EntreVista concedida a minha querida amiga Eva
Seiberlich, professora de letras no IFF Campus Centro. Nosso primeiro encontro
pessoal, se deu na numa noite de abril de 2014, no bar e restaurante Dona
Baronesa em Campos dos Goytacazes, quando em cia dos parceiros Dalton Freire e
Reubes Pess, fazíamos a performance poética musical fulinaíma sax
blues poesia, lembrando os 50 anos do golpe de 1964. Em 2019, em diversos
momentos ela me levou ao encontro dos seus alunos no IFF para falar das minhas Juras
Secretas.
Eva Seiberlich - Vejo você entrelaçado com as artes. A
produção do Juras é mais "cara" intelectualmente em relação às outras
artes?
Artur Gomes – Por ser uma linguagem escrita, pode ser até que seja mais elaborada, mas de
uma certa forma, ela é fruto também, das minhas performances, do teatro que
produzo, que quase 100% dele é feito com poesia. Sinto como uma linguagem alimentando a outra, diria até
antropofagicamente: a performance mata a sua fome comendo a poesia e vive
versa.
Eva Seiberlich - Os
recursos linguísticos são a abertura para dizer o que queremos. É mais fácil
falar/sentir metaforicamente?
Artur Gomes – A realidade é nua e crua e a sua crueldade está
na faca não perfumamos para mostrá-la. Falar sentir metaforicamente não quer
dizer que seja mais fácil, as vezes se torna até muito mais doloroso se
expressar dessa forma. A trajetória da vida enquanto processo de linguagem vai nos ensinando a compreender a acumulação
de fracassos durante essa viagem interminável, que é a busca pela Arte. A palavra
não dita, por não ter sido ainda descoberta. Essa é a busca eterna, a palavra
nova, que escavada entre os dentes.
Eva Seiberlich - A partir do título, as Juras secretas
são explicitamente vivências do poeta?
Eva Seiberlich - Como se deu o processo de captação de
recursos para a feitura da obra?
Artur Gomes – Juras Secretas, foi editado pela Editora Penalux
em 2018 com recursos próprios da Editora captados através da venda dos livros. Através
da Penalux, será publicado em breve o meu próximo livro O Poeta Enquanto
Coisa, com prefácio de Igor Fagundes e texto para orelha de Nuno Rau, grande
poetas pesquisadores e estudiosos de poesia que dispensam comentários.
Eva Seiberlich - "Falar
é a sua sina". O que há de maior incômodo ainda por dizer?
Artur Gomes –Na Jura Secreta 48 defino a minha função de poeta como um devorador de sina e profanador do sacro. Os pesadelos estão aí cotidianamente a nos
incomodar. Até quando? Eis a pergunta que nenhum humano conseguirá nesse
momento responder precisamente. A poesia, é fruto da nossa inquietação, do nosso
incômodo, do nosso espanto, do nosso pânico, diante da vida e da morte. Mesmo
quando escrevemos sobre um possível estado de felicidade, é um espanto que estamos
vivendo. O “estado de poesia” é incômodo permanente. Sem ele a linguagem
é frouxa a língua é flácida. Hoje mais que nunca a realidade nos leva a pensar
e a refletir sobre Mário Faustino e os poemas do livro Vida Toda Linguagem e O
Homem E Sua Hora.
Prefácio
Quem fez esta manhã, quem penetrou
À noite os labirintos do tesouro,
Quem fez esta manhã predestinou
Seus temas a paráfrases do touro.
As tradições do cisne: fê-la para
Abandonar-se a mitos essenciais,
Desfolhada por ímpetos de rara
Metamorfose alada, onde jamais
Se exaure o deus que muda, que
transvive.
Quem fez esta manhã fê-la por ser
Um raio a fecundá-la, não por lívida
Ausência sem pecado e fê-la ter
Em si princípio e fim: ter entre
aurora
E meio-dia um homem e sua hora.
Mário Faustino
O Homem E Sua Hora – 1955
Eva Seiberlich - O que o sarcasmo(fantasioso), produzido por você de firma
inquietante, deseja refletir no outro?
Artur Gomes – O sarcasmo
a ironia, as inquietações, indagações, acompanham minha poesia, como forma de
apontar as nossas misérias, as nossas fraquezas, as feridas nas nossas fendas, na
carne e no psíquico. Eu sou o outro. Não existe outro a não seu Eu mesmo. Na
Jura Secreta 44 dou o meu mergulho nessa forma existencial do ser Poeta.
Eu sou o outro
que habita dentro do meu outro Eu
não a casca da capsula
da carcaça aqui de fora
o que se vê no espelho
é só miragem
Narciso mergulhado à própria sombra
o cavalo na folhagem
esse sim é o que se vê na tela
quando a câmera rela
o concreto da outra pessoa
que não sou.
Artur Gomes – o momento desse estar no mundo, sendo um Drummundo, é um giro por
várias referências, onde consigo me encontrar mais no fundo, mais profundo, e ao
mesmo tempo poder brincar jogar com os 5 sentidos, mesmo que eles não tragam
nenhum significado aparente, mas registra as viagens em leituras que fiz para
poder me sentir esse Drummundo. Há muito de ironia nisso também, porque não é
tão simples assim chegar a essas conclusões metafísicas na metáfora enquanto
meta.
eu sou Drummundo
e me confundo na matéria
amorosa
posso estar na fona flor da
juventude
ou atitude de uma rima
primorosa
e até na pele pedra
quando me invoco baratinho
e então provoco
um barafundo cabralino
e me letra no meu verso
estando prosa
e vou pro fundo
do mais fundo
o mais profundo
mineral Guimarães Rosa
e para concluir a resposta na Jura
Secreta 57 que é meta metáfora no poema meta o sentido do poema é uma
oração reflexiva uma prece em “estado de poesia” diante de uma sagrada musa outra onde também vou a fundo no
mais profundo fundo desse ser Drummundo.
como alcançá-la plena
no impulso onde universo pulsa
no poema onde estico o plumo
onde o nervo da palavra cresce
onde a linha que separa a pele
é o tecido que o teu corpo
veste
como alcançá-la pluma
nessa teia que aranha tece
entre um beijo outro no mamilo
onde aquilo que a pele em plumo
rompe a linda do sentido e cresce
onde o nervo da palavra sobre
o tecido do teu corpo desce
onde a teia que o alcançar
descobre
no sentido que o poema é prece.
Artur Gomes
Fulinaíma MultiProjetos
(22)99815-1268 – whatsapp
EntreVistas – www.arturgumes.blogspot.com
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