Conheci Edelson Nagues, em São Fidélis-RJ, e lá já se vão alguns anos, em uma das edições do Festival Aberto de Poesia Falada. Durante todo o tempo em que estive à frente do FestCampos de Poesia Falada, sempre vi e ouvia sua poesia entre as finalistas. Em 2018 voltamos a os encontrar, desta vez no Museu da República, em Brasília, na noite da minha apresentação no Transe Poéticas - 1º Festival de Poesia Brasileira de Brasília, a convite do meu querido amigo e poeta Adeilton Lima. Em 2019, voltei a estar à frente do FestCampos de Poesia Falada, e mais uma vez vi e ouvi uma poesia de Edelson Nagues, entre as finalistas.
Edelson Nagues, mato-grossense radicado em Brasília, é poeta, escritor, revisor de
textos e servidor público. Estudou Direito e Filosofia, com pós-graduação em
Língua Portuguesa. Conquistou vários prêmios literários e tem textos publicados
nos portais ou revistas eletrônicas Zunái,
Mallarmargens, Germina, Musa Rara, Ruído
Manifesto, Literatura & Fechadura,
Samizdat e Portal Vermelho,
entre outros. Publicou os livros Humanos (de contos) e Águas
de clausura (de poesia – vencedor do X Prêmio Literário Asabeça), pela
Editora Scortecci, em 2012; organizou a antologia de contos Respeitável
público: histórias de circo e outras tragédias (2015) e é autor
convidado da coletânea de contos Horas partidas (2017), ambas pela
Editora Penalux, e das coletâneas de poesia Tanto mar sem céu, A
noite dentro da ostra e Poesia em tempos de barbárie,
pela Lumme Editor (2017), e 80 balas, 80 poemas (publicação digital),
organizadas por Claudio Daniel. É coautor do CD Anand Rao musica poemas de
Edelson Nagues (edição dos autores, 2013). Em 2019 publicou o livro de
poesia Palavras para estrangular silêncios, pela Editora Patuá,
que concorre aos prêmios Oceanos e Jabuti.
Artur Gomes - Como se processa o seu estado de poesia?
Edelson Nagues - Quando sou tomado por esse indefinível sentimento que podemos chamar de estado de poesia, é como se eu passasse a viver, por alguns momentos (que podem durar algumas horas, raramente mais do que um dia), em duas dimensões paralelas. Uma, esta em que a realidade se desenrola, com as coisas visíveis, palpáveis (pra lembrar Platão), as pessoas, o trabalho, as contas a pagar...
A outra, um espaço quase onírico, indefinido, em que a linguagem, as palavras, com seus ritmos e sonoridades, articulando-se em pensamentos e formas, parecem circular em torno de mim, se insinuando, me provocando, às vezes até me trazendo uma inexplicável angústia, e, principalmente, potencializando a sensibilidade, a porosidade. Penso que o poema propriamente dito, a materialização da poesia, acontece quando vislumbro alguma abertura para que os elementos dessa “dimensão poética” interpenetrem a dimensão real. E uma vez escrito o poema, é como se ele adquirisse vida própria, não mais me pertencesse.
Mesmo porque, acredito, um poema não pertence ao poeta. Este serve apenas como elo ou ponte entre essas duas dimensões. Uma vez no mundo, o poema pertence a todos, independentemente de quantos venham a usufruir dele. Ser poeta, pra mim, é quase uma maldição – da qual tentei fugir, sem sucesso (falo disso mais adiante). E agora, capturado de vez, quero conhecer a fundo a poesia, desvendá-la, possuí-la e ao mesmo tempo me entregar a ela mais e mais.
Artur Gomes - Seu poema preferido?
Edelson Nagues - É muito difícil eleger apenas um poema, principalmente porque a pergunta possibilita concluir que pode ser de qualquer época e de qualquer língua. Então peço licença pra elencar alguns dos poemas que mais me marcaram e que, seguramente, me inspiraram a um dia sonhar ser poeta. “Nosso tempo”, “Resíduo”,
“Especulações em torno da palavra homem” e “A máquina do mundo”, do Drummond, “O cão sem plumas”, do João Cabral, e “Tabacaria”, do Fernando Pessoa, são alguns dos que sempre me ocorrem.
“Especulações em torno da palavra homem” e “A máquina do mundo”, do Drummond, “O cão sem plumas”, do João Cabral, e “Tabacaria”, do Fernando Pessoa, são alguns dos que sempre me ocorrem.
Dos meus poemas, destaco o “Sobre tempo e memória”, em que penso ter conseguido um bom resultado na combinação do conteúdo com a forma.
SOBRE TEMPO E MEMÓRIA
A maçã
apodrece
sobre a mesa.
A comida
posta à mesa
(que apodrece).
Tal qual
um homem
apodrece.
(Seu olho de vidro.)
A mesa
apodrece
sob a maçã
(aquela),
sob o prato
de comida,
que também.
A madeira
apodrece
o interior da mesa,
antes.
E o homem
(o mesmo)
tem tremor nas mãos.
A fórmica,
revestindo a madeira,
solta-se em lascas.
(Como a pele
do homem.)
A comida
apodrece
na escuridão
no estômago.
(E o homem
regurgita
pássaros calcinados.)
A memória
da maçã
já não traz
a mesa,
que não traz
a madeira,
que não mais
a árvore.
Esta
já não (se) lembra
(d)a floresta.
(Envelhecer
é só –
e sozinho.)
O homem
e seu dente de ouro,
sem o sorriso.
A mulher
e seu colar de pérolas,
sem a festa.
Um e outro
e sempre sem
(e só).
Na memória
de ambos,
um que se foi
e outro nunca.
A mulher
reluta
em ser a maçã
(que apodrece).
E o homem,
a mesa
(que também).
(A madeira
corroendo(-se)
por dentro.)
A memória
(dela)
seca-se,
como a carne
da maçã.
Seca-se,
como os olhos
(de vidro?)
filtram
a desluz.
A memória
(dele)
sobe na mesa,
pula da árvore,
cai no rio.
Mas rio
já não há:
vazio espesso.
E o homem-
-árvore
apodrece
longe
da floresta
de homens.
(Envelhecer
é só –
e sozinho.)
Torna-se
refém
da memória.
Como a árvore,
da terra que
a sustém.
E a maçã,
da espada
que a corta.
A memória
é frio aço
de dois cortes.
Tanto fere
quem a cultiva
quanto
quem a ignora.
A memória
é lâmina
que divide
as horas.
Como a espada
transpassa
a maçã
(sua carne
morta).
A memória
é substância
torta
se apodrece
dentro
de quem a gesta.
Tal qual
a comida
(indi)gesta
os vermes
que a devoram.
A memória
(presente)
esconde-se
em ausências
fortuitas.
Relógio
sem pêndulo,
marca o esque-
cimento.
A memória
paralisa o tempo
(rio de matéria
putrefata).
Tenta
dissolvê-
lo – unir
suas pontas.
Ou divi-
di-lo:
múltiplos
espelhos.
A memória
quer fazer-se
mesa
antes de
fazer-se
árvore,
antes de
floresta.
A memória
quer lograr
o tempo
no falso
de suas horas.
Já o tempo,
por seu turno,
não se dá
por vencido.
E separa:
a madeira
da mesa,
a mesa
da maçã,
a maçã
da mulher,
a mulher
do homem
(em gêneros
e dores),
e o homem
e a mulher
de si mesmos.
O tempo
se-
para,
enquanto
prepara o bote
no mote
do homem
(ou mulher)
livre
(como disse
o gênio torto)
: ser livre,
de fato,
é estar morto.
Artur Gomes - Qual o seu poeta de cabeceira?
Edelson Nagues - Carlos Drummond de Andrade é um poeta que estou sempre relendo. É a minha maior influência, meu grande mestre. João Cabral de Melo Neto, cuja obra conheci a aprendi a apreciar algum tempo depois da do poeta mineiro, também me impõe releitura constante. Aprendi a continuo aprendendo muito com esses dois gigantes da nossa poesia.
Artur Gomes - Em seu instante de criação existe alguma pedra de toque, algo que o impulsione para escrever?
Edelson Nagues - A inspiração para um poema pode surgir de diversas formas, e quando menos espero. E geralmente é motivada por uma inquietação, uma busca constante. Isso talvez seja, pra mim, a pedra de toque para a criação poética. Uma dúvida metafísica que me transporte para o dito estado de poesia e possibilite perscrutar sobre o que não se mostra claramente, vestígios. Questionamentos sobre o nosso estar no mundo, os rumos que a humanidade parece tomar, as questões imediatas que nos cercam, a situação do país, a impotência do indivíduo/poeta diante de tudo isso.A inspiração ativa e atiça essa busca, que não precisa, necessariamente, resultar em respostas, mas sobretudo possibilitar reflexões sobre as questões a que me referi.
Artur Gomes - Livro que considera definitivo em sua obra?
Edelson Nagues - Minha trajetória literária é um tanto enviesada, fragmentada. Comecei a me interessar pela literatura – e em especial pela poesia– ainda muito novo, por volta dos nove ou dez anos de idade, quando senti que gostaria de e talvez pudesse ser poeta. Nessa época surgiram os primeiros versos, tanto para tentar impressionar alguma garota por quem eu estivesse apaixonado (embora a musa nunca viesse a saber da tentativa de poema), como para retratar ou “denunciar” uma ou outra questão social (lembro-me de algo que escrevi, em um raro período frio em meu estado natal, Mato Grosso, tocado pelo fato de saber que algumas crianças não tinham cobertores e agasalhos). Escrevi com mais regularidade a partir dos dezoito anos e até os vinte e oito, passando a produzir também letras de músicas, depois dos vinte, quando participei de uma banda (na época, como fazíamos MPB, e não rock, chamávamos de grupo musical).
E aí é quando ocorre um grande hiato. Embora, sem falsa modéstia, gostasse do que escrevia, percebi – ou intui, sei lá – que não alcançaria o nível que eu julgava aceitável para poder, um dia, me considerar um poeta de verdade. E minha referência era ninguém menos do que o Drummond... (risos) Então resolvi não mais escrever poemas. Decidi desistir da poesia. De verdade. Mas não abandonei o sonho de, um dia, me dedicar à literatura.
Por isso, quando finalmente consegui direcionar parte do meu tempo para a produção de textos literários – já por volta dos trinta e cinco anos –, estava resolvido a escrever apenas em prosa. Mas eu disse, no início, que considero o fato de ser poeta como uma quase maldição... Algo que sempre cobrou muito de mim – mais, talvez, do que eu pudesse dar – e do qual eu não conseguia me ver livre. No fundo, bem no fundo, eu sabia que não queria me livrar dela. Sentia que a poesia continuava viva, latente, escondida em algum lugar dentro de mim, esperando o momento de me pegar de jeito novamente...
Foi quando, vinte anos depois da “pausa poética”, resolvi fazer uma experiência, pra saber se ela, a poesia, ainda poderia ser, pra mim, uma forma de expressão válida. Participei, então, de uma oficina literária virtual, uma espécie de concurso, em que, depois de alguns meses de disputa, eram escolhidos os primeiros colocados. A partir de temas determinados pela organização, os poetas escreviam poemas que eram publicados em um site, com comentários críticos e avaliações, com notas, feitos por uma comissão julgadora formada por poetas e/ou estudiosos da poesia. Impus-me o propósito de, se ficasse entre os cinco primeiros, voltar a me dedicar também à poesia (ou seja, sem abandonar a prosa).
No final, fiquei em segundo lugar e um dos meus poemas, o que coloquei acima, “Sobre tempo e memória”, foi escolhido o melhor de todo o certame. Então entendi que não poderia mais fugir da poesia... No ano seguinte, com poemas escritos antes desse hiato (devidamente reescritos) e aqueles que eu havia feito para a oficina, formei um livro, “Águas de clausura”, que foi o vencedor do X Prêmio Literário Livraria Asabeça, cujo prêmio era a publicação, pelo Grupo Editorial Scortecci (que organizou o concurso, para comemorar seu 30º aniversário) e o lançamento na 22ª Bienal Internacional do Livro de São Paulo, em 2012.
Para quem tinha desistido da poesia por tanto tempo, esses acontecimentos me vieram como um sinal dos aedos, ainda que eu não seja de acreditar em sinais... (risos) A poesia voltava, definitivamente, a ocupar um espaço central em meu projeto literário e, por extensão, em minha vida. Então resolvi me dedicar ao estudo da poesia, pra tentar recuperar pelo menos um pouco do tempo perdido.
E tive a felicidade de, nesse período, conhecer o Laboratório de Criação Poética, do poeta, crítico literário e professor paulista Cláudio Daniel. Foram muitos estudos e leituras (incluindo “A divina comédia”, na íntegra; agora estamos estudando o “Fausto” do Goethe), intercalados com oficinas de escrita literária, que foram fundamentais na minha formação de poeta e na feitura do meu segundo livro de poesia, “Palavras para estrangular silêncios”, publicado pela Editora Patuá em 2019.
Aproveito para agradecer ao Eduardo Lacerda, da Patuá, por ter acreditado no meu trabalho, publicando meu livro com um acabamento gráfico primoroso. Agradeço também à Tatiana Alves, escritora carioca e também professora de literatura, e ao Cláudio Daniel por terem escrito, com análises generosas dos meus poemas, a apresentação e o posfácio do livro, respectivamente. Estão entre os grandes amigos que a literatura me trouxe.
Além desses dois livros de poesia, publiquei um de contos, “Humanos”, no mesmo ano do primeiro e, assim como este, pela Editora Scortecci. Por isso, talvez não seja o caso, ainda, de falar em obra literária, entendida como o conjunto significativo de livros de um autor. Quero crer que meu livro definitivo ainda esteja para ser escrito – e desejo muito que eu consiga escrevê-lo um dia. Se tivesse de escolher um dos três (ou entre os dois de poesia), seria o último, “Palavras para estrangular silêncios”, pois é resultado de uma vivência e uma prática maior com a poesia, o qual atendeu em boa parte minhas expectativas e tem tido ótima recepção pelos leitores, inclusive outros poetas, e mesmo pela crítica especializada.
Artur Gomes - Além da poesia em verso, já exercitou ou exercita outra forma de linguagem com poesia?
Edelson Nagues - Como já disse, na longa resposta anterior, também escrevi letras de músicas, embora já faça muito tempo que não produza nada nessa área. Tenho feito uma ou outra tentativa, mas por não ser músico o trabalho fica mais difícil. Sou individualista com relação à minha escrita, e por isso não me sinto à vontade dependendo do trabalho de outra pessoa pra executar o meu. Mas isso não impede parcerias. Algumas já ocorreram, e posso considerá-las bem-sucedidas.
Com isso pude realizar outro sonho, que era o de participar de festivais de músicas (cresci acompanhando os grandes festivais nacionais dos anos 1980 e sempre fui fascinado pelos dos anos 1960 e 1970, que revelaram muitos artistas importantes). Na época da banda eu trabalhava na Caixa Econômica Federal e estudava na UFMT (onde iniciei o curso de Administração, que abandonei para estudar Direito; depois, já casado e morando em Natal, estudei Filosofia, que infelizmente não pude concluir). Foi quando publiquei meus primeiros poemas, em fanzines e suplementos culturais do Centro Acadêmico ou do DCE, revistas ou jornais culturais do Sindicato dos Bancários e da associação dos empregados da Caixa, além de periódicos internos do próprio banco (onde exerci, entre outras atividades, a de Representante do Conjunto Cultural, que depois passaria a ser chamado Caixa Cultural, como é até hoje).
Participei, então, de festivais musicais universitários e outros, em nível nacional (em Vitória, Manaus, Porto Alegre, Campos do Jordão...), promovidos pela Federação Nacional dos Empregados da CEF, a Fenae. Foi uma época divertida, em que, brigando com minha timidez crônica, pude sentir o gostinho de cantar para públicos razoavelmente grandes e ver meus poemas alcançando bom número de pessoas.
Artur Gomes - Qual poema escreveu quando teve uma pedra no meio do caminho?
Edelson Nagues - Há muitas pedras no meio do caminho... E nem sempre de cada pedra encontrada resulta um poema que ajude a superá-la. Mas acredito que a maioria dos meus poemas tenha surgido nesse confronto – e às vezes no confronto comigo mesmo –, e nem sempre como solução,mas mesmo assim sendo fundamentais em minha tentativa de me situar no mundo e manter um frágil equilíbrio.
Artur Gomes - Revisitando Quintana: você acha que depois dessa crise virótica pandêmica, quem passará e quem passarinho?
Edelson Nagues - Eu gostaria de poder dizer que a ignorância, o egoísmo e tudo que, em nosso país,neste momento, se assemelha muito ao fascismo passarão... Mas acreditar nisso seria uma projeção ingênua da minha vontade. Penso mesmo que esse acontecimento quase surreal que estamos vivendo poderá exacerbar principalmente os sentimentos negativos e aumentar a distância entre pessoas e classes.
Sou pessimista no sentido entendido pelo Saramago. Ele dizia que o otimista tende ao conformismo, por achar que as coisas vão mudar por si sós. Já o pessimista, por não estar satisfeito com a realidade, da forma com que esta se nos apresenta, empenha-se em transformá-la. E o que, com certeza, não passará – porque passarinho que sobrevoa sobre as mesquinharias – é a ARTE, em suas variadas formas de expressão (em que, é claro, se inclui a poesia). Nós, artistas de todas as vertentes, teremos um papel fundamental na restauração da humanidade pós-pandemia, dando voz aos que têm sido sistematicamente silenciados e tentando lançar um pouco de luz nas trevas da ignorância que assola nosso país.
Artur Gomes - Escrevendo sobre o livro Pátria A(r)mada, o poeta e jornalista Ademir Assunção, afirma que cada poeta tem a sua tribo, de onde ele traz as suas referências. Você de onde vem, qual é a sua tribo?
Edelson Nagues - Não sou de nenhuma tribo propriamente dita e tento dialogar, com minha poesia, com poetas das mais variadas vertentes, desde os surrealistas ao concretistas, passando pelos futuristas russos e pelos engajados poetas africanos, entre tantos outros.Vejo como indissociável de minha poesia o viés social, de questionamento crítico das mazelas sociais, e também o viés filosófico-existencialista, que busca equacionar o meu estar-no-mundo, com tudo o que isso implica. Tento equilibrar sentimento e razão, lirismo e comedimento, brandura e explosão.
Encaro a literatura tanto como realização estética quanto como posicionamento político. E vejo toda manifestação de arte como resistência a qualquer tentativa de imposição de um pensamento único, de enquadramento ou direcionamento... A arte é o principal corolário da liberdade, e vice-versa. Quanto a uma paideuma (no sentido poudiano), na minha alguns poetas são presenças inevitáveis: Castro Alves, Cruz e Souza, Drummond, João Cabral, Manoel Bandeira, Murilo Mendes, Ferreira Gullar, Hilda Hilst, Mário Faustino, Orides Fontela, Manoel de Barros, Haroldo de Campos, Caetano Veloso e Chico Buarque (sim, os dois são grandes poetas), Craveirinha, Mia Couto (embora eu aprecie mais a prosa dele, que é bastante poética), Fernando Pessoa, Herberto Helder, Neruda, Octavio Paz,Nicanor Parra, Garcia Lorca, Baudelaire, Mallarmé, Whitman, Ezra Pound, Eliot, Cummings, Maiakóvski, entre uma infinidade de grandes nomes.
Artur Gomes - Nos dias atuais o que é ser um poeta, militante de poesia?
Edelson Nagues - Há vários tipos de militância poética, e todos são válidos e necessários. Dos poetas que percorrem saraus e “slams”, em performances arrebatadoras, aos poetas mais reclusos, que preferem o trabalho solitário, passando pelos que compartilham seus conhecimentos sobre a arte da poesia com seus pares, todos contribuem para que a poesia permaneça viva e forte. O poeta militante é aquele que encara o ofício com seriedade, buscando se aperfeiçoar no trabalho com a linguagem, a fim de expandir o alcance desta, e ocupando os mais variados espaços. Eu me coloco entre os mais recatados, mas tenho tentado interagir mais com poetas de outras vertentes, com os quais sempre aprendo muito.
Artur Gomes - Que pergunta não fiz que você gostaria de responder?
Edelson Nagues - Agradecendo pela oportunidade generosa e o parabenizando pela sua destacada militância na poesia, em que você atua como poeta, intérprete e divulgador, entre outras facetas, sugiro a seguinte pergunta:
Como você vê a poesia brasileira contemporânea e como se coloca no cenário literário atual?
Respondendo: Vejo a poesia brasileira em um excelente momento, com uma produção em que há, de um modo geral, quantidade com qualidade, com a presença de excelentes poetas de todos os cantos do país. Poetas consagrados e em plena atividade, como Augusto de Campos, Armando Freitas Filho, Adélia Prado, Antônio Carlos Secchin, Glauco Mattoso, Marco Lucchesi, Alice Ruiz, para citar apenas esses, como exemplo, ao lado de poetas com trabalhos consistentes, merecendo reconhecimento maior, como Artur Gomes, Tanussi Cardoso, Salgado Maranhão, Cláudio Daniel, Ademir Assunção, Alberto Lins Caldas, Adriano Espínola, Nuno Rau, Paulo Ferraz, Lau Siqueira, Rubens Jardim, Carlos Moreira, Adriane Garcia, Micheliny Verunschk, Luiz Eduardo de Carvalho, Paulo Franco, entre tantos outros.
E num outro grupo (se é que se pode fazer tal classificação) de poetas talvez com menos tempo de atividade (considerando principalmente a publicação em livros individuais), mas que também têm uma produção que certamente garantirá o vigor e a qualidade da nossa poesia pelas próximas décadas, como Roberta Tostes, Mailson Furtado, Tito Leite, Mell Renault, Mar Becker,Amanda Vital, Marcelo Labes,Ailton Souza, Tatiana Alves, Alberto Bresciani, Wender Montenegro, Iolanda Costa, Guilherme Delgado, André Luís Caldas, Wanda Monteiro, Bianca Grassi, Márcia Friggi e tantos mais. Enfim, acredito que em nenhum outro momento da nossa história literária tivemos tantos poetas produzindo ao mesmo tempo e com tanta qualidade.
Quanto a mim, quero me colocar no grupo dos que se esforçam para contribuir, ainda que minimamente, com essa produção poética, procurando evoluir tanto com as lições dos mestres canônicos quanto com a troca e a interação com meus contemporâneos.
É isso.
Fulinaíma MultiProjetos
portalfulinaima@gmail.com
(22)99815-1268 - whatsapp
Edelson Nagues é um dos mais talentosos escritores da atualidade. Não só excelente prosador como maravilhoso poeta. Fico muito feliz pela ideia de entrevistá-lo aqui, nesse espaço que já se tornou um dos mais prestigiados da nossa cultura literária, porque seu nome precisa ser, a cada dia, mais conhecido e mais reconhecido por leitores que, por acaso, ainda não tenham tido o privilégio de lê-lo. Adorei sua entrevista. E me sinto honrado com a citação do meu nome em meio a tantos expoentes de nossa poesia. Muito obrigado pela deferência. Parabéns!
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