terça-feira, 22 de setembro de 2020

Tchello d´Barros EntreVista Artur Gomes

 


 Tchello d´Barros é um multi artista, poeta cineasta design gráfico,  amigo parceiro que conheci em 2003 em Bento Gonçalves numa das Edições do Congresso Brasileiro de Poesia. De lá prá cá, foram muitas as vezes em que estivemos juntos em alguma ação com Arte, entre elas as duas últimas edições da Mostra Internacional de Poesia Visual realizadas em Bento Gonçalves-RS com curadoria dele. Como as afinidades entre nós são múltiplas, formamos  uma santíssima trindade no Kino 3, que conta também com a participação de um outro parceiro,  Jiddu Saldanha.

Tchello d´Barros - Considerando-se que não existe um padrão entre autores para o processo criativo, poderia nos contar se você tem algum ritual ou procedimento para a criação de seus poemas?

 Artur Gomes – Planejado não, o ritual acontece naturalmente, pode ser depois de um vinho uma cerveja, um ato consumado, ou o olhar sobre coisas simples que para muitos possa parecer insignificantes. Mas ultimamente o processo criativo tem sido a tentativa de desconstrução diante desse estado pandemônico que estamos vivendo. Essa tragédia bárbara que estamos enfrentando que não é provocada apenas  por um vírus, mas também,  por todo descaso de um verme, que prometeu se eleito matar 30 mil, e hoje já matou 120 mil a mais que o prometido.

 Tchello d´Barros - Para além da poesia escrita e falada, você  é um artista multilinguagens (ou multimídia, como preferem alguns) que transita pela fotografia, o audiovisual, o teatro, a performance e a música. De que forma sua criação poética se situa nas outras linguagens artísticas?

Artur Gomes – Todas essas outras linguagens por onde transito tem a poesia como ponto de partida. Fui em busca de aprender a lidar com cada uma delas, para ampliar as possibilidades de uma maior divulgação da poesia, não tenho outro objetivo que não seja este. Hoje minha linguagem poética é essa uma fusão verso prosa ficção teatro povoada de imagens teatrais e cinematográficas, Teatro Cinema Fotografia Música, são paixões que me alimentam a escrever mais e mais.

 Tchello d´Barros - Artur Gomes é um poeta solar? Sim ou não e porquê? Defenda seu argumentos com alguns dísticos extraídos de seus poemas.

 Artur Gomes – Alguns de meus poemas posso dizer que são extremamente solares, mesmo quando escritos pelas madrugadas boêmias. Raramente escrevo algo sob o sol que eu vá aproveitar depois. Quase sempre é um rascunho, uma anotação, de idéias imagéticas, que surgem quando estou caminhando ou pedalando, pelo litoral de Chico City. a nova Sucupira do Itabapoana.  Se formos analisar os meus poemas, com relação ao tempo onde a ação contida neles ocorre, podemos dizer que são noturnos:

 A noite inteira

invento Joplin na fagulha

Jorrando Cocker na fornalha

 Mas a melhor resposta para essa pergunta, talvez esteja  na própria poética  do meu O Poeta Enquanto Coisa - Editora Penalux - 2020

Tchello d´Barros - Boa parte de sua produção poética aborda as questões sociais com forte tom crítico às questões políticas, o que nos lembra Maiakovski e tantos outros. Na contemporaneidade, a poesia engajada ainda tem força para conscientizar e levar as pessoas à ação?

Artur Gomes – Procuro não levar essa conscientização como fato principal na poesia, visto que naturalmente ela já é impactante enquanto linguagem. Eu acredito que qualquer poeta com um pouco de vivência, não tem como fugir dessas questões sócio políticas que enfrentamos, Muitas vezes, para lidar com isso, de uma forma makis irônica escrevo poemas eróticos, desbravados, sarcásticos, como forma de ironizar   esse falso moralismo dessa horrorosa família cristã brasileira. 

 Tchello d´Barros - A mulher é um tema recorrente em sua obra e por conseguinte, a temática universal da relação amorosa. Com as recentes emancipações da mulher na sociedade e respectivos empoderamentos do feminino, o que mudou em suas musas do início da carreira para as da atualidade?



 Artur Gomes – Acredito que a grande mudança se deu, na maturidade da escrita, a renovação constante da linguagem. As musas continuam sendo o que a terra mãe terra continua me ofertando estado de sítio estado de surto estado de cio. As musas podem ser Dandara, Micaela, Juliana, Mayara, Afrodite, Vênus, Gigi, Federika que o estado de poesia para com elas é o prazer, o gozo no instante da  escrita, o êxtase de chegar ao fim de um poema e a sensação da liberdade de poder descrever por onde o  imaginário viajou. Não importa se delírio ou surto. Essa luta, esse atual empoderamento feminino, é maravilhoso, para o mundo machista em que vivemos, ele me dá até mais motivações para expandir a criação com os meus personagens femininos. No livro Juras Secretas - Editora Penalux - 2018 a mulher é a grande musa a nortear a maior parte dos poemas que estão no livro. 

 certa vez em Teresina

uma menina me chamou de Torquato

pelo meu Vapor Barato

uma outra me chamou de Faustino

por entender no meu poema

um sotaque feminino 

Nos meus próximos livro O Homem Com A Flor Na Boca e Da Nascente A Foz - Um Rio de Palavras abordo com mais ênfase essas questões. 

 Tchello d´Barros - No paralelo de tudo, você sempre esteve também ligado a assim chamada Poesia Visual, seja organizando as diversas edições da Mostra Visual de Poesia Brasileira ou colaborando em projetos assim em importantes congressos e eventos em diversos Estados. Em sua percepção para quais caminhos se dirige esta modalidade poética?

Artur Gomes – Sim em 1983 criei o Projeto Mostra Visual de Poesia Brasileira e  por 11 anos realizei exposições com todas as linguagens poéticas contemporâneas, produzi muita poesia visual, colagens, criadas com retalhos, utilizando papel, tecido, letras, e utilizando a serigrafia como técnica de impressão. As exposições foram realizada em diversas e cidades do Estado do Rio de Janeiro, em São Paulo e Teresina-PI.  De 1996 a 2016 colaborei na realização da Mostra Internacional de Poesia Visual, realizada em Bento Gonçalves-RS, durante a programação do Congresso Brasileiro de Poesia.

 Tchello d´Barros - Qual a razão do fenômeno do desmatamento coletivo do monte-de-vênus?

Dandara - também conhecida como Helena de Troia 

Artur Gomes – Bem, só posso te responder essa pergunta metaforicamente, porque existe também o desmatamento de muitos montes claros espalhados por aí. Desde o início das minhas idas e vindas a Bento Gonçalves, que as deusas do vinho as virgens de Bento e de Bacco, começaram a povoar o meu imaginário e as minhas camas de vinhas. 

Para entender os porquês andei pesquisando mitologia grega, e encontrei muitas afinidades com deusas da mitologia africana, que antes eu já conhecia um pouco. O monte-de-vênus é cobiçado por deuses e deusas, para o seu desatamento coletivo existe sempre  batalhas imensas quase sempre vencidas por Helena que  me leva sempre na garupa do seu  Cavalo de Troia.

 

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Um comentário:

  1. Que dupla boa pra se conhecer. Parabéns ao entrevistado e entrevistador. Artur, vc cada vez mais é uma grata surpresa.

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