sábado, 2 de maio de 2020

Nathan Sousa - EntreVistas


Meu contato com o Nathan Sousa, não tem nem um mês, se deu ao me deparar com uma postagem  da sua resenha para o livro Espólio, de Rubervam Du Nascimento, poeta piauiense de minha convivência que data lá dos anos 90. Com o Rubervam, o contato pessoal se deu por conta da Mostra Visual de Poesia Brasileira - Mário de Andrade 100 An0s,  em 1993, no Alpharrabio, em Santo André, onde ele apresentou a performance com poesia do seu livro A Profissão dos Peixes.

Em 1994 estivemos reunidos em  Teresina, com uma edição especial da Mostra Visual de Poesia Brasileira, em homenagem a Torquato Neto e Mário Faustino. Me lembro que Rubervam cavou céus e terra para conseguir condições de levarmos a Teresina com uma troup  formada por  Dalila Teles Veras, Carlos Careqa,  J Medeiros, e Jommard Muniz de Britto.

Nathan Sousa (Teresina, 1973), é ficcionista, poeta, letrista e dramaturgo. Tecnólogo em Marketing. É autor de vários livros, dentre eles, Um esboço de nudez (2014), Mosteiros (2015), Nenhum aceno será esquecido (2015), Semântica das aves (2017) e O tecido das águas (2019) – Coleção Século XXI, da Academia Piauiense de Letras. Venceu por 05 vezes os prêmios da União Brasileira de Escritores. Foi finalista do prêmio Jabuti 2015 e do I Prémio Internacional de Poesia António Salvado. Trabalha com escrita criativa. É colunista do blog da revista Revestrés. Tem poemas traduzidos para o inglês, francês, espanhol e italiano. Recebeu a Medalhada da Ordem do Mérito Renascença.

Artur Gomes – Como se processa o seu estado de poesia?

Nathan Sousa - Tenho sempre a impressão de que a minha poesia nasce da junção inesperada entre minha experiência de vida e minha interpretação estética através da leitura. É sempre um momento onde alguma coisa em minha memória ou no subsolo do meu inconsciente é provocada. Não há ocasião exata, mas eu tento (às vezes obtendo sucesso) parar em algum local (seja em casa ou no meio de uma BR) para refletir ou somente para contemplar alguma paisagem. Em alguns casos o poema vem.

Artur Gomes - Seu poema preferido? Próprio. Ou de outro poeta de sua admiração.

Nathan Sousa - Diante desta pergunta, sempre me vem à mente o poema TARDE DE MAIO, do Drummond.

Artur Gomes - Qual o seu poeta de cabeceira?

Nathan Sousa - Isso varia muito. Já foi Drummond, Gullar, Ezra Pound... Há alguns meses tem sido José Lezama Lima.

Artur Gomes - Em seu instante de criação existe alguma pedra de toque, algo que o impulsione para escrever?

Nathan Sousa - Dois temas têm me atraído mais, embora eu não possa afirmar com precisão os motivos que me levam a eles: o corpo e a banalidade da vida comum.

Artur Gomes - Livro que considera definitivo em sua obra?

Nathan Sousa - De uns tempos pra cá tenho relido os livros que publiquei para não andar patinando em novas propostas de escrita. Eu não me sentiria bem em repetir os recados. Se alguém me fizer essa pergunta amanhã eu poderei mudar de opinião sem o menor receio. Hoje, o que me vem à mente é MOSTEIROS (Penalux, 2015).

Artur Gomes - Além da poesia em verso já exercitou ou exercita outra forma de linguagem com poesia?

Nathan Sousa - Sou também letrista com 30 músicas gravadas e compostas em parceria.

Artur Gomes - Qual poema escreveu quando teve uma pedra no meio do caminho?

Natha Sousa - Todos. O primeiro talvez tenha tido a pedra maior ou mais pesada: COMBATE

COMBATE

Escrever poemas
é como rasgar a camisa,
mostrar o peito,
se armar com
uma faca cega,
olhar no olho
do mundo
e autorizar:
pode vir!

Artur Gomes - Revisitando Quintana: você acha que depois dessa crise virótica pandêmica, quem passará e quem passarinho?

Nathan Sousa  – Não acredito em uma transformação humana em massa, como querem nos fazer crer alguns supostos profetas do mundo capitalista. Os poetas (os verdadeiros poetas) vão continuar denunciando a vida e sua ausência.

Talvez um novo modo de vida, onde as pessoas poderão passar mais tempo em locais reclusos, intensificando ainda mais a comunicação virtual, torne possível a descoberta novas vozes ou a redescoberta de vozes poéticas perdidas nas valas do esquecimento. Isso se ainda tiver quem tenha interesse em poesia.

 Artur Gomes - Escrevendo sobre o livro Pátria A(r)mada, o poeta e jornalista Ademir Assunção, afirma que cada poeta tem a sua tribo, de onde ele traz as suas referências. Você de onde vem, qual é a sua tribo?

Nathan Sousa  -Minha poesia (e também a minha prosa) está totalmente inserida com a complexidade geo-humana do homem da região do Médio Parnaíba Piauiense, berço de minhas raízes (e do restante da árvore). Sou um poeta, ficcionista e dramaturgo que concebe o mundo com um pé na literatura como riqueza e manifestação cultural (García Márquez, Roberto Bolaño, Eliot, Camus, Beckett...), outro no inevitável (e muitas vezes invisível) que compõe o tecido de minha realidade (pista de asfalto, vegetação rasteira, o cerrado, comida caseira, dinheiro curto, perdas irreparáveis, moto, garrafas de cerveja, o rock in roll...). Eu venho de onde ninguém escrevia poemas. Só duravam enquanto a vida seguia.

 Artur Gomes – Nos dias atuais o que é ser um poeta, militante de poesia?

Nathan Sousa -  É saber-se dotado de voz sem querer que alguém lhe dê ouvido. É saber que podemos, através da palavra, denunciar o que está por detrás do véu (ou da cortina, cada dia mais pesada). Hoje, o poeta é – muito mais que antes – um sinalizador de estradas esquecidas.

 Artur Gomes - Que pergunta não fiz que você gostaria de responder?

Nathan Sousa - Que dia vamos tomar uma boa cerveja em algum restaurante da BR-343, ao som de Led Zeppelin?

Artur Gomes - Em 1994 estive em Teresina levado pelo poeta Rubervam Du Nascimento, para uma edição especial da Mostra Visual de Poesia Brasileira em homenagem a Torquato Neto e Mário Faustino. Beber uma gelada ao som do Led Zeppelin, tudo de bom e possível.

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3 comentários:

  1. Belíssima entrevista com o poeta Nathan Sousa. Gostei da definição: " o poeta é um sinalizador de estradas esquecidas" Parabéns!

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  2. Sempre ler o que Nathan Sousa entende sobre criação poética.

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  3. Que entrevista espetacular! Lúcida, lírica, forte e lindamente poética! Salve Nathan Sousa! Grande abraço

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