Com Os Dentes Cravados Na Memória
Em
1997, estava eu na minha sala de Coordenação de Atividades Cultura no então
CEFET-Campos, recebo uma ligação, era minha saudosa amiga Cristina Bastos, me
passando um recado de Afonso Celso Joaquim para uma reunião no recém
inaugurado Bar Tribuna Livre. Terminado o meu expediente, lá fui para o
encontro com o Afonso. Depois de um longo e bom bate papo, regado a algumas
gostosas louras bem geladas, ele me propôs ser o responsável pela agitação
cultural do estabelecimento.
Como
Afonso, foi sempre um cara ligado ao que eu produzia, inauguramos os agitos com
um Sax Sex, estrelados por Dalton
Freire (Sax) e Bia (Sex). Depois da Overdose
NU Vermelho no Bar Vermelho, em 1987, a noite de Campos dos Goytacazes, voltou a ter
euforia novamente. Não preciso dizer que foi delírio total, com público
espalhado por todas as dependência do
Bar, em êxtase com a performance.
Vale
lembrar (faço questão), que o prédio onde esteve situado o Bar Tribuna Livre, pertencia a Rosa Sousa Braga, avó de Rosana Barbosa Buchaul, mãe dos meus
filhos: Flora Barbos Buchaul (Fil Buc). Com
o sucesso inesperado do Sax Sex pensei:
agora tenho que ousar mais ainda.
E
foi então que pensei o FesTribuna Livre
de Poesia Falada, um Festival com 3 noites de Poesia.
As
duas semi-finais aconteceram no próprio Bar
Tribuna Livre, como estávamos em final de ano, e no verão a cidade de
Campos se esvazia, a grande final foi realizada já em janeiro no verão no Bar e
Restaurante Boca de Luar, em
Grussaí, de propriedade na época do casal amigo Silvana e César Castro. Outra
noite que entrou ficou cravada na memória. Me lembro que consegui formar uma
comissão julgadora, com pessoas do naipe de: Délcio Carvalho, Aloisio Machado,
Chico de Aguiar, Analice Martins que foram também
responsáveis pela apoteótica noite, com parte do público sentado em cima do pé
de flamboyant.
Sagrou-se
vencedora do FesTribuna Livre de Poesia
Falada, a poesia Poema 1, de Lucia
Miners, magnificamente interpretada por Cristina
Cruz. Depois dessa noite ficamos um bom tempo afastados, por razões
diversas. Em 2019, em função do resgate da poesia de Lucia Miners, voltamos a estar juntos em encontros onde a poesia é
a estrela e Cristina tem sido uma das grandes responsáveis pelo brilho que elas
tem. E por ter existido o FesTribuna
Livre de Poesia, foi que em 1999 na Fundação Cutlrual Jornalista Oswaldo
Lima, criei o FestCampos de Poesia
Falada. E lá se vão 21 anos.
poema 1
Sobre a tessitura do existir,
o que se pode dizer
de amor?
o que se pode dizer
de amor?
Do
ser capaz
de manejar o todo o dia,
(cada coisa em seu lugar),
e de ser apenas
a de ser apenas
a própria pessoa
sem se diluir nos outros,
e, ao mesmo tempo, recebê-los
com a naturalidade da posse de um braço,
ou de seu próprio cabelo,
como poder?
de manejar o todo o dia,
(cada coisa em seu lugar),
e de ser apenas
a de ser apenas
a própria pessoa
sem se diluir nos outros,
e, ao mesmo tempo, recebê-los
com a naturalidade da posse de um braço,
ou de seu próprio cabelo,
como poder?
E
do arcar com a surpresa
da manhã que nasce
e que me coloca diante do fato
de estar viva
e de ser mulher?
da manhã que nasce
e que me coloca diante do fato
de estar viva
e de ser mulher?
E
das consequências desta realidade
que eu nem pedi,
que me foi dada como um presente,
(sob o papel, a caixa de surpresas),
o que se pode dizer?
que eu nem pedi,
que me foi dada como um presente,
(sob o papel, a caixa de surpresas),
o que se pode dizer?
E
por que a mim coube esta
e não outra posse,
como ser árvore,
rio,
flor
ou asa?
e não outra posse,
como ser árvore,
rio,
flor
ou asa?
Perplexamente
reconheço
que mais nada me seria dado.
Nada mais saberia ser, eu,
que já nem sei nada
e tanto me custa aprender
aquilo que sou.
que mais nada me seria dado.
Nada mais saberia ser, eu,
que já nem sei nada
e tanto me custa aprender
aquilo que sou.
É
difícil ser e há momentos
e que o definir-se
o estar sendo aquele momento
é como um sonho
e o estranho
é a gente se encontrar na gente mesma,
limitada em corpo ancho,
entre nascimento e morte
limitada.
e que o definir-se
o estar sendo aquele momento
é como um sonho
e o estranho
é a gente se encontrar na gente mesma,
limitada em corpo ancho,
entre nascimento e morte
limitada.
Lucia Miners
Crisrina Cruz - Bem jovem descobri o teatro. O espetáculo era "Negrinha", no Sesc. Gildo Henrique em cena, não sei se
ele mesmo ou outros atores com a pele pintada de preto ( lembro bem da
pintura).
De
diferentes formas, a partir daí minha vida esteve sempre ligada ao teatro.
Em
muitos anos dedicados à minha profissão de professora, sonhei sempre poder me
dedicar mais ao trabalho de interpretação e representação.
Atualmente
me dedico a resgatar a obra inédita da escritora Lucia Miners. Amo sua poesia. Ouso um projeto de representá-la,
quem sabe?
Também
participo de um projeto de pesquisa em teatro de rua, pesquisa de mestrado da
querida Takna Formaggini, trabalho
que me faz falta nesses tempos de quarentena.
Artur Gomes - Como se processa o seu estado de poesia?
Cristina Cruz - Na alma da
palavra busco sempre recriar significados
Artur Gomes - Seu poema
preferido?
Cristina
Cruz - Amo poesia, poemas e poetas. Não há apenas um preferido, mas tenho
gostado de ler Leminski
"luxo saber
além dessas telhas
um céu de estrelas"
Artur Gomes - Qual o seu
poeta de cabeceira?
Cristina Cruz - Aquel@ que
estiver me provocando o desejo de dize-l@
Artur Gomes - Em seu
instante de criação existe alguma pedra de toque, algo que o impulsione para
escrever?
Cristina Cruz - Em minha
pesquisa da atuação procuro, do cerne da palavra, iniciar meu processo de
criação
Artur Gomes - Livro que considera definitivo em sua obra?
Cristina Cruz - Nos livros que leio, de todos os gêneros, encontro elementos para o
meu processo de criação do dizer
Artur Gomes - Além da poesia
em verso, já exercitou ou exercita outra
forma de linguagem com poesia?
Cristina Cruz - O exercício da atuação/interpretação é para mim muito instigante no
verso, gosto de descobrir e recriar os seus sentidos. Mas o bom desse exercício
é que se presta à prática em diferentes linguagens
Artur Gomes - Qual poema
escreveu quando teve uma pedra no meio do caminho
Cristina Cruz - Uma imensa pedra está no meio do caminho do Brasil. Oh, Drummond,
venha nos inspirar
Artur Gomes - Revisitando
Quintana: você acha que depois dessa crise virótica pandêmica, quem passará e
quem passarinho?
Cristina Cruz - Temo não passar
Artur Gomes - Escrevendo
sobre o livro Pátria A(r)mada, o poeta e jornalista Ademir Assunção, afirma que cada poeta tem a sua tribo, de onde ele
traz as suas referências. Você de onde vem, qual é a sua tribo?
Cristina Cruz - "Minha tribo me perdeu"
Artur Gomes - Nos dias
atuais o que é ser um poeta,
militante de poesia?
militar
me limita
no
limite
milito
anti
militar
(acho alguém escreveu isso, se não fui eu
também não sei quem foi)
me
lembrou Karlos Chapul que nos anos 80 escreveu:
não milito
militar
me limita
na
época ele assinava: Pat Raider, hoje como na ficção de Uilcon Pereira ele matou
o personagem.
Artur Gomes - Que pergunta
não fiz que você gostaria de responder?
Cristina Cruz - nenhuma
Fulinaíma MultiProjetos
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Bom dia Tereza! Só hoje concluí a leitura do texto. Sei de sua paixão pela arte em todas as suas formas e sua dedicação aos poemas de Lúcia Miners. Foi marcante sua atuação ao apresentar o trabalho acadêmico do Curso de Geografia pedido pelo nosso grande professor Celsinho, que com um poema foi capaz de apresentar as duas faces da cidade de Campos... A direita e esquerda do rio Paraíba... (Paraíba de mim)?? Apresentou para nós a obra dessa mulher que conheci nas dependências dos Cieps, sem imaginar conviver com a sensibilidade encarnada. Parabéns pra você nesse resgate importante pra arte. Num momento em que " Ser ou não ser" faz toda a diferença. Um abraço amiga! Parabéns Arthur Gomes. Sucesso!!
ResponderExcluirOlá, boa noite! Seu perfil não aparece pra mim, mas imagino que seja Deborah. Acertei? Rsrs
ResponderExcluirVocê me trouxe uma lembrança muito boa. Era um trabalho sobre paisagem cultural? Não tenho certeza, mas esse poema - Do Outro Lado, parte do livro Parahyba de Mim - é muito marcante e representativo da nossa "cidade partida". Gosto muito dele e mais uma vez vai fazer parte de um trabalho em que estou. Obrigada por me recordar esse momento!
Sou eu... Deborah. Os vários momentos que vivemos no IFF nos aproximaram para sempre. Agradeço a Deus por isso.
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