quarta-feira, 6 de maio de 2020

Cristina Cruz - EntreVista


Com Os Dentes Cravados Na Memória

Em 1997, estava eu na minha sala de Coordenação de Atividades Cultura no então CEFET-Campos, recebo uma ligação, era minha saudosa amiga Cristina Bastos, me passando um recado de Afonso Celso Joaquim para uma reunião no recém inaugurado Bar Tribuna Livre. Terminado o meu expediente, lá fui para o encontro com o Afonso. Depois de um longo e bom bate papo, regado a algumas gostosas louras bem geladas, ele me propôs ser o responsável pela agitação cultural do estabelecimento.

Como Afonso, foi sempre um cara ligado ao que eu produzia, inauguramos os agitos com um Sax Sex, estrelados por Dalton Freire (Sax) e Bia (Sex). Depois da Overdose  NU Vermelho no Bar Vermelho, em 1987,  a noite de Campos dos Goytacazes, voltou a ter euforia novamente. Não preciso dizer que foi delírio total, com público espalhado  por todas as dependência do Bar, em êxtase com a performance.

Vale lembrar (faço questão), que o prédio onde esteve situado o Bar Tribuna Livre, pertencia a Rosa Sousa Braga, avó de Rosana Barbosa Buchaul, mãe dos meus filhos: Flora Barbos Buchaul (Fil Buc). Com o sucesso inesperado do Sax Sex pensei:  agora tenho que ousar mais ainda.
E foi então que pensei o FesTribuna Livre de Poesia Falada, um Festival com  3 noites de Poesia.  

As duas semi-finais aconteceram no próprio Bar Tribuna Livre, como estávamos em final de ano, e no verão a cidade de Campos se esvazia, a grande final foi realizada já em janeiro no verão no Bar e Restaurante Boca de Luar, em Grussaí, de propriedade na época do casal amigo Silvana e César Castro. Outra noite que entrou ficou cravada na memória. Me lembro que consegui formar uma comissão julgadora, com pessoas do naipe de: Délcio Carvalho, Aloisio Machado, Chico de Aguiar, Analice Martins que foram também responsáveis pela apoteótica noite, com parte do público sentado em cima do pé de flamboyant.

Sagrou-se vencedora do FesTribuna Livre de Poesia Falada, a poesia Poema 1, de Lucia Miners, magnificamente interpretada por Cristina Cruz. Depois dessa noite ficamos um bom tempo afastados, por razões diversas. Em 2019, em função do resgate da poesia de Lucia Miners, voltamos a estar juntos em encontros onde a poesia é a estrela e Cristina tem sido uma das grandes responsáveis pelo brilho que elas tem. E por ter existido o FesTribuna Livre de Poesia, foi que em 1999 na Fundação Cutlrual Jornalista Oswaldo Lima, criei o FestCampos de Poesia Falada. E lá se vão 21 anos.

poema 1

Sobre a tessitura do existir,
o que se pode dizer
de amor?
Do ser capaz
de manejar o todo o dia,
(cada coisa em seu lugar),
e de ser apenas
a de ser apenas
a própria pessoa
sem se diluir nos outros,
e, ao mesmo tempo, recebê-los
com a naturalidade da posse de um braço,
ou de seu próprio cabelo,
como poder?
E do arcar com a surpresa
da manhã que nasce
e que me coloca diante do fato
de estar viva
e de ser mulher?
E das consequências desta realidade
que eu nem pedi,
que me foi dada como um presente,
(sob o papel, a caixa de surpresas),
o que se pode dizer?
E por que a mim coube esta
e não outra posse,
como ser árvore,
rio,
flor
ou asa?
Perplexamente reconheço
que mais nada me seria dado.
Nada mais saberia ser, eu,
que já nem sei nada
e tanto me custa aprender
aquilo que sou.
É difícil ser e há momentos
e que o definir-se
o estar sendo aquele momento
é como um sonho
e o estranho
é a gente se encontrar na gente mesma,
limitada em corpo ancho,
entre nascimento e morte
limitada.

Lucia Miners

Crisrina Cruz - Bem jovem descobri o teatro. O espetáculo era "Negrinha", no Sesc. Gildo Henrique em cena, não sei se ele mesmo ou outros atores com a pele pintada de preto ( lembro bem da pintura).

De diferentes formas, a partir daí minha vida esteve sempre ligada ao teatro.

Em muitos anos dedicados à minha profissão de professora, sonhei sempre poder me dedicar mais ao trabalho de interpretação e representação.

Atualmente me dedico a resgatar a obra inédita da escritora Lucia Miners. Amo sua poesia. Ouso um projeto de representá-la, quem sabe?

Também participo de um projeto de pesquisa em teatro de rua, pesquisa de mestrado da querida Takna Formaggini, trabalho que me faz falta nesses tempos de quarentena.

Artur Gomes -  Como se processa o seu estado de poesia?

Cristina Cruz - Na alma da palavra busco sempre recriar significados

Artur Gomes - Seu poema preferido?

Cristina Cruz - Amo poesia, poemas e poetas. Não há apenas um preferido, mas tenho gostado de ler Leminski

"luxo saber
além dessas telhas
um céu de estrelas"

Artur Gomes - Qual o seu poeta de cabeceira?

Cristina Cruz - Aquel@ que estiver me provocando o desejo de dize-l@

Artur Gomes - Em seu instante de criação existe alguma pedra de toque, algo que o impulsione para escrever?

Cristina Cruz - Em minha pesquisa da atuação procuro, do cerne da palavra, iniciar meu processo de criação

Artur Gomes -  Livro que considera definitivo em sua obra?

Cristina Cruz - Nos livros que leio, de todos os gêneros, encontro elementos para o meu processo de criação do dizer

Artur Gomes - Além da poesia em verso,  já exercitou ou exercita outra forma de linguagem com poesia?

Cristina Cruz - O exercício da atuação/interpretação é para mim muito instigante no verso, gosto de descobrir e recriar os seus sentidos. Mas o bom desse exercício é que se presta à prática em diferentes linguagens

Artur Gomes - Qual poema escreveu quando teve uma pedra no meio do caminho

Cristina Cruz - Uma imensa pedra está no meio do caminho do Brasil. Oh, Drummond, venha nos inspirar

Artur Gomes - Revisitando Quintana: você acha que depois dessa crise virótica pandêmica, quem passará e quem passarinho?

Cristina Cruz - Temo não passar

Artur Gomes - Escrevendo sobre o livro Pátria A(r)mada, o poeta e jornalista Ademir Assunção, afirma que cada poeta tem a sua tribo, de onde ele traz as suas referências. Você de onde vem, qual é a sua tribo?

Cristina Cruz - "Minha tribo me perdeu"

Artur Gomes - Nos dias atuais o que é ser um poeta, 

militante de poesia?
militar me limita
no limite
milito
anti militar

(acho alguém escreveu isso, se não fui eu também não sei quem foi)

me lembrou Karlos Chapul que nos anos 80 escreveu:

não milito
militar
me limita

na época ele assinava: Pat Raider, hoje como na ficção de Uilcon Pereira ele matou o personagem.

Artur Gomes - Que pergunta não fiz que você gostaria de responder?

Cristina Cruz  - nenhuma

Fulinaíma MultiProjetos
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3 comentários:

  1. Bom dia Tereza! Só hoje concluí a leitura do texto. Sei de sua paixão pela arte em todas as suas formas e sua dedicação aos poemas de Lúcia Miners. Foi marcante sua atuação ao apresentar o trabalho acadêmico do Curso de Geografia pedido pelo nosso grande professor Celsinho, que com um poema foi capaz de apresentar as duas faces da cidade de Campos... A direita e esquerda do rio Paraíba... (Paraíba de mim)?? Apresentou para nós a obra dessa mulher que conheci nas dependências dos Cieps, sem imaginar conviver com a sensibilidade encarnada. Parabéns pra você nesse resgate importante pra arte. Num momento em que " Ser ou não ser" faz toda a diferença. Um abraço amiga! Parabéns Arthur Gomes. Sucesso!!

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  2. Olá, boa noite! Seu perfil não aparece pra mim, mas imagino que seja Deborah. Acertei? Rsrs
    Você me trouxe uma lembrança muito boa. Era um trabalho sobre paisagem cultural? Não tenho certeza, mas esse poema - Do Outro Lado, parte do livro Parahyba de Mim - é muito marcante e representativo da nossa "cidade partida". Gosto muito dele e mais uma vez vai fazer parte de um trabalho em que estou. Obrigada por me recordar esse momento!

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  3. Sou eu... Deborah. Os vários momentos que vivemos no IFF nos aproximaram para sempre. Agradeço a Deus por isso.

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