quinta-feira, 7 de maio de 2020

Micaela Albertini Entrevista Artur Gomes


Esta é a primeira EntreVista que respondo, depois que uma série de amigos que conhecem bem o que escrevo,  estão me mandando uma série de perguntas. Estas me foram feitas por Micaela Albertini, amiga há 26 anos, parceira de palco com Teatro do Absurdo, e outras questões afins.


 Sobre juras secretas

Micaela Albertini - De tantas poesias que  você escreveu, qual você se identifica mais nos dias de hoje?

Artur Gomes - Pelo momento em que eu vivia, e pelas circunstâncias do momento esse poema VeraCidade continua bem presente em minha afinidades, e olha que eu o escrevi em 2005 quando caminhava da Praça da Repúclica até a Avenida Paulista, numa tarde em que ia para o Itau Cultural, passar o som, para a performance que iria fazer a noite, no projeto Poetas Na Idade Mídia: Outros Bárbaros, criado pelo poeta e jornalista e grande amigo, irmão: Ademir Assunção. A poesia foi surgindo no imaginário desde o momento em que saí da casa onde estava hospedado na Zona Leste de São Paulo, e foi vindo enquanto fazia o trajeto de metrô até a Praça da Replúbica, e continuou vindo enquanto eu caminhava até a Paulista. Não tive tempo de passar para o papel. A noite abri a performance com ela já memorizada. Lembrando Ferreira Gullar: ouço vozes.



Jura Secreta 43
 veraCidade 

por quê trancar as portas 
tentar proibir as entradas 
se já habito os teus cinco sentidos 
e as janelas estão escancaradas ? 

um beija flor risca no espaço 
algumas letras de um alfabeto grego 
signo de comunicação indecifrável 
eu tenho fome de terra 
e esse asfalto sob a sola dos meus pés 
agulha nos meus dedos 

quando piso na Augusta 
o poema dá um tapa na cara da Paulista 
flutuar na zona do perigo 
entre o real e o imaginário 
João Guimarães Rosa
Caio Prado  Martins Fontes 
um bacanal de ruas tortas 

eu não sou flor que se cheire 
nem mofo de língua morta 
o correto deixei na Cacomanga 
matagal onde nasci 

com os seus dentes de concreto 
São Paulo é quem me devora 
e selvagem devolvo a dentada 
na carne da rua Aurora 

 Micaela Albertini -  Você  sempre se refere às mulheres com muita paixão e de forma profunda através da Laís, Monalisa, Dilma e da pele feminina.  Quem foi essa grande mulher que te formou?

Artur Gomes - Em primeiro lugar, a pele é o tecido da língua, poesia em mim,  é língua linguagem.  Segundo em cada uma poesia, onde um nome de mulher aparece, existem conotações que podem ser paixão paterna, platônica, ou até mesmo carnal, como no caso de algumas delas.

A paixão do poeta pela mulher, pode ser até motivada pelo complexo de Édipo que todos nós carregamos. Cada musa nos leva a um estágio de espírito a um estado de poesia. Amo essa canção do Chico César, e foi ela a motivação da pergunta que abro as minhas EntreVistas aos poetas. 

Agora, a primeira mulher que me formou, acredito que tenha sido minha mãe Dona Cinira Gomes, e durante essa longa trajetória,  todas as mulheres com quem tenho o prazer de dividir somar e multiplicar a minha arte. E claro que você faz parte desse infinito leque de musas e paixões que alimento  pele pela feminina. 

Todas elas de alguma forma contribuíram para minha formação. Não posso deixar de citar, uma grande parceira de palco, que tive, por 10 anos, de 2006 a 2016, em Bento Gonçalves-RS nas edições do Congresso Brasileiro de Poesia, que foi a May Pasquetti, e para ela no ano em que nos conhecemos escrevi a

Jura Secreta 16

fosse esta menina Monalisa 
ou se não fosse apenas brisa 
diante da menina dos meus olhos 
com esse mar azul nos olhos teus 

não sei se MichelÂngelo 
Da Vinci Dalí ou Portinari
 te anteviram 
no instante maior da criação 

pintura de um arquiteto grego 
quem sabe até filha de Zeus 

e eu Narciso amante dos espelhos 
procuro um espelho em minha face 
para ver se os teus olhos 
já estão dentro dos meus 

Micaela Albertini - Em tempos de metáfora, qual sua meta enquanto poeta?

Artur Gomes - Fazer o que tenho feito: Ler, Escrever, Entrevistar poetas e artistas afins, pesquisar, e no momento também, revisar o que tenho escrito para o livro O Homem Com A Flor Na Boca - Com Os Dentes Cravados Na Memória

Tenho aproveitado esse tempo também para estudar o texto O Último Godot, do polonês Matei Visniec, que pretendo levar ao palco ainda este ano como você no papel de Beckett. Esse texto me leva a uma profunda reflexão sobre o que está acontecendo no momento no Brasil, em relação  as Artes de uma forma em geral e principalmente ao Teatro.


 Sobre Pátria A(r)mada

Micaela Albertini - Em Moenda, você  faz referência às usinas. Como você se sente hoje, no meio desse canavial de idéias tão contraditórias?

Artur Gomes - Sempre pensei  Usina, e continuo a pensar da mesma forma, uma engrenagem que mói, tritura, na função do lucro, do enriquecimento dos seus proprietários escravocratas. E essas engrenagens, existem das mais diversas vertentes, não apenas a Usina que mói a cana, o caldo e o bagaço. Nasci numa fazenda, onde a principal fonte de renda era o fornecimento da cana de açúcar para as Usinas de Campos dos Goytacazes, e o seu proprietário foi um milionário que tratava os seus empregados da mesma forma, mão de obra escrava, recebendo sub-salários.

Usinas hoje, são esses disfarces, esses descasos, esses contra-censos, em quase todos os seguimentos sociais, esse fascismo  nos discursos democráticos, vindo patrões  que muitas vezes nem disfarçam sua forma ditatorial de tratar seus subalternos, e infelizmente é o que temos visto, nos grandes conglomerados industriais e logísticos. Os grandes departamentos de lojas, os grandes hipermercados, impulsionados pelo comportamento de um psicopata que no momento ocupa o cargo de presidente da república.

MOENDA
usina

mói o braço
a carne o osso

usina
moí o sangue
a fruta
e o caroço

tritura suga torce
dos pé até o pescoço

e do alto da casa grande
os donos do engenho controlam
:
o saldo
e
o lucro 


Micaela Albertini - Em Indigesta, você, praticamente, relata  o momento que estamos vivendo.   O que ficará pra você dessa quarentena?
Artur Gomes - Não que eu seja pessimista, longe disso, sou até esperançoso, como gostava de afirmar Ariano Suassuna. Mas se formos pensar em termos de Brasil, acho que não ficará nada de bom. 

A re-construção que terá que ser feita, vai custar muitas vidas a mais, e com certeza vai ser dolorosa. Nem imagino com quantos anos essa re-construção poderá se dar. 

O país voltou a ser entregue a um militarismo imbecilizado, sob o comando de um de um "capitão" que foi expulso do exército, por insanidade mental. Se houvesse no país, instituições legais, regidas pela constituição esse cidadão não poderia nem se candidatar ao cargo que ocupa. Como então pensar no que virá¿ Só quem sobreviver verá?

Indigesta
 ê fome negra incessante
febre voraz gigante
ê terra de tanta cruz

onde se deu primeira missa
índio rima com carniça
no pasto pros urubus

oh! myBrazyl
ainda em alto mar
Cabral quando te viu
foi logo gritando:
terra à vista!
e de bandeja te entregando
pra união democrática ruralista.

por aqui nem só beleza
nesses dias de paupéria
nação de tanta riqueza
país de tanta miséria

Micaela Albertini   -  Como se processa o seu  estado de poesia?
Artur Gomes - Muitas vezes calmaria, noutras vezes tempestade. Já afirmei várias vezes que ouço vozes. Para os espiritualistas isso seria mediunidade, risos... mas não creio, apesar de não descrer. 

Nem acredito em acasos. Acho que exista algo de cósmico, de ancestral que nos leva, a captar essas energias pelos poros. Sou muito ligado ao corpo. E o poeta Afonso Romano de Sat´Anna já dizia, que o corpo era a matéria da sua poesia, porque era o que ele mais conhecia.

O que me move, muitas vezes,  uma palavra que invento, outra que procuro, outra que me vem, pode ser trazida pelo vento, pelas ondas do mar, por um corpo que desejo, se toco, ou não, não faz diferença, está no sentido do imaginável, daquilo que sonhamos, conscientes ou até inconscientes em nosso instantes baudeléricos, ou até mesmo baudelíricos, para não me esquecer  do Fedeerico Baudelaire.

Micaela Albertini - Seu poema preferido? Próprio. Ou de outro poeta de sua admiração.

Próprio, são muitos todos são águas da mesma fonte, e atravessaram a mesma ponte para chegar ao papel, mas como se trata de uma lembrança que me veio recentemente, lá dos anos 80, e nele, faço referências aos meus filhos, Flora e Filipe, ao Bartolo, um magnífico músico campista, que tocou com Tim Maia, e cito o mestre Drummundo, vou ficar com esse poema 17 que vai compor o livro O Homem Com A Flor Na Boca

poema 17
com os dentes cravados na memória

I

por todos anos 80
ipanema 83 flora recém nascida
e eu chegando aos 40 
gomes carneiro  visconde de pirajá
bem próximo ao carinhoso
bartolo com seu trumpete
depois que a noite dormia
tocou numa pérola negra
e beijou o novo dia

no boteco de onde estava
conselheiro lafaiete
refúgio da boemia
me acordou com seu trumpete
clarividência aflorava 
 sonoridade – melodia
logo depois era drummond
na praça general osório
pra enriquecer meu repertório
na pedra da poesia



II

ipanema 84 filipe recém nascido
por esses tempos vividos
na aldeia carioca 
com todo vapor barato 
na tribo os sete sentidos
nesses dentes da memória
os 5 presentes no corpo
outros 2 ganhos no tapa
pelas ruas de ipanema
ou pelos becos da lapa

De outros, também são muitos, vou citar 3:

Cogito - do Torquato Neto
O Coisa Ruim - do Ademir Assunção
Língua - de Caetano Veloso

Todos 3 tem um grande significado para o que penso e escrevo como poesia.

Micaela Albertini - Qual o seu poeta de cabeceira?

Artur Gomes - Depende muito do que eu esteja fazendo naquele momento. Já tive O Lobo da Estepe e  Contas de Vidro de Herman Hesse. Outono do Patricarca, de Gabriel Garcia Marquez. Erva do Diabo,  do Castanheda. Macunaíma, de Mário de Andrade. Serafim Ponte Grande de Oswald de Andrade. A trilogia No Coração dos Boatos, de Uilcon Pereira.   Em cada um deles estava no momento pesquisando para algum projeto de  teatro, ou poesia.

Os primeiros que cito, tem muito a ver com a minha temática de poesia escrita nos anos 70, o místico e o simbólico. Muitos poetas, imensos, frequentaram minha cabeceira, de Fernando Pessoa a Mário Faustino, e algumas poetas como Hilda Hist, Ana Cristina César, Olga Savarya, Clara Baccarin, Amanda Vital, Dalila Teles Veras, Mell Renalt, Alexandre Vieira de Almeida, Wanda Monteiro, passeiam também por minhas cabeceiras com poéticas que transcendem nossos instintos.

Micaela Albertini - Em seu instante de criação existe alguma pedra de toque, algo que o impulsione para escrever?

Artur Gomes - Não diria pedra não, talvez um vento que me leve, um sopro, como disse acima, uma voz. Não vivo sem música. Mesmo se ela não estiver presente, em alguma sonoridade no momento da criação, estou muitas vezes cantarolando, a que vem naquele momento, trazida nem sei por quais onda de mar.

A poesia acho que me vem, de uma fonte, atravessa por uma ponte e me chega, codifico essa onda através de palavras, ou imagens e jogo na tela, porque há muito deixei o manuscrito. Devo ter alguns anjos tortos, querubins ou serafins, me soprando nos ouvidos, as suas travessuras, tudo aquilo que eles não podem realizar lá no olimpo, ou nos céus de outras bocas, para que eu concretize no lugar deles.

Micaela Albertin  -  Livro que considera definitivo em sua obra?

Artur Gomes - Apesar de achar que Suor & Cio e Couro Cru & Carne Viva, terem sido importantes nos anos em que os publiquei, 1985 e 1987 respectivamente, Juras Secretas,   2018, não o julgo definitivo, mas até o momento é o mais completo, porque é sem dúvida, uma continuação, um desaguar,  do que  vinha fazendo com essas  temáticas que estão presentes nele, e que começaram a surgir nesse dois anteriores. Importantíssimo também considero BraziLírica Pereira: A Traição das Metáforas, 2000 - lançado pela Alpharrabio Edições, porque em um toque de prosa ficção também, formas que venho experimentando para publicações próximas. 

Mas acredito que muito ainda está por vir, tenho O Poeta Enquanto Coisa, no prelo da Editora Penalux, que deve ser lançado ainda em 2020, e O Homem Com A Flor Na Boca, em fase de produção para 2021.

Micaela Albertini  - Além da poesia em verso  já exercitou ou exercita outra forma de linguagem com poesia?

Artur Gomes -  A primeira linguagem me que surgiu depois da poesia, foi com a música, através do meu parceiro Paulo Celso Ciranda. Depois veio o Teatro, levado ao palco pelo Kapi, com o musical Gotas de Suor. Depois novamente o Teatro levado ao palco, por Deneval Siqueira Filho com Judas O Resto da Cruz.

Nessas primeiras investidas, estive no palco, interpretando textos de autoria própria nos anos de 1974 e 1975, respectivamente. Depois em 1976 veio a primeira experiência como ator em Fando e Lis, de Fernando Arrabal, dirigdo por Orávio de Campos Soares no Teatro do SESC em Campos.

Nas décadas de 1980 e 1990 mergulhei na poesia experimental, processo concreto visual, depois que criei em 1983 o projeto Mostra Visual de Poesia Brasileira. Fiz várias exposições em São Paulo e Santo André, nessas duas décadas expondo poemas gráfico.visuais.

 E de uma quantidade imensa de outros poetas parceiros, tais como Hugo Pontes, Uilcon Pereira, Dalila Teles Veras, Moacy Cirne. Aricy Curvello, Leila Míccolis, Avelino de Araújo, Paulo Bruscy, Almandrade, Phladelpho Meneses, Fernando Aguiar, Zhôo Bertolini. Tanussi Cardoso, Pat Raider. E muitos outros.

Micaela Albertini   - Qual poema escreveu quando teve uma pedra no meio do caminho?

Terra de Santa Cruz

ao batizarem-te
deram-te o nome:
posto que a tua profissão
é abrir-te em camas
dar-te em ferro
ouro
prata
rios
peixes
minas
mata
deixar que os abutres
devorem-te na carne
o derradeiro verme

salgado mar de fezes
batendo nas muralhas
do meu sangue confidente
quem botou o branco
na bandeira de alfenas
na certa se esqueceu
das orações dos penitentes
e da corda que estraçalha
com os culhões de Tiradentes
salve lindo pendão que balança
entre as pernas abertas da paz
tua nobre sifilítica herança
dos rendez-vous de impérios atrás
meu coração
é tão hipócrita que não janta
e mais imbecil que ainda canta:
ou
viram
no Ipiranga
às margens plácidas
uma bandeira arriada
num país que não levanta

só desfraldando
a bandeira tropicalha
é que a gente avacalha
com as chaves dos mistérios
dessa terra tão servil
tirania sacanagem safadeza
tudo rima uma beleza
com a pátria mãe que nos pariu

1º de Abril

telefonaram-me
avisando-me que vinhas
na noite uma estrela
ainda brigava contra a escuridão

na rua sob patas
tombavam homens indefesos

esperei-te 20 anos
ate hoje não vieste à minha porta
o poeta estraçalha a bandeira
raia o sol marginal quarta feira
na Geléia Geral brasileira
o céu de abril não é de anil
nem general é myBrazyl

minha verde/amarela esperança
Portugal já vendeu para França
e coração latino balança
entre o mar do dólar do norte
e o chão dos cruzeiros do sul

o poeta esfrangalha a bandeira
raia o sol marginal sexta feira
nesta porra estrangeira e azul
que há muito índio dizia:
meu coração marçal tupã
sangra tupy& rock androll
meu sangue tupiniquim
em corpo tupinambá
samba jongo maculelê
maracatu boi bumbá
a veia de curumim
é coca cola & guaraná

o sangue rola no parque
o sonho ralo no tanque
nada a ver com tipo dark
e muito menos com punk
meu vício letal é baiafro
com ódio mortal de yank

ó baby a coisa por aqui
não mudou nada
embora sejam outras
siglas no emblema

espada continua a ser espada
poema continua a ser poema

Está publicado no livro Couro Cru & Carne Viva, 1987 e Pátria A(r)mada, 2019 e gravada na minha voz no CD Fulinaíma Sax Blues Poesia - 2002.

Micaela Albertini - Revisitando Quintana: você acha que depois dessa crise virótica pandêmica, quem passará e quem passarinho?

Artur Gomes -  Acho que na pergunta sobre Usina, já faço uma reflexão sobre isso, então vou citar o poema do Mário Quintana

"esse que aí estão
atravancando o meu caminho
eles passarão e eu passarinho "

Micaela Albertini  - Escrevendo sobre o livro Pátria A(r)mada, o poeta e jornalista Ademir Assunção, afirma que cada poeta tem a sua tribo, de onde ele traz as suas referências. Você de onde vem, qual é a sua tribo?

Artur Gomes - O próprio Ademir Assunção, no texto: Três Toques  Para Penetrar  Na Noite Escura Dessa Pátria A(r)mada, já cita uma boa parte do que considero minha tribo. Fonte onde bebi, e que continuo bebendo, e que, sempre me trouxeram e continuam trazendo referências.

Fulinaimicamente falando, pertenço ao que restou de uma tribo Goytacá, uma mistura macunaímica de branco, índio,  negro, formação étnica de quase todo brasileiro. Talvez aí, esteja a razão da minha poesia ter essa coloração, essa mistura, esse caldeirão de sons, rítmos e influências.

Micaela Albertini - Nos dias atuais o que é ser um poeta, militante de poesia?

Artur Gomes - Ser poeta é se descobrir, e se entender a margem, saber que  nenhum valor terá diante de uma sociedade capitalista, misógena, homofóbica e preconceituosa. Poeta na real realidade,  um marginal perante ao estado. Poucos escaparam ou escaparão dessa lógica. E o que fazemos: ¿ Insistimos em escrever e esperar que nos leiam, porque não escolhemos essa sina essa maldição, ela nasceu conosco. E o que podemos fazer de pirraça é sacralizar o profano e profanar o sagrado.

Nesta Jura Secreta 48 a meu ver defino bem aos mesmo tempo para mim, o que são essas duas funções: ser poeta e ser um militante de poesia, onde o sarcasmo, o humor a ironia, é parte integrante na concepção da carne  da palavra, como algum tempo atrás escrevendo sobre as SagaraNAgens Fulinaímicas, grafou Tanussi Cardoso.

Jura Secreta 48 
sagarínica  fulinaimânica 

não sou iluminista nem pretender 
eu quero o cravo e a rosa 
cumer o verso e a prosa 
devorar a lírica a métrica 
a carne da musa 
seja branca negra amarela 
vermelha verde ou cafuza 

eu sou do mato 
curupira carrapato 
sou da febre sou dos ossos 
sou da Lira do Delírio 
São Virgílio é o meu sócio 

Pernambuco Amaralina 
vida breve ou sempre vida/severina 
sendo mulher ou só menina 
que sendo santa prostituta 
ou cafetina devorar é minha sina 
e profanar é o meu negócio 

Micaela Albertini  - Que pergunta não fiz que você gostaria de responder?

Artur Gomes - Você poderia ter me perguntado: Qual poema você já escreveu para mim?

Resposta - Para o livro O Homem Com A Flor Na Boca, estou escrevendo uma série de prosa poética dedicada a mulher dos sonhos, tudo ainda em processo de criação, revisão, re-leituras, porque a mulher dos sonhos é múltipla, atriz, odontóloga, mãe, parceira de palco, as vezes solar, outras vezes marítima que adora viajar

grafitemas e figuralidades

estou escrevendo um mini conto um grafitema com figuralidades não é coisa de cinema a mais nua e crua realidade certa noite ela me veio não era sonho era uma noite de chuva com seus dois grandes olhos e mãos tão pequenas como quem grafita na areia um espelho d´água à beira mar na lua cheia
 vinha vestida de letras como o som da flauta de bambu dentro do fonema veio de longe da outra margem do rio dentro da tapera o cauim me trouxe na tigela bebi como índio na hora que vê nascer o filho beijei teus cabelos de milho e ela me perguntou o que era




Artur Gomes é poeta, ator, video.maker e produtor cultural. Tem diversos livros publicados, sendo os mais recentes Juras Secretas (Editora Penalux, 2018) e Pátria A(r)mada (Editora Desconcertos, 2019). Dirigiu a Oficina de Artes Cênicas do Instituto Federal Fluminense  em Campos dos Goytacazes-RJ de 1975 a 2002.
Em 1983, criou o projeto Mostra Visual de Poesia Brasileira e, em 1993, idealizou o projeto Mostra Visual de Poesia Brasileira Mário de Andrade — 100 anos — realizada pelo SESC São Paulo.
Em 1995 criou o Projeto Retalhos Imortais do SerAfim - Oswald de Andrade Nada Sabia de Mim, executado pelo SESC-SP em vários unidades na capital e pelo Estado.
Em 1999 criou o FestCampos de Poesia Falada, atualmente, leciona Poéticas no Curso Livre de Teatro em Campos dos Goytacazes-RJ e coordena o Sarau Santa Balbúrdia, na Casa Criativa Santa Paciência, e o Sarau Balbúrdia Poética, na La Taberna de Laura em Copacabana - Rio de Janeiro.
Acaba de gravar no home studio Fil Buc — Produções o disco Poesia Para Desconcertos, com produção de seu filho Filipe Gomes Buchaul.
Em 2020 lança o livro O Poeta Enquanto Coisa pela Editora Penalux e desenvolve o projeto para livro O Homem Com A Flor Na Boca - Com Os Dentes Cravados Na Memória para o selo Fulinaíma MultiProjetos


Fulinaíma MultiProjetos
portalfulinaima@gmail.com
(22)99815-1268 - whatsapp



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