sábado, 9 de maio de 2020

Diego Mendes Sousa - EntreVistas


Meu primeiro contato com Diego Mendes Sousa, se deu no Congresso Brasileiro de Poesia, Bento Gonçalves-RS em 2010, na edição em homenagem ao poeta Ferreira Gullar.  No face ele é membro do Meu Grupo de Bento Gonçalves, onde compartilho postagens sobre as suas atividades literárias. Recentemente nos conectamos também no zap. Ele agora forma a trindade de poetas piauienses amigos, com Rubervam Du Nascimento e Nathan  Sousa. E gostaria de lembrar  que são também dois poetas piauienses, que integram o roll dos meus poetas de cabeceira, os imortais Torquato Neto e Mário Faustino.

Diego Mendes Sousa nasceu na Parnaíba, no litoral do Piauí, em 15 de julho de 1989. Poeta em tempo integral e Indigenista Especializado com atuação no Vale do Juruá (Acre), fronteira com o Peru. Funcionário Público Federal e Jornalista. Mestrando em Ciências Ambientais pela Universidade Federal do Acre (UFAC) e Pós-graduado em Direito Público pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC-MINAS).

Publicou os livros de poemas: Divagações (2006); Metafísica do encanto (2008); 50 poemas escolhidos pelo autor (2010); Fogo de alabastro (2011); Candelabro de álamo (2012); Gravidade das xananas (2019); Tinteiros da casa e do coração desertos (2019); O viajor de Altaíba (2019); Velas náufragas (2019) e Fanais dos verdes luzeiros (2019).

Detentor dos galardões: Prêmio Olegário Mariano (UBE-RJ, 2009), por melhor livro do ano; Prêmio Castro Alves (UBE-RJ, 2013), pelo conjunto da obra; Prêmio João do Rio da Academia Carioca de Letras (ACL, 2016); Prêmio Mário Faustino (UBE-RJ, 2019), por melhor livro do ano.

Membro titular correspondente da Academia Carioca de Letras (ACL), bem como da União Brasileira de Escritores do Rio de Janeiro (UBE-RJ).

Membro efetivo da Associação Nacional de Escritores (ANE) e do PEN Clube do Brasil (Rio de Janeiro). Membro titular da Academia de Letras do Brasil; da Academia Piauiense de Poesia; e da Academia Parnaibana de Letras (APAL).

Como Advogado e Jurisconsulto, pertence à Academia Brasileira de Direito e é sócio correspondente da Academia Cearense de Direito.

Seus poemas foram traduzidos para o francês, o inglês, o espanhol e o grego.

Em seu torrão natal, Diego Mendes Sousa fundou o Jornal O Bembém, com Benjamim Santos e Tarciso Prado.

É o idealizador e o organizador do Selo Item de Colecionador da Editora Penalux, em que já publicou as obras Hálito das pedras, de Antonio Carlos Secchin e Estranha alquimia, de Antonio Cicero, bem como fez a curadoria dos livros Rimance da infância e outros poemas, de Dimas Macedo, Entrevozes do tempo, de João Carlos de Carvalho, e Eu conto o conto assim de Everaldo Moreira Véras.

 Artur Gomes - Como se processa o seu estado de poesia?

Diego Mendes Sousa–Acredito que o insight poético seja orgânico, inerente ao ser, com natural iluminação. O poeta é um signo do tempo, profundamente contaminado por sentimentos e por explosões arraigadas à alma. Tenho consciência de que nasci poeta. Sou preparado, dia após dia, por um manancial de múltiplas leituras, no entanto, a semente das visões mantém a fertilidade no próprio destino. Sou místico.

Reconheço o dom. Preservo a minha cabala no ventre da própria criação. O poema é o pomo do sangramento humano, um testemunho da vivência, com segredos, e sobretudo, com revelações. Meu “estado de poesia” é uma quimera permanente, pois sei-me verificar na realidade e no sonho. Aliás, o onírico diz mais de mim do que o verídico. A poesia é uma ficção fidedigna ao anímico.

Artur Gomes - Seu poema preferido? Próprio. Ou de outro poeta de sua admiração.

Diego Mendes Sousa – Sou fascinado pela poesia de Rainer Maria Rilke. Há um poema em Vida de Maria, com magistral tradução da Dora Ferreira da Silva, que me arrebata o íntimo! Chama-se Pietà. Sei de cor, pois essas palavras caminham comigo:

Minha miséria agora é completa. Algo sem
nome
apoderou-se do meu ser. Imóvel,
como se fora pedra,
o cerne também de pedra.
Cresceste
... cresceste muito
até alcançar a grande dor
que meu coração não pode compreender.

Jazes deitado obliquamente no meu colo
e então, então é impossível de novo
te gerar.

Artur Gomes - Qual o seu poeta de cabeceira?

Diego Mendes Sousa - Federico García Lorca, uma entidade renovadora que acompanha os símbolos da minha vida e o ritmo dos meus cavalos e presságios. É o Poeta das metáforas e das imagens magníficas:

Dice la tarde:  “¡Tengo sed de sombra!”
Dice la luna:  “¡Yo, sed de luceros!”
La fuente cristalina pide labios
y suspira el viento.

Artur Gomes - Em seu instante de criação existe alguma pedra de toque, algo que o impulsione para escrever?

Diego Mendes Sousa – Sou musical. Gosto de ouvir e de assistir ópera desde meninote. Essa mescla intuitiva de música erudita e de teatro lírico e dramático sempre me encheu os olhos. A pintura é outra razão avassaladora para a minha criação poética. Passo horas a fio a contemplar o insondável em Vincent van Gogh, Paul Gauguin e Rodin, meus gênios prediletos. São artistas incansáveis, enigmáticos e inspiradores.

Artur Gomes - Livro que considera definitivo em sua obra?

Diego Mendes Sousa –Creio que a obra “Velas náufragas” (Editora Penalux, 2019) seja a mais lembrada, por causa da força telúrica, escrita com terra dentro, no entanto, aposto em “Tinteiros da casa e do coração desertos” (Editora Penalux, 2019) como o livro definitivo, devido ao abismo existencial que massacra os poemas ali sobreviventes.

Artur Gomes - Além da poesia em verso, já exercitou ou exercita outra forma de linguagem com poesia?

Diego Mendes Sousa –Escrevo contos, crônicas e ensaios, com altas doses de poesia. O poeta está embebido em tudo que escrevo. Assalta violentamente esta entrevista, inclusive.

Artur Gomes - Qual poema escreveu quando teve uma pedra no meio do caminho?

Diego Mendes Sousa -O poema Francisco”, um dos mais recentes, onde a angústia, o agônico, a amargura e o medo, se transformam em esperança e mansidão. Não sou religioso, porém, comungo das dores universais:

FRANCISCO

“Por que sois tão medrosos?
Ainda não tendes fé?”

por mim e por ti
para o mundo e
para a cidade
em que me perdi
a oeste
da minha casa.

tempo por sangrar:
mar sem ar
em águas
além do lugar
além das paragens
amargas
dos séculos

fico à deriva
a querer reabitar
o que as folhas
do outono febril
pregam
no corpo
das coisas
que doem
e levam até
o abismo
da inescapável e
tormentosa morte.

para Roma
para Madri
para Paris
para Londres
para Nova York
para São Paulo
para Buenos Ayres
para a sombra da infância desperta.

sem pai sem mãe
nem avô nem avó
sem os gestos
dos irmãos
nem primos nem amigos.

ó mundo, ó solidão,
nuvem de chumbo
desaba aqui…
o céu é um fantasma cruel!
miragem de desertos abertos
que calham o frio
que arde nos olhos.

para a cidade
para a paisagem
para a atmosfera
para o horizonte
terrestre e enigmático
a odisseia a amazônia
o parnaíba o tigres
o nilo o yangtzé
as geografias
que flutuam
em mim…

Francisco me ensinou
a não ter medo.
passageiro
urbe et orbi
ressuscitado das tempestades
no desafogo da fé.


Cruzeiro do Sul (AC), Amazônia, 28 de março de 2020.

Artur Gomes - Revisitando Quintana: você acha que depois dessa crise virótica pandêmica, quem passará e quem passarinho?

Diego Mendes Sousa - A poesia jamais passará, pois a beleza é terna e eterna. Já, o ser humano, é um passageiro previsível, embora mutável. A história da humanidade é retratada em séculos, em círculos. As mazelas vêm e vão... O homem é um anacoluto, um constante rompedor entre as contradições impostas e a sua condição de mísero proprietário do tempo.

Artur Gomes - Escrevendo sobre o livro Pátria A(r)mada, o poeta e jornalista Ademir Assunção, afirma que cada poeta tem a sua tribo, de onde ele traz as suas referências. Você de onde vem, qual é a sua tribo?

Diego Mendes Sousa – Sou piauiense, filho da Parnaíba, no litoral do Estado. Tenho o coração cravado nas minhas raízes. Sou um ancestral e aprendi a minerar o essencial com os afetos. Meus amigos de juventude foram dois grandes artistas, bem mais velhos do que eu: Tarciso Prado (1938-2018), ator e diretor de teatro; e Benjamim Santos (1939-), dramaturgo. Eles lapidaram o meu verbo criativo. Mirei neles o que desejava ser e aqui estou.

Artur Gomes - Nos dias atuais o que é ser um poeta, militante de poesia?

Diego Mendes Sousa- O poeta é uma formiga alada e/ou uma cigarra sem asas! Constrói, destrói e reconstrói com os sentidos. Canta, decanta e recanta com os sofrimentos. Não sou de militâncias, nem de ideologias. Prefiro a convicção, o convencimento pela ética, pela justiça e pelo exemplo. Penso como Albert Camus: os poetas nascem para sofrer a História. Para mim, o poeta é um sensível, que conhece o céu e o inferno, a claridade e a escuridão, sem perder o lume  da palavra e os mistérios da vidência. O poeta faz da sua atuação verbal uma transcendência deslumbrante, que opera o redivivo, com o objetivo de comover outrem.

Artur Gomes - Que pergunta não fiz que você gostaria de responder?

Diego Mendes Sousa – Apenas acrescento que sou um proustiano, que saiu da casa interior muito cedo, para fazer das palavras, uma pátina. Envelheci a alma a caminho do tempo, em busca do abismo, enquanto os tinteiros doloridos rasgavam a imaginação colorida de bronze e de chumbo; - minhas tessituras metálicas.


FulinaímaMultiProjetos
portalfulinaima@gmail.com
(22)99815-1268 - whatsapp




Nenhum comentário:

Postar um comentário

cidade veracidade

onde tudo é carnaval minha madrinha se chamava cecília nunca soube onde minha mãe a conheceu por muitos anos morou na rua sacramento ao la...