domingo, 20 de setembro de 2020

Marilia Kubota - EntreVistas

 


 

Tenho contato com Marilia Kubota, já há algum tempo, acho que desde os tempos de Orkut. Acompanho sua trajetória de perto nas redes sociais, militante que é das causas existenciais e sócio políticas. Como uma asiática que mora no Brasil ela conhece bem os preconceitos e as discriminações que ainda perduram em pleno século 21 sobre a mulher de outra cor, a não branca, a mestiça, a negra. E ela não se furta de enfrentar essas questões e mostrar tudo isso na sua densa e instigante poesia.


Tenho contato com Marilia Kubota, já há algum tempo, acho que desde os tempos de Orkut. Acompanho sua trajetória de perto nas redes sociais, militante que é das causas existenciais e sócio políticas. Como uma asiática que mora no Brasil ela conhece bem os preconceitos e as discriminações que ainda perduram em pleno século 21 sobre a mulher de outra cor, a não branca, a mestiça, a negra. E ela não se furta de enfrentar essas questões e mostrar tudo isso na sua densa e instigante poesia.

 

MARILIA KUBOTA é autora de Diário da vertigem (2015), micropolis (2014),  Esperando as Bárbaras (2012) e organizadora das antologias Um girassol nos teus cabelos - poemas para Marielle Franco (2018),  Blasfêmeas: Mulheres de Palavra (2016) e   Retratos Japoneses no Brasil (2010).  É administradora do grupo Mulherio das Letras (https://www.facebook.com/groups/601979220008314/e coordenadora regional do Mulherio das Letras Paraná (https://www.facebook.com/groups/137076900320293/),  que conta com mais de 200 integrantes.

 

Artur Gomes - Como se processa o seu estado de poesia?

 

Marilia Kubota - Escrevo de forma anárquica e aleatória. A poesia acontece. 

 

Artur Gomes - Seu poema preferido?

 

Marilia Kubota - Ultimamente lembro de um poema de Sophia de Mello Breyner Andresen (

 

“As pessoas sensíveis não são capazes /De matar galinhas/Porém são capazes /De comer galinhas”...).

 

Adoro poemas de  Wislawa Szymborska e Micheliny Verunschk.

 

Artur Gomes - Qual o seu poeta de cabeceira?

 

Marilia Kubota - Não tenho poetas de cabeceira, tenho cabeceira de poetas. Wislawa, Akiko Yosano, Maria Valéria Rezende, Conceição Evaristo, Micheliny, Angela Melim, Cláudia Roquette-Pinto, Líria Porto, Nydia Bonetti, Orides Fontela.   

 

 Artur Gomes - Em seu instante de criação existe alguma pedra de toque, algo que a impulsione para escrever?

 

Marilia Kubota - Não tenho controle sobre a criação. Em alguns tempos escrevo, em outros, fico em silêncio. Leio ficção ou jornais, vejo filmes e fotos, escuto canções, converso com amigos, lembro de conversas, ando pela rua. Tudo inspira. Um escritor ou poeta tem que estar atento para a variedade e variação de linguagens  para dominar o ofício.  A disposição para escrever, na maior parte das vezes, é reflexo de leituras  — de livros e do mundo. 

 

Artur Gomes - Livro que considera definitivo em sua obra?

 

Marilia Kubota - Não considero nenhum livro definitivo, ainda estou construindo uma obra.

 

Artur Gomes - Além da poesia em verso, já exercitou ou exercita outra forma de linguagem com poesia?

 

Marilia Kubota - Não me sinto habilitada a experimentar linguagens multimídia com poemas. Tenho parceiros e parceiras que musicaram e produziram vídeos com poemas meus.

 

Artur Gomes - Qual poema escreveu quando teve uma pedra no meio do caminho?

 

Marilia Kubota - Só escrevo com pedras no caminho. Escrever é pedreira. Não só poemas, qualquer texto autoral. Escrita criativa é um trabalho que exige  talento, disposição, paciência e conhecimento da linguagem poética e literária.

 

Artur Gomes - Revisitando Quintana: você acha que depois dessa crise virótica pandêmica, quem passará e quem passarinho?

 

Marilia Kubota - Quem ficou em casa ouvindo passarinhos, passará. O isolamento social é um sofrimento. A  mais rica experiência é a do convívio humano. Artistas têm mais recursos para lidar com a solidão,  ponto de partida para qualquer criação.  Virgínia Woolf explica, em “Um teto todo seu” que a mulher que quer escrever tem que ter  um quarto para ficar sozinha com seus pensamentos, memórias, angústias ou prazeres.   Jane Austen tinha este quarto, mas quando  ouvia ranger a fechadura, corria para esconder os escritos. Até hoje, por conta da estrutura patriarcal, as mulheres ainda sentem que precisam de autorização (dos homens, ou mulheres com poder) para escrever.

 

Um movimento como o Mulherio das Letras, do qual participo desde 2017, é fundamental  para pensar a palavra como instrumento de libertação. Não precisamos mais escrever e guardar em gavetas.

 

Este é o século em que as ondas dos movimentos feministas, negro e ecolológico estão confluindo como forças políticas capazes de realizar uma revolução social. O feminismo e o movimento negro já são revoluções em andamento, as ideias estão disseminadas. A última onda é a do retorno à natureza, com a  destruição do meio ambiente natural. O avanço tecnológico tem que ser  um aliado para a preservação da humanidade.  

 

Artur Gomes - Escrevendo sobre o livro Pátria A(r)mada, o poeta e jornalista Ademir Assunção, afirma que cada poeta tem a sua tribo, de onde ele traz as suas referências. Você de onde vem, qual é a sua tribo?

 

Marilia Kubota - Não conheço este poema do Ademir, conheço o poeta. Escrevi um poema assim:

 “Nesta tribo / nada é proibido / siga os sentidos”.

 

A minha tribo é a dos poetas,  de  gêneros, etnias e opções sexuais  distintos dos homogêneos.  

Comecei a publicar livros em 2008.  Há, ainda,  poucas autoras asiáticas escrevendo no Brasil. E, ainda, há imagens retrógradas, como a da  gueixa, imagem fixada pelos soldados americanos e disseminada na publicidade ocidental.

 

As asiáticas são retratadas como as mulheres negras, como disponíveis e hiperssexualizadas, uma ameaça às mulheres brancas, de classe-média. Não só no imaginário masculino, mas ao ver uma mulher não-branca, outras mulheres reproduzem o discurso de dominação e controle. 

 

Artur Gomes - Nos dias atuais o que é ser um poeta, militante de poesia?

 Marilia Kubota - A poesia não pode deixar de ser atravessada pelo discurso social, político. Os melhores poemas - como os de Wislawa, os de Sophia Breyner Andresen, os de Akiko Yosano,  os de Angélica Freitas  — são políticos. 

 Artur Gomes - Que pergunta não fiz que você gostaria de responder?

 Marilia Kubota - Fora Bolsonaro ? Fora.

 

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