quarta-feira, 16 de setembro de 2020

Paulo Sabino - EntreVistas

 

Conheci Paulo Sabino, ao vivo, no Centro Cultural da Justiça Federal, na Lapa,  Rio de Janeiro,  em junho de 2018 noite dedicada a uma mesa de debates sobre Poesia Visual, organizada por Tchello d´Barros, onde eu era homenageado.  Para minha surpresa pós encerramento do bate papo, Paulo Sabino leu texto de sua autoria descrevendo a minha trajetória poética, antes que eu começasse a autografar o meu livro Juras Secretas, o texto este que  se tornou posfácio do livro O Poeta Enquanto Coisa.

 A partir desta noite o adicionei no face, e venho acompanhado toda sua trajetória com os projetos poéticos que produz no Rio de Janeiro.

Paulo Sabino - Poeta, edita o site literário "Prosa em poema" (https://prosaempoema.com/). Coordenador e curador do selo de poesia Bem-Te-Li (editora Autografia), no qual, desde 2018, editou sete autores, entre eles, os poetas Pedro RochaAmora Pêra e Eber Inácio. Idealizador e produtor dos projetos literários "Ocupação Poética", no teatro Cândido Mendes de Ipanema, em que presta homenagem à obra poética de grandes nomes (entre os já homenageados estão Martinho da VilaGeraldo CarneiroClaufe Rodrigues, André ValliasJorge SalomãoElisa Lucinda e Neide Archanjo), e "A Estante do Poeta", no Espaço Afluentes. Organizou a antologia "A Estante dos Poetas" (editora Ibis Libris), com uma seleção de poemas dos 6 participantes do projeto no ano de 2019: Adriano EspínolaAntonio Carlos Secchin, Antonio CiceroGeraldo CarneiroPaulo Henriques Britto e Salgado Maranhão. Lançou na programação paralela da FLIP 2018 o seu livro de estreia, intitulado "Um para dentro todo exterior" (selo Bem-Te-Li, editora Autografia), com quarta capa de Antonio Carlos Secchin, orelha de Antonio Cicero e prefácios de Salgado Maranhão e Nélida Piñon. Participa do programa musical "LáDóSiLar", comandado pela pianista, cantora e compositora Maíra Freitas, fazendo a seleção e leitura de poemas apresentados durante as temporadas. Em 2019 participou do projeto Poesia Visual, do Centro Cultural Oi Futuro, com a exposição "Somos Somas", que ocupou todo o térreo e primeiro andar do espaço, com videoartes onde várias personalidades - entre elas, Charles GavinMabel VellosoPéricles CavalcantiCarlos Rennó e Claudia Roquette-Pinto - diziam os seus poemas, além da reprodução de parte da sua biblioteca, num painel de 11 metros de comprimento. Em tempos de pandemia, lançou o projeto "40tena em versos" nas suas redes socias (facebook.com/prsabino e Instagram: @paulosabinopoeta), em que disse, todos os dias, durante exatos 5 meses e 6 dias, um poema de um autor diferente. Atualmente está com o projeto chamado "Deste que vos fala", lendo semanalmente poemas de sua autoria.


 Artur Gomes -  Como se processa o seu estado de poesia?

Paulo Sabino - Meu estado de poesia é todo dia, o dia inteiro, mesmo quando não produzo poesia. O estado é frequente, está em tudo que olho, penso, toco, sinto, cheiro, em toda palavra que me sai da boca ou do papel. O meu estado de poesia independe da minha produção poética. Eu não escrevo poesia todo santo dia mas todo santo dia me carrega e me abarca o estado de poesia.

Artur Gomes - Seu poema preferido?

Paulo Sabino - Eu nunca conseguiria escolher um poema preferido. Tenho muitos. Agora, de cabeça, lembro do "O náufrago náugrafo", do Leminski, do "Elegia 1938", do Drummond, do "A educação pela pedra", do João Cabral, do "A disfunção", do Manoel de Barros, do "Guardar", do Antonio Cicero. São alguns dos meus preferidos, a lista é maior.

Artur Gomes - Qual o seu poeta de cabeceira?

Paulo Sabino - Assim como não tenho um poema preferido, mas vários, na minha cabeceira há um rodízio de poetas, não há lugar fixo. Leio muita coisa, a troca é frequente. De qualquer forma, acho que como a maioria dos poetas, recorrer eu recorro sempre aos clássicos - Drummond, Bandeira, Quintana, Pessoa, Cecília, Vinicius, João Cabral, Gilberto Mendonça Teles, José Paulo Paes, Hilda Hilst.

Artur Gomes - Em seu instante de criação existe alguma pedra de toque, algo que o impulsione para escrever?

Paulo Sabino - Em geral alguma ideia que me ronde. Eu não sou o tipo do poeta que costuma sentar sem nada na cabeça e escrever. Até faço - há pouco tempo recebi a encomenda de dois poemas com temas bem específicos e consegui resultado satisfatório. Mas não é do meu costume esse processo de sentar sem ideia alguma e criar (espero que passe a ser, inclusive). 

Artur Gomes -  Livro que considera definitivo em sua obra?

Paulo Sabino - Dois livros muito importantes, ambos do Leminski: "Distraídos venceremos" e "La vie en close".

 Artur Gomes - Além da poesia em verso,  já exercitou ou exercita outra forma de linguagem com poesia?

Paulo Sabino - A prosa poética.

Artur Gomes - Qual poema escreveu quando teve uma pedra no meio do caminho?

Paulo Sabino - Muitos poemas. As pedras do caminho não cessam. Mas para citar um, tenho o poema intitulado

 

"Um modo qualquer",

 que começa assim:

 "Saber utilizar a dor/ É sinal de destemor/

Diante da vida/ - Às vezes, mocinha, outras, bandida -."

 Artur Gomes - Revisitando Quintana: você acha que depois dessa crise virótica pandêmica, quem passará e quem passarinho?

Paulo Sabino - Todos os políticos que formam a corja do governo federal que nos assalta, eles passarão (assim espero). Nós, artistas, que ajudamos as pessoas neste momento difícil com a nossa arte, passarinhos. Seguiremos voando e cantando. 

 Artur Gomes - Escrevendo sobre o livro Pátria A(r)mada, o poeta e jornalista Ademir Assunção, afirma que cada poeta tem a sua tribo, de onde ele trás as suas referências. Você de onde vem, qual é a sua tribo¿

Paulo Sabino - A minha tribo é a poesia. Eu não suporto rótulos, me encaixar e encaixar o meu gosto, as minhas preferências, em "categorias", "escolas", "tipos", "turmas". Eu amo poesia sob todos os aspectos, sob quaisquer formas, das fixas ao verso livre, passando pela poesia visual e concreta. Eu gosto e reúno em mim os mais variados poetas e por isso as mais diversas formas de escrever poesia. Não me enquadro em tribo. Eu e a minha poesia somos o somatório de várias vozes. Somos Somas.

 Artur Gomes - Nos dias atuais o que é ser um poeta, militante de poesia?

 Paulo Sabino - Acho que o que sempre foi ser poeta (ou que deveria ser sempre): doar o seu melhor à arte poética, não medir esforços em prol do melhor desempenho. As musas pedem e merecem dedicação comprometida.

 Artur Gomes - Que pergunta não fiz que você gostaria de responder?

 Paulo Sabino - Não, a poesia nunca estará fora de moda. Sim, haverá sempre espaço pra poesia no mundo, porque o nosso estar no mundo se faz através de muitas metáforas, que são um recurso essencial/primordial à poesia.

 

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