domingo, 7 de janeiro de 2024

vampiro lobisomem

                  vampiro lobisomem

 

tenho frequentado os telhados

junto aos fantasmas

da planície

 

visitado

os territórios lamacentos

da cidade

 

em cambaíba por exemplo

espreito os fornos crematórios

de um passado inda recente

 

voltei aos braços

dos desamparados

indigentes da contra mão


os que foram trucidados

por gritarem contra ditadura

a escravidão

 

 Artur Gomes

Vampiro Goytacá Canibal Tupiniquim

https://fulinaimagens.blogspot.com/



serAfim 4 -                gigi mocidade rainha da bateria

 

um dia desses
quero ser sérgio sampaio
porque hoje tô de bode
na cabeça um para raio
tô comigo ninguém pode
soltando bichos no porão
tô faísca tô kabrunco
tô um relâmpago lamparão

 

a vida não basta

se me bastasse seria outra
clarice quem sabe
beatriz que fosse
fruta que gosto de comer
antropofagia canibal
pronta para o bacanal
filha que sou deste país
de fevereiro
onde todo ano é carnaval
e a vida do meu pai
se foi em sangue
uma bala no estômago
e uma manchete de jornal

 

por mais paradoxal
que possa parecer
bailarina
não é um ser normal
como qualquer um outro ser

 

nesta noite quieta
entre lençóis e travesseiros
eu aqui inquieta no meu canto
ouço bob dylan
bebendo esse conhac
com tua língua
em minha boca
pelas noites lá do sul

trago de volta entre os vinhedos
e tua pele entre meus dedos
o poema escrito em guardanapo
até hoje está guardado
na moldura o teu retrato

 

 

 

 

 

 

 

voragem

para ferreira Gullar - in memória

não sou casta
e sei o quanto custa
me jogar as quantas
quando vejo tantas
que não tem coragem
presa a covardia

eu sou voragem
dentro da noite veloz
e na vertigem do dia

 

 

 

acho que meus queridos estão todos pirados esses últimos anos de pandemia deve ter afetado as ondas elétricas dos múltiplos cerebelos os fios dos cabelos enferrujados de sal e maresia lá nos anos 90 uilcon serafim me alertava sobre essa onda magnética que se espalharia pelo planeta nos currais nos palácios nas bodegas ademar cardoso também em jardel ricardo pereira lima márcio coelho gabriel de lapuente antes até nos 80 no by brazil do black river de registro a batatais enquanto dalila do abc continua pilotando os alpharrábios zhôo muito zen pensava que tudo seria nuvem passageira enquanto césar conversando com raul já me dizia que a lucidez mora ali do outro lado esquerdo de assombradado enquanto rubens  jardim só quer saber das mulheres com  poesia

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

as vezes distância dói
no centro
as vezes o buraco é fundo
não sei entender direito
como se mede um mundo

 

 

 

 

 

 

 

 

geleia é um personagem misterioso meio dionisíaco que vivia nos porões do studio 52 lá pelos idos de 1987 nem sei quando onde como nasceu vivia aprontando com o seu projeto de psicanálise popular com um divã em cada esquina na primeira festa das bacantes nos altos da adega 52 devorou a sua santíssima trindade e dela hoje só resta rúbia querubim, que despachou federika lispector para os corais do recife nas marés de pernambuco

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

vez em quando geleia passeia pela igreja universal do reino de zeus para tirar um sarro com pastor de andrade na missa pagã do sétimo dia coloca os dedos e a  hóstia na língua das ovelhinhas para a encenação do ciúme nos olhos da sacristia e leia não é sagrado nem tem segredo em  suas juras secretas decreta estado em  poesia

 

 

 

 

 

 

 

com o amor trincando os dentes


parece até que eu não sabia
que ela fugiria da raia
golpe com rabo de arraia
deixa qualquer uma tonta
ela não estava pronta
se encontrava semi nua
sem coragem de despir o resto
sem coragem de encarar a cama
amarrou-se nas correntes
sem coragem de escancarar a porta
fechou-se nas janelas
com o amor trincando os dentes

 

anti/lírica


um poema bashô aqui
nas 7 paredes do corpo
nos 4 cantos da casa
instigante satírico sarcástico
e ao mesmo tempo
esse ácido lirismo
é como um anjo
de belas brancas asas

que me toma arrasta domina arrasa 

 

poética 86


teu silêncio
pedra na garganta
saliva seca
nessa língua faca
por quê não canta
a dor de cotovelo?
derruba essa parede
que te cerca
desamarra essa corda
que te enforca
rasga essa mortalha
que te mata

 

penso em vão não escrever certa vez comecei um poema com vírgula as curvas dos seios no branco do papel o caminho entre tecidos sob a pele para o túnel onde não passam automóveis a vírgula não é ponto apenas um sinal no início do poema que não precisa ter ponto final apenas curvas em direção a outras curvas para encontrar as outras vírgulas no início do poema


 

diante do espelho sou
e sempre serei outra
agora o que não sou
fica do outro lado de fora
a lâmina acesa, a brasa
o sal do suor do cio
o mar entre minhas coxas
e mangue entre minhas pernas
os caranguejos que me invadem
sempre que me olham

 

hoje vou comer as coxinhas da paulista
vou comer fiado vou comer de graça
coxinha só se paga a prazo a perder de vista na pia no banheiro no telhado na cozinha coxinha se come aos montes
nas ruas nas praças nos palácios nas garagens coxinha é massa de manobra
amassada com trigo com farinha
carne que se presta pra usar comer e jogar na lata de lixo coxinha não é gente
é pior que bicho

 

linguagem

abraço este poema
como se beijasse meu poeta
com suas linhas tortas
em meu corpo tatuado
teu nome e sobrenome
como um gozo ardente
tua língua ativa
me lambendo quente
e todo líquido escorrendo
por entre o vão dos dentes

 

toda nudez não será castigada

estou nua em pelo
disfarçando o pesadelo
para olhar do alto
o palácio do assalto
e seus metralhas

minha língua é faca
não é palha
é palavra pronta
pra cortar a carne
como fio de navalha
onde houver canalha
toco fogo dentro

 

pecadora confesso

estando toda no cio
no corpo querendo tudo
minha mãe que me descreve
já me conhece do parto
eu sou vadia e não te iludo
eu tenho as veia abertas
um furacão entre as coxas
um vulcão no ventre/útero
mas só um homem me come
desde a minha tenra idade
nas ostras cravei meu nome
eu sou gigi mocidade

 

 

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