sábado, 2 de maio de 2020

Fabiano Fernandes Garcez - EntreVista



Conheci o Fabiano Fernandes Garcez, também em noite de Poesia na Patuscada, e lá mesmo, nos tornamos a nos encontrar em mais alguns Saraus como no Gente de Palavra Paulistanos em homenagem a grande poeta Dalila Teles Veras. Em São Paulo Cesar Augusto de Carvalho, tem sido o grande anfitrião a me apresentar a turma de poetas que ainda não conhecia.  Tenho visitado a sua sala de leitura no youtube e acompanhado o importante trabalho na divulgação  de poetas contemporâneo, que como ele mesmo afirma, é o seu novo foco de estudo.

Fabiano Fernandes Garcez -  nasceu em 3 de abril de 1976, na cidade de São Paulo. Formou-se em Letras, é professor de língua portuguesa.   É autor dos livros Poesia se é que há(2008), Diálogos que ainda restam (2010), Rastros para um testamento (2012) e Em meio ao ruídos urbanos (2016) finalista, na categoria autor do ano e poesia, do Prêmio Guarulhos de Literatura 2017 e vencedor do mesmo prêmio na categoria poesia, no ano de 2019, com Um grama, apenas, do abstrato, ainda no prelo.  .
Desenvolveu o Ateliê de poesia para a Casa de Cultura Tremembé, Workshop de Literatura (poesia, conto, crônica e micro-conto) para a livraria Nobel unidade Guarulhos; palestra no I Fórum da Juventude: A ideologia do curinga; palestra na Biblioteca Monteiro Lobato Guarulhos: A poesia contemporânea em debate. Foi jurado pela cidade de Guarulhos da fase municipal do Mapa Cultural Paulista – Edição 2009/2010 (Poesia).  Participa do XXVII Simpósio de História do Vale do Paraíba em Aparecida – SP, em duas palestras: A legitimidade da poesia de Tonho França no mundo contemporâneo e O Macro-universo de Wilson Gorj em sua micronarrativa e participa da mesa de discussão: A prosa do Vale do Paraíba

Fez parte do grupo idealizador do Lê Guarulhos, uma associação de escritores guarulhenses e do Tragos e Papos, discussões literárias na Livraria Nobel (Guarulhos). É produtor e apresentador do Sala de Leitura com Fabiano Fernandes Garcez no Youtube.

Artur Gomes- Como se processa o seu estado de poesia?

Fabiano Fernandes Garcez – O meu estado de poesia, talvez esse seja o melhor termo “estado”, é como os tantos outros, está dentro de mim, sempre em stand by, precisa ser provocado para dar as caras, essa provocação quase sempre é através da leitura, da música, do cinema, enfim do contato com a arte, como também, é por meio da percepção, do olhar da beleza, da tristeza do mundo interno ou externo.

Artur Gomes - Seu poema preferido? Próprio. Ou de outro poeta de sua admiração.

Fabiano Fernandes Garcez  Tenho tantos poemas e poetas que admiro, mas para ficar apenas em três: cito Bendito, de Adélia Prado, que me traz a experiência de alguém derrotado, estagnado, que se vale apenas das recordações e da fé. 

Não sou uma pessoa religiosa, e esse poema me traz juntamente a religiosidade que me falta e com isso me sinto mais completo e satisfeito.

Outro poema que admiro e que me comove por outros motivos é Ferrovia, de César Magalhães Borges, neste poema há a emulação sonora de uma viagem de metrô. César é um mestre deste tipo de poema, além da beleza estética, o poema traz a mim a beleza da poesia, pois deixa claro que as palavras não são apenas para “contar uma história”, mas para trazer ao leitor experiências sonoras e visuais.
É essa a beleza e dificuldade de um bom poema! 

Por fim, escolho um poema meu, que em toda leitura tem sempre uma ótima receptividade, Se Jesus voltasse hoje, traz a minha visão de um Jesus nada religioso, mas revolucionário e bem brasileiro, numa tentativa rítmica de algo de repente ou cordel. Mas sei que se respondesse a essa pergunta ontem ou amanhã seriam poemas completamente diferentes.

Artur Gomes - Qual o seu poeta de cabeceira?

Fabiano Fernandes Garcez - São inúmeros! Muitos mesmo! Cada poeta é um universo e quando mais lemos esse poeta o universo, como o verdadeiro, se expande. Ao ler, porém, inúmeros poetas, temos uma infinidade de universos, um pluriverso! Sou formado em letras e devido a isso tive contato com os poetas consagrados do cânone brasileiro, desde que saí da universidade, em 2005, convivo com poetas e a poesia contemporânea, que é o meu objeto de estudo agora.

Em meus livros há uma visível influência de grandes nomes como Álvares de Azevedo, Oswald, Mário e Carlos Drumond de Andrade, Paulo Leminsk, Ferreira Gullar, Adélia Prado, Hilda Hilst, Orides Fontela e outros tantos. A lista só cresce!

Artur Gomes - Em seu instante de criação existe alguma pedra de toque, algo que o impulsione para escrever?

Fabiano Fernandes Garcez  Não tenho. Meu processo de escrita é muito diverso. Mas sei que antes eu era muito impulsivo, assim que vinha uma ideia, um verso, eu anotava e dali escrevia o poema, hoje, convivo com essas ideias, esses versos dentro de mim por muito mais tempo, claro que o número de esquecimento e de perda é muito grande, mas quando me ponho a recuperar essas ideias e escrever, acho que, os poemas são melhores, pois as ideias já estão solidificadas e o que não ficou, não deveria ficar mesmo.
 Essas ideias nem sempre são ideias na acepção da palavra, mas podem ser células rítmicas, uma imagem, ou um processo de solidificação de uma emoção ou percepção.

Artur Gomes- Livro que considera definitivo em sua obra?

Fabiano Fernandes GarcezEm meio aos ruídos urbanos, meu quarto livro, sem dúvidas nenhuma. Eu já tinha publicado dois livros: Poesia se que é há e Diálogos que ainda restam que eram poemas que eu tinha escrito ao longo de minha vida, iniciado aos quatorze anos e estava já com um terço pronto de Rastros para um testamento, quando cansei literalmente do que escrevia, achei que já tinha uma fórmula de escrita, cheguei até a colocar em cheque o fato de ser um poeta.

A partir daí quis me testar e comecei a escrever algo completamente diferente, quando percebi uma certa facilidade, descartava o poema. Aliado a isso comecei a estudar poemas visuais e a comunicação das redes sociais, principalmente o Facebook que era novidade da época, percebi que nessa plataforma a imagem é não só aliada ao texto escrito, mas parte integrante dele, o que chamamos de meme hoje.

Então peguei aqueles poemas que tinha escrito de uma forma nova e diversa para mim e os entregue ao meu irmão que é designer gráfico para que inserisse imagens ao texto, de forma que fossem uma coisa só, uma amálgama. Depois de mais de cinco anos de processo nasce Em meio aos ruídos urbanos, que me fez perceber minha poesia de uma outra forma e me fez valorizar o processo de escrita e concepção de um livro. 

Artur Gomes - Além da poesia em verso já exercitou ou exercita outra forma de linguagem com poesia?

Fabiano Fernandes Garcez - Já me arrisquei em prosa poética e em vídeos poemas, além da experiência da poesia visual, mas nada tão a sério ou duradouro como a poesia em verso, ou a forma mista de verso e imagem de Em meio aos ruídos urbanos.

Artur Gomes - Qual poema escreveu quando teve uma pedra no meio do caminho?

Fabiano Fernandes Garcez - Muitos. Gosto de usar essas pedras do caminho para escrever sobre o processo de escrita ou escrever poemas metalinguísticos. Gosto também de a partir disso me propor a desafios e encará-los.

Artur Gomes - Revisitando Quintana: você acha que depois dessa crise virótica pandêmica, quem passará e quem passarinho?

Fabiano Fernandes Garcez - Creio que isto já está posto. Temos dois cenários distintos, mas que se misturam e, além disso, um é a causa do outro. O Brasil enfrenta dois graves problemas, duas importantes pandemias: uma causada por um vírus e outra, mais antiga, causada por um verme.

Já está bem claro que tanto o verme como seus apoiadores passarão, como já estão passando, resta saber quem passará e se nós passaremos pelo vírus, neste triste cenário caótico de colapso no sistema de saúde com grande contribuição do verme de seus agentes. Nossa missão não só ficar bem, cuidar de quem amamos, mas nos recusarmos a esmorecer e desistir dessas duas lutas!

Artur Gomes - Escrevendo sobre o livro Pátria A(r)mada, o poeta e jornalista Ademir Assunção, afirma que cada poeta tem a sua tribo, de onde ele traz as suas referências. Você de onde vem, qual é a sua tribo?

Fabiano Fernandes Garcez -  - Ademir é um desses poetas que admiro muito! Foi ele que me fez perceber que a gente, como poeta, pode vir, ou estar conectado, a diferentes tribos. Ademir equilibra bem dois lados, duas heranças que é uma vertente de verso mais solto, mais espontâneo, como o surrealismo, por exemplo, e outra mais contida, mais racional, como o concretismo.

Para mim, o equilíbrio é dois pratos de uma balança num leve alternar entre um e outro. Dois pratos parados, não é equilíbrio, mas estagnação, ou neste caso específico uma síntese. Gosto de pensar que também sou um que está sempre alternando essas duas tribos, além das vertentes da poesia erudita e popular.

Artur Gomes - Nos dias atuais o que é ser um poeta, militante de poesia?

Fabiano Fernandes Garcez  – Gosto muito dessa palavra “militante” e poder usá-la para si, é uma grande e honrada labuta. Mais do que ler ou escrever poesia é defender essa causa, não ser apenas um hobby, mas viver a poesia, vivenciá-la a cada momento. É estar sempre disposto à poesia, e estar disposto à poesia, não é apenas a sua poesia, mas a dos outros. 

Temos, hoje, inúmeros bons poetas, mas poucos militantes da poesia. Isso fica perceptível nos inúmeros lançamentos de livros, mas com pouca vendagem. Se cada poeta fosse militante de sua arte as vendas seriam maiores, tenho muita convicção disso. Dois grandes exemplos de poetas magníficos, mas, principalmente, da militância são Rubens Jardim e Celso Alencar.

Artur Gomes - Que pergunta não fiz que você gostaria de responder?

Fabiano Fernandes Garcez - Gostei muito de suas perguntas e creio que elas foram muito bem elaboradas e me fez refletir bastante. Por mim, poderíamos ficar nesta prosa poética por horas ou dias. Gostaria apenas de divulgar meu canal no youtube o Sala de Leitura com Fabiano Fernandes Garcez https://www.youtube.com/user/bilgarcez onde levo poetas para falar e, principalmente, divulgar sua obra. Quase todos os poetas que citei aqui, já entrevistei lá. Convoco o leitor dessa entrevista para acessar o canal o conhecê-lo, mas conhecer cada poeta e obra que lá esteve.



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