pequinês, o siamês
morri, morri
estou vivo
a poesia pulsa
a natureza explode
o amor me beija na boca
um Deus insiste que sim
sei não
acho que só vou
morrer
depois de mim
Agora, se for de outro poeta, acho que quase toda a
obra do Drummond, certo? Mas, tenho algumas preferências: “O Operário em
Construção”, “Soneto de Separação”, “A Rosa de Hiroshima”,
“Dia da Criação”, do Vinicius de Moraes; “Morte e
Vida Severina”, “Catar Feijão”, “A Educação pela
Pedra” e “Tecendo a Manhã”, do João Cabral
de Melo Neto; “Os Estatutos do Homem”, do Thiago de
Mello; “I-Juca Pirama”, do Gonçalves Dias; “Morte do
Leiteiro”, “Caso do Vestido”, “E agora, José?” e “A
flor e a Náusea”, do Drummond; “Navio Negreiro”, do
Castro Alves.... acho que poderia ficar aqui por muito tempo... Isso sem falar
nos estrangeiros.
Artur Gomes - Qual o seu poeta de cabeceira?
Tanussi
Cardoso - Eu
acho essa pergunta tão sensual, cara... É meio dúbia... Cabeceira é uma
palavrinha meio esquisita, lembra descanso, dormir, cama...sexo... Então, vai
depender da ocasião, rs... Brincadeiras à parte, é claro que você quer saber
sobre meus poetas preferidos. Artur, sou um leitor voraz dos livros que
caem na minha mão. Do autor mais desconhecido, do estreante aos consagrados.
Leio tudo o que me chega. E, é lógico, tenho meus preferidos. Levo sempre
comigo alguns poetas que recorro em quase todas as ocasiões, de alegria ou de
tristeza: Carlos Drummond de Andrade, Manuel Bandeira, Ferreira Gullar, Hilda
Hilst, Mário Quintana, Vinicius de Moraes, João Cabral de Melo Neto, Ivan
Junqueira, Fernando Pessoa, Lêdo Ivo, Gilberto Mendonça Teles, Murilo Mendes,
Adélia Prado, Herberto Helder, Rainer Maria Rilke, Astrid Cabral, Olga Savary
(minha amiga e grande incentivadora, que acabou de nos deixar), Affonso Romano
de Sant’Anna, Antonio Carlos Secchin, Paulo Henriques Britto, Pablo Neruda,
Jorge Luis Borges, Manoel de Barros, Thiago de Mello, Carlos Nejar, Mia Couto,
Afonso Félix de Souza, Gerardo Melo Mourão, Moacyr Félix, Marina Colasanti,
Salgado Maranhão, Carmen Moreno, Roberto Piva, Leila Míccolis, Celso Alencar,
Glauco Mattoso, Armando Freitas Filho, Nei Leandro de Castro, Sebastião Nunes,
Eucanaã Ferraz, Neide Archanjo, Cecília Meireles, Afonso Henriques Neto,
Fernando Py etc etc etc.
E, por vários motivos, existem aqueles que me
influenciam sempre e muitos deles nem se
dão conta disso: por conversas fraternas que tivemos, por trocas afetivas
diversas, pela força poética que me insufla a continuar escrevendo, mas,
principalmente, porque fazem parte da minha história pessoal e poética. Muitos
são amigos e confidentes; muitos nunca me viram ou ouviram falar de mim, mas,
sem saberem, me ajudaram, de alguma forma, com seu trabalho, a construir o ser
humano que sou. Poetas que lutam a minha mesma luta e de quem eu sugo, daqui e
dali, lições de beleza, que levo comigo e me ajudam a construir o que posso
chamar de meu caminho poético.
É claro, a grande maioria é composta de amigos que
estiveram comigo nesses tantos anos de poesia, nos grupos, nos teatros, nos
bares, em minha casa, nas festas e nos saraus. Amigos da fraternidade íntima e
poética que, de alguma forma, me ensinaram muito. Infelizmente, por receio de
me esquecer de algum, não vou nomeá-los, mas todos que me habitam sabem que
seus nomes estão escritos em mim. Resta a minha gratidão por terem me dado, de
alguma forma, a alegria e o prazer de acreditar na amizade e na poesia; pelos momentos lúdicos e belos que me encheram e enchem
meus olhos de emoção, de ensinamentos e de vida, guardados que estão em minha
memória afetiva.
Só um adendo: embora não esteja no rol do que se
convencionou formalmente entender como poesia, não posso deixar de citar um dos
livros que não paro de ler e reler, sempre que posso. Um dos livros brasileiros
mais contundentemente poéticos: “Grande Sertão: Veredas”, do
Guimarães Rosa. Quanto aos de cabeceira, não tenho nenhum, porque não consigo
ler sentado ou deitado na cama; é incômodo, as costas doem e eu não consigo me
concentrar... e nenhum poeta merece esse descaso, rs...
Artur Gomes - Em seu instante de criação existe alguma pedra de toque, algo que o
impulsione para escrever?
Tanussi
Cardoso - É
estranho que, em geral, não é o sentimento de tristeza que me leva a escrever.
Quando estou muito triste, por exemplo, com tudo o que se sucede em nosso país,
politicamente, e, agora, com essas mortes tão arrasadoras, devido à pandemia,
eu não consigo escrever nada. Eu só escrevo quando me distancio da coisa, do
objeto, da emoção. É como se eu represasse o sentimento, o depurasse e
colocasse nele algum tipo de racionalidade. É como se eu deixasse o sentimento
hibernando, para encontrar essa “pedra de toque” de que você fala. Acho
que minha poesia se faz desse mix, desse equilíbrio, desse entendimento entre
emoção e razão. Lógico que nem sempre acontece assim, é claro, mas é exceção em
mim.
Mas, com certeza, o que me impulsiona a escrever é a
leitura: de jornal, de revista, de um livro qualquer... Basta uma palavra lida,
um verso lido, uma frase qualquer, um “toque” que me instigue, por sua
beleza e por sua emoção, que algo, interiormente, me toma de assalto e saio a
escrever. Então, creio que é de algo exterior, que se aloja em meu coração,
embaralhando-o, que nasce minha poesia. Por isso digo sempre: apreciar qualquer
tipo de arte e ter todo tipo de leitura são fundamentais para qualquer
escritor.
Artur Gomes - Livro que considera definitivo em sua obra?
Tanussi Cardoso - Geralmente, o carinho é
jogado para o mais recente, “Eu
e Outras Consequências”, que,
ano passado, recebeu o “Prêmio Manuel Bandeira” da UBE-RJ. Tem um
prefácio fantástico da grande poeta Astrid Cabral, posfácio do amigo e poeta,
Ricardo Alfaya, e orelhas do mestre Affonso Romano de Sant’Anna. Gosto muito
dele, desde a concepção, ao trabalho fantástico da Penalux, dos amigos Tonho
França e Wilson Gorj. Aliás, parabéns aos dois pelo belo trabalho editorial que
vêm fazendo, e que venho acompanhando.
Porém, não posso deixar de citar dois livros
anteriores, que me tocam, também, profundamente: “Viagem em Torno de”, publicado pela 7Letras,
em 2000, com duas edições esgotadas, onde faço da minha poesia uma discussão
lírica, elegíaca e emocionada sobre a vida e seu sentido de finitude. É um
livro de imagens fortes, tendo como fundo principal a imagem da Morte, mas que,
apesar do tema, é esperançoso e humanitário. Salgado Maranhão, um de nossos
maiores poetas, me deu a honra do prefácio. O livro recebeu o “Prêmio
Alap de Cultura” e o “Prêmio Capital Nacional – Poeta do
Ano”, do jornal O Capital, de Sergipe, da nossa querida Ilma
Fontes.
E posso citar, também, o “Exercício do Olhar”, ed. Fivestar, em 2006, com
um alentado prefácio-ensaio do mestre Gilberto Mendonça Teles, que me deixou
muito comovido, e a apresentação do romancista e crítico literário, Luiz
Horácio Rodrigues. Talvez seja o meu livro mais bem acabado, técnica, formal,
emocional e literariamente. Nele, creio, a dor é mais sutil, os versos menos
derramados. Vislumbro certa linguagem cabralina, na sua secura, misturada ao
lirismo e a oralidade, que faz da parte do meu fazer poético. Fala do olhar do
poeta sobre as coisas ordinárias, do olhar que transmuda o comum, e, sobretudo,
fala do Tempo e da memória, essa arma básica que todo escritor carrega consigo.
O livro foi finalista do “Prêmio Cidade de Belo Horizonte”
e ganhou o “Prêmio de Melhor Livro de Poesia de 2006”,
no Congresso Latino Americano de Literatura. Curiosamente, foi lançado,
primeiramente, na Cidade do México, a convite do “Festival Latinoamericano
de Poesía”. Também recebeu um ensaio crítico, depois premiado, do
talentoso amigo, poeta, filósofo e crítico, Igor Fagundes: “A poética do
olhar em Tanussi Cardoso: um exercício do corpo inteiro”.
Acho que esses três livros formam uma síntese do meu
trabalho.
Artur Gomes - Além da poesia em verso, já exercitou ou exercita outra forma de
linguagem com poesia?
Tanussi
Cardoso - A poesia
está em tudo, portanto, está contida, também, na minha prosa, nos meus contos,
nas minhas críticas, nas minhas letras de músicas, nos vídeos poéticos, no meu
canto, nas minhas apresentações nos palcos, já que o corpo também pode ser
usado como expressão de linguagem artística. Pode estar contida até mesmo nessa
entrevista, rs.
Artur Gomes - Qual poema escreveu quando teve uma pedra no meio do caminho?
Tanussi
Cardoso - Muitos,
já que essa “pedra” sempre serve para nos levar pra frente, para encarar
a vida, quando possível, de forma poética.
Mas acho que posso aproveitar essa pergunta pra exorcizar alguns
fantasmas, se me permite. Penso que a grande “pedra” no meio do meu
caminho, se essa expressão significa obstáculo difícil de ser ultrapassado, foi
o câncer que levou à morte o meu amigo e poeta, que você chegou a conhecer,
Marcio Carvalho, em 2007, aos 39 anos, que tinha tudo para ser muito feliz e
ter uma vida imensamente promissora. Era jornalista, poeta, ensaísta, contista,
dramaturgo, arte-educador, ator e professor. Um talento! Com o Marcio, aprendi
o real significado das palavras amizade, compreensão, respeito, lealdade,
solidariedade, generosidade, cumplicidade, dignidade, gratidão e,
principalmente, o real significado da palavra amor. Confesso que essa “pedra”,
até hoje, passados mais de 13 anos, ainda não foi totalmente jogada ao mar. E
creio que nunca será. Mas os desígnios do Universo não são para serem
entendidos, mas, relativizados, e, quem sabe, de maneira velada, cínica,
passiva, egoísta, serem aceitos. É assim com todo mundo, não seria diferente
comigo.
Mas toda aquela situação de dor e desespero me fez
escrever, de maneira quase catártica e prosaica, num prazo muito curto, não um
poema, mas, praticamente, um livro inteiro, o “Carne Serena” (aliás, um título que me
veio em sonho), inserido numa publicação chamada “Vertentes”, editada pela Fivestar, do Rio de Janeiro, no
ano de 2009, onde eu e três grandes poetas e amigos dividimos a edição, cada um
com seu livro individual: Elaine Pauvolid, Márcio Catunda e Ricardo Alfaya.
Um dos poemas do “Carne Serena” vem dividido em 32
tópicos, narrando, como um diário, grande parte do sofrimento contido no
acompanhamento da doença do Marcio Carvalho. É um poema quase todo em prosa
poética e, não por acaso, intitulado “Longa Jornada Noite
Adentro”, extraído da peça homônima do Eugene O’Neill. Sei que é um
poema para corações e estômagos fortes. Seguem fragmentos:
LONGA JORNADA NOITE ADENTRO
I
Respiro profundamente o
tédio da noite. Levanto-me e leio num jornal sobre a angústia de Graciliano. A
vida fede lá fora e o poema se cristaliza. A vida se cristaliza. O medo. A
solidão. O escuro dos olhos abertos. Mesmo a música que ultrapassa a parede, a
janela, o apartamento, o 9º andar, parece subir através dos outros sentidos -
mesmo a música fede. As vozes bêbadas, os gritos das putas coloridas e tristes.
A covardia de não aceitar a dor que se abate, inexorável. Mesmo o suicídio que
não vem, que não vinga, que medra. Mesmo o choro contido. Mesmo a vidraça que
teima em não quebrar. E esse espelho me olhando.
II
Esses carros, essas
buzinas, esses motoristas loucos gritando para ninguém na madrugada, essas
gargalhadas frias e fatais, esses gatos fodendo nos telhados, esses pombos
dormindo, esperando o milho do amanhã, essas migalhas que os homens teimam em
acreditar e chamam de amor, essas calcinhas sujas, esses paus purulentos, esses
cornos machos, esses machos vestidos de silicone e azul, esses crédulos que
chamam a tudo de vida. Prefiro meu desamparo, esse acordar solitário, essa
masturbação venenosa, esse martírio sem Deus, essa ilha, esse museu de quadros
bizarros, essa metamorfose que não se muda pra lugar algum. Prefiro eu contra
mim mesmo. O vinho é meu. Beberei seu germe e seu doce.
III
A mesa está vazia dos
restos do jantar. Há migalhas que o cachorro não comeu. As palavras deslizam
desconexas e sujam o papel em branco, na madrugada de gritos abafados. Os sons
começam a se esquecer de mim. Concentro-me em algo nebuloso, uma sombra
qualquer, um fantasma sem nome. Nem meu cão chega perto. Sente o meu faro nada
humano. Deus não está por perto. O que me dá um certo alívio e um sentido agudo
de liberdade. Se me perguntarem, hoje, agora, pelo sentido da vida, resumiria:
o amor está lá dentro. E eu agonizo.
IV
A solidão nunca é só. Há
sempre uma luz acesa. Um grito na rua. Um sono que não vem. Solidão para valer
é silenciosa, sem alma, ruim para fora e para dentro. Solidão para valer não
respira. Não pergunta. Incorruptível ao movimento do planeta, aos espelhos que
refletem sua cara, à poesia que se diz companheira, ao vinho que lhe entrega a
taça, a Deus que lhe oferta orações. Solidão para valer vem para matar e
morrer. Vem como torpor, esquecimento. Eu sei.
XIII
Não preciso de nada. Só
preciso do egoísmo da dor que sinto. Essa lágrima estúpida que esconde a fé.
Que suspende a emoção da reza. A poesia se faz necessária, mas o que me
consola? Quem me consola nesta noite de desconforto e amargura? Dorme meu amor
no quarto. Lindamente. E eu, covarde, remexo baús e espero que o dia amanheça
com seus dentes de desesperança. No quarto, o que aparenta viver permanece.
XXVI
Dizem que é mulher, a
Morte. Não, a Morte é uma criança. Porque traz no seu rosto a esperança
esculpida. Na prece pérfida e corrompida da explosão da vida. Não é solene. É
pura em sua dor de amiga. Pura como criança. E má como a esperança que a
habita. Traz brinquedos nas mãos, brilho nos olhos e corta pescoços como
Osíris. Em toda criança há uma dor futura. Uma humanidade póstuma perdida. Toda
criança traz em si um pouco da Morte nela contida.
XXXII
Eis a porta
por onde os anjos
entrarão.
Cheiro de velas veste a
sala,
mistura-se às rosas e
aos jasmins.
Os anjos sabem da casa:
cor, janelas, jardins.
Que vento leve soprará o
morto?
Que nome sombrio o dessa
dor?
Ao redor da mesa, rezam.
Os anjos suspendem suas
asas
e cobrem-lhe o corpo.
As unhas crescem sob os sapatos.
No “Vertentes”, inserimos, em homenagem ao Marcio Carvalho, o
seu único livro de poemas, lançado, com ele já muito fragilizado pela doença, “Navalhas
Voadoras Para Cortar a Tarde”, em 2006, pela editora do SEERJ, um belíssimo livro.
Tenho ideia de republicá-lo, vamos ver. Se me permite, Artur, desejaria
homenagear o Marcio, com a publicação de um poema do seu livro, para que mais
pessoas possam ter uma ideia, sei que fragmentada, do seu potencial
poético:
DOS
SIGNIFICADOS
o afogado à deriva
barco solto
bicho solto
no céu acuado
o afogado
e seus peixes podres
abraçam a baía
braços de polvo
anzóis de barbatanas
o odor dos mares inebria
as narinas
atrapalhadas
pelos ares que se
misturam
o afogado
é só um homem
que poderia estar no
chão
mas prefere o mar
e sua sugestão de
calmaria
Marcio Carvalho
Artur Gomes - Revisitando Quintana: você acha que depois dessa crise virótica
pandêmica, quem passará e quem passarinho?
Tanussi
Cardoso - Essa
pandemia está servindo pra gente ficar a sós com a gente mesmo. Pra gente se
(re)conhecer, pra gente se (re)apresentar ao nosso jeito de ser, tão camuflado
pela correria dos dias. Como se o “eu” e o “mim” se encontrassem
num espelho próprio e dissessem: “Olá, muito prazer em conhecê-lo. Quem é
você? Do que você gosta? Do que não gosta? Que aptidões escondidas descobriu?”
É tempo para meditarmos, pensar, realmente, quem somos e o que pretendemos
da vida, quando tudo isso acabar. É o tempo da paciência e da descoberta das
saudades escondidas. Enfim, é o tempo de descobrir nossas humanidades e onde se
encontra o possível Deus para o qual não rezamos.
O “Poeminho do Contra”, do Quintana, talvez
inconscientemente citado por você, foi escrito no período da ditadura militar.
Dentro da leitura que faço, é um poema de resistência a alguma coisa que sugere
“coletivo”. E nos afirma que os que atravancam o seu caminho são
efêmeros, eles “passarão”, ficarão onde estão, não evoluirão, mas ele,
poeta, ser sensível, metaforicamente, será como um “passarinho”, ou
seja, se apossará da leveza e da liberdade de suas asas e voará por novos
caminhos, com certeza, os da delicadeza. É uma mensagem de esperança, a de
Quintana. O que me faz lembrar desses nossos tempos de Covid-19 e me remeter a
um ensinamento do budismo de Nichiren Daishonin que diz: “O inverno nunca
falha em se tornar primavera”. Ou seja, precisamos resistir para
ultrapassar os obstáculos, confiando na vida, porque tudo se transforma.
Então, creio que quem não estiver refazendo seu
caminho, com verdade e lealdade consigo mesmo, esse passará. Como passarão os
indiferentes, os insensíveis, os burocratas do capitalismo selvagem, os
cavadores do abismo sem fundo entre ricos e pobres, entre brancos e negros,
entre homens, mulheres e LGTBS, os que silenciam, os que se omitem, os que
lavam as mãos, os genocidas, esses passarão. Mas, os outros, os sensíveis, os
artistas, os poetas, os corajosamente delicados, esses, sim, serão para sempre,
“passarinhos”. E vitoriosos.
É nesse novo mundo que prefiro acreditar: um mundo
onde a ciência, a educação, a religiosidade sem dogmas, o respeito ao outro e à
natureza, onde os “diferentes” serão aceitos; onde a busca de uma
riqueza desenfreada não passará pelo sofrimento dos menos afortunados. Um mundo
onde o fascismo, estúpido, covarde, cruel, indigno, cínico e hipócrita não terá
mais vez. Um mundo onde a palavra “amor”
possa ser dita sem medo, onde a “liberdade” não exista só nos versos dos poetas
ou nas asas de um passarinho, mas que seja uma palavra concreta. E que o abraço
no outro seja, quintanamente, apertado como um gesto de “quero
mais”.
Artur Gomes - Escrevendo sobre o livro Pátria A(r)mada, o poeta e jornalista Ademir Assunção, afirma que cada poeta
tem a sua tribo, de onde ele traz as suas referências. Você de onde vem, qual é
a sua tribo?
Tanussi
Cardoso - Primeiro,
dizer que sempre admirei muito o trabalho do Ademir, e que, de certa
forma, ele tem razão, quando fala em “referências”. Todos temos “referências”,
se o sentido for o de “influência”; mas, se o poeta estiver falando em “tribo”,
no sentido de se estar “fechado”, ortodoxamente, nessas referências,
pelo menos no meu caso, não ocorre.
Primeiramente, sou influenciado diariamente por tudo
o que assisto e leio. Todo escritor tem ou teve influência ou referência de
alguém, não me parece correto dizer-se o contrário. Como certa vez disse numa
entrevista ao amigo Selmo Vasconcelos, e me repetirei aqui, as vozes de todos os grandes escritores, de todos os
grandes poetas, de todos os grandes letristas, ecoam dentro de nós. Somos todos
um pouco do que lemos, herança das vozes que nos tocaram com suas belezas,
tragédias, dramas e humores. Somos a voz de todas as vozes. Somos todos
vestidos de muitas vozes. Então, todas elas integram, de alguma maneira, a
minha própria voz.
Sou
um amálgama de tudo que vi, li, ouvi. Sou todos os sons misturados, mixados,
deglutidos em um liquidificador interno e atemporal, e é desse suco, desse
sumo, que se faz a minha poesia. E todos esses sóis me iluminam, a cada vez que
ouço um disco, vejo um filme, olho uma pintura, assisto a uma peça, e leio
essas tantas e tantas vozes que me tocaram e tocam a mente e o coração. A todas
elas – a todas essas “muitas vozes”,
como já disse Gullar -, devo a minha própria, a que tenho hoje, aquela que só a
mim pertence, a minha dicção única do poeta que sou, que me tornei, de alguma
forma conduzida por elas.
Quanto a pertencer a alguma “tribo”, ou algum
grupo, não sei se, realmente, procede a assertiva. Eu, por exemplo, não
pertenço a nenhum grupo. E conheço dezenas de poetas que, igualmente, não
pertencem a nenhum. Têm um trabalho individualizado. Estou falando em “tribo
ou grupo literário”, se entendi bem a pergunta. Falando novamente de
mim, comecei nos anos 70, na época dos poetas independentes, marginais, passei
por várias fases da poesia carioca, participei ativamente de vários grupos e
saraus durante todos esses anos de poesia, sempre sou convidado para recitais,
e tenho orgulho de afirmar que nunca me senti preso a qualquer “tribo”,
entrando e saindo de todas, sem qualquer cobrança. Frequento saraus de poetas
jovens tanto como saraus de academias clássicas, e me sinto muito à vontade em
qualquer um deles. Consigo ser amigo de poetas consagrados, como ser amigo de
poetas iniciantes.
Então, convivo com praticamente tudo o que se faz na poesia
carioca, desde o cordel até, ultimamente, com o pessoal do Slam, que
adoro. Assim, na minha vida, passei por várias tribos, mas sem pertencimentos,
entrando e saindo de todas, aprendendo um pouco com cada uma – o pior e o
melhor – até chegar à poesia que faço hoje. Assim, se for “tribo”
literária, não me vejo pertencente a nenhuma. Agora, se o Ademir está
falando de uma “tribo” eletiva, de amigos mais chegados, aí, sim, pode
ser que o poeta tenha razão, pois faz parte da condição humana estarmos com
nossos iguais, juntos com os que pensam, afetivamente, de maneira semelhante,
inclusive, como forma de sobrevivência social.
Artur Gomes - Nos dias atuais o que é ser um poeta, militante de poesia?
Tanussi
Cardoso - Artur,
confesso que “militante” não é uma palavra que gosto muito; não me
parece poética. Lembra normas, regras, rigidez, sei lá... posso estar
equivocado, mas não me é simpática, rs. Talvez “ativista” ou “engajado”,
mesmo ruins, soem melhores. Agora, se você usa “militante” como alguém
que vivencia a poesia como metáfora de transformação, pessoal e social; aquele
que acredita no poder da arte como motriz de mudanças, acho legal, acho válido.
Um poeta que saiba aglutinar as galeras, que una as tribos, que batalhe pela inclusão dos poetas da periferia, que
faça da poesia uma espécie de oração, de “religare” entre todos, esse é
essencial.
Você é um deles, a Laura Esteves, o Jorge Ventura, o
Sérgio Gerônimo, o Mozart Carvalho, o João do Corujão, a Neudemar Santanna, a
Thereza Drummond, o Marcelo Mourão, o Eduardo Tornaghi, o Dalberto Gomes, a
Marisa Queiroz, a Eurídice Hespanhol, o
João Pedro Fagerlande, a Elisa Moreno, o Alexandre Durratos, o pessoal do “Poesia
na Lapa”, o pessoal da “Ceu”, o Paulo Sabino, o Iverson Carneiro, o Sérgio Gramático, o Euclides Amaral, o
Claufe Rodrigues, o pessoal da periferia, o coletivo de mulheres, negras,
lésbicas, o pessoal do spam, eu mesmo, enfim...
são vários os exemplos de poetas, no Rio de Janeiro, que trabalham para o
sucesso da poesia e, principalmente, da poesia falada. Usando o seu termo, “poeta
militante” é aquele que insiste e acredita que a vida pode ser luz e não
trevas; que acredita na palavra liberdade na forma mais concreta e duradoura,
em todos os sentidos. É aquele que instala o caos nas zonas de conforto.
Creio que a poesia é uma
experiência única, pela forma humana de olhar o mundo e a vida, numa espécie de
descontrole do real. A poesia – como todas as artes – serve para construir
humanidades. E habita na linguagem. Em homenagem ao grande Sérgio Sant’Anna,
outro que nos deixou nesses tempos tristes, vou citar um conceito dele sobre
arte: “Ela tem a função de fazer o ser humano pensar, sentir; enfim, a
arte permite ao ser humano fazer um voo mais alto”. É por aí, eu penso.
Mas o principal mesmo é que, nesses tempos niilistas, com certeza a poesia
ajuda a construir pessoas melhores, a engrandecer o homem como ser pensante e a
criar espaços saudáveis onde podemos adquirir o hábito prazeroso das ideias.
Essa é a trilha da poesia: o caminho do humano; o caminho do outro.
Artur Gomes - Que pergunta não fiz que você gostaria de responder?
Tanussi
Cardoso - Não, meu amigo, foi tudo perfeito. Espero ter
correspondido. Eu me alonguei em algumas perguntas, aproveitando para colocar
algumas questões sobre o valor da poesia, principalmente, em nossos dias,
porque achei que eram pertinentes para a ocasião. Peço desculpas por isso. Acho
que estou ficando velho, cansado e com certa insegurança, vendo tantos amigos,
tantos artistas, tanta gente do bem saindo de cena: João Gilberto, Sérgio Sant’Anna, Luiz Alfredo Garcia Roza,
Aldir Blanc, Rubem Fonseca, Dalmo Saraiva, Cairo Trindade, Olga Savary, Ovídio,
Luis Gondim, Aluízio Rezende, Marcus Vinicius Quiroga, Flávio Migliaccio,
Morais Moreira, Daisy Lúcidi... É como se o cerco estivesse se fechando. Isso
me deixa um pouco melancólico, amigo. Só me resta agradecer o carinho da lembrança,
para poder somar dentro deste espaço que está se tornando o must
da atualidade. Gratidão, querido. Grande beijo.
Fulinaíma
MultiProjetos
portalfulinaima@gmail.com
(22)99815-1268 - whatsapp
Obrigado, meu amigo, por esses anos todos juntos, em poesia e fraternidade. É um orgulho sua amizade. E participar dessa entrevista, nesse espaço que está virando a sensação da Internet literária, foi uma honra. Grande abraço
ResponderExcluirBellísima entrevista caro amigo Artur Gomes. Felicitaciones!! Esta conversación con el querido y admirado poeta Tanussi Cardoso, que más se parece a una gran plática de amigos, que nos permite conocer más de su Poética, pensamiento y sensibilidad. Y conocer más sobre la poesía que se produce en el Brasil profundo en estos tiempos tan difíciles para el ser humano en este contexto tan negativo a nivel mundial con la pandemia y tan negativo en cuando a las políticas de nuestros vilipendiados paises latinoamericanos. Muchas gracias a ambos y un gran abrazo fraterno desde Santiago de Chile.
ResponderExcluirNessa entrevista do Tanussi estão presentes as marcas evidentes de sua poesia: sensibilidade, humanismo, amizade, lirismo e racionalidade, tudo enfeixado com sabedoria rara. Um poeta que honra a poesia e a engrandece. Tenho orgulho de poder chamá-lo de amigo. Parabéns ao entrevistado e ao entrevistador!
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