Esta é a primeira EntreVista
que respondo, depois que uma série de amigos que conhecem bem o que escrevo, estão me mandando uma série de perguntas. Estas
me foram feitas por Micaela Albertini,
amiga há 26 anos, parceira de palco com Teatro do Absurdo, e outras questões
afins.
Micaela
Albertini - De tantas poesias que você escreveu, qual você se identifica mais
nos dias de hoje?
Artur
Gomes - Pelo momento em que eu vivia, e pelas circunstâncias do
momento esse poema VeraCidade
continua bem presente em minha afinidades, e olha que eu o escrevi em 2005
quando caminhava da Praça da Repúclica até a Avenida Paulista, numa tarde em
que ia para o Itau Cultural, passar o som, para a performance que iria fazer a
noite, no projeto Poetas Na Idade Mídia:
Outros Bárbaros, criado pelo
poeta e jornalista e grande amigo, irmão: Ademir
Assunção. A poesia foi surgindo no imaginário desde o momento em que saí da
casa onde estava hospedado na Zona Leste de São Paulo, e foi vindo enquanto
fazia o trajeto de metrô até a Praça da Replúbica, e continuou vindo enquanto
eu caminhava até a Paulista. Não tive tempo de passar para o papel. A noite
abri a performance com ela já memorizada. Lembrando Ferreira Gullar: ouço vozes.
Jura Secreta 43
veraCidade
por quê trancar as portas
tentar proibir as entradas
se já habito os teus cinco sentidos
e as janelas estão escancaradas ?
um beija flor risca no espaço
algumas letras de um alfabeto grego
signo de comunicação indecifrável
eu tenho fome de terra
e esse asfalto sob a sola dos meus pés
agulha nos meus dedos
quando piso na Augusta
o poema dá um tapa na cara da Paulista
flutuar na zona do perigo
entre o real e o imaginário
João Guimarães Rosa
por quê trancar as portas
tentar proibir as entradas
se já habito os teus cinco sentidos
e as janelas estão escancaradas ?
um beija flor risca no espaço
algumas letras de um alfabeto grego
signo de comunicação indecifrável
eu tenho fome de terra
e esse asfalto sob a sola dos meus pés
agulha nos meus dedos
quando piso na Augusta
o poema dá um tapa na cara da Paulista
flutuar na zona do perigo
entre o real e o imaginário
João Guimarães Rosa
Caio Prado Martins Fontes
um bacanal de ruas tortas
um bacanal de ruas tortas
eu não sou flor que se cheire
nem mofo de língua morta
o correto deixei na Cacomanga
matagal onde nasci
com os seus dentes de concreto
São Paulo é quem me devora
e selvagem devolvo a dentada
na carne da rua Aurora
nem mofo de língua morta
o correto deixei na Cacomanga
matagal onde nasci
com os seus dentes de concreto
São Paulo é quem me devora
e selvagem devolvo a dentada
na carne da rua Aurora
Artur
Gomes - Em primeiro lugar, a pele é o tecido da língua, poesia em mim, é
língua linguagem. Segundo em cada uma poesia, onde um nome de mulher aparece,
existem conotações que podem ser paixão paterna, platônica, ou até mesmo carnal, como no caso de algumas delas.
A paixão do poeta
pela mulher, pode ser até motivada pelo complexo de Édipo que todos nós
carregamos. Cada musa nos leva a um estágio de espírito a um estado de poesia. Amo essa canção do Chico César, e foi ela a motivação da
pergunta que abro as minhas EntreVistas
aos poetas.
Agora, a primeira mulher que me formou, acredito que tenha sido
minha mãe Dona Cinira Gomes, e durante essa longa trajetória,
todas as mulheres com quem tenho o
prazer de dividir somar e multiplicar a minha arte. E claro que você faz parte
desse infinito leque de musas e paixões que alimento pele pela feminina.
Todas elas de alguma forma
contribuíram para minha formação. Não posso deixar de citar, uma grande parceira de palco, que
tive, por 10 anos, de 2006 a 2016, em Bento Gonçalves-RS nas edições do
Congresso Brasileiro de Poesia, que foi a May
Pasquetti, e para ela no ano em que nos conhecemos escrevi a
Jura
Secreta 16
fosse esta menina Monalisa
ou se não fosse apenas brisa
diante da menina dos meus olhos
com esse mar azul nos olhos teus
não sei se MichelÂngelo
Da Vinci Dalí ou Portinari
ou se não fosse apenas brisa
diante da menina dos meus olhos
com esse mar azul nos olhos teus
não sei se MichelÂngelo
Da Vinci Dalí ou Portinari
te anteviram
no instante maior da criação
no instante maior da criação
pintura de um arquiteto grego
quem sabe até filha de Zeus
e eu Narciso amante dos espelhos
procuro um espelho em minha face
para ver se os teus olhos
já estão dentro dos meus
quem sabe até filha de Zeus
e eu Narciso amante dos espelhos
procuro um espelho em minha face
para ver se os teus olhos
já estão dentro dos meus
Micaela
Albertini - Em tempos de metáfora, qual sua meta enquanto poeta?
Artur
Gomes - Fazer o que tenho feito: Ler, Escrever, Entrevistar
poetas e artistas afins, pesquisar, e no momento também, revisar o que tenho
escrito para o livro O Homem Com A Flor
Na Boca - Com Os Dentes Cravados Na Memória.
Tenho aproveitado esse tempo
também para estudar o texto O Último
Godot, do polonês Matei Visniec, que pretendo levar ao palco ainda este ano
como você no papel de Beckett. Esse texto me leva a uma profunda reflexão sobre
o que está acontecendo no momento no Brasil, em relação as Artes de uma forma em geral e
principalmente ao Teatro.
Micaela
Albertini - Em Moenda, você
faz referência às usinas. Como você se
sente hoje, no meio desse canavial de idéias tão contraditórias?
Artur
Gomes - Sempre pensei Usina, e continuo a pensar da mesma forma, uma
engrenagem que mói, tritura, na função do lucro, do enriquecimento dos seus proprietários
escravocratas. E essas engrenagens, existem das mais diversas vertentes, não
apenas a Usina que mói a cana, o caldo e o bagaço. Nasci numa fazenda, onde a
principal fonte de renda era o fornecimento da cana de açúcar para as Usinas de
Campos dos Goytacazes, e o seu proprietário foi um milionário que tratava os
seus empregados da mesma forma, mão de obra escrava, recebendo sub-salários.
Usinas hoje, são esses disfarces, esses descasos, esses contra-censos, em quase todos os
seguimentos sociais, esse fascismo nos discursos
democráticos, vindo patrões que muitas
vezes nem disfarçam sua forma ditatorial de tratar seus subalternos, e
infelizmente é o que temos visto, nos grandes conglomerados industriais e logísticos.
Os grandes departamentos de lojas, os grandes hipermercados, impulsionados pelo
comportamento de um psicopata que no momento ocupa o cargo de presidente da
república.
MOENDA
usina
mói o braço
a carne o osso
usina
moí o sangue
a fruta
e o caroço
tritura suga torce
dos pé até o pescoço
e do alto da casa grande
os donos do engenho controlam
:
o saldo
e
o lucro
Micaela
Albertini - Em Indigesta,
você, praticamente, relata o momento que
estamos vivendo. O que ficará pra você
dessa quarentena?
Artur
Gomes - Não que eu seja pessimista, longe disso, sou até esperançoso,
como gostava de afirmar Ariano Suassuna.
Mas se formos pensar em termos de Brasil, acho que não ficará nada de bom.
A re-construção que terá que ser feita, vai custar muitas vidas a mais, e com
certeza vai ser dolorosa. Nem imagino com quantos anos essa re-construção
poderá se dar.
O país voltou a ser entregue a um militarismo imbecilizado, sob
o comando de um de um "capitão" que foi expulso do exército, por
insanidade mental. Se houvesse no país, instituições legais, regidas pela
constituição esse cidadão não poderia nem se candidatar ao cargo que ocupa.
Como então pensar no que virá¿ Só quem sobreviver verá?
Indigesta
febre voraz gigante
ê terra de tanta cruz
onde se deu primeira missa
índio rima com carniça
no pasto pros urubus
oh! myBrazyl
ainda em alto mar
Cabral quando te viu
foi logo gritando:
terra à vista!
e de bandeja te entregando
pra união democrática ruralista.
por aqui nem só beleza
nesses dias de paupéria
nação de tanta riqueza
país de tanta miséria
por aqui nem só beleza
nesses dias de paupéria
nação de tanta riqueza
país de tanta miséria
Micaela
Albertini - Como
se processa o seu estado de poesia?
Artur
Gomes - Muitas vezes calmaria, noutras vezes tempestade. Já
afirmei várias vezes que ouço vozes. Para os espiritualistas isso seria
mediunidade, risos... mas não creio, apesar de não descrer.
Nem acredito em acasos. Acho que exista algo
de cósmico, de ancestral que nos leva, a captar essas energias pelos poros. Sou
muito ligado ao corpo. E o poeta Afonso Romano de Sat´Anna já
dizia, que o corpo era a matéria da sua poesia, porque era o que ele mais conhecia.
O que me move, muitas vezes, uma palavra que invento, outra
que procuro, outra que me vem, pode ser trazida pelo vento, pelas ondas do mar,
por um corpo que desejo, se toco, ou não, não faz diferença, está no sentido do
imaginável, daquilo que sonhamos, conscientes ou até inconscientes em nosso instantes
baudeléricos, ou até mesmo baudelíricos, para não me esquecer do Fedeerico Baudelaire.
Micaela
Albertini - Seu poema preferido? Próprio. Ou de outro poeta de sua
admiração.
Próprio, são muitos todos são águas da mesma fonte, e atravessaram
a mesma ponte para chegar ao papel, mas como se trata de uma lembrança que me
veio recentemente, lá dos anos 80, e nele, faço referências aos meus filhos, Flora e Filipe, ao Bartolo, um
magnífico músico campista, que tocou com Tim
Maia, e cito o mestre Drummundo, vou ficar com esse poema 17 que vai
compor o livro O Homem Com A Flor Na
Boca
poema 17
com os dentes cravados na memória
I
por todos anos 80
ipanema 83 flora recém nascida
e eu chegando aos 40
gomes carneiro visconde de
pirajá
bem próximo ao carinhoso
bartolo com seu trumpete
depois que a noite dormia
tocou numa pérola negra
e beijou o novo dia
no boteco de onde estava
conselheiro lafaiete
refúgio da boemia
me acordou com seu trumpete
clarividência aflorava
sonoridade – melodia
logo depois era drummond
na praça general osório
pra enriquecer meu repertório
na pedra da poesia
II
ipanema 84 filipe recém nascido
por esses tempos vividos
na aldeia carioca
com todo vapor barato
na tribo os sete sentidos
nesses dentes da memória
os 5 presentes no corpo
outros 2 ganhos no tapa
pelas ruas de ipanema
ou pelos becos da lapa
De outros, também são muitos, vou
citar 3:
Cogito - do Torquato Neto
O Coisa Ruim - do Ademir Assunção
Língua - de Caetano Veloso
Todos 3 tem um grande significado
para o que penso e escrevo como poesia.
Micaela
Albertini - Qual o seu poeta de cabeceira?
Artur
Gomes - Depende muito do que eu esteja fazendo naquele momento.
Já tive O Lobo da Estepe e Contas de
Vidro de Herman Hesse. Outono do Patricarca, de Gabriel Garcia Marquez. Erva do
Diabo, do Castanheda. Macunaíma, de
Mário de Andrade. Serafim Ponte Grande de Oswald de Andrade. A trilogia No
Coração dos Boatos, de Uilcon Pereira. Em cada um deles estava no momento pesquisando
para algum projeto de teatro, ou poesia.
Os primeiros que cito, tem muito a ver com a minha temática
de poesia escrita nos anos 70, o místico e o simbólico. Muitos poetas, imensos,
frequentaram minha cabeceira, de Fernando Pessoa a Mário Faustino, e algumas
poetas como Hilda Hist, Ana Cristina César, Olga Savarya, Clara Baccarin,
Amanda Vital, Dalila Teles Veras, Mell Renalt, Alexandre Vieira de Almeida, Wanda
Monteiro, passeiam também por minhas cabeceiras com poéticas que transcendem
nossos instintos.
Micaela
Albertini - Em seu instante de criação existe alguma pedra de toque,
algo que o impulsione para escrever?
Artur
Gomes - Não diria pedra não, talvez um vento que me leve, um
sopro, como disse acima, uma voz. Não vivo sem música. Mesmo se ela não estiver
presente, em alguma sonoridade no momento da criação, estou muitas vezes
cantarolando, a que vem naquele momento, trazida nem sei por quais onda de mar.
A poesia acho que me vem, de uma fonte, atravessa por uma
ponte e me chega, codifico essa onda através de palavras, ou imagens e jogo na
tela, porque há muito deixei o manuscrito. Devo ter alguns anjos tortos,
querubins ou serafins, me soprando nos ouvidos, as suas travessuras, tudo
aquilo que eles não podem realizar lá no olimpo, ou nos céus de outras bocas, para
que eu concretize no lugar deles.
Micaela
Albertin - Livro que considera definitivo em sua obra?
Artur
Gomes - Apesar de achar que Suor
& Cio e Couro Cru & Carne
Viva, terem sido importantes nos anos em que os publiquei, 1985 e 1987
respectivamente, Juras Secretas, 2018,
não o julgo definitivo, mas até o momento é o mais completo, porque é sem
dúvida, uma continuação, um desaguar, do que vinha fazendo com essas temáticas que estão
presentes nele, e que começaram a surgir nesse dois anteriores. Importantíssimo também considero BraziLírica Pereira: A Traição das Metáforas, 2000 - lançado pela Alpharrabio Edições, porque em um toque de prosa ficção também, formas que venho experimentando para publicações próximas.
Mas acredito que muito ainda está por vir, tenho O Poeta Enquanto Coisa, no prelo da
Editora Penalux, que deve ser lançado ainda em 2020, e O Homem Com A Flor Na Boca, em fase de produção para 2021.
Micaela
Albertini - Além da poesia em
verso já exercitou ou exercita outra
forma de linguagem com poesia?
Artur
Gomes - A primeira linguagem
me que surgiu depois da poesia, foi com a música, através do meu parceiro Paulo Celso Ciranda. Depois veio o
Teatro, levado ao palco pelo Kapi,
com o musical Gotas de Suor. Depois
novamente o Teatro levado ao palco,
por Deneval Siqueira Filho com Judas O Resto da Cruz.
Nessas primeiras investidas, estive no palco, interpretando
textos de autoria própria nos anos de 1974 e 1975, respectivamente. Depois em
1976 veio a primeira experiência como ator em Fando e Lis, de Fernando
Arrabal, dirigdo por Orávio de
Campos Soares no Teatro do SESC
em Campos.
Nas décadas de 1980 e 1990 mergulhei na poesia experimental,
processo concreto visual, depois que criei em 1983 o projeto Mostra Visual de
Poesia Brasileira. Fiz várias exposições em São Paulo e Santo André, nessas
duas décadas expondo poemas gráfico.visuais.
E de uma quantidade imensa de
outros poetas parceiros, tais como Hugo Pontes, Uilcon Pereira, Dalila Teles
Veras, Moacy Cirne. Aricy Curvello, Leila Míccolis, Avelino de Araújo, Paulo
Bruscy, Almandrade, Phladelpho Meneses, Fernando Aguiar, Zhôo Bertolini.
Tanussi Cardoso, Pat Raider. E muitos outros.
Micaela
Albertini - Qual poema escreveu quando teve uma pedra no
meio do caminho?
Terra
de Santa Cruz
ao batizarem-te
deram-te o nome:
posto que a tua profissão
é abrir-te em camas
dar-te em ferro
ouro
prata
rios
peixes
minas
mata
deixar que os abutres
devorem-te na carne
o derradeiro verme
deram-te o nome:
posto que a tua profissão
é abrir-te em camas
dar-te em ferro
ouro
prata
rios
peixes
minas
mata
deixar que os abutres
devorem-te na carne
o derradeiro verme
salgado mar de fezes
batendo nas muralhas
do meu sangue confidente
quem botou o branco
na bandeira de alfenas
na certa se esqueceu
das orações dos penitentes
e da corda que estraçalha
com os culhões de Tiradentes
batendo nas muralhas
do meu sangue confidente
quem botou o branco
na bandeira de alfenas
na certa se esqueceu
das orações dos penitentes
e da corda que estraçalha
com os culhões de Tiradentes
salve lindo pendão que
balança
entre as pernas abertas da paz
tua nobre sifilítica herança
dos rendez-vous de impérios atrás
entre as pernas abertas da paz
tua nobre sifilítica herança
dos rendez-vous de impérios atrás
meu coração
é tão hipócrita que não janta
e mais imbecil que ainda canta:
ou
viram
é tão hipócrita que não janta
e mais imbecil que ainda canta:
ou
viram
no Ipiranga
às margens plácidas
uma bandeira arriada
num país que não levanta
uma bandeira arriada
num país que não levanta
só desfraldando
a bandeira tropicalha
é que a gente avacalha
com as chaves dos mistérios
dessa terra tão servil
tirania sacanagem safadeza
tudo rima uma beleza
é que a gente avacalha
com as chaves dos mistérios
dessa terra tão servil
tirania sacanagem safadeza
tudo rima uma beleza
com a pátria mãe que nos
pariu
1º de Abril
telefonaram-me
avisando-me que vinhas
na noite uma estrela
ainda brigava contra a escuridão
avisando-me que vinhas
na noite uma estrela
ainda brigava contra a escuridão
na rua sob patas
tombavam homens indefesos
tombavam homens indefesos
esperei-te 20 anos
ate hoje não vieste à minha porta
ate hoje não vieste à minha porta
o poeta estraçalha a bandeira
raia o sol marginal quarta feira
na Geléia Geral brasileira
o céu de abril não é de anil
nem general é myBrazyl
raia o sol marginal quarta feira
na Geléia Geral brasileira
o céu de abril não é de anil
nem general é myBrazyl
minha verde/amarela esperança
Portugal já vendeu para França
e coração latino balança
entre o mar do dólar do norte
Portugal já vendeu para França
e coração latino balança
entre o mar do dólar do norte
e o chão dos cruzeiros do sul
o poeta esfrangalha a bandeira
raia o sol marginal sexta feira
nesta porra estrangeira e azul
que há muito índio dizia:
o poeta esfrangalha a bandeira
raia o sol marginal sexta feira
nesta porra estrangeira e azul
que há muito índio dizia:
meu coração marçal tupã
sangra tupy& rock androll
meu sangue tupiniquim
em corpo tupinambá
samba jongo maculelê
maracatu boi bumbá
a veia de curumim
é coca cola & guaraná
sangra tupy& rock androll
meu sangue tupiniquim
em corpo tupinambá
samba jongo maculelê
maracatu boi bumbá
a veia de curumim
é coca cola & guaraná
o sangue rola no parque
o sonho ralo no tanque
nada a ver com tipo dark
e muito menos com punk
meu vício letal é baiafro
com ódio mortal de yank
o sonho ralo no tanque
nada a ver com tipo dark
e muito menos com punk
meu vício letal é baiafro
com ódio mortal de yank
ó baby a coisa por aqui
não mudou nada
embora sejam outras
embora sejam outras
siglas no emblema
espada continua a ser espada
poema continua a ser poema
poema continua a ser poema
Está publicado no livro Couro Cru & Carne Viva, 1987 e Pátria A(r)mada, 2019 e gravada na
minha voz no CD Fulinaíma Sax Blues
Poesia - 2002.
Micaela
Albertini - Revisitando Quintana: você acha que depois dessa crise
virótica pandêmica, quem passará e quem passarinho?
Artur
Gomes - Acho que na pergunta
sobre Usina, já faço uma reflexão sobre isso, então vou citar o poema do Mário Quintana
"esse
que aí estão
atravancando
o meu caminho
eles
passarão e eu passarinho "
Micaela
Albertini - Escrevendo sobre o
livro Pátria A(r)mada, o poeta e jornalista Ademir Assunção, afirma que cada poeta tem a sua tribo, de onde ele
traz as suas referências. Você de onde vem, qual é a sua tribo?
Artur
Gomes - O próprio Ademir Assunção,
no texto: Três Toques Para Penetrar Na Noite Escura Dessa Pátria A(r)mada, já cita uma boa parte do que considero minha
tribo. Fonte onde bebi, e que continuo bebendo, e que, sempre me trouxeram e
continuam trazendo referências.
Fulinaimicamente falando,
pertenço ao que restou de uma tribo Goytacá, uma mistura macunaímica de branco,
índio, negro, formação étnica de quase
todo brasileiro. Talvez aí, esteja a razão da minha poesia ter essa coloração,
essa mistura, esse caldeirão de sons, rítmos e influências.
Micaela
Albertini - Nos dias atuais o que é ser um poeta, militante de poesia?
Artur
Gomes - Ser poeta é se descobrir, e se entender a margem, saber
que nenhum valor terá diante de uma sociedade
capitalista, misógena, homofóbica e preconceituosa. Poeta na real realidade, um marginal perante ao estado. Poucos
escaparam ou escaparão dessa lógica. E o que fazemos: ¿ Insistimos em escrever
e esperar que nos leiam, porque não escolhemos essa sina essa maldição, ela nasceu
conosco. E o que podemos fazer de pirraça é sacralizar o profano e profanar o
sagrado.
Nesta Jura Secreta 48
a meu ver defino bem aos mesmo tempo para mim, o que são essas duas funções:
ser poeta e ser um militante de poesia, onde o sarcasmo, o humor a ironia, é
parte integrante na concepção da carne da palavra, como algum tempo atrás escrevendo
sobre as SagaraNAgens Fulinaímicas, grafou Tanussi Cardoso.
Jura
Secreta 48
sagarínica fulinaimânica
não sou iluminista nem pretender
eu quero o cravo e a rosa
cumer o verso e a prosa
devorar a lírica a métrica
a carne da musa
seja branca negra amarela
vermelha verde ou cafuza
eu sou do mato
curupira carrapato
sou da febre sou dos ossos
sou da Lira do Delírio
São Virgílio é o meu sócio
Pernambuco Amaralina
vida breve ou sempre vida/severina
sendo mulher ou só menina
que sendo santa prostituta
ou cafetina devorar é minha sina
e profanar é o meu negócio
não sou iluminista nem pretender
eu quero o cravo e a rosa
cumer o verso e a prosa
devorar a lírica a métrica
a carne da musa
seja branca negra amarela
vermelha verde ou cafuza
eu sou do mato
curupira carrapato
sou da febre sou dos ossos
sou da Lira do Delírio
São Virgílio é o meu sócio
Pernambuco Amaralina
vida breve ou sempre vida/severina
sendo mulher ou só menina
que sendo santa prostituta
ou cafetina devorar é minha sina
e profanar é o meu negócio
Micaela
Albertini - Que pergunta não
fiz que você gostaria de responder?
Artur
Gomes - Você poderia ter me perguntado: Qual poema você já
escreveu para mim?
Resposta - Para o livro O
Homem Com A Flor Na Boca, estou
escrevendo uma série de prosa poética dedicada a mulher dos sonhos, tudo ainda em processo de criação, revisão,
re-leituras, porque a mulher dos sonhos é múltipla, atriz, odontóloga, mãe, parceira
de palco, as vezes solar, outras vezes marítima que adora viajar
grafitemas e figuralidades
estou escrevendo um mini conto um
grafitema com figuralidades não é coisa de cinema a mais nua e crua realidade
certa noite ela me veio não era sonho era uma noite de chuva com seus dois
grandes olhos e mãos tão pequenas como quem grafita na areia um espelho d´água
à beira mar na lua cheia
vinha vestida de letras como o som da flauta
de bambu dentro do fonema veio de longe da outra margem do rio dentro da tapera
o cauim me trouxe na tigela bebi como índio na hora que vê nascer o filho
beijei teus cabelos de milho e ela me perguntou o que era
Artur Gomes é
poeta, ator, video.maker e produtor cultural. Tem diversos livros publicados,
sendo os mais recentes Juras Secretas (Editora Penalux, 2018) e Pátria A(r)mada (Editora Desconcertos, 2019). Dirigiu
a Oficina de Artes Cênicas do Instituto Federal Fluminense em Campos dos Goytacazes-RJ de 1975 a 2002.
Em 1983, criou o projeto
Mostra Visual de Poesia Brasileira e, em 1993, idealizou o projeto Mostra
Visual de Poesia Brasileira Mário de Andrade — 100 anos — realizada pelo SESC
São Paulo.
Em 1995 criou o Projeto
Retalhos Imortais do SerAfim - Oswald de Andrade Nada Sabia de Mim, executado
pelo SESC-SP em vários unidades na capital e pelo Estado.
Em 1999 criou o FestCampos
de Poesia Falada, atualmente, leciona Poéticas no Curso Livre de Teatro em
Campos dos Goytacazes-RJ e coordena o Sarau Santa Balbúrdia, na Casa Criativa
Santa Paciência, e o Sarau Balbúrdia Poética, na La Taberna de Laura em
Copacabana - Rio de Janeiro.
Acaba de gravar no home
studio Fil Buc — Produções o disco Poesia Para Desconcertos, com produção de seu filho Filipe Gomes Buchaul.
Em 2020 lança o livro O Poeta Enquanto Coisa pela
Editora Penalux e desenvolve o projeto para livro O Homem Com A Flor Na Boca -
Com Os Dentes Cravados Na Memória para o selo Fulinaíma MultiProjetos
Fulinaíma MultiProjetos
portalfulinaima@gmail.com
(22)99815-1268 - whatsapp
Nenhum comentário:
Postar um comentário