Conheci Marcia Barroca, pelas noites cariocas de poesia, faz algum tempo já.
Ultimamente temos nos encontrado no POLEM, graças ao Marcelo Mourão, que por 10
Anos produz esse belo e importantíssimo Sarau no Rio de Janeiro. Dela tenho o
livro "desembrulhando o tempo na
chama rubra de erotismo celta" e dele já postei diversos poemas na Balbúrdia Poética, foi na
Balbúrdia que nos encontramos pela última vez, na Taberna de Laura, em
Copacabana em outubro de 2019.
Marcia Barroca - é poeta mineira, formada em letras pela
Faculdade de Filosofia,Ciências e Letras Santa Marcelina, Muriaé/MG. Mora no
Rio de Janeiro há mais de 40 anos e pertence a várias academias literárias, ao
PEN Clube do Brasil, a APPERJ e AJEB. Atualmente é Presidente da
União Brasileira de Escritores - RJ e diretora cultural da Sociedade Eça de
Queiroz.
Artur Gomes - Como se processa o seu estado de poesia?
Marcia Barroca - Os
momentos são diversificados. Quando ouço uma música, vejo um filme, ou leio uma
palavra em um livro ou jornal ( palavras são a essência da minha expressão) .
Encontro no poema a minha liberdade. Pode ser um momento triste, como agora, ou
não.
Artur Gomes - Seu poema preferido? Próprio. Ou de outro poeta de sua admiração.
Marcia Barroca - Gosto deste poema que fiz lá pelos anos 90.
A voz erguida
O
poeta ressuscita na palavra
a
voz que grita no silêncio
o
traço fúnebre
que
baila no texto ritmado
a
ausência da febre
queimando
matéria morta
O
poeta descarta
desdobra
desdiz
o som escorregadio
na
garganta que berra
Cordas
vocais
vocábulos
cavernas
ambíguas
letras
flutuantes
em
papel de original efeito
O
poeta cresce na essência
disforme
de seu vício
Um
poema que me marcou muito de Alberto Caeiro (Fernando Pessoa), quando li, ainda
na adolescência.
"
Quem me dera que eu fosse o pó da estrada
E
que os pés dos pobres me estivessem pisando...
Quem
me dera que eu fosse os rios que correm
E
que as lavadeiras estivessem à minha beira...
Quem
me dera que eu fosse os choupos à margem do rio
E
tivesse só o céu por cima e a água por baixo...
Quem
me dera que eu fosse o burro do moleiro
E
que ele me batesse e me estimasse...
Antes
isso que ser o que atravessa a vida
Olhando
para trás de si e tendo pena..."
Artur Gomes - Qual o seu poeta de cabeceira?
Marcia Barroca - Tenho
sempre três poetas na cabeceira : Fernando Pessoa. Álvares de Azevedo e Dylan
Thomaz. Na
verdade leio muito. Todos os livros que me são enviados pelos ubeanos e os
que vou nos lançamentos. Nunca deixo de ler, todos os amigos.
Artur Gomes - Em seu instante de criação existe alguma pedra
de toque, algo que o impulsione para escrever?
Marcia Barroca - Para mim,
a palavra é o início de tudo. Do nada aparece.
Esquecimento
Da
abertura estreita e
prolongada
de minha porta
passa
um fio de luz
Não
deixa escurecer
a
nebulosa e obscura
certeza
da minha solidão
Vejo
partículas de poeira
voando
a minha volta
Percebo
num átimo
que
posso ludibriar
o
esquecimento
Artur Gomes - Livro que considera definitivo em sua obra?
Marcia Barroca - São
vários. Mas, a obra completa de Fernando Pessoa foi fundamental.
Artur Gomes - Além da
poesia em verso já exercitou ou exercita outra forma de linguagem com poesia?
Marcia Barroca - Comecei a
escrever bem cedo. Sempre que escrevia uma redação ou qualquer tipo de prosa,
era como se fosse poesia . Então cheguei a conclusão que tudo é poesia. Aí não
parei mais.
Artur Gomes - Qual poema escreveu quando teve uma pedra no
meio do caminho?
Marcia Barroca - Nossa, um
porção...
Frida Kahlo
De
minha prisão
vejo
quadros
Quadrados
Quadros
de Frida Kahlo
Somente
eles
colorem
meu cansaço
Minha
janela
para
o mundo
Minha
visão distorcida
Meu
sinal fechado
para
a vida
Artur Gomes - Revisitando Quintana : você acha que depois
dessa crise virótica pandêmica,
quem
passará e quem passarinho?
Marcia Barroca - Passará
todos os que continuarem com sentimentos de baixa energia, trazendo ainda mais
dor e ressentimentos.
Passarinho
todos os que se mantiverem dentro de um caminho positivo e poético.
Artur Gomes - Escrevendo sobre o livro Pátria A(r)mada, o
poeta e jornalista Ademir Assunção,
afirma que cada poeta tem a sua tribo, de onde ele traz as suas referências.
Você de onde vem, qual é a sua tribo?
Marcia Barroca - Ah, já
fui de muitas tribos. Literalmente, até de tribos onde cultuávamos o xamanismo.
Hoje, não sou de nenhuma, Mas, o que aprendi ao longo do tempo, me ajuda e
muito a viver nesta época atual com tranquilidade.
Artur
Gomes - Nos dias atuais o que é ser um poeta, militante de poesia?
Marcia Barroca - Do jeito
que estamos vivendo, me parece que o poeta deve vivenciar o amor, transmitindo
com coragem, porque somente ele nos salvará. Estou falando de amor
incondicional. Foi difícil entender e só consegui depois de muito meditar.
Amando a si mesmo o resto vem de bandeja.
Artur Gomes - Que pergunta não fiz que você gostaria de
responder?
Marcia Barroca - Se estou
escrevendo no momento atual com tantas tristezas acontecendo?
Marcia Barroca - Sim.
Estou escrevendo. Acordo muito na madrugada, com boas ideias para um novo livro
de poemas. E para chorar nossos amigos mortos.
Muito
obrigada, Artur.
Fulinaíma MultiProjetos
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(22)99815-1268
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Linda entrevista! Belíssimos poemas! Amei!
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