Tenho lido a poesia dessa
mineira, pelas postagens nas revistas digitais. Estamos em contato no face há
bem pouco tempo, mas sinto que é como nos conhecêssemos desde que esta
plataforma existe. Nas minhas
provocações em profanar o sacro, brinco que faço parte de uma santíssima trindade grande foi minha satisfação quando tomei conhecimento do título do seu livro de poemas que
será lançado este ano pela Penalux: Paganíssima
Trindade, uma excelente companhia no catálogo da Editora para o meu Juras Secretas lançado em 2018.
Mônica
Ribeiro, ou Mô Ribeiro,
é mineira de Belo Horizonte. Arquiteta de formação, descobriu-se poeta por
insistência do inconsciente. Participou da antologia É Urgente o Amor, Edições Vieira da Silva, Portugal, e também da Antologia Ruínas, da Editora Patuá. Foi
publicada pelas revistas Caliban, Germina, Literatura & Fechadura, Mallarmargens
e Revista de Ouro, entre outras. Irá publicar este ano seu primeiro livro de
poemas, Paganíssima Trindade, pela
Editora Penalux.
Veio ao mundo em 1971 e deu
trabalho para vir à tona: o parto foi de fórceps. A escrita, ao contrário, vem
nas contrações que dão à luz seus poemas. Partos rápidos, mas não sem dor, e
depois o cuidado com a cria. Assim é sua escrita.
Mô Ribeiro - Eu
chamo meu processo de escrita, que posso chamar de estado de poesia, de Paganíssima Trindade. Este, aliás, é o
título do meu primeiro livro, a ser publicado pela Editora Penalux.
Como isto se dá? Sempre senti o
pensamento – de modo geral, e não apenas no sentido literário – como uma voz
sem timbre. Soma-se a isso o fato de que digito muito rápido e, a partir daí,
vejo surgir quase que simultaneamente o resultado gráfico da experiência de pensamento
e digitação.
Pensamento-voz-sem-timbre,
dedos rápidos no teclado e o resultado gráfico acontecem quase ao mesmo tempo. Sintetizando,
como diz uma amiga, a poeta Mell Renault,
pode-se dizer que me ocorre um processo quase uno de pensamento-ação-signo. Por
isso o nome Paganíssima Trindade.
Posso acrescentar ainda que meu
estado de poesia vem de meu estar no mundo, da existência filtrada pelas
palavras. Aí incluo tanto questões banais quanto aquelas complexas. Ambas se
mesclam no estado poético.
Artur
Gomes - Seu poema preferido?
Mô Ribeiro -Não
tenho um poema preferido. Tenho poemas preferidos em ocasiões específicas. Poderia
citar agora Eros e Psique, do
Fernando Pessoa.
Artur
Gomes - Qual o seu poeta de cabeceira?
Mô Ribeiro - Vou
repetir aqui o Fernando Pessoa. Quando o leio, é como se alcançasse meu “eu profundo”.
Artur
Gomes - Em seu instante de criação existe alguma pedra de toque,
algo que o impulsione para escrever?
Mô Ribeiro –O
tempo todo sinto vontade de escrever, mesmo que isso nem sempre se concretize.
Tenho momentos de silêncio associados à vontade de produzir palavras, o que me
causa certa angústia.
Quanto à pedra de toque, meu
impulso para a escrita é o inconsciente. É dessa instância que surgem as
primeiras ideias, o pulso da escrita.
Artur
Gomes - Livro que considera definitivo em sua obra?
Mô Ribeiro -
Lembro-me do poema do Pessoa, “SIM, sei
bem”:(...) Sei de sobra/ que nunca terei uma obra.(...). Por um
tempo, pensei que jamais publicaria um livro. Num impulso, a partir do
incentivo de uma amiga, resolvi mandar o original de Paganíssima Trindade para editoras e tive resposta positiva.
Portanto, ainda não tenho uma
obra que seja definitiva, apesar de escrever muito e já há algum tempo. Penso
que meu primeiro livro me trará uma experiência marcante e que será, para mim,
um divisor de águas no que diz respeito a produzir poesia.
Artur
Gomes - Além da poesia em verso,já exercitou ou exercita outra
forma de linguagem com poesia?
Mô Ribeiro - Antes
de começar a escrever poesia, eu produzia apenas prosa; crônicas, sobretudo. Ao
burilar os textos, sentia que havia algo de poético no que escrevia, mas tal
sentir acontecia de forma inconsciente. A partir de meu encontro com a escrita
de poemas, tive consciência do fazer poético na minha escrita de prosas.
Tenho uns poucos poemas
escritos em forma de prosa, e este é um modo de escrita que pretendo explorar
mais.
Artur
Gomes - Qual poema escreveu quando teve uma pedra no meio do
caminho?
Mô Ribeiro - Meus
poemas em geral dizem de pedras no meio do caminho, e sua pergunta me fez
perceber isso. Procurei em meus arquivos poemas que dizem literalmente a pedra.
Um dos que encontrei foi este:
uma pedra me encontrou no caminho
me desafiou
seguir adiante exigia escalada
e a pedra impassível
mudei de caminho
Poderia colocar aqui inúmeros poemas-pedra
que não falam diretamente sobre esse elemento, mas resolvi ser literal.
Artur
Gomes - Revisitando Quintana: você acha que depois dessa crise
virótica pandêmica, quem passará e quem passarinho?
Mô Ribeiro - Acho
que não passará o passaredo, que não passarão os passarinhos: estes ficarão
incólumes. Outro dia matutava sobre o fato de que os peixes, por respirarem por
meio d’água, estão a salvo do novo vírus. Embora passarinhos respirem diretamente
o ar, estendo a ideia dos peixes a eles.
Penso que esta experiência que
estamos vivendo nunca passará completamente ou que, no mínimo, nos marcará de
forma eloquente. Porém, o que mais sinto no momento é uma indefinição quanto a
nosso futuro.
Artur
Gomes - Escrevendo sobre o livro Pátria A(r)mada, o poeta e
jornalista Ademir Assunção, afirma
que cada poeta tem a sua tribo, de onde ele traz suas referências. Você de onde
vem, qual é a sua tribo?
Mô
Ribeiro -Venho do meu
interior: minha escrita é muito pessoal. Então não tenho tribos, grupos. Leio
variados autores. Gosto de me ver solta, de não fazer parte de grupos que se
auto alimentam. Desta forma, penso que as experiências de leitura e de escrita
se expandem.
Artur
Gomes - Nos dias atuais o que é ser um poeta, militante de poesia?
Mô Ribeiro -Li a entrevista
da Amanda Vital e concordo com ela
quando diz que ser poeta e ser militante de poesia são coisas distintas. Há
militantes que não escrevem, mas que fazem muito pela divulgação do fazer
poético.
Poetas ou não, os militantes de
poesia hoje contam com as redes sociais e com a internet em geral para difundir
tal forma de literatura. As revistas online são um bom exemplo, e acho que
cumprem um importante papel. Você, com seu projeto de entrevistas, é
fundamental nesse quesito.
Quanto ao que é ser um poeta,
esta é uma pergunta que eu tento responder escrevendo. Não sei se um dia
saberei. Talvez a responda aos poucos, a cada poema que escrevo.
Artur
Gomes - Que pergunta não fiz que você gostaria de responder?
Mô Ribeiro - Achei
excelentes as perguntas. Ao respondê-las, pude refletir sobre aspectos da
escrita que não me eram tão claros. Gostaria de lhe agradecer muito pela
oportunidade da entrevista e de parabenizá-lo por seu trabalho.
FulinaímaMultiProjetos
portalfulinaima@gmail.com
(22)99815-1268 - whatsapp
Nenhum comentário:
Postar um comentário