domingo, 31 de maio de 2020

Carla Carnevale - EntreVistas


Conheci Carla Carnevale no Sarau POLEM, em 2018, quando ainda era realizado na Lapa. Era noite de lançamento do meu livro Juras Secretas, foi a primeira vez que fui a convite do amigo Marcelo Mourão. Em 2019 voltamos a nos encontrar várias vezes no POLEM, na Taberna da Laura em Copacabana e na Balbúrdia Poética. Apesar de ainda não ter publicado um livro solo, ela tem participações em diversas Antologias, e é uma poeta super conhecida nas noitadas  carioca de poesia.

 Carla Carnevale é carioca, nutricionista clínica, graduada pela UERJ. Na mesma universidade, cursou Letras, mas não chegou a colar grau. Poeta, participou de mais de dez antologias, sendo, algumas, internacionais. Fez oficina de literatura do professor Cairo Trindade.

 Artur Gomes - Como se processa o seu estado de poesia?

Carla Carnevale - Às vezes, tenho insights, posso acordar durante a noite e me ocorrer algum sentimento. A escrita é um exercício de amor, paixão e paciência. O essencial é que eu consiga passar alguma mensagem através dos versos. Faço um esboço e, desse rascunho, sou capaz de passar dias trabalhando no poema. Vou modificando até considerar que está pronto.

Artur Gomes - Seu poema preferido? Próprio. Ou de outro poeta de sua admiração.

Carla Carnevale - Vou citar alguns de poetas brasileiros: A lua foi ao cinema, de Paulo Leminski; Operário em construção, de Vinicius de Moraes; Poema em linha reta, do português  Fernando Pessoa (Álvaro de Campos); A flor e a náusea, Poema de sete faces, de Carlos Drummond de Andrade; Lua adversa, de Cecília Meireles.

Artur Gomes - Qual o seu poeta de cabeceira?

Carla Carnevale - Além dos citados acima, Manuel Bandeira e também Alberto Caieiro (heterônimo de Fernando Pessoa).Posso incluir Chico Buarque, pois considero sua obra poesia.

Artur Gomes - Em seu instante de criação existe alguma pedra de toque, algo que o impulsione para escrever?

Carla Carnevale - Sim; pode ser algum acontecimento, um encontro com a natureza, uma leitura, ou até mesmo uma lágrima não derramada. E, também, o contato com outras artes.

Artur Gomes - Livro que considera definitivo em sua obra?

Carla Carnevale - Eu tenho participado de várias antologias, ainda não tenho livro solo.

Artur Gomes - Além da poesia em verso já exercitou ou exercita outra forma de linguagem com poesia?

Carla Carnevale - Eu escrevia diários e já escrevi algumas crônicas.

Artur Gomes - Qual poema escreveu quando teve uma pedra no meio do caminho?

Carla Carnevale - Em 2014, eu escrevi o poema:

Um beija-flor na noite.

No auge da insônia, ouço um ruído
Acendo a luz, avisto um pássaro
Passeia preso e perdido
Na madrugada do quarto

Ganhei um presente
Mas logo dou-lhe a liberdade
Ele sai do cativeiro

Eu, no entanto, não tenho a possibilidade
De sair voando através das grades.

Artur Gomes - Revisitando Quintana: você acha que depois dessa crise virótica pandêmica, quem passará e quem passarinho?

Carla Carnevale - Eu espero, e quero crer, que passarão todos os incitadores do mal, para que possamos ter paz. Quem passarinho? Os que queiram somar, partilhar, contribuir para que, juntos, possamos viver de modo menos individualista.

Artur Gomes - Escrevendo sobre o livro Pátria A(r)mada, o poeta e jornalista Ademir Assunção, afirma que cada poeta tem a sua tribo, de onde ele traz as suas referências. Você de onde vem, qual é a sua tribo?

Carla Carnevale - Ah, eu não tenho...comecei a frequentar os saraus somente em meados de 2013, quando fiquei sabendo, através de uma notinha do Anselmo, que o Corujão da Poesia iria retornar para o Leblon. Então, fui na inauguração. Aos poucos, fui conhecendo os outros saraus. Antes, meu contato com a poesia havia sido através dos livros e, também, na Universidade.

Artur Gomes - Nos dias atuais o que é ser um poeta, militante de poesia?

Carla Carnevale - Inovar, trazer temas no poema que façam refletir questões sociais, de dor, políticas, etc. E, claro, não posso deixar de lembrar dos professores de literatura, dos que apresentam a poesia em comunidades e dos que promovem encontros, saraus, eventos. Isso é fomentar a poesia e a cultura.

Artur Gomes - Que pergunta não fiz que você gostaria de responder?

Carla Carnevale - Em que momento você despertou para a literatura?

Resposta - Quando eu fui alfabetizada, eu comecei a ter muito interesse e curiosidade para ler qualquer coisa que estivesse ao meu alcance. Então, quando era possível, eu ganhava dos meus pais, livros infantis. Mas o mais comum era eu ler revistas em quadrinhos, de todos os tipos. Isto porque meu pai já era jornaleiro, e bastava que eu devolvesse para ele depois. Eu, assim, lia todos os gibis, mas não ficava com nenhum. Eu não via problema nisso, pois o mais importante era a leitura e a descoberta daquele universo. 

Depois veio aquela fase de ler Monteiro Lobato, mas também emprestados, como os gibis. Logo, caiu, em minhas mãos, o primeiro romance, Robinson Crusoé, de Daniel Defoe.
Na escola mesmo, não eram exigidos muitos livros. Nem me lembro de ter biblioteca lá, sempre achei isso estranho. Mas eu tinha acesso aos livros de outras pessoas. Ou da banca, colecionáveis, assim, eu li romances como O Great Gatsby, Suave é a Noite, Madame Bovary, O Amante de Lady Chaterlley e outros que não me lembro, pois não ficava com eles. Só comecei a ter contato com poesia na adolescência, quando mudei de colégio. Uma falha no ensino.

São reminiscências, fatos marcantes, visto que não havia muitos recursos. Então, tive sorte de ter quem me emprestasse os livros e sou muito grata.
Para terminar, quero agradecer a oportunidade de participar deste brilhante projeto e de terem lembrado de mim. Espero ter correspondido e ter contribuído de alguma forma.


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