sexta-feira, 8 de maio de 2020

Darcy Amorim - EntreVistas



Conheci Dacy Amorim na Escola Técnica Federal de Campos, lá pelos idos dos anos 70, quando ainda predominava na ETFC o ensino técnico, e pouca ou quase nenhuma liberdade para atividades culturais fora da sala de aula. Com a eleição de Luciano D´Ângelo, em 1986 para a Direção da Escola, começaram as mudanças na forma de pensar educação, e uma série de atividades extra curriculares, começaram a existir, e outras que já existiam como Oficina de Teatro e Coral,  a revelia da Direção, passaram a fazer parte de um leque de ações culturais integradas.

A partir de então o meu contato com Darcy Amorim, dentro da ETFC passou a ser de parceria em algumas atividades envolvendo a Oficina de  Teatro, e a cadeira de Português Literatura, com alguns  Festivais de Poesia e encontros literários, preenchendo o vazio, existente até então, de ações que levassem os alunos a se manifestarem fora da sala de aula.

Os anos se passaram, ETFC se tornou CEFET, e logo depois IFF, e todos nós que fizemos parte dessa transformação sentimos uma grande saudade desse tempo, em que  a instituição vibrava com tudo o que nos foi possível realizar, em um tempo que não existia, nem um décimo, dos equipamentos tecnológicos que existem hoje.

Darcy Amorim - Cheguei a Campos ainda menina, vinda do agreste, das terras alagoanas. Mudança de vida, mudança de hábitos. 
     
Depois dos estudos básicos,  fiz o curso de DIREITO, na Faculdade de Direito de Campos. Concluído o curso de direito. Em seguida, resolvi fazer o curso de Português e Literatura, na Faculdade de Filosofia de Campos.
     
Gostei! E resolvi ir um pouco além, neste mesmo caminho. Fiz especialização em Linguística e em Teoria da Literatura. Queria mais! Fiz, também, Pós-graduação em Literatura Brasileira da Modernidade e depois, Literatura Infantil e Juvenil.
     
Aí, já trabalhava na Escola Técnica Federal de Campos, hoje IFF. No período em que fui coordenadora do Curso de Português, pude organizar encontros e cursos, trazendo a Campos nomes como Adriano da Gama Kury, Wilma Arêas e Celso Pedro Luft. 
     
Nesta época, e com a parceria da respeitada, sábia e amada professora Arlete Sendra, desenvolvemos projeto. Visando o despertar nos alunos o gosto pela leitura e pela poesia surgiu o  “Conjugando o verbo amar”. Os alunos produziram belos textos que reunimos num livro , publicado na época.
     
Pensando que uma pessoa não é um átomo, isolado de todos na sociedade em que vive e trabalha, ousei, num setor onde ainda predominava o masculino, me candidatei à Presidência da Associação ASSETEC ( Associação dos Servidores da Escola Técnica Federal de Campos). E venci! Dei meu trabalho e minha contribuição. Foi bom! 
     
Hoje, aposentada, sinto saudades das discussões políticas, das assembléias, da sala de aula, dos corredores e, acima de tudo, dos alunos. 


Festival de Poesia realizado na ETFC nos anos 80

Artur Gomes -  Como se processa o seu  estado de poesia?

Darcy Amorim - Acredito que o processo de criação obedece a impulsos internos e externos. As emoções exigem, muitas vezes, um extravasar sem dialogar com a realidade exterior. Elas pedem expressões. O fazer poético pode, também, ser estimulado por uma música, uma foto, uma situação que foi lá no fundo, mexer com a memória, com os sentimentos, com as convicções. 
A
rtur Gomes - Seu poema preferido? Próprio. Ou de outro poeta de sua admiração.

Darcy Amorim - Vários poemas despertam, em mim, intensa admiração. Alguns tocam-me profundamente a alma como se fossem uma oração. Outros despertam tempestades interiores, guardadas ou nunca pressentidas. No entanto, há um que considero fundamental para o meu estar no mundo. 
            
De Fernando Pessoa:
     Para ser grande, sê inteiro: nada
            Teu exagera ou exclui.
     Sê todo em casa coisa. Põe quanto és 
            No mínimo que fazes.
     Assim em cada lago a lua toda
            Brilha, porque alta vive.

 Artur Gomes - Qual o seu poeta de cabeceira?
Poeta de cabeceira? 
      
Habitualmente dois: Fernando Pessoa e Drummond. Dependendo do estado emocional, outros podem lhes fazer companhia, como Cecília Meireles, Manuel Bandeira e Leminski

Artur Gomes - Em seu instante de criação existe alguma pedra de toque, algo que o impulsione para escrever?

Darcy Amorim - Amo poesia! Admiro quem escreve poemas com talento e maestria. Isto é para os fortes e talentosos. Quem sou eu? Às vezes, arrisco uns versos ditados pelo consciente (ou inconsciente?), tentando brincar com as palavras e o que me vai na alma. 
     
Mas, não sou poeta. O que escrevo é para mim.

 Artur Gomes -  Livro que considera definitivo em sua obra?

Darcy Amorim - Como não sou poeta de ofício, não tenho publicação que possa considerar como minha obra ou definitiva.

Artur Gomes - Além da poesia em verso  já exercitou ou exercita outra forma de linguagem com poesia?

Darcy Amorim - Pode-se exercitar a linguagem poética sem ser no papel? Pode-se utilizá-la de outra forma?
      
Viver é um exercício diário de poetar. Por isto, minha obra fundamental chama-se VIDA-VIVER. Coloco a leitura de poesias em meu caminho, acrescento-a ao meu roteiro para tentar transfigurar  ou amenizar o real. Precisamos de poesia para viver. Precisamos contaminar o mundo com muita poesia! 
     
Consciente da finitude da existência terrena, sei que esta obra só ficará completa quando, ao invés de interrogação, ou exclamação, nela for colocado um ponto final. 

Artur Gomes - Qual poema escreveu quando teve uma pedra no meio do caminho?

Darcy Amorim - Uma pedra no meio do caminho? 
     Eu tive uma montanha! Doeu muito! Demais!

Artur Gomes - Revisitando Quintana: você acha que depois dessa crise virótica pandêmica, quem passará e quem passarinho?

Darcy Amorim - Aquele que vive sem perder as ilusões, o entusiasmo, o respeito ao outro, em equilíbrio com a espiritualidade e a natureza, este, acredito, passarinho!

Artur Gomes - Escrevendo sobre o livro Pátria A(r)mada, o poeta e jornalista Ademir Assunção, afirma que cada poeta tem a sua tribo, de onde ele traz as suas referências. Você de onde vem, qual é a sua tribo?

Darcy Amorim - Sei que a pergunta é metafórica. No entanto, minha resposta baseia-se no literal.
     
Venho das terras alagoanas. Mais precisamente de Palmeira dos Índios, situada na região do agreste, porta de entrada do sertão. 
     
Agora, se você está se referindo às primeiras referências literárias, para despertar o desejo de ler e ou escrever, posso dizer com certeza. Primeiro, Graciliano Ramos meu conterrâneo. Junto dele, Clarice Lispector, Manuel Bandeira, Cecília Meireles, Carlos Drummond de Andrade e o grande Fernando Pessoa. 

Artur Gomes - Nos dias atuais o que é ser um poeta, militante de poesia?

Darcy Amorim - Poeta militante é aquele que vive só da sua arte?  Ou aquele que tem um olhar atento para as questões éticas, culturais, religiosas , políticas, tudo enfim que envolve o homem e seu relacionamento com os seres e o mundo , em busca de uma sociedade ideal.

Creio que poeta militante seja aquele que faz da sua arte um instrumento de transformação social. Aquele que tem um olhar atento para questões éticas, culturais e ideológicas que envolvem o homem do seu tempo e seu relacionamento com as pessoas e com o mundo.

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