domingo, 24 de maio de 2020

Armando Liguori Junior - EntreVistas


Armando Liguori Junior, é um outro achado aqui no face. O adicionei quando vi um vídeo de suas leitura poéticas feitas com um poema do Nuno Rau. Não preciso dizer para quem me conhece, que a minha grande paixão além da escrita do teatro, em si, é a poesia falada, a sonoridade da poética na voz a  fala na língua que não cala.

No face acompanho suas leitura diariamente, e o seu trabalho nesse sentido pode ser considerado marco : 1000 leituras poéticas em uma rede social. Nesse nosso bate papo aqui, descubro ele também ator, dramaturgo, que muito mais aprofunda as nossas afinidades. Hoje acordei pensando o que essas EntreVistas tem me proporcionado de aprendizagem com as formas estruturas conceitos vida linguagem que o estado de poesia provoca em cada um de nós poetas escritores pintores músicos atores artistas enfim. 

 Armando Liguori Junior - Formado em jornalismo pela PUC-SP, e artes cênicas pelo Teatro-Escola Célia Helena.

Trabalha como redator, roteirista e ator. Tem três livros publicados; dois de poemas: TERRITÓRIOS (2009 – Ed. Scortecci) e A POESIA ESTÁ EM TUDO (2020 – Editora Patuá), um de dramaturgia: TEXTOS CURTOS PARA TEATRO E CINEMA (2017 – Editora Giostri).

Escreveu, adaptou e atuou em diversos espetáculos da CIA OS TIOS (da qual é um dos fundadores), entre eles: DENTRO DO BOSQUE do filme Rashomon de Kurosawa e MATTEO PERDEU O EMPREGO, do livro de Gonçalo M. Tavares.

Atualmente mantém um canal no YouTube (com o nome Armando Liguori), dedicado a leitura poética de diversos autores brasileiros e estrangeiros.


Eu sonho poema

Tem quem sonha
Em preto e branco.

Tem quem sonha Videoclipe.
Tem que sonha Filme mudo.
Tem quem sonha
Tela de cinema.

Eu sonho poema.

(do livro A Poesia Está Em Tudo)

Artur Gomes - Como se processa o seu estado de poesia?

Armando Liguori Junior  - Muitos dos poemas que escrevo começam com uma palavra ou uma frase no papel.

Essa palavra ou frase inicial podem ter as mais diversas origens: uma postagem, uma entrevista, uma notícia, palavras-cruzadas que faço com frequência, poemas de outros poetas, uma imagem, o diálogo de um filme ou de uma peça de teatro, uma receita de bolo, enfim...

Essa palavra desperta meu interesse por sua dubiedade, por sua sonoridade, por seu significado, por sua beleza gráfica, por sua possibilidade de se encadear com outras palavras...

Coloco então a palavra ou a frase no papel e começo a brincar com ela e a rede do poema vai se formando. As possibilidades e caminhos vão surgindo, escrevo tudo o que me vem à cabeça como se estivesse jogando alguma espécie de desafio...
Depois procuro dar forma e sonoridade para o que foi escrito...

Claro que corto muita coisa. Não só no processo de criação mas posteriormente cada vez que releio o poema...

Sempre dá para falar mais e melhor com o mínimo possível.

Artur Gomes - Seu poema preferido? Próprio. Ou de outro poeta de sua admiração.

Armando Liguori Junior -   Tenho muitos poemas preferidos (que não canso de ler). Alguns deles são: TECENDO A MANHÃ de João Cabral de Melo Neto, PORTO de Renata Pallottini, O VÔO de Menotti Del Picchia, FICA O NÃO DITO POR DITO de Ferreira Gullar, SE TE QUERES MATAR de Álvaro campos, PAREÇA E DESAPAREÇA de Paulo Leminski, HISTÓRIA NATURAL e O MEDO de Drummond e muitos outros.

Trecho final do poema FICA O NÃO DITO POR DITO
De Ferreira Gullar

é que só o que não se sabe é poesia

assim
o poeta inventa
o que dizer
e que só
ao dizê-lo
vai saber
o que
precisava dizer
ou poderia
pelo que o acaso dite
e a vida
provisoriamente
permite.

E dos meus posso citar esse Wazelife do meu último livro A Poesia Está Em Tudo. 

Wazelife

Do berço
À cova
Todo trajeto
É certo.

Todo o
Tempo
É curto.

Tudo o
Mais
É resto.

Artur Gomes - Qual o seu poeta de cabeceira?

Armando Liguori Junior -   Além de todos os citados anteriormente, gosto de Affonso Romano Sant´Ana, Walt Whitman, Charles Bukowski, Arnaldo Antunes, Chico Buarque de Holanda, Mário de Andrade, entre muitos. Como você vê minha cabeceira é uma estante.

Artur Gomes - Em seu instante de criação existe alguma pedra de toque, algo que o impulsione para escrever?

Armando Liguori Junior - Tento não contar com a inspiração.  Sento todos os dias e me comprometo a escrever um poema. Saia do jeito que sair. Algumas vezes, vinga, outras não. Mas mesmo esses que vão para o fundo da gaveta, em algum momento, mais tarde, podem dar origem a outros.

Artur Gomes -Livro que considera definitivo em sua obra?

Armando Liguori Junior -   Não tenho uma obra extensa para considerar qualquer livro como definitivo. Gosto de pensar que o mais recente é sempre melhor que o anterior. Que representa uma evolução, um amadurecimento, uma intimidade cada vez maior com as palavras.  Mas definitivo é uma palavra muito definitiva.

Artur Gomes - Além da poesia em verso já exercitou ou exercita outra forma de linguagem com poesia?

Armando Liguori Junior - Sim. Escrevo roteiros e peças teatrais. Tenho uma ligação muito forte com o teatro, pois sou ator e faço parte da CIA OS TIOS DE TEATRO.

Outro gênero que eu aprecio muito é a CRÔNICA, talvez por minha formação jornalística. Tanto que acredito que muitos dos poemas que escrevo sejam crônicas blocadas em formato de poema.

Artur Gomes - Qual poema escreveu quando teve uma pedra no meio do caminho?

Armando Liguori Junior -   Falar sobre a morte é sempre algo bem delicado, mesmo que haja muita poesia na morte. Tem gente que faz isso muito bem. Eu não tinha encarado antes. Mas, recentemente a morte de Daniel Azulay, um artista que sempre admirei, me fez encarar a morte de maneira poética e escrevi um poema-homenagem para ele. Não foi uma pedra no caminho, mas sem dúvida uma superação das minhas limitações.

Vai na frente, Azulay

Hoje o céu
Está mais azul
Ou é impressão?

Olha lá
Daqui a pouco
Vai ter arco-íris até o chão

Pudera
Tem gente nova
Fazendo arte
Lá em cima

E subiu
Com um montão
De lápis de cor

Vai na frente, Azulay
Pinta e borda
No céu do pai

E se o céu,
Visto de cima,
For branquinho
Branquinho
Como dizem
Você tá feito:
Que tela imensa
Pra pintar

Ah! Não esquece
De dar um colorido
Na roupa dos
Anjinhos

Enche todos
De algodão doce
E deixa se melecarem
Quem sabe assim
Você não adoça um pouco Deus
Que anda precisado
Da tua doçura

Vai na frente, Azulay
Para que quando
For nossa vez
(Por que pra todo
Um dia a casa cai)

A gente possa
Se encontrar
E brincar
Juntos
Nesses quintais

Artur Gomes - Revisitando Quintana: você acha que depois dessa crise virótica pandêmica, quem passará e quem passarinho?

Armando Liguori Junior -   Tudo passa. E tudo passarinho. O vírus passará. E a atual realidade política e seus vilões também. ELES passarão.

Vai dar trabalho reconstruir tudo o que está sendo derrubado na cultura, na educação, na ciência e em diversos setores sociais e humanos. Mas a gente vai reconstruir sim.

Destruir é sempre mais fácil e é trabalho para os fracos (coisa que eles estão fazendo muito bem).
Construir já é mais desafiante, pois exige argamassa e massa cinzenta então caberá a nós, aos que acreditam na democracia e na constituição.

Artur Gomes - Escrevendo sobre o livro Pátria A(r)mada, o poeta e jornalista Ademir Assunção, afirma que cada poeta tem a sua tribo, de onde ele traz as suas referências. Você de onde vem, qual é a sua tribo¿

Armando Liguori Junior  - Não sei muito bem como responder a essa pergunta. A poesia é uma trajetória solitária.

É certo que os poetas, pelo menos aqueles com quem eu tenho contato são muito amáveis e parceiros: se elogiam, se admiram, se lêem... e isso é muito importante... se isso for uma tribo, estou dentro.

Agora quanto a referências. Sempre tive muita identificação com poetas que fazem uma poesia acessível.

Aquela que qualquer pessoa possa ler e interagir.
Gosto da coloquialidade na escrita. Do poema que conversa com o leitor, sem a barreira das palavras de difícil entendimento.

Gosto do poema que fala de coisas complicadas mas de maneira simples, com palavras que o leitor usa no seu dia-a-dia.

Poemas fáceis de ler mesmo que tenham sido muito difíceis para o poeta escrever.

Leminski tinha muito isso. Quintana também. Cora Coralina.

Artur Gomes - Nos dias atuais o que é ser um poeta, militante de poesia?

Armando Liguori Junior -   Nos dias atuais a tecnologia tem ajudado muito a interação entre poetas e, também, entre poetas e leitores por meio de sites, blogs, mídias sociais.

Então ser militante é usar esses canais para fazer aquilo que você acredita e divulgar tanto a sua própria poesia como a de outros poetas.

É isso que procuro fazer, acho que a minha maior militância tem sido a leitura de textos (a maioria poemas) de diversos autores no face, instagram e youtube.

Cabe a cada um de nós fazer de tudo para que a poesia esteja presente no dia-a-dia do maior número possível de pessoas/internautas.

E não poderia deixar de aproveitar e militar/divulgar meu mais recente livro A POESIA ESTÁ EM TUDO que saiu este ano pela Patuá. Quem quiser conhecer um pouco mais da minha poesia é só acessar o site da PATUÁ e pedir o seu.

Artur Gomes - Que pergunta não fiz que você gostaria de responder?

Armando Liguori Junior -   Talvez a pergunta: Quem escreve poemas hoje em dia?

Nessas leituras que me propus a fazer acabei entrando em contato com um universo poético que não imaginava existir, pelo menos não na quantidade e na qualidade que tive oportunidade de constatar.

Em minhas pesquisas encontrei e encontro diariamente poetas de uma qualidade impar e com uma imensa diversidade de origem e de propostas.

Gente muito boa no que faz, com domínio da linguagem e da palavra.

Tive o prazer de ler poemas que me tocaram profundamente escritos por poetas brasileiros (das mais diversas regiões do país), latino americanos, mundiais.

Tem muita gente escrevendo. Muita gente. Muita gente mesmo. E escrevendo bem.

Outra coisa que percebi foi que a poesia seja talvez o principal canal de acesso do escritor iniciante para a literatura. Muita gente ainda que timidamente, já escreveu pelo menos um poema na vida. Alguns pegam gosto e dão continuidade ao fazer poético.Alguns enveredam para composições musicais, que é uma vertente da poesia.
Não são poucos os poetas que estão começando a se arriscar na trajetória literária por meio da poesia. Ainda vem muita novidade por aí. Aguardem.

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