Na EntreVistas, que fiz com a Cinthia Kriemler, ela cita um vídeo com poema de sua autoria produzido pela Lisa Alves, (Molotov Produções), fui conferir, gostei e convidei a Lisa para este bate papo que segue.
Lisa Alves (1981, MG) é escritora e videoartista, atualmente reside no Rio de Janeiro. Escreve para a revista literária La Ninfa Eco (Oxford, UK) e coedita a Liberoamerica (Espanha). Tem textos publicados em diversas revistas, jornais e páginas literárias no Brasil, Espanha, Portugal, Moçambique, Inglaterra e Estados Unidos. Tem poemas publicados em onze antologias lançadas no Brasil, Argentina, Uruguai, Espanha e País Basco. É autora de Arame Farpado, 2ª. Edição (Penalux, 2018).
Artur Gomes - Como se processa o seu estado de poesia?
Lisa Alves - Meu estado de poesia é o tal sentimento do mundo, muitas vezes inquietante, chega a vazar e dar forma a outra criatura que pode ser um poema ou absolutamente nada. Também gosto do estado de poesia em silêncio ou apenas imagético onde o reino das palavras só habita se for realmente necessário.
Artur Gomes - Seu poema preferido? Próprio. Ou de outro poeta de sua admiração.
Lisa Alves - explicar com palavras deste mundo
que partiu de mim um barco me levando.
Alejandra Pizarnik da obra Árbol de Diana
(Trad. de Nina Rizzi)
Prefiro o cinema.
Prefiro os gatos.
Prefiro os carvalhos sobre o Warta.
Prefiro Dickens a Dostoiévski.
Prefiro-me gostando das pessoas
do que amando a humanidade.
Prefiro ter agulha e linha à mão.
Prefiro a cor verde.
Prefiro não achar
que a razão é a culpada de tudo.
Prefiro as exceções.
Prefiro sair mais cedo.
Prefiro conversar sobre outra coisa com os médicos.
Prefiro as velhas ilustrações listradas.
Prefiro o ridículo de escrever poemas
ao ridículo de não escrevê-los.
Prefiro, no amor, os aniversários não marcados,
para celebrá-los todos os dias.
Prefiro os moralistas
que nada me prometem.
Prefiro a bondade astuta à confiante demais.
Prefiro a terra à paisana.
Prefiro os países conquistados aos conquistadores.
Prefiro guardar certa reserva.
Prefiro o inferno do caos ao inferno da ordem.
Prefiro os contos de Grimm às manchetes de jornais.
Prefiro as folhas sem flores às flores sem folhas.
Prefiro os cães sem a cauda cortada.
Prefiro os olhos claros porque os tenho escuros.
Prefiro as gavetas.
Prefiro muitas coisas que não mencionei aqui
a muitas outras também não mencionadas.
Prefiro os zeros soltos
do que postos em fila para formar cifras.
Prefiro o tempo dos insetos ao das estrelas.
Prefiro bater na madeira.
Prefiro não perguntar quanto tempo ainda e quando.
Prefiro ponderar a própria possibilidade
do ser ter sua razão.
Prefiro os gatos.
Prefiro os carvalhos sobre o Warta.
Prefiro Dickens a Dostoiévski.
Prefiro-me gostando das pessoas
do que amando a humanidade.
Prefiro ter agulha e linha à mão.
Prefiro a cor verde.
Prefiro não achar
que a razão é a culpada de tudo.
Prefiro as exceções.
Prefiro sair mais cedo.
Prefiro conversar sobre outra coisa com os médicos.
Prefiro as velhas ilustrações listradas.
Prefiro o ridículo de escrever poemas
ao ridículo de não escrevê-los.
Prefiro, no amor, os aniversários não marcados,
para celebrá-los todos os dias.
Prefiro os moralistas
que nada me prometem.
Prefiro a bondade astuta à confiante demais.
Prefiro a terra à paisana.
Prefiro os países conquistados aos conquistadores.
Prefiro guardar certa reserva.
Prefiro o inferno do caos ao inferno da ordem.
Prefiro os contos de Grimm às manchetes de jornais.
Prefiro as folhas sem flores às flores sem folhas.
Prefiro os cães sem a cauda cortada.
Prefiro os olhos claros porque os tenho escuros.
Prefiro as gavetas.
Prefiro muitas coisas que não mencionei aqui
a muitas outras também não mencionadas.
Prefiro os zeros soltos
do que postos em fila para formar cifras.
Prefiro o tempo dos insetos ao das estrelas.
Prefiro bater na madeira.
Prefiro não perguntar quanto tempo ainda e quando.
Prefiro ponderar a própria possibilidade
do ser ter sua razão.
(Possibilidades, Wisława Szymborska, em “Poemas”; tradução de Regina Prazybycien)
Artur Gomes - Qual o seu poeta de cabeceira?
Lisa Alves - Já tem anos que me pego voltando ao Drummond. Parece uma relação abusiva. Porém, desde 2011 estou em um relacionamento aberto com a Wislawa Szymborska.
Artur Gomes - Em seu instante de criação existe alguma pedra de toque, algo que a impulsione para escrever?
Lisa Alves - Gosto de ouvir música.
Artur Gomes - Livro que considera definitivo em sua obra?
Lisa Alves - Só lancei um livro que foi o Arame Farpado. Espero que nem o Arame Farpado e nem o próximo sejam definitivos.
Artur Gomes - Além da poesia em verso já exercitou ou exercita outra forma de linguagem com poesia?
Lisa Alves - A poesia é o ritmo e a alma da prosa e dos meus experimentos com o audiovisual.
Artur Gomes - Qual poema escreveu quando teve uma pedra no meio do caminho?
Lisa Alves - Todos. Sempre tenho uma pedra no meio do caminho.
Artur Gomes - Revisitando Quintana: você acha que depois dessa crise virótica pandêmica, quem passará e quem passarinho?
Lisa Alves - A nossa espécie não passará ilesa, disso eu tenho certeza. Uma pandemia é algo que movimenta o mundo: em poucos meses a economia mundial mudou, as prioridades mudaram, a forma de comunicação mudou e sinto que esse movimento de mudanças continuará. Já até se falam em novas pandemias.
Artur Gomes - Escrevendo sobre o livro Pátria A(r)mada, o poeta e jornalista Ademir Assunção, afirma que cada poeta tem a sua tribo, de onde ele traz as suas referências. Você de onde vem, qual é a sua tribo?
Lisa Alves - Eu me identifico mais com a ideia da escritora sem pátria Taye Selasi que se diz cidadã dos mundos. Assim me sinto: uma cidadã dos mundos.
Artur Gomes - Nos dias atuais o que é ser um poeta, militante de poesia?
Lisa Alves - Não sei e não acredito em nenhuma resposta para essa pergunta. Somos tão diversos.
Artur Gomes - Que pergunta não fiz que você gostaria de responder?
Fulinaíma MultiProjetos
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