domingo, 3 de maio de 2020

Sady Bianchin - EntreVistas



Conheço Sady Bianchin já há algumas boas décadas, pelas andanças poéticas pelo Rio de Janeiro, pelas noites cariocas, e nos encontros e festivais de arte e poesia. Em 2002 ele compôs a comissão julgadora do IV FestCampos de Poesia Falada, em Campos dos Goytacazes-RJ, até 2016 esteve presente no Congresso Brasileiro de Poesia em Bento Gonçalves-RS. Foi lá em 2016 o lançamento do seu livro TRÁFICOS UTÓPICOS. No Rio foram inúmeros os nossos encontros e um dos últimos se deu no dia 11 de outubro de 2019 na Balbúrdia Poética, em La Taberna de Laura, em Copacabana.  Vale lembrar que o nome Balbúrdia Poética, me foi sugerido por ele em uma das edições do Sarau POLEM, quando num bate papo, lhe disse que estava pensando em agitar  uma FARRA POÉTICA.

Sady Bianchin - Poeta, ator, jornalista, diretor teatral e sociólogo. Doutor em Teatro e Sociedade pela Universidade de Roma- Itália, mestre em Ciência da Arte - UFF. Publicou cinco livros de poesia, entre eles: Nervo Exposto, Poesia no sentido litoral Circo Armado e TRÁFICOS UTÓPICOS . Professor de dramaturgia, cultura brasileira e sociologia nas Faculdades Integradas Hélio Alonso - FACHA, Professor de Estética e cultura de massa na Universidade Candido Mendes - UCAM, coordenador d Pós-Graduação em Gestão da Cultura na Universidade Estácio de Sá - UNESA. Criou os projetos de poesia : Rio de Versos, Barca das Dez, Ponte de Versos e Fórum Poesia no Rio de Janeiro. Atualmente é Secretário de Cultura da cidade de Maricá-RJ

Leiam poemas do autor em: http://www.almadepoeta.com/sadybianchin.htm

 Artur Gomes -  Como se processa o seu  estado de poesia?

Sady Bianchin -  Pelas ruas. Pelas mesas de bares, pelas esquinas, pelas passeatas, pelos cafés, pelas universidades. O meu processo de criação vêm destas caminhadas do cotidiano que é mágico, sou um observador atento, um passeador pela realidade social. Gosto de me debruçar sobre a existência, escrever e interpretar para o povo. 

Artur Gomes - Seu poema preferido? Próprio. Ou de outro poeta de sua admiração

Sady Biachin - Meu poema próprio é difícil escolher, mas gosto de BIOGRAFIA  do livro TRÁFICOS UTÓPICOS.



De outros poetas: Cântico Negro de José Régio   E Agora José de Carlos Drummond de Andrade e As Aventuras de Maiakóvski No Verão de Datcha de V. Maiakóvski. 

BIOGRAFIA
Nesta vida / morrer não é difícil / o difícil é a vida / e seu ofício - 
(Vladimir Maiakóvski)

Chegou na contramão rio acima
conquistou a solidão das estrelas
narrou a saga amordaçada na esquina
inventou um revolto mar de letras.

Correu atrás do redemoinho do vento
bebeu num último gole a tempestade
matou a sede dos dias
juntou nas sobras do tempo.

Molhou a língua na poesia
experimentou a liberdade maldita
esqueceu a alma nas ruas
acreditou na cidade cerzida.

Pensou nos dilemas da vida comum
resistiu na dignidade do marxismo
atravessou as águas das incertezas
descobriu o atalho para o êxtase.

Bateu o martelo na sombra das palavras
transitou entre o claro e o escuro
guardou o silêncio no bolso, na gibeira
explodiu as pontes, a fé cega do muros.

Perdeu a lucidez na encruzilhada
abortou o suicídio, desconstruiu a cena
acabou no corpo do poema
- pagou o preço por sua coerência.

"Faz tempo que para pensar sobre Deus não leio os teólogos. leio os poetas". (Rubens Alves)

Artur Gomes - Qual o seu poeta de cabeceira?

 Sady Bianchin - Vladimir Maiakóvski. 

Artur Gomes - Em seu instante de criação existe alguma pedra de toque, algo que o impulsione para escrever?

 Artur Gomes -  Livro que considera definitivo em sua obra?

Sady Bianchin - O próximo, rsrsrs! Mas o marcante foi : Poesia no sentido litoral. Gang edições. 

Artur Gomes - Em seu instante de criação existe alguma pedra de toque, algo que o impulsione para escrever?

Sady Bianchin - Cachaça e café com leite. 

Artur Gomes - Além da poesia em verso  já exercitou ou exercita outra forma de linguagem com poesia?

Sady Bianchin - Utilizo a poesia em verso numa simbiose com o teatro, a música e o cinema. 

Artur Gomes - Qual poema escreveu quando teve uma pedra no meio do caminho¿

Sady Bianchin - ELES VERÃO do livro Tráficos Utópicos, Ed. Mais que Palavras .

ELES VERÃO

O sonho suado transbordante
que arrasta a realidade.

Eles têm medo
dos poetas que incomodam.

Eles têm medo
da alegria que somos capazes
de arrancar do futuro.

Eles têm medo
daqueles que inventam o mar
na pia do banheiro
e as estrelas no céu da boca.

Eles têm medo
dos que andam com a cabeça-madura
enquanto os pés estão numa verde-aventura.

Eles têm medo
do jogo transparente onde o goleiro
é um doido de pedra embaixo
de uma trave de arco-íris.

Eles têm medo
de uma arte diferente
que ilumina o cotidiano
com a fúria que nos amanhece
de uma lua quebrada da paixão
ou feito um lingote incandescente
retirado dos fornos profundos
das usinas metalúrgicas.

Recomecemos o mundo!

"Se tens um coração de ferro, bom proveito.
O meu, fizeram-no de carne, e sangra todo dia."
(José Saramago)

Artur Gomes - Revisitando Quintana: você acha que depois dessa crise virótica pandêmica, quem passará e quem passarinho?

Sady Bianchin - quem passará? os ignorantes de todos os segmentos da sociedade, em especial os políticos do atraso. - quem passarinho?: os poetas, os historiadores, os humanistas. 

Artur Gomes - Escrevendo sobre o livro Pátria A(r)mada, o poeta e jornalista Ademir Assunção, afirma que cada poeta tem a sua tribo, de onde ele traz as suas referências. Você de onde vem, qual é a sua tribo?

Sady Bianchin - Eu não sou daqui, nem da onde vim, trago comigo as cantigas do Mato (Grosso do Sul), da tribo Guarani Kaiowá, no Rio os territórios que me deram compasso foram os poetas da Cinelândia e do Posto Nove em Ipanema. 

Artur Gomes - Nos dias atuais o que é ser um poeta, militante de poesia?

 Sady Bianchin - poeta engajado? É pensar arte como instrumento de transformação social, é fazer poemas como exercícios diários de cidadania. É pensar o verso no fio da navalha, para cortar em fatias a justiça e servir com porções de dignidade para alimentar o imaginário do inconsciente coletivo  de um povo. 

Artur Gomes - Que pergunta não fiz que você gostaria de responder?

Sady Bianchin - O que é poesia para você?

É um atalho para o êxtase, num arco-íris deslizando rumo a terra sem males. É o lugar que escolhi para envelhecer e tecer os versos do amanhã, que até hoje persigo nos sonhos. 

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Um comentário:

  1. Grande Sady Bianchin: um poeta que faz da poesia a sua realidade de vida; e da vida, sua poesia. Parabéns! Grande beijo.

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