Em 2013 a 7ª Felis, Feira do
Livro de São Luís do Maranhão, teve a curadoria do multipoeta Celso Borges e a
convite dele, lá estive para um Oficina de Poesia Falada e performances
poéticas pelos espaços do Centro Histórico. Ainda na memória, a apresentação que fiz, ao lado
de Lirinha (Cordel do Fogo Encantado), na janela de um dos casarões do Centro
Histórico, falando para um público que passava em cortejo pelas ruas,
inesquecível. também escalados pelo
Celso para algumas atividades da Feira. Um dos poetas homenageados deste edição
de 2013, foi o poeta Salgado Maranhão que no momento da abertura da Feira, me apresentou ao poeta Ricardo
Leão ( a rima não é por acaso). Como o Ricardo naquele instante tinha uma
atividade para falar sobre poesia de
outro poeta maranhense, Nauro Machado, (na foto acima), e de Ivan Junqueira, não tivemos tempo naquele momento para um bate papo, o que passou a ser intensificado algum tempo depois pelo
facebook, onde o Ricardo me confessou hoje ser o seu "museu".
Ricardo Leão é o nome literário de Ricardo André Ferreira Martins. Nasceu em São Luís do Maranhão, aos 2 de março de 1971. Poeta, ficcionista, ensaísta, professor universitário. É autor dos seguintes livros: Simetria do parto (2000, poesia, Editorial Cone Sul, Prêmio Xerox de Poesia), Tradição e ruptura: a lírica moderna de Nauro Machado (2002, ensaio, SECMA), Primeira lição de física (2009, poesia, SECMA, Prêmio Gonçalves Dias de Poesia), Os dentes alvos de Radamés (2009, 1ª. edição, SECMA, Prêmio Gonçalves Dias de Ficção; 2016, 2ª. edição, Benfazeja), No meio da tarde lenta (2012, poesia, Paco Editorial) e Os atenienses e a invenção do cânone nacional (2011, ensaio, 1ª. edição, Ética, Prêmio de Ensaio da Academia Brasileira de Letras de 2012; 2013, 2ª. edição, Instituto Geia), A plumagem do silêncio (2015, poesia, Nobres Letras), Minimália ou O Jardim das Delícias (2017, poesia, Penalux), A episteme do efêmero (2020, poesia, Patuá).
Ricardo Leão é o nome literário de Ricardo André Ferreira Martins. Nasceu em São Luís do Maranhão, aos 2 de março de 1971. Poeta, ficcionista, ensaísta, professor universitário. É autor dos seguintes livros: Simetria do parto (2000, poesia, Editorial Cone Sul, Prêmio Xerox de Poesia), Tradição e ruptura: a lírica moderna de Nauro Machado (2002, ensaio, SECMA), Primeira lição de física (2009, poesia, SECMA, Prêmio Gonçalves Dias de Poesia), Os dentes alvos de Radamés (2009, 1ª. edição, SECMA, Prêmio Gonçalves Dias de Ficção; 2016, 2ª. edição, Benfazeja), No meio da tarde lenta (2012, poesia, Paco Editorial) e Os atenienses e a invenção do cânone nacional (2011, ensaio, 1ª. edição, Ética, Prêmio de Ensaio da Academia Brasileira de Letras de 2012; 2013, 2ª. edição, Instituto Geia), A plumagem do silêncio (2015, poesia, Nobres Letras), Minimália ou O Jardim das Delícias (2017, poesia, Penalux), A episteme do efêmero (2020, poesia, Patuá).
Artur
Gomes - Como se processa o seu estado de poesia?
Ricardo
Leão
- Na realidade, entendo o dito “estado
de poesia” como entendo o estado de qualquer outra arte. Todo artista, como
um músico ou um pintor, por exemplo, têm fases em que são mas produtivos,
outras em que são menos produtivos, intercaladas por algumas fases, às vezes
longas, de silêncio ou nenhuma atividade criativa. No entanto, em todas elas o
artista sério ao menos exercita suas técnicas e habilidades. Como um músico que
precisa de muitas horas de treino ou um ator que tem muitas horas e dias de
ensaio antes de executar algo em público, um poeta também precisa passar por
longos períodos de leitura, de escrita e reescrita de seus textos, muitas vezes
frustrantes, que antecipam períodos de criação abundante.
Não existem, a meu ver,
segredos esotéricos na atividade artística, a não ser aqueles que os artistas
não desejam confessar ou revelar ao público. No meu caso, tenho técnicas que
antecipam a escrita: leio muito, exercito textos, reviso outros, e, em
determinados dias e ocasiões, a necessidade da escrita se impõe mais que em
outros. Posso decidir previamente se quero escrever sonetos ou quartetos, como
também poemas livres, assim como um músico experimentado sabe se um determinado
ritmo ou melodia se conforma melhor a um samba, um blues, um rock ou uma sinfonia.
Afora isso, digo que o dito “estado de
poesia”, para um poeta comprometido existencialmente com sua arte (como
para qualquer escritor ou artista com a mesma convicção), é diário e
permanente. Não há dias em que deixamos de ser poetas ou deixamos de ser artistas.
Quando dominamos os recursos expressivos de nossa arte, tudo é arte, a qualquer
momento algo pode nos suscitar um poema.
Pode ser uma conversa, embora na maior parte
das vezes é a leitura, como também uma reflexão, uma meditação, um pensamento,
qualquer coisa que nos assombre ou nos leve a uma epifania. Hermeto Pascoal é o
um exemplo típico desse tipo de artista que menciono: a qualquer momento um
determinado conjunto de sons pode se transformar em música em suas mãos,
imediatamente convertida em partitura. Para mim, esse é o verdadeiro “estado da arte”, existencial e diário.
Artur
Gomes - Seu poema preferido? Próprio. Ou de outro poeta de sua
admiração.
Ricardo
Leão
- Não consigo determinar isso em minha suposta obra. Há muitos poemas que gosto
muito, como alguns que hoje me arrependo de não tê-los trabalhado melhor. De
poetas de minha admiração, cito Tabacaria,
de Fernando Pessoa.
Dos meus, há uma seleção de poemas
que fiz para a Revista Germina e O LIVRO DOS SONHOS, está entre eles.
O LIVRO DOS SONHOS
O livro que nunca fiz
Hoje teria um prêmio.
Seu título jaz, ilegível,
No lábio dos homens.
Nunca fora publicado,
Escrevi-o todo em sonho.
Mas dado, um dia, a lume,
Dorme à sombra do olmo.
Leio-o sozinho, às vezes,
No encosto da poltrona,
Diante das páginas mudas
Onde brotam nulos poemas.
Procuro-o, roto e abstrato,
Em surdos alfarrábios,
Ou nas letras ignoradas
Dos esconsos alfabetos.
Apagado para sempre
Do reino das palavras,
Meu livro não tem nome:
Onírico, huno, visigótico,
Clarividente,
enigmático,
Calado eternamente
Na boca sem dentes
Do invisível silêncio.
Hoje teria um prêmio.
Seu título jaz, ilegível,
No lábio dos homens.
Escrevi-o todo em sonho.
Mas dado, um dia, a lume,
Dorme à sombra do olmo.
No encosto da poltrona,
Diante das páginas mudas
Onde brotam nulos poemas.
Em surdos alfarrábios,
Ou nas letras ignoradas
Dos esconsos alfabetos.
Do reino das palavras,
Meu livro não tem nome:
Onírico, huno, visigótico,
Calado eternamente
Na boca sem dentes
Do invisível silêncio.
Artur
Gomes - Qual o seu poeta de cabeceira?
Artur
Gomes - Qual o seu poeta de cabeceira?
Ricardo
Leão
- Leio muitos poetas, todos os dias. Mas, se tiver que apontar um entre os
quais aprendo diariamente o ofício da palavra, é o maranhense Nauro Machado,
cuja obra desafiadora o país ainda está por conhecer, compreender e admirar.
Artur
Gomes - Em seu instante de criação existe alguma pedra de toque,
algo que o impulsione para escrever?
Ricardo
Leão
- A leitura. Sempre a leitura. Todos os dias.
Artur
Gomes - Livro que considera definitivo em sua obra?
Ricardo
Leão
- Não considero nenhum de meus livros definitivos. Tento sempre me superar a
cada livro, a cada poema. Estou permanentemente insatisfeito com o que escrevo.
Artur
Gomes - Além da poesia em verso já exercitou ou exercita outra
forma de linguagem com poesia¿
Ricardo
Leão
- A prosa poética, de tons surrealistas, fantásticos e absurdos, em meu livro Os dentes alvos de Radamés, premiado em
um concurso pelo Maranhão e depois republicado em 2016 pela Editora Benfazeja,
de São Paulo.
Artur
Gomes - Qual poema escreveu quando teve uma pedra no meio do
caminho?
Ricardo Leão - Muitos. Alguns de meus poemas
foram pedras em meu caminho durante anos. Um deles, um dos mais elogiados e
conhecidos, Exercício de metalinguagem,
demorei 10 anos burilando sua forma e escrita.
Artur
Gomes - Revisitando Quintana: você acha que depois dessa crise
virótica pandêmica, quem passará e quem passarinho?
EXERCÍCIO DE METALINGUAGEM
&. Esquecer a linguagem do homem
e sorvê-la, líquida e lenta:
fazê-la mais espessa e mais densa,
mais grave que o eco dos abismos.
&. Fazê-la mais leve que a manhã
ou a noite, para após apurá-la
no
mais seco e lúcido silêncio,
e tenha algo de belo e amargo.
&. Para que tenha algo de insípido,
e que seja aguda e corrosiva;
e flua, diuturna e transparente,
em sílabas acres e paladares.
&. Esquecer a linguagem ou o homem,
atomizá-lo dentro do poema,
para que, enfim, a palavra cresça,
e pulse entre as colunas do eterno.
Ricardo
Leão
- Não tenho a mínima ideia. Sei que há muitos perversos no poder, e perversos
no poder é a coisa mais difícil de arrancar, pois as pessoas ficam intoxicadas
pela perversidade durante algum tempo. Mussolini ascendeu ao poder em 1922 e só
caiu em 1945. As ditaduras franquista e salazarista atravessaram 50 anos de
poder. Os tempos são outros, mas a liberdade é algo frágil. Sinto que estamos
cada vez mais próximos de perdermos nossas liberdades individuais que em
qualquer outra época conhecida de nossas existências, em muitos países. Talvez
nós passemos, e os abutres fiquem por um tempo que não podemos mensurar, pois
estaremos mortos.
Artur
Gomes - Escrevendo sobre o livro Pátria A(r)mada, o poeta e
jornalista Ademir Assunção, afirma
que cada poeta tem a sua tribo, de onde ele traz as suas referências. Você de
onde vem, qual é a sua tribo?
Ricardo
Leão
- Sou nascido em São Luís do Maranhão. Portanto, São Luís é a minha tribo.
Orgulhosamente. Aprendi a escrever poesia por causa, sobretudo, de poetas
maranhenses, em São Luís. É a minha Ítaca.
Artur
Gomes - Nos dias atuais o que é ser um poeta, militante de
poesia?
Ricardo
Leão
- Acho que ser poeta é essencialmente ser um artista da palavra, como um músico
é um artista da composição musical, ou um pintor é um artista da expressão
visual sobre uma tela. Acho a palavra
“militante” de origem semântica muito militar, aquele que combate e luta, e
não gosto de conotações e existências militarizadas. Penso que não devemos nos
alienar, entretanto, da existência e da luta contra os perversos. Mas isso
requer algo que já fazemos: a capacidade de ridicularizar e expor os perversos
através da arte. É isso que a arte tem feito ao longo dos séculos: denunciar os
desumanizados, aqueles que têm sede de poder pelo poder, os que desejam massacrar
o humano e impor o desumano e a perversão, o nada, o sofrimento. Ser um artista
é, essencialmente, ser um inconformado com o sofrimento humano, em todas as
suas formas.
Artur
Gomes - Que pergunta não fiz que você gostaria de responder?
Ricardo
Leão
- Nenhuma. Estou satisfeito.
Fulinaíma
MultiProjetos
portalfulinaima@gmail.com
(22)99815-1268 - whatsapp
Nenhum comentário:
Postar um comentário