Jura secreta 54
moro no teu mato dentro
não gosto de estar por fora
tudo que me pintar eu invento
como um beijo no teu corpo agora
desejo-te pelo menos enquanto resta
partícula mínima micro solar floresta
sendo animal da Mata Atlântica
quântico amor ou metafísica
tudo que em mim não há respostas
metáfora D´alkimim fugaz Brazílica
beijo-te a carne que te cobre os ossos
pele por pele sobre as tuas costas
os bichos amam em comunhão na mata
como se fosse aquela hora exata
em que despes de mim o ser humano
e do corpo rasgamos todo pano
e como um deus pagão pensamos sexo
Artur Gomes
Juras Secretas
Editora Penalux – 2018
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lua nova
o imaginário
o su-real
a fantasia
como eu queria
ser a Cássia Eller
cantar nos seus ouvidos
:
nada disso
o tempo de espera é lua velha
a lua nova quando chega
bate a porta
abro para ver quem é
não há surpresa
é você mulher
Artur Gomes Gumes
Deito pra lua
só ela p(h)ode como eu quero
penetrar-me com sua luz de fogo
me deleitar com seu leite
eu quero a lua cheia
que me entre o mar das cochas
e me engravide com seu manto
e que não fique algum quebranto
o mal olhado o olho gordo
que me lave com seu líquido
e me leve até São Jorge
com o seu cavalo branco
Gigi Mocidade
www.porradalirica.blogspot.com
a Arte que me interessa
é sem mordaça
a muito tempo
minha boca do inferno
perdeu sua cabaça
pelo prazer de gozar
e fazer
Cristina Bezerra
teu silêncio
pedra na garganta
saliva seca
nessa língua faca
por quê não canta
a dor de cotovelo?
derruba essa parede
que te cerca
desamarra essa corda
que te enforca
rasga essa mortalha
que te mata
os lençóis da cama
amanheceram amarrotados
te vejo nas vitrines
frente a janela contra luz
nos olhos - me mostra
o litoral das costas
mar que não tem fim
mergulha que setembro
é outro tempo – o que se foi
já era – as ervas estão crescendo
nos canteiros
morremos de sede
do vinho que não bebemos
e do amor que não fizemos
Gigi Mocidade
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o sal que escorre
sobre tuas costas
é mar de esperma
que vai fecundar
entre tuas coxas
mariscos ostras
peixes vários
na explosão das algas
quando o mar do cio
em eclosão atlântica
for comunhão de olgas
e as conchas grávidas
de sereias
parir em seus ouvidos
Federico Baldelaire
o mestre hoje me deixou sem palavras tive que me fingir de santa quase fiquei de quatro embora lendo as cartas de Rimbaud tive que concordar com ele aos 17 18 anos realmente meu corpo não cabia nos panos
Rúbia Querubim
https://arturfulinaima.blogspot.com/
poética 58
se a negritude ameríndia
do meu canto
lhe causa desconforto
insana criatura
não se assuste com essa química
isso se chama Sagaranagens Fulinaímicas
meu girassol de metáforas
meu caldeirão de misturas
Artur Gomes
O Poeta Enquanto Coisa
não tenho panos
fico nua para o vento
relâmpagos trovões
tempestades temporais
e ventania
não tenho em mim calmaria
trago vulcões em pensamento
Federika Lispetor
alfândega
em santa cruz de la sierra
o poema e o anjo torto
se beijam num copo de vodka
com pimenta boliviana
e traçam Maydoida cigana
que me deixou no desconforto
Federico Baudelaire
https://fulinaimagemfreudelerico.blogspot.com/
hoje vou comer
a coxinha da paulista
vou comer fiado
vou comer de graça
coxinha só se paga a prazo
a perder de vista
na pia no banheiro
no telhado na cozinha
coxinha se come aos montes
nas ruas nas praças
nos palácios nas garagens
coxinha é massa
de manobra
amassada com trigo com farinha
carne que se presta
pra usar comer e jogar na lata de lixo
coxinha não é gente
é pior que bixo
Gigi Mocidde
SagaraNAgens
a terra aqui é vermelha
branca - é a carne de dracena
tudo cena -
dela só quero a boca
seus olhos de fogo me engolem
da janela em frente
estou no oitavo andar de um hotel qualquer
seus pelos são pétalas eletrizantes
de um maldito mal-me-quer
ajeito o foco da lente
para vê-la de perto
avisto a púbis de vênus
a língua cresce
não seria por menos
nem no mais banal dos melodramas
com essa linda louca que me acena
aqui agora no meu quarto
embaixo dos lençóis na minha cama
Artur Gomes
www.porradalirica.blogspot.com
Subversiva 1
Eu não sou santa
nem casta
a vida é bruta
e não me basta
vou a luta
*
uma quadrilha
de filhos da puta
tomou o Planalto de assalto
o lugar deles é a lata de lixo
de onde nunca deveriam ter saído
vamos enxotar essa putada
varrer do mapa esses canalhas
nem que seja a golpe de gilete
a fios de navalhas
se é esse jeito ou única saída
subverter a ordem
acelerar o ritmo da libertação
a Arte é arma
e não temos tempo
de Temer a morte
Arte é intervenção da massa
armemos o povo
para o povo entender
e aprender a Ocupar
Democracia é palavra gasta
“a arte existe
porque a vida não basta”
se a massa está inerte
vamos fermentá-la
vamos fomentá-la
com fermento do biscoito fino
antes do anoitecer
“quem sabe faz a hora
não espera acontecer”
vamos a hora é essa
eu tenho pressa
não temos tempo pra espera
o trem das onze está partindo
e quem perder já era
Gigi Mocidade
setembro - 2019
www.porradalirica.blogspot.com
bolivariando 2
eu sempre andei
no encalço
dos olhos de carolina
na fantasia
dos meus passos
tem confete/serpentina
onde o profano e o sagrado
em puerto viejo
cavajarro se encontram
em outro tom
a cigana boliviana
com seus olhos de pimenta
com suas pimentas nos olhos
me levou para lá sierra
de santa cruz da Bolívia
onde se masca folhas de coca
antes do coito das cinco
sem chá e nem torrada
e cerveja muito menos
o sexo ali é na porrada
com fogos de artifícios comendo
no carnaval do mato dentro
Artur Gomes
www.porradalirica.blogspot.com
linguagem
abraço este poema
como se beijasse meu poeta
com suas linhas tortas
em meu corpo tatuado
teu nome e sobrenome
como um gozo ardente
tua língua ativa
me lambendo quente
e todo líquido escorrendo
por entre o vão dos dentes
Gigi Mocidade
www.porradalirica.blogspot.com
a cara a tapa
tenho minha arma na língua
não nas coxas
veneno na saliva
só a cara é de anjo
o sal da ilha de creta
a pedra da boa viagem
tenho na bagagem
faca, estilete, canivete
afiada navalha
para raspar pentelhos
rasgar bandeiras
dessas cara/velas
da milenar tropicanalha
Gigi Mocidade
www.porradalirica.blogspot.com
Eros
tua blusa de seda
entre meus dentes
o nó se desfez depois do vinho
sob as folhas dos parreirais
vale - os vinhedos
quantas vezes Eros
eletrizou os nossos dedos?
Federico Baudelaire
Tempo Poético
Para Isadora Chiminazzo Predebon
O tempo é o senhor
dos meus ponteiros de músculos
relógio oculto no incons/ciente
o tempo
nos olhos daquela viagem
a paisagem
Caminho de Pedras
o cenário
Vale dos Vinhedos
o tempo
guardo em segredo
como uma Jura Secreta
na íris dos olhos dela
na face oculta da noite
na retidão clara do dia
como um concha na areia
o tempo mar de espumas
sargaço algas noturnas
a carne do corpo também
o vinho do tempo na boca
e a língua dizendo amém
Artur Gomes
O Poeta Enquanto Coisa
Editora Penalux – 2018
www.secretasjuras.blogspot.com
Profanalha Nu Rio
a flecha de são sebastião
como ogum de pênis/faca
perfura o corpo da glória
das entranhas ao coração
do catete ao largo do machado
onde aqui afora me ardo
como bardo do caos urbano
na velha aldeia carioca
sem nenhuma palavra bíblica
e muito menos avária
: orgasmo é falo no centro
lá dentro da candelária
Artur Gomes
Poética 48
era quase uma menina
nem bem sei se era
pois me dera amor carnal
como eu quiser
como nunca antes
outra mulher me dera
Federika Lispector
Fricção
quem passou a língua
nas coxas da Caipora?
me pergunta Federico Baudelaire
cheirando as Flores d0 Mal
no Sarau de EuGênio Mallarmè
Gigi então invoca
a Dona Santa Federika
que baixa na mesma hora
- ora bolas fui eu
com minha língua de faca
cortei a cara da vaca
a começar pelas coxas
depois subi pelo corpo
até o buraco da boca
e meti a língua na língua
e na suruba das línguas
a dela mordendo a minha
a minha mordendo a dela
a Arte então se revela
não existe Arte sem língua
nem Teatro sem linguagem
a Arte é uma grande suruba
e o resto mais é paisagem
Cristina Bezerra
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