Conheci o Fabiano
Fernandes Garcez, também em noite de Poesia na Patuscada, e lá mesmo, nos
tornamos a nos encontrar em mais alguns Saraus como no Gente de Palavra Paulistanos
em homenagem a grande poeta Dalila Teles
Veras. Em São Paulo Cesar Augusto de
Carvalho, tem sido o grande anfitrião a me apresentar a turma de poetas que
ainda não conhecia. Tenho visitado a sua
sala de leitura no youtube e
acompanhado o importante trabalho na divulgação
de poetas contemporâneo, que como ele mesmo afirma, é o seu novo foco de
estudo.
Fabiano
Fernandes Garcez - nasceu
em 3 de abril de 1976, na cidade de São Paulo. Formou-se em Letras, é professor
de língua portuguesa. É autor dos livros
Poesia se é que há(2008), Diálogos que ainda restam (2010),
Rastros para um testamento
(2012) e Em meio ao ruídos urbanos
(2016) finalista, na categoria autor do ano e poesia, do Prêmio Guarulhos
de Literatura 2017 e vencedor do mesmo prêmio na categoria poesia, no ano de
2019, com Um grama, apenas, do abstrato, ainda no prelo. .
Desenvolveu
o Ateliê de poesia para a
Casa de Cultura Tremembé, Workshop de
Literatura (poesia, conto, crônica e micro-conto) para a
livraria Nobel unidade Guarulhos; palestra no I Fórum da Juventude: A ideologia do curinga; palestra
na Biblioteca Monteiro Lobato Guarulhos: A
poesia contemporânea em
debate. Foi jurado pela cidade de Guarulhos da fase
municipal do Mapa Cultural Paulista – Edição 2009/2010 (Poesia). Participa do XXVII Simpósio
de História do Vale do Paraíba em Aparecida – SP, em duas palestras: A
legitimidade da poesia de Tonho França no mundo contemporâneo
e O
Macro-universo de Wilson Gorj em sua micronarrativa e participa da mesa
de discussão: A prosa do Vale do Paraíba
Fez parte do grupo idealizador do Lê
Guarulhos, uma associação de escritores guarulhenses e do Tragos e Papos, discussões literárias
na Livraria Nobel (Guarulhos). É produtor e apresentador do Sala de Leitura com Fabiano Fernandes Garcez no
Youtube.
Artur
Gomes- Como se processa o seu estado de poesia?
Fabiano Fernandes Garcez – O
meu estado de poesia, talvez esse seja o melhor termo “estado”, é como os tantos outros, está dentro de mim, sempre em stand by, precisa ser provocado
para dar as caras, essa provocação quase sempre é através da leitura, da
música, do cinema, enfim do contato com a arte, como também, é por meio da
percepção, do olhar da beleza, da tristeza do mundo interno ou externo.
Artur
Gomes - Seu poema preferido? Próprio. Ou de outro poeta de sua
admiração.
Fabiano
Fernandes Garcez – Tenho tantos poemas e poetas que admiro, mas para
ficar apenas em três: cito Bendito, de Adélia Prado, que me traz
a experiência de alguém derrotado, estagnado, que se vale apenas das
recordações e da fé.
Não sou uma pessoa religiosa, e esse poema me traz
juntamente a religiosidade que me falta e com isso me sinto mais completo e
satisfeito.
Outro poema que admiro e que me
comove por outros motivos é Ferrovia, de César Magalhães Borges,
neste poema há a emulação sonora de uma viagem de metrô. César é um mestre
deste tipo de poema, além da beleza estética, o poema traz a mim a beleza da
poesia, pois deixa claro que as palavras não são apenas para “contar uma
história”, mas para trazer ao leitor experiências sonoras e visuais.
É essa a beleza e dificuldade de
um bom poema!
Por fim, escolho um poema meu, que em toda leitura tem sempre uma
ótima receptividade, Se Jesus voltasse hoje, traz a minha visão
de um Jesus nada religioso, mas revolucionário e bem brasileiro, numa tentativa
rítmica de algo de repente ou cordel. Mas sei que se respondesse a essa
pergunta ontem ou amanhã seriam poemas completamente diferentes.
Artur
Gomes - Qual o seu poeta de cabeceira?
Fabiano
Fernandes Garcez - São inúmeros! Muitos mesmo! Cada poeta é um
universo e quando mais lemos esse poeta o universo, como o verdadeiro, se
expande. Ao ler, porém, inúmeros poetas, temos uma infinidade de universos, um
pluriverso! Sou formado em letras e devido a isso tive contato com os poetas
consagrados do cânone brasileiro, desde que saí da universidade, em 2005,
convivo com poetas e a poesia contemporânea, que é o meu objeto de estudo
agora.
Em meus livros há uma visível influência de grandes nomes
como Álvares de Azevedo, Oswald, Mário e Carlos Drumond de Andrade, Paulo
Leminsk, Ferreira Gullar, Adélia Prado, Hilda Hilst, Orides Fontela e outros
tantos. A lista só cresce!
Artur
Gomes - Em seu instante de criação existe alguma pedra de toque,
algo que o impulsione para escrever?
Fabiano
Fernandes Garcez – Não tenho. Meu processo de escrita é muito diverso.
Mas sei que antes eu era muito impulsivo, assim que vinha uma ideia, um verso,
eu anotava e dali escrevia o poema, hoje, convivo com essas ideias, esses
versos dentro de mim por muito mais tempo, claro que o número de esquecimento e
de perda é muito grande, mas quando me ponho a recuperar essas ideias e
escrever, acho que, os poemas são melhores, pois as ideias já estão
solidificadas e o que não ficou, não deveria ficar mesmo.
Essas ideias nem sempre são ideias na acepção
da palavra, mas podem ser células rítmicas, uma imagem, ou um processo de
solidificação de uma emoção ou percepção.
Artur
Gomes- Livro que considera definitivo em sua obra?
Fabiano
Fernandes Garcez – Em
meio aos ruídos urbanos, meu quarto livro, sem dúvidas
nenhuma. Eu já tinha publicado dois livros: Poesia se que é há
e Diálogos que ainda restam
que eram poemas que eu tinha escrito ao longo de minha vida, iniciado aos
quatorze anos e estava já com um terço pronto de Rastros para um testamento, quando cansei literalmente do
que escrevia, achei que já tinha uma fórmula de escrita, cheguei até a colocar
em cheque o fato de ser um poeta.
A partir daí quis me testar e comecei a escrever algo
completamente diferente, quando percebi uma certa facilidade, descartava o
poema. Aliado a isso comecei a estudar poemas visuais e a comunicação das redes
sociais, principalmente o Facebook que era novidade da época, percebi que nessa
plataforma a imagem é não só aliada ao texto escrito, mas parte integrante
dele, o que chamamos de meme hoje.
Então peguei aqueles
poemas que tinha escrito de uma forma nova e diversa para mim e os entregue ao
meu irmão que é designer gráfico para que inserisse imagens ao texto, de forma
que fossem uma coisa só, uma amálgama. Depois de mais de cinco anos de processo
nasce Em meio aos ruídos urbanos,
que me fez perceber minha poesia de uma outra forma e me fez valorizar o
processo de escrita e concepção de um livro.
Artur
Gomes - Além da poesia em verso já exercitou ou exercita outra
forma de linguagem com poesia?
Fabiano
Fernandes Garcez - Já me arrisquei em prosa poética e em vídeos
poemas, além da experiência da poesia visual, mas nada tão a sério ou duradouro
como a poesia em verso, ou a forma mista de verso e imagem de Em meio aos ruídos urbanos.
Artur
Gomes - Qual poema escreveu quando teve uma pedra no meio do
caminho?
Fabiano
Fernandes Garcez - Muitos. Gosto de usar essas pedras do caminho
para escrever sobre o processo de escrita ou escrever poemas metalinguísticos.
Gosto também de a partir disso me propor a desafios e encará-los.
Artur
Gomes - Revisitando Quintana: você acha que depois dessa crise
virótica pandêmica, quem passará e quem passarinho?
Fabiano
Fernandes Garcez - Creio que isto já está posto. Temos dois
cenários distintos, mas que se misturam e, além disso, um é a causa do outro. O
Brasil enfrenta dois graves problemas, duas importantes pandemias: uma causada
por um vírus e outra, mais antiga, causada por um verme.
Já está bem claro que tanto o verme como seus apoiadores
passarão, como já estão passando, resta saber quem passará e se nós passaremos
pelo vírus, neste triste cenário caótico de colapso no sistema de saúde com
grande contribuição do verme de seus agentes. Nossa missão não só ficar bem,
cuidar de quem amamos, mas nos recusarmos a esmorecer e desistir dessas duas
lutas!
Artur
Gomes - Escrevendo sobre o livro Pátria A(r)mada, o poeta e
jornalista Ademir Assunção, afirma
que cada poeta tem a sua tribo, de onde ele traz as suas referências. Você de
onde vem, qual é a sua tribo?
Fabiano Fernandes Garcez - - Ademir
é um desses poetas que admiro muito! Foi ele que me fez perceber que a
gente, como poeta, pode vir, ou estar conectado, a diferentes tribos. Ademir equilibra bem dois lados, duas
heranças que é uma vertente de verso mais solto, mais espontâneo, como o
surrealismo, por exemplo, e outra mais contida, mais racional, como o
concretismo.
Para mim, o equilíbrio é dois pratos de uma balança num leve
alternar entre um e outro. Dois pratos parados, não é equilíbrio, mas
estagnação, ou neste caso específico uma síntese. Gosto de pensar que também
sou um que está sempre alternando essas duas tribos, além das vertentes da
poesia erudita e popular.
Artur
Gomes - Nos dias atuais o que é ser um poeta, militante de
poesia?
Fabiano Fernandes Garcez – Gosto muito dessa palavra “militante” e poder usá-la para si, é
uma grande e honrada labuta. Mais do que ler ou escrever poesia é defender essa
causa, não ser apenas um hobby, mas viver a poesia, vivenciá-la a cada momento.
É estar sempre disposto à poesia, e estar disposto à poesia, não é apenas a sua
poesia, mas a dos outros.
Temos, hoje, inúmeros bons poetas, mas poucos
militantes da poesia. Isso fica perceptível nos inúmeros lançamentos de livros,
mas com pouca vendagem. Se cada poeta fosse militante de sua arte as vendas
seriam maiores, tenho muita convicção disso. Dois grandes exemplos de poetas
magníficos, mas, principalmente, da militância são Rubens Jardim e Celso
Alencar.
Artur
Gomes - Que pergunta não fiz que você gostaria de responder?
Fabiano
Fernandes Garcez - Gostei muito de suas perguntas e creio que
elas foram muito bem elaboradas e me fez refletir bastante. Por mim, poderíamos
ficar nesta prosa poética por horas ou dias. Gostaria apenas de divulgar meu
canal no youtube o Sala de Leitura com Fabiano Fernandes Garcez https://www.youtube.com/user/bilgarcez
onde
levo poetas para falar e, principalmente, divulgar sua obra. Quase todos os
poetas que citei aqui, já entrevistei lá. Convoco o leitor dessa entrevista
para acessar o canal o conhecê-lo, mas conhecer cada poeta e obra que lá
esteve.
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