Federico Baudelaire – O CD Poesia Para Desconcertos, é uma continuação do Fulinaíma Sax Blues Poesia?
Artur Gomes – Sim, não poderia deixar de ser. Além de 6 faixas do Fulinaíma inseridas nele, temos também a mesma mistura, as mesmas referências, colocadas agora em outras paisagens, outras viagens no canto e na fala.
Artur Gomes – Naiman musicou e canta Fulinaimicamente. Baby Cadelinha, Goytacá Boy, e Entridentes, e canta uma versão que fez para Fulinaíma que foi musicada pelo Reubes Pess, que compôs e canta SagaraNAgens Fulinaímicas. Renato Gama canta Marçal Tupã, que é uma parceria com Paulo Ciranda. No instrumental, temos Ângelo Nani(gaita), Dalton Freire(sax e flauta) Betinho Assad(guitarra), Leo Graterol(violão), Gil Siqueira(programação de percussão e baixo) e Fil Buc(meu filho, guitarra e violão) e arranjos instrumentais.
Federico Baudelaire – Eu acabei de ouvir meio tonto, pela potência da musicalidade e da poética. O que nasceram primeiro, as letras, ou as músicas?
Artur Gomes – Os poemas vieram primeiro, as músicas vieram depois, pela sensibilidade da cada parceiro que musicou em captar na poesia, o seu ritmo, a sua harmonia, e emprestando a cada uma delas a sua voz, o seu jeito de cantar. Em algumas faixas, como Fulinaíma e Marçal Tupã por exemplo, não estão cantadas por quem musicou o poema. Como frisei acima, Fulinaíma foi composta pelo Reubes Pess e está cantada pelo Naiman, Marçal Tupã foi musicada pelo Paulo Ciranda e está cantada pelo Renato Gama.
Artur Gomes – O Ademir Assunção escreveu o prefácio do meu Pátria A(r)mada - Editora Desconcertos- 2019, e se refere a isso, como reflexo da nossa tribo, da nossa convivência, das nossas origens ancestrais, de onde trazemos toda argamassa do ser abstrato que somos, até transformarmos isso em concretude através da arte.
Lendo Torquato Neto, Paulo Leminski, Mário de Andrade, Oswald de Andrade e Mário Faustino, acabeis endo levado a outras leituras, a outros autores com os quais me identifico. Mas não faço planos, projetos, do que vou escrever. A própria vida, e a minha forma de v(l)er as coisas no mundo real, vai me levando até a escrita, mas ela nasce expontânea, meio que inconsciente mesmo, como que em “estado de poesia” vozes fossem me soprando aos ouvidos o que está no cosmo para ser escrito.
Federico Baudelaire – Acredito que desde que você lançou o Fulinaíma Sax Blues Poesia, em 2002, muitas pessoas, devem se perguntar de onde você pinçou esta palavra, como e quando ela nasceu¿ Sabemos que é um neologismo, quando criou você já imaginava o que brotaria dela na sua criação?
Artur Gomes – Acho que já falei sobre isso em algum momento. Não, nem de longe eu poderia imaginar, o que seria Fulinaíma, no instante em que ela me veio. Estava em companhia do Naiman, indo para Campinas para dirigir uma Oficina de Criação no SESC, em 1996. No meio da viagem, dentro de um fusca, veio o sopro. Não escrevi nem anotei nada na hora.
Nessa mesma época, eu dirigia em Santo André, a Escolinha Alpharrabio de Teatro Infantil, com 25 crianças na faixa etária dos 8 aos 12 anos e preparava com eles a montagem da peça O Cavalinho Azul, de Maria Clara Machado, concluída a montagem, fizemos uma apresentação no Alpharrabio, que era o espaço físico onde acontecia os ensaios, numa parceria com a minha querida amiga Dalila Teles Veras. Depois fizemos apresentações por várias unidades do SESC em São Paulo.
Nesse mesmo ano de 1996, fui convidado pelo Ademir Antônio Bacca, para o IV Congresso Brasileiro de Poesia, em Bento Gonçalves-RS. De agosto a dezembro de de 1996, fiquei entre idas e vindas entre São Paulo, Santo André e Bento Gonçalves, em cada uma dessas cidades com uma atividade que se somavam entre Oficinas e Performances. A palavra Fulinaíma, esteve meio que adormecida nesse período, mas num re-lance escrevi o poema, que faz uma viagem por esse país musical, folclórico, e dei a ele esse título, (talvez as leituras em Mário de Andrade, tenham me impregnado com as imagens que consegui criar). E logo depois me veio Fulinaimicamente, um derivado, que é uma outra viagem, um tanto ou mais metafórica, sobre o mesmo país musical, mas já com outras referências. E daí algum tempo depois já em Campos dos Goytacazes, anos 2000 lidando com o FestCampos de Poesia Falada, que criei em 1999, escrevi o SagaraNAgens Fulinaímicas, que identifico como a minha Santíssima Trindade.
Federico Baudelaire – Você tem ideia de quando o CD vai ser lançado?
Artur Gomes – Nem imagino. Ele está em fase de mixagem, e isso é trabalho de produção para o Fil Buc. No momento, todo empenho para quando essa pandemia passar, vai para realizar um lançamento físico, com muita música e poesia viva, do livro O Poeta Enquanto Coisa, que está sendo publicado pela Editora Penalux, com prefácio de Igor Fagundes e texto par a orelha de Nuno Rau. O CD talvez lá para 2002, antes dele ainda quero publicar O Homem Com A Flor Na Boca, que está sendo prefaciado por Adriano Moura. Esse deve ser publicado lá pelas bandas da Paraíba, com o Linaldo Guedes, na sua Arribaçã.
Federico Baudelaire – Para finalizar nosso bate papo, como surgiu a série Poesia na Cama e o projeto EntreVistas¿
Artur Gomes – EntreVistas, é um presente do Uilcon Pereira, a quem devo imensamente a gratidão do seu olhar sobre a minha escrita, entre 1993 a 1996. Enquanto projeto surgiu com a necessidade de bater papo com poetas, e as duas primeiras entrevistas, aconteceram num bate papo mesmo, com meus dois grandes amigos parceiros Jiddu Saldanha e Techello d´Barros (Kino 3). A partir daí, criei 10 perguntas básicas sobre o fazer poético e a função do poeta, dentro de uma sociedade desigual como a que temos no planeta, e comecei a escalar os poetas a ser entrevistados. A constelação de poetas está lá no blog www.arturgumes.blogspot.com e outras estrelas ainda virão para completar a seleção.
Poesia na Cama, como diz Mário Sérgio Cardoso (arquiteto pós-moderno), surgiu da falta do que fazer, e da vontade de falar os poemas que estão no livro Juras Secretas – Editora Penalux – 2018. Nesse isolamento que estou desde dezembro de 2019 me veio a necessidade de falar poesia, que é uma paixão tanto ou maior que a paixão que tenho pela escrita.
Fulinaíma
misturei meu afro reggae a muito xote
do xaxado ainda fiz maracatu
maxixe frevo já juntei ao fox trote
quando dancei bumba-meu-boi em Pernambuco
fulinaíma é punk rock
rasgando fados em bossa nova
feito blues
para pintar a pele branca de vermelho
e repintar a pele preta de azuis...
botei sanfona no rufar desse baião
tambor de minas capixaba no lundu
no Paraná berimbau de capoeira
dancei em noites de lual no Maranhão
fulinaíma é punk rock
rasgando fados em bossa nova
feito blues
para pintar a pele branca de vermelho
e repintar a pele preta de azuis...
mas em São Paulo pedras quando rolam
pelos céus de nossas bocas meu irmão
fulinaíma azeita o caldo da mistura
para fazer o que não jazz ainda soul
porção de restos de alguma partitura
que algum músico com vergonha recusou
por ser estranho o que naquilo descobriu
mas se a gente canta no cantar essa ternura
é que mamãe mamãe mamãe Macunaíma
ainda chora pelas matas do Brasil
Fulinaimicamente
no improviso do repente
do som dessa palavra
nasce uma outra palavra
fulinaimicamente
brasileiro sou bicho do mato
brasileiro sou pele de gato
brasileiro mesmo de fato
yauaretê curumim carrapato
em rio que tem piranha
jacaré sarta de banda
criolo tô na umbanda
índio fui dentro da oca
meu destino agora traço
dentro da aldeia carioca
Jackson do Pandeiro
Federico Baudelaire
nas flores do mal me quer
Artur Rimbaud na festa
de janeiro a fevereiro
Itamar da Assumpção
olha aí Zeca Baleiro
no olho do mundo
no olho do mundo cão
Fulinaíma MultiProjetos
22)99815-1268 – whatsapp
EntreVistas
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