Meu contato com o Nathan
Sousa, não tem nem um mês, se deu ao me deparar com uma postagem da sua resenha para o livro Espólio, de Rubervam Du Nascimento, poeta piauiense
de minha convivência que data lá dos anos 90. Com o Rubervam, o contato pessoal se deu por conta da Mostra Visual de Poesia Brasileira - Mário de Andrade 100 An0s, em 1993,
no Alpharrabio, em Santo André, onde ele apresentou a performance com poesia do
seu livro A Profissão dos Peixes.
Em 1994 estivemos reunidos em Teresina, com uma edição especial da Mostra Visual de Poesia Brasileira, em
homenagem a Torquato Neto e Mário Faustino. Me lembro que Rubervam cavou céus e
terra para conseguir condições de levarmos a Teresina com uma troup formada por Dalila Teles Veras, Carlos Careqa, J Medeiros, e Jommard Muniz de Britto.
Nathan Sousa (Teresina, 1973), é
ficcionista, poeta, letrista e dramaturgo. Tecnólogo em Marketing. É autor de
vários livros, dentre eles, Um esboço de nudez (2014), Mosteiros
(2015), Nenhum aceno será esquecido (2015), Semântica
das aves (2017) e O tecido das águas (2019)
– Coleção Século XXI, da Academia Piauiense de Letras. Venceu por 05 vezes os
prêmios da União Brasileira de Escritores. Foi finalista do prêmio Jabuti 2015
e do I Prémio Internacional de Poesia António Salvado. Trabalha com escrita
criativa. É colunista do blog da revista Revestrés. Tem poemas
traduzidos para o inglês, francês, espanhol e italiano. Recebeu a Medalhada da
Ordem do Mérito Renascença.
Artur Gomes – Como se processa o seu estado de
poesia?
Nathan Sousa - Tenho
sempre a impressão de que a minha poesia nasce da junção inesperada entre minha
experiência de vida e minha interpretação estética através da leitura. É sempre
um momento onde alguma coisa em minha memória ou no subsolo do meu inconsciente
é provocada. Não há ocasião exata, mas eu tento (às vezes obtendo sucesso)
parar em algum local (seja em casa ou no meio de uma BR) para refletir ou
somente para contemplar alguma paisagem. Em alguns casos o poema vem.
Artur Gomes - Seu poema preferido? Próprio. Ou de
outro poeta de sua admiração.
Nathan Sousa - Diante
desta pergunta, sempre me vem à mente o poema TARDE DE MAIO, do Drummond.
Artur Gomes - Qual o seu poeta de cabeceira?
Nathan Sousa - Isso
varia muito. Já foi Drummond, Gullar, Ezra Pound... Há alguns meses tem sido
José Lezama Lima.
Artur Gomes - Em seu
instante de criação existe alguma pedra de toque, algo que o impulsione para
escrever?
Nathan Sousa - Dois temas
têm me atraído mais, embora eu não possa afirmar com precisão os motivos que me
levam a eles: o corpo e a banalidade da vida comum.
Artur Gomes - Livro que considera definitivo em
sua obra?
Nathan Sousa - De uns
tempos pra cá tenho relido os livros que publiquei para não andar patinando em
novas propostas de escrita. Eu não me sentiria bem em repetir os recados. Se
alguém me fizer essa pergunta amanhã eu poderei mudar de opinião sem o menor
receio. Hoje, o que me vem à mente é MOSTEIROS
(Penalux, 2015).
Artur Gomes - Além
da poesia em verso já exercitou ou exercita outra forma de linguagem com
poesia?
Nathan Sousa - Sou também letrista com 30 músicas
gravadas e compostas em parceria.
Artur Gomes - Qual
poema escreveu quando teve uma pedra no meio do caminho?
Natha Sousa - Todos.
O primeiro talvez tenha tido a pedra maior ou mais pesada: COMBATE
COMBATE
Escrever poemas
é como rasgar a camisa,
mostrar o peito,
se armar com
uma faca cega,
olhar no olho
do mundo
e autorizar:
pode vir!
Artur Gomes - Revisitando
Quintana: você acha que depois dessa crise virótica pandêmica, quem passará e
quem passarinho?
Nathan Sousa – Não acredito em uma transformação humana em
massa, como querem nos fazer crer alguns supostos profetas do mundo
capitalista. Os poetas (os verdadeiros poetas) vão continuar denunciando a vida
e sua ausência.
Talvez um novo modo de vida, onde as
pessoas poderão passar mais tempo em locais reclusos, intensificando ainda mais
a comunicação virtual, torne possível a descoberta novas vozes ou a
redescoberta de vozes poéticas perdidas nas valas do esquecimento. Isso se
ainda tiver quem tenha interesse em poesia.
Artur Gomes - Escrevendo
sobre o livro Pátria A(r)mada, o poeta e jornalista Ademir Assunção, afirma que cada poeta tem a sua tribo, de onde ele
traz as suas referências. Você de onde vem, qual é a sua tribo?
Nathan Sousa -Minha poesia (e também a minha prosa) está
totalmente inserida com a complexidade geo-humana do homem da região do Médio
Parnaíba Piauiense, berço de minhas raízes (e do restante da árvore). Sou um
poeta, ficcionista e dramaturgo que concebe o mundo com um pé na literatura
como riqueza e manifestação cultural (García Márquez, Roberto Bolaño, Eliot,
Camus, Beckett...), outro no inevitável (e muitas vezes invisível) que compõe o
tecido de minha realidade (pista de asfalto, vegetação rasteira, o cerrado,
comida caseira, dinheiro curto, perdas irreparáveis, moto, garrafas de cerveja,
o rock in roll...). Eu venho de onde ninguém escrevia poemas. Só duravam
enquanto a vida seguia.
Artur Gomes – Nos
dias atuais o que é ser um poeta, militante de poesia?
Nathan Sousa - É saber-se dotado de voz sem querer que alguém
lhe dê ouvido. É saber que podemos, através da palavra, denunciar o que está
por detrás do véu (ou da cortina, cada dia mais pesada). Hoje, o poeta é –
muito mais que antes – um sinalizador de estradas esquecidas.
Artur Gomes - Que
pergunta não fiz que você gostaria de responder?
Nathan Sousa - Que
dia vamos tomar uma boa cerveja em algum restaurante da BR-343, ao som de Led
Zeppelin?
Artur Gomes - Em
1994 estive em Teresina levado pelo poeta Rubervam
Du Nascimento, para uma edição especial da Mostra Visual de Poesia
Brasileira em homenagem a Torquato Neto e Mário Faustino. Beber uma gelada ao
som do Led Zeppelin, tudo de bom e possível.
Fulinaíma MultiProjetos
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Belíssima entrevista com o poeta Nathan Sousa. Gostei da definição: " o poeta é um sinalizador de estradas esquecidas" Parabéns!
ResponderExcluirSempre ler o que Nathan Sousa entende sobre criação poética.
ResponderExcluirQue entrevista espetacular! Lúcida, lírica, forte e lindamente poética! Salve Nathan Sousa! Grande abraço
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