vampiro
lobisomem
tenho frequentado os telhados
junto aos fantasmas
da planície
visitado
os territórios lamacentos
da cidade
em cambaíba por exemplo
espreito os fornos crematórios
de um passado inda recente
voltei aos braços
dos desamparados
indigentes da contra mão
os que foram trucidados
por gritarem contra ditadura
a escravidão
Artur Gomes
Vampiro Goytacá Canibal Tupiniquim
https://fulinaimagens.blogspot.com/
serAfim 4 - gigi mocidade
rainha da bateria
um dia desses
quero ser sérgio sampaio
porque hoje tô de bode
na cabeça um para raio
tô comigo ninguém pode
soltando bichos no porão
tô faísca tô kabrunco
tô um relâmpago lamparão
a vida não basta
se me bastasse seria outra
clarice quem sabe
beatriz que fosse
fruta que gosto de comer
antropofagia canibal
pronta para o bacanal
filha que sou deste país
de fevereiro
onde todo ano é carnaval
e a vida do meu pai
se foi em sangue
uma bala no estômago
e uma manchete de jornal
por mais paradoxal
que possa parecer
bailarina
não é um ser normal
como qualquer um outro ser
nesta noite quieta
entre lençóis e travesseiros
eu aqui inquieta no meu canto
ouço bob dylan
bebendo esse conhac
com tua língua
em minha boca
pelas noites lá do sul
trago de volta entre os vinhedos
e tua pele entre meus dedos
o poema escrito em guardanapo
até hoje está guardado
na moldura o teu retrato
voragem
para ferreira Gullar - in memória
não sou casta
e sei o quanto custa
me jogar as quantas
quando vejo tantas
que não tem coragem
presa a covardia
eu sou voragem
dentro da noite veloz
e na vertigem do dia
acho
que meus queridos estão todos pirados esses últimos anos de pandemia deve ter
afetado as ondas elétricas dos múltiplos cerebelos os fios dos cabelos
enferrujados de sal e maresia lá nos anos 90 uilcon serafim me alertava sobre
essa onda magnética que se espalharia pelo planeta nos currais nos palácios nas
bodegas ademar cardoso também em jardel ricardo pereira lima márcio coelho
gabriel de lapuente antes até nos 80 no by brazil do black river de registro a
batatais enquanto dalila do abc continua pilotando os alpharrábios zhôo muito
zen pensava que tudo seria nuvem passageira enquanto césar conversando com raul
já me dizia que a lucidez mora ali do outro lado esquerdo de assombradado
enquanto rubens jardim só quer saber das mulheres com poesia
as vezes distância dói
no centro
as vezes o buraco é fundo
não sei entender direito
como se mede um mundo
geleia é um personagem misterioso meio dionisíaco que vivia nos porões
do studio 52 lá pelos idos de 1987 nem sei quando onde como nasceu vivia
aprontando com o seu projeto de psicanálise popular com um divã em cada esquina
na primeira festa das bacantes nos altos da adega 52 devorou a sua santíssima
trindade e dela hoje só resta rúbia querubim, que despachou federika lispector
para os corais do recife nas marés de pernambuco
vez em quando geleia passeia pela igreja universal do reino de zeus para
tirar um sarro com pastor de andrade na missa pagã do sétimo dia coloca os
dedos e a hóstia na língua das
ovelhinhas para a encenação do ciúme nos olhos da sacristia e leia não é
sagrado nem tem segredo em suas juras
secretas decreta estado em poesia
com o amor trincando os dentes
parece até que eu não sabia
que ela fugiria da raia
golpe com rabo de arraia
deixa qualquer uma tonta
ela não estava pronta
se encontrava semi nua
sem coragem de despir o resto
sem coragem de encarar a cama
amarrou-se nas correntes
sem coragem de escancarar a porta
fechou-se nas janelas
com o amor trincando os dentes
anti/lírica
um poema bashô aqui
nas 7 paredes do corpo
nos 4 cantos da casa
instigante satírico sarcástico
e ao mesmo tempo
esse ácido lirismo
é como um anjo
de belas brancas asas
que me toma arrasta domina arrasa
poética 86
teu silêncio
pedra na garganta
saliva seca
nessa língua faca
por quê não canta
a dor de cotovelo?
derruba essa parede
que te cerca
desamarra essa corda
que te enforca
rasga essa mortalha
que te mata
penso em vão não
escrever certa vez comecei um poema com vírgula as curvas dos seios no branco
do papel o caminho entre tecidos sob a pele para o túnel onde não passam
automóveis a vírgula não é ponto apenas um sinal no início do poema que não
precisa ter ponto final apenas curvas em direção a outras curvas para encontrar
as outras vírgulas no início do poema
diante do espelho
sou
e sempre serei outra
agora o que não sou
fica do outro lado de fora
a lâmina acesa, a brasa
o sal do suor do cio
o mar entre minhas coxas
e mangue entre minhas pernas
os caranguejos que me invadem
sempre que me olham
hoje vou comer as
coxinhas da paulista
vou comer fiado vou comer de graça
coxinha só se paga a prazo a perder de vista na pia no banheiro no telhado na
cozinha coxinha se come aos montes
nas ruas nas praças nos palácios nas garagens coxinha é massa de manobra
amassada com trigo com farinha
carne que se presta pra usar comer e jogar na lata de lixo coxinha não é gente
é pior que bicho
linguagem
abraço este poema
como se beijasse meu poeta
com suas linhas tortas
em meu corpo tatuado
teu nome e sobrenome
como um gozo ardente
tua língua ativa
me lambendo quente
e todo líquido escorrendo
por entre o vão dos dentes
toda nudez não
será castigada
estou nua em pelo
disfarçando o pesadelo
para olhar do alto
o palácio do assalto
e seus metralhas
minha língua é faca
não é palha
é palavra pronta
pra cortar a carne
como fio de navalha
onde houver canalha
toco fogo dentro
pecadora confesso
estando toda no cio
no corpo querendo tudo
minha mãe que me descreve
já me conhece do parto
eu sou vadia e não te iludo
eu tenho as veia abertas
um furacão entre as coxas
um vulcão no ventre/útero
mas só um homem me come
desde a minha tenra idade
nas ostras cravei meu nome
eu sou gigi mocidade
Nenhum comentário:
Postar um comentário