Meu primeiro contato com Diego Mendes Sousa, se deu no Congresso Brasileiro de Poesia, Bento Gonçalves-RS em 2010, na edição em homenagem ao poeta Ferreira Gullar. No face ele é membro do Meu Grupo de Bento Gonçalves, onde compartilho postagens sobre as suas atividades literárias. Recentemente nos conectamos também no zap. Ele agora
forma a trindade de poetas piauienses amigos, com Rubervam Du Nascimento e Nathan Sousa. E gostaria de lembrar que são também dois poetas piauienses, que integram o roll dos meus poetas de cabeceira, os imortais Torquato Neto e Mário
Faustino.
Diego Mendes Sousa nasceu na Parnaíba, no
litoral do Piauí, em 15 de julho de 1989. Poeta em tempo integral e Indigenista Especializado com
atuação no Vale do Juruá (Acre), fronteira com o Peru. Funcionário Público
Federal e Jornalista. Mestrando em Ciências Ambientais pela Universidade
Federal do Acre (UFAC) e Pós-graduado em Direito Público pela Pontifícia
Universidade Católica de Minas Gerais (PUC-MINAS).
Publicou
os livros de poemas: Divagações (2006); Metafísica do encanto
(2008); 50 poemas
escolhidos pelo autor (2010); Fogo de alabastro (2011); Candelabro de álamo (2012); Gravidade das xananas (2019); Tinteiros
da casa e do coração desertos
(2019); O viajor de Altaíba (2019); Velas náufragas (2019) e Fanais
dos verdes luzeiros (2019).
Detentor dos galardões: Prêmio Olegário Mariano (UBE-RJ, 2009), por melhor livro do ano; Prêmio Castro Alves (UBE-RJ,
2013), pelo conjunto da obra; Prêmio
João do Rio da Academia Carioca de Letras (ACL, 2016); Prêmio Mário Faustino (UBE-RJ, 2019),
por melhor livro do ano.
Membro
titular correspondente da Academia Carioca de Letras (ACL), bem como da União
Brasileira de Escritores do Rio de Janeiro (UBE-RJ).
Membro
efetivo da Associação Nacional de Escritores (ANE) e do PEN Clube do Brasil
(Rio de Janeiro). Membro titular da Academia de Letras do Brasil; da Academia
Piauiense de Poesia; e da Academia Parnaibana de Letras (APAL).
Como
Advogado e Jurisconsulto, pertence à Academia Brasileira de Direito e é sócio
correspondente da Academia Cearense de Direito.
Seus
poemas foram traduzidos para o francês, o inglês, o espanhol e o grego.
Em seu
torrão natal, Diego Mendes Sousa fundou o Jornal O Bembém, com Benjamim Santos
e Tarciso Prado.
É o
idealizador e o organizador do Selo Item de Colecionador da Editora Penalux, em
que já publicou as obras Hálito das pedras, de Antonio Carlos
Secchin e Estranha alquimia, de Antonio Cicero, bem como fez a curadoria
dos livros Rimance da infância e outros poemas, de
Dimas Macedo, Entrevozes do tempo, de João Carlos de Carvalho, e Eu
conto o conto assim de Everaldo Moreira Véras.
Artur
Gomes - Como se processa o seu estado de poesia?
Diego
Mendes Sousa–Acredito que o insight poético seja orgânico, inerente ao ser, com natural
iluminação. O poeta é um signo do tempo, profundamente contaminado por
sentimentos e por explosões arraigadas à alma. Tenho consciência de que nasci
poeta. Sou preparado, dia após dia, por um manancial de múltiplas leituras, no
entanto, a semente das visões mantém a fertilidade no próprio destino. Sou místico.
Reconheço o dom. Preservo a
minha cabala no ventre da própria criação. O poema é o pomo do sangramento
humano, um testemunho da vivência, com segredos, e sobretudo, com revelações. Meu
“estado
de poesia” é uma quimera
permanente, pois sei-me verificar na realidade e no sonho. Aliás, o onírico diz
mais de mim do que o verídico. A poesia é uma ficção fidedigna ao anímico.
Artur
Gomes - Seu poema preferido? Próprio. Ou de outro poeta de sua
admiração.
Diego
Mendes Sousa – Sou fascinado pela poesia de Rainer Maria Rilke.
Há um poema em Vida de Maria, com magistral tradução da Dora Ferreira da Silva, que me arrebata o íntimo! Chama-se Pietà. Sei de cor, pois essas palavras
caminham comigo:
Minha miséria agora é completa. Algo sem
nome
apoderou-se do meu ser. Imóvel,
como se fora pedra,
o cerne também de pedra.
Cresceste
... cresceste muito
até alcançar a grande dor
que meu coração não pode compreender.
Jazes deitado obliquamente no meu colo
e então, então é impossível de novo
te gerar.
Artur
Gomes - Qual o seu poeta de cabeceira?
Diego
Mendes Sousa - Federico García Lorca, uma entidade renovadora
que acompanha os símbolos da minha vida e o ritmo dos meus cavalos e presságios. É
o Poeta das metáforas e das imagens magníficas:
Dice la
tarde: “¡Tengo sed de sombra!”
Dice la luna: “¡Yo, sed de luceros!”
La fuente cristalina pide labios
y suspira el viento.
Dice la luna: “¡Yo, sed de luceros!”
La fuente cristalina pide labios
y suspira el viento.
Artur
Gomes - Em seu instante de criação existe alguma pedra de toque,
algo que o impulsione para escrever?
Diego
Mendes Sousa – Sou musical. Gosto de ouvir e de assistir ópera
desde meninote. Essa mescla intuitiva de música erudita e de teatro lírico e
dramático sempre me encheu os olhos. A pintura é outra razão avassaladora para
a minha criação poética. Passo horas a fio a contemplar o insondável em Vincent
van Gogh, Paul Gauguin e Rodin, meus gênios prediletos. São artistas
incansáveis, enigmáticos e inspiradores.
Artur
Gomes - Livro que considera definitivo em sua obra?
Diego
Mendes Sousa –Creio que a obra “Velas náufragas”
(Editora Penalux, 2019) seja a mais lembrada, por causa da força telúrica,
escrita com terra dentro, no entanto, aposto em “Tinteiros da casa
e do coração desertos” (Editora Penalux, 2019) como o livro definitivo,
devido ao abismo existencial que massacra os poemas ali sobreviventes.
Artur
Gomes - Além da poesia em verso, já exercitou ou exercita outra
forma de linguagem com poesia?
Diego
Mendes Sousa –Escrevo contos, crônicas e ensaios, com altas
doses de poesia. O poeta está embebido em tudo que escrevo. Assalta
violentamente esta entrevista, inclusive.
Artur
Gomes - Qual poema escreveu quando teve uma pedra no meio do
caminho?
Diego
Mendes Sousa -O poema “Francisco”, um dos mais recentes,
onde a angústia, o agônico, a amargura e o medo, se transformam em esperança e mansidão.
Não sou religioso, porém, comungo das dores universais:
“Por que sois tão
medrosos?
Ainda não tendes fé?”
Ainda não tendes fé?”
para o mundo e
para a cidade
em que me perdi
a oeste
da minha casa.
tempo por sangrar:
mar sem ar
em águas
além do lugar
além das paragens
amargas
dos séculos
fico à deriva
a querer reabitar
o que as folhas
do outono febril
pregam
no corpo
das coisas
que doem
e levam até
o abismo
da inescapável e
tormentosa morte.
para Roma
para Madri
para Paris
para Londres
para Nova York
para São Paulo
para Buenos Ayres
para a sombra da infância desperta.
sem pai sem mãe
nem avô nem avó
sem os gestos
dos irmãos
nem primos nem amigos.
ó mundo, ó solidão,
nuvem de chumbo
desaba aqui…
o céu é um fantasma cruel!
miragem de desertos abertos
que calham o frio
que arde nos olhos.
para a cidade
para a paisagem
para a atmosfera
para o horizonte
terrestre e enigmático
a odisseia a amazônia
o parnaíba o tigres
o nilo o yangtzé
as geografias
que flutuam
em mim…
Francisco me ensinou
a não ter medo.
passageiro
urbe et orbi
ressuscitado das tempestades
no desafogo da fé.
Cruzeiro do Sul (AC), Amazônia, 28 de março de
2020.
Artur
Gomes - Revisitando Quintana: você acha que depois dessa crise
virótica pandêmica, quem passará e quem passarinho?
Diego
Mendes Sousa - A poesia jamais passará, pois a beleza é terna e
eterna. Já, o ser humano, é um passageiro previsível, embora mutável. A
história da humanidade é retratada em séculos, em círculos. As mazelas vêm e
vão... O homem é um anacoluto, um constante rompedor entre as contradições
impostas e a sua condição de mísero proprietário do tempo.
Artur
Gomes - Escrevendo sobre o livro Pátria A(r)mada, o poeta e
jornalista Ademir Assunção, afirma
que cada poeta tem a sua tribo, de onde ele traz as suas referências. Você de
onde vem, qual é a sua tribo?
Diego
Mendes Sousa – Sou piauiense, filho da Parnaíba, no litoral do
Estado. Tenho o coração cravado nas minhas raízes. Sou um ancestral e aprendi a
minerar o essencial com os afetos. Meus amigos de juventude foram dois grandes
artistas, bem mais velhos do que eu: Tarciso
Prado (1938-2018), ator e diretor de teatro; e Benjamim Santos (1939-), dramaturgo. Eles lapidaram o meu verbo
criativo. Mirei neles o que desejava ser e aqui estou.
Artur
Gomes - Nos dias atuais o que é ser um poeta, militante de
poesia?
Diego
Mendes Sousa- O poeta é uma formiga alada e/ou uma cigarra sem asas! Constrói, destrói e
reconstrói com os sentidos. Canta, decanta e recanta com os sofrimentos. Não
sou de militâncias, nem de ideologias. Prefiro a convicção, o convencimento pela
ética, pela justiça e pelo exemplo. Penso como Albert Camus: os poetas nascem
para sofrer a História. Para mim, o poeta é um sensível, que conhece o céu e o
inferno, a claridade e a escuridão, sem perder o lume da palavra e os
mistérios da vidência. O poeta faz da sua atuação verbal uma transcendência
deslumbrante, que opera o redivivo, com o objetivo de comover outrem.
Artur
Gomes - Que pergunta não fiz que você gostaria de responder?
Diego Mendes Sousa – Apenas acrescento que
sou um proustiano, que saiu da casa interior muito cedo, para
fazer das palavras, uma pátina. Envelheci a alma a caminho do tempo, em busca
do abismo, enquanto os tinteiros doloridos rasgavam a imaginação colorida de
bronze e de chumbo; - minhas tessituras metálicas.
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