terça-feira, 9 de janeiro de 2024

com os dentes cravados na memória


irina agora também é modelo dessas pinturas clássicas que a gente não sabe qual foi o pincel         usado pelo pintor 



 desde guarapari

lá por por dois mil e cinco

que o meu telhado é de zinco

o meu chão é de estrelas

a minha pele tem plumas

minha língua espuma

quando roço em teus cabelos

 

Rúbia Querubim

https://porradalirica.blogspot.com/

 



 Com Os Dentes Cravados Na Memória

 

A Mocidade Independente de Padre Olivácio – A Escola de Samba Oculta No Inconsciente Coletivo, nasceu em dezemvro de 1990, durante uma viagem em que cia de Guiomar Valdez, levamos uma turma de estudantes da então ETFC(IFF), a Ouro Preto-MG, como premiação por terem vencidos a Gincana Cultural desenvolvida durante o ano, pelo Grêmio Estudantil Nilo Peçanha. Lá conheci Gigi Mocidade – A Rainha da Bateria, com quem vivi até 1996.

 

A Igreja Universal do Reino de Zeus, criei em 2002 durante a 1ª Bienal do Livro de Campos dos Goytacazes-RJ, que foi realizada nas dependências do Ginásio de Esportes do então CEFET-Campos, onde na ocasião lancei o livro BraziLírica Pereira : A Traição das Metáforas.

O grande objetivo da IURZ é homenagear deuses deusas da África e Grécia para de alguma forma descobrir de onde vem as nossas ancestralidades. De alguma forma e em alguns momentos mitologia grega e africana se misturam e viajando metaforicamente nessas realidades reinventadas vim desaguar no Vampiro Goytacá canibal Tupiniquim.

 

Artur Gomes

https://arturgumes.blogspot.com/


serAfim 5 -           federika lispector a ponta da lança

 

espelho


flechas que sangraram oxóssi
em meu peito quebro
espelho do outro lado
da rua mato a fera
ogum me deu a lança
tua fúria não me alcança
não ando só yansã
me leva em sua ventania
trovão estampido coice elétrico
tenho o reflexo do fluxo
do sangue que me embala
bala na veia tiro de letra

 

não tenho trava não tenho treta
branca ou preta eu traço o tempo
ao sabor do vento que vem
ao sabor do vento que vai
onda do mar eu tenho o sal
e quero sol a solidão não pega
de surpresa nunca fui presa
fácil pra tua armadilha
eu tenho a trilha que os teus pés
                            jamais irão pisar

 

não tenho certeza que isto é um país ando por recife entre pedras como quem vomita um planalto dentro do palácio grafito a porra no muro tenho vontade de explodir este barril de pólvora esta é a palavra que não basta eu trovoada relâmpago ventania temporal elevada a múltipla potencialidade dessa  miséria quântica

nessa imoral brasilidade

 


o dia que eu estiver vestida

não me toque
deixe que eu troque
o sentido para o truque
na armadura de ogum
a trama pro desejo
que não dou a qualquer um

 

desassossego

o meu amor não tem sossego
morde lambe chupa come
teu corpo que ainda não conheço
tua carne - nem se quer tem endereço

o meu amor não tem apego
agarra larga prende solta
atira ampara - é cachoeira
escorre como trovoada

iansã em tempestade
o meu amor é livre e limpo
quando a alma está lavada

 

desejo sexo amor paixão

fantasia

aos olhos de wermmer
tudo é possível crer
até em quem não cria

 

diante do espelho fico zen
chamo zeca baleiro de meu bem
canto a mama canto o papa
canto o negão do rappa
canto até quem não conheço
e não preciso de endereço
pra mandar cartão postal
              canto a mina da esquina
                que se chama lys cabral

 

translúcida

 

levanta natureza morta  você não é cubism0 de picasso nem surrealismo de  dali diante os cabelos de aço de frida calo muitas vezes vejo muitas coisas ao mesmo tempo na fotografia dou um corte no pensamento para que o vento me traga o norte levanta pássaro sem sorte o passo em falso o cadafalso predestinada  a sina

                                 em sua morte



não tenho panos

fico nua para o vento
relâmpagos trovões
tempestades temporais
e ventania
não tenho em mim calmaria
trago vulcões em pensamento

 

subversiva 1 - 15 – outubro -  2022


eu não sou santa nem casta a vida é bruta e não me basta vou a luta uma quadrilha de filhos da puta tomou o planalto de assalto o lugar deles é a lata de lixo de onde nunca deveriam ter saído vamos enxotar essa putada varrer do mapa esses canalhas nem que seja a golpe de gilete a fios de navalhas
se é esse jeito ou única saída subverter a ordem acelerar o ritmo da libertação a arte é arma e não temos tempo de temer a morte arte é intervenção da massa armemos o povo para o povo entender e aprender a ocupar democracia é palavra gasta “a arte existe porque a vida não basta” se a massa está inerte vamos fermentá-la vamos fomentá-la com fermento do biscoito fino antes do anoitecer “quem sabe faz a hora não espera acontecer” vamos a hora é essa eu tenho pressa não temos tempo pra espera o trem das onze está partindo e quem perder já era

 

a cara a tapa

tenho minha arma na língua
não nas coxas
veneno na saliva
só a cara é de anjo
o sal da ilha de creta
a pedra da boa viagem
tenho na bagagem
faca estilete canivete
afiada navalha malandragem de moleque  para raspar pentelhos
rasgar bandeiras dessas cara/velas
da milenar tropicanalha


 

mitológica

fosse afrodite
ou fosse vênus
mariana fosse quanto
a flor sagrada de lótus
secreto o espírito santo
os girassóis entre os cabelos
nos lábios lírios do campo


serAfim 6 - artur gomes fulinaíma

 

talvez não tenha lógica o que escrevo minha escrita grita do inconsciente coletivo vivo re-par-ti-do em três em quatro em  cinco em seis em  sete quem não conhece não se mete

                em tudo aquilo que excita


salve meus erês meus eguns meus xangôs e meus exus salve meus oguns meus oxossis omulus salve iemanjás oxuns e iansãs todas as manhãs que ainda ardem minhas mordidas nas maçãs das coxas de nanãs

 

irreverência ou morte disse gigi mocidade pra federico baudelaire homem com flor na boca mestre/sala dos mares mocidade independente de padre olivácio e escola de samba oculta no inconsciente coletivo não fujo do perigo no asfalto o beijo sujo é preciso estar atento e forte não temos tempo de temer a morte disse-me caetano na canção tropicalista o genocida  anda solto não podemos nos perder de vista

 

tenho andado vermelho de sangue caranguejos explodem no mangue boca da barra guaxindiba gargaú balas pipocas nos becos na corda bamba do hemisfério sul tenho andado nas tralhas das trilhas vendo fantasmas nos telhados e o caroço desse angu nas entrelinhas dos tratados com cascavel surucucu quem foi que disse que essa terra é santa ? quem foi que disse que isso aqui é ilha? só pode ser filha da outra a que pariu o boi zebu

 

linguagem


o que vai
de um lado da ponte
a outra
é o que sai da boca

o que entra é a língua
a que entorta
beija sem pedir licença
chupa morde goza
na entrada e na saída

sem ter adeus na despedida

  

A Traição das Metáforas

em brazilírica pereira de campos ex-dos goytacazes no presídio federal  a rainha das artes cínicas federika bezerra esfola um cordeiro a unha e desafia macabea a estrela que não sobe para uma cena melodramática no pasto das oliveiras

“gosto de sentir a minha língua roçar a língua de luís de camões gosto de ser e de estar e quero me dedicar a criar confusões de prosódia e uma profusão de paródias que encurtem dores e furtem cores como camaleões” (caetano veloso)

zé do burro carregava sua cruz misticamente enquanto rosa sua mulher adúltera prevaricava no terreiro dançando ao som dos atabaques em louvor a iansã

foi aí que macabea deu o troço:



- não admito poeta no presídio fazendo filme pornô mas enquanto falava seus olhos  esbugalhados não cansavam de olhar a rosa gozando descaradamente da sua cara de santa do pau oco pessoas fingem que vivem quando não gozam federika não -  goza da cara cínica do cordeiro sendo destrinchado no anquete antropofágico em homenagem a oswald de andrade na porta do teatro trianon enquanto o poeta pornô desflauda sua bandeira nua e crua descabaçando as flores da rua espuma/esperma semeia e o corpo despido da prosa grafita na lua cheia

 

se eu não fosse macunaíma
fulinaíma também não seria
por qualquer coisa que fosse
poeta não caberia
mesmo se filho eu fosse
de uma santa maria
afilhado de grande otelo
neto da romaria
e quando ao mundo eu viesse
em outro lugar não podia
tinha que ser cacomanga
           onde EU então nasceria

 

poema atávico

 

e se a gente se amasse uma vez só a tarde ainda arde primavera tanta nesse outubro quanto de manhãs tão cinzas nesse momento em bento gonçalves mauri menegotto termina de lapidar mais uma pedra tem seus olhos no brilho da escultura confesso tenho andado meio triste na geografia da distância esse poema atávico tem a cor da tua pele a carne sob os lençóis onde meus dedos ainda não nasceram algum deus anda me pregando peças num lance de dados mallarmaicos comovido ainda te procuro em palavras aramaicas e a pele dos meus olhos anda perdida em teu vestido

 

para gigi mocidade

procuro uma menina
que seja assim quase criança
que seja assim quase mulher
procuro uma menina
que saiba bem a diferença
entre o mal e o bem-me-quer
que saiba bem a flor que cheira
pra desfolhar o mal-me-quer
sabendo tudo brincadeira
saiba beijar o que ela quer
saiba que o beijo é um desejo
que nasce da flor quando mulher
saiba que o desejo quando beijo
não é por              amor qualquer

 

miles davis fisgou na agulha

oscar no foco de palavra

cobra de vidro sangue na fagulha

carne de peixe maracangalha

que mar eu bebo na telha

que a minha língua não tralha?

 


eros

tua blusa de seda
entre meus dentes
o nó se desfez depois do vinho
sob as folhas dos parreirais
vale - os vinhedos
quantas vezes eros
eletrizou os nossos dedos?


 

escridura

esse poema absurdo
direto no ouvido do surdo
escridura nos olhos dela
ela bem sabe o que desejo
ela bem sabe o que espero
tem canivete no sangue
tem um alfinete entre dentes
a faca que corta a navalha
sangrou as tripas no ventre
o beijo quando for que seja
de língua lambendo a carne quente

 

algaravia

 

eu sou o vento

que remove teus cabelos

e repousa em tua face

 

a outra face do que sente

mas não vê

a palavra que um dia

escreverá - algaravia

na películas da memória

na ficção que entender

 

come poesia menina

come poesia

não há mais metafísica

no mundo

do que comer poesia

 

temos delicados

drops de anis

 

ou

 

chocolate de café

 

para festejar

Leila Diniz


temos as líricas

tímidas românticas

abstratas metafóricas

atrevidas

 

temos

os chuviscos

bomucados

maria mole

rapadura

 

temos também

as ácidas viscerais

eróticas

concretas

sensuais

as que não livram

a cara do fascismo

e dão porrada em ditadura

 


serAfim 7 -          artur fulinaíma o outro


carne viva da loucura

 

escrevo pra não morrer antes da morte me disse gigi mocidade no homem com a flor na boca transitivo ou intransitivo vivo na mais sagrada ilógica do inconsciente coletivo na semeadura dos ossos carnadura  enquanto posso palavrar o que procuro enquanto ócio vou lavrando o criativo na carne viva da loucura quando da morte sobrevivo

 

inquieto procuro mais uma palavra cínica fulinaimânica sagarínica no corpo da palavra corpo o sangue no corpo da palavra polifônico sinético poema biotônico ressigni –ficar cada lugar na sua coisa cada coisa em seu lugar o ser da coisa serafim vampiro goytacá canibal tupiniquim cbf vergonha geral desastrosa overdose poética você entra com a dose eu entro com a boca depois a gente troca para o over não dormir de toca meu diário escrito em aramaico me persegue quero mais que o quiabo vos carregue uma tragédia chamada enel se alastra pelo país quando nasci meu pai me deu caju minha mãe severina cuscuz com carne seca no leite da manhã vã filosofiia lembra daquele dia dezembro mil    novecentos e noventa e quatro?

 

j medeiros deu um show trepado no túmulo do torquato saímos do cemitério pro mercado para lamber a cajuína era uma tarde de sol em teresina não sei se foi assim só sei do mal-me-quer nas pétalas das flores do mal tem  euGênio mallarmè sangrei a carne da rosa com duas dentadas devorei as pétalas vermelhas de sangue abri um vinho com meu leque de vento e ofereci aos deuses das encruzilhadas com  federika bezerra - a porta bandeira da imperial tropicanalha na escola de samba da poesia contemporânea brasileira não curto palavra morta oca prefiro minha língua torta lambendo a    saliva viva no canto da tua boca

 


irina é um sol

que dói no crânio

quando dentes mordem

 os beiços da tarde


não posso permitir irina vestida de cetim de seda fina se a quero felimina vestida de sombra e luz a carne em flocos de lua olhos de não sonhar um abajur cor de carne nas pedras de lumiar


impossível pensar irina vestida com outras vestes este ser cabra da peste     do inconsciente coletivo do                   imaginário incandescente


inútil pensar irina vestida de serpentina como fez cinzia farina em seu poema visual era uma tarde de chuva num sonho de carnaval

 

 naquela hora marcada do encontro que não tivemos

 

muitas vezes demoro sim levo um tempo para poder decodificar algumas informações não muito previsíveis nem compreensíveis para massas cefálicas como as minha tenho andado em estados  como se tivesse não estado essa enel tem me furtado a paciência muito mais que os amores não furtados acabei de ler saramago em seus instantes de lucidez furiosa jiddu saldanha acaba de me dizer que continuo com a mesm a fúria de antes e nem sei se isso é possível diante dessa letargia nostálgica que as vezes me abate como uma lâmina ninja do cinema japonês li uma resenha a pouco de um cara chamado fernando naporano lembrei-me de 1997 quando juntos no festival de inverno de ouro preto criamos a antologia do requinte do lírico ao delicado do erótico impressa em papel criado com folhas de bananeiras com a super direção do mestre dos mestres sebastião nunes desse livro coletivo nasceu a ideia final dos retalhos imortais do serafim iniciada em 1994 no cefet campos e em 1995 no sesc consolação-sp daí em diante começamos a dar voz e fala para  alguns serafins que até hoje me acompanham nessa não viagem que muitas vezes tento mas não  faço assim como o encontro com stella naquela hora marcada                   do encontro que não tivemos

 

meta metáfora no poema meta

como alcançá-la plena
no impulso onde universo pulsa
no poema onde estico plumo
onde o nervo da palavra cresce
onde a linha que separa a pele
é o tecido que o teu corpo veste

como alcançá-la pluma
nessa teia que aranha tece
entre um beijo outro no mamilo
onde aquilo que a pele em plumo
rompe a linha do sentido e cresce
onde o nervo da palavra sobe
o tecido do teu corpo desce
onde a teia que o alcançar descobre
no sentido que o poema é prece



serAfim 8 -           euGênio mallarmè o filho de Severina conterrâneo de torquato

   

eu sou menino eu sou menina e não venham me dizer que lança perfume é parafina diversidade de gêneros podes crer – não me alucina eu nasci da minha mãe que se chama severina  lá dos sertões do nordeste nor/destino nor/destina como o sal do maranhão bumba-meu-boi não desafina conterrâneo do torquato eu nasci em teresina

 


aqui

em casa

lavo pinto bordo

o corpo

a alma

os pelos

cada um que

pinte seus delírios

cada um que

desenrole

seus novelos

 

irina me disse há um poema seu debaixo das escadas atrás de cada porta dos palácios metaforicamente fulinaíma desvenda todos os mistérios interplanetários na invasão dos intra poderes que comandam a invasão cibernética dos ventos e por consequência a invasão dos corpos

 

itabapoana

 

pedra de toque

língua de rock

blues bodoque

não gaste seu silêncio atoa

um beijo nessa pedra

            e a palavra voa



ouvindo música pra remédio


quando se trata de metáforas macabea invade a meta do poema afora e se esconde atrás do personagem trancada no sub-inconsciente semi-morta pra toda fauna toda flora na moralidade mata o que o corpo sente deixa a carne apodrecer ao sol da mordacidade
entre hóstias e cultos anti-bíblicos
castrada de toda e qualquer sexualidade prende o gozo na boca quando se masturba mentalmente ouvindo música pra remédio travestida em todo tédio
                    que o histerismo a converteu

 


suspenso
no Ar
não penso
atravesso
o portão da tua casa
o corpo em fogo
a carne em brasa
tudo arde
nas cinzas das horas
no silêncio da tarde
vou entrando sem alarde
sem comício
como o pássaro
que acaba de cantar
em pleno hospício

 

você pensa que escrevo em rua reta ou estrada sinuosa para você poesia é verso do inverso ou avesso de uma prosa? escrevi pscanalítica 67 em mil novecentos e sessenta e sete numa madrugada de setembro outubro quando visitei meu pai no henrique roxo e vi vespasiano contra a parede dando cabeçadas no manicômio mais uma vida exterminada e no fim das contas noves fora nada tudo o que eu queria dizer naquela hora explode agora quando atravesso o portão da tua casa o corpo em fogo a carne em brasa sem pensar estética estrutura estilo de linguagem sinto o desejo entre os teus mamilos a espera do beijo da esfinge que devora


irina serafina onça branquinha brincando de ninfeta com sua língua de fogo devassa o imoral queima boletos da sabesp na cara de tarcísio desfila na paulista com sua bu(a)nda de metal

 

poética 48

era quase uma menina
nem bem sei se era
pois me dera amor carnal

como o que eu quisera
como nunca antes
outra mulher me dera

 

tão distante teresina
me lembro da cajuína
saudade da faustina

que conheci no carnaval
da mostra visual de poesia
brasileira

tinha carlos careqa
jormmad muniz de brito
rubervam du nascimento

o verbo então carnal
argamassa no cimento

mas a carne tão macia
viva crua quase nua
acendeu  a luz no apartamento

 

poética 38

 

enquanto escavo a seiva
entre o vão das suas coxas 
para desfrutar do teu cio
e santificar o nosso  ócio

a selva amazônica perde 
mais 200 mil hectares de mata virgem
para as moto serras assassinas
desse venal agro negócio



serAfim 9 –  federika  bezerra a porta bandeira

 

na pele do poema

o cavalo selvagem
cavalga a pele do poema
enquanto transa na pastagem
um novo trote

a deusa do rock
berra em outro canto

enquanto na voragem da vertigem
assento a pedra de xangô
na vitória do espírito santo



naquela noite de chuva

as cores no vestido de iansã passaram despercebidas por aqui o sangue encarnado nas matas de oxossi e o olho do dragão na ponta da espada de ogum ainda que aline na porta da casa velha tivesse sobre a pele meus olhos presos por  palavras escritas na parede as sagradas escrituras não dissessem o quanto ali brotavam flores naquela noite de chuva um coração estraçalhado

 

61


revirei sacramento pelo avesso do avesso aline me acompanhou passo a passo pela ladeira até a casa dos fundos canários no quintal catavam o que comer fotografamos e filmamos o que pairou no ar e não perdoa o éter dentro o cafezal nos convidava ao êxtase aline olhou pelo espelho da janela que dava para o outro lado da alma e levitou entre as trilhas dos canteiros ouvindo o som que nos unia

 

frente ao espelho

penso o tempo que não veio o mar que se foi o amor que não ficou o mamilo dos teus seios os olhos de um boi tudo que restou o sol a luz a cruz a dor de não dormir o berro a barra a lua o punhal a faca a fruta no quintal a pele o tecido a cor do teu vestido a flor no temporal a chuva o arco íris teus olhos a retina a cera a parafina e a nossa vida de animal


 

a musa do guarda chuva

 

a musa do guarda chuva não mora mais aqui nem desfila em minhas performances no teatro municipal baby magrelinha se mudou para santo andré depois da tarde de chuva era um sábado de tropicnAlices e carolina na outra ponta do tapete todo grafado em poesia a orquestra tocou uma valsa dançamos a distância no meio do povo antes da chegada de pirandello na voz de mônica cardela ainda não havia o homem com a flor na boca só algum tempo depois cacá de carvalho me apresentou na sala maria antônia numa semana da usp tenho desejos de sampa hoje amanheci com a traição das metáforas enroladas em minha garganta coloco o vinil na vitrola enquanto cássia eller me canta

 

 

a carNAvalha em

são luis do paraitinga

 

certa vez foi ao carnaval de são luis do paraitinga queria conhecer o povo caiçara ver os folguedos de artifícios no jogo do baralho do batman com o coringa mas o dilúvio nos aterrou na estrada só chegamos em profunda madrugada nem ás de copas muito menos ás espadas em nossa bagagem cerveja era só o que restava no culler da federika a mulher mais rica do bordel da boemia muito mais até que a diva a maior puta do país no curral das éguas da planície montanhosa  na madrugada iluminada  como se diz lá nas quebradas

 

 

 

 

 

pohermeto oswaldiano

que a cia das letras ainda não publicou

 

pedaladas ao mar

 quando invento

poema  ao sabor do vento

 

as mambucabas quando chegaram em santa clara traziam pimentas caiçara conchas vermelhas de ubatuba salsinhas de itacoatiara miçangas azuis de são luiz do paraitinga trilhas da serra  de paranapiacaba   muitas garrafas de pinga para as mesas do interventor godot não perdia tempo metia a boca na moringa pensando que era um coringa  dos bailes do imperador  tomava banho em   guaxindiba  enrolado nos trapos  do enxugador

 

faroeste lamparão

para torquato neto – in memória

 

 quando saí de casa ia dar um tiro na cara do delegado mas estava desarmado estão me colocando em histórias dos tempos do não sei onde como se eu durando kid comesse a filha do conde nunca comi amarela em cinema mexicano muito menos a ruiva do faroeste americano disseram que eu tive caso de amor que se tornou pernambucano quando encontrei o poeta no trailer do ricardinho foi me falando de mansinho como se trampa uma batalha pra não cair na armadilha  a grana palavra cilada

 

agora não se fala mais agora não se fala nada

 

 o homem  com a flor na boca

 

federico pensou iracema com seus grandes vestidos folgados como a grande ninfeta iolanda trajada em vestes de penas nos bailes do império em luanda nas barras das saias da fama ele então grafitou grumixama palavra que ouviu numa cena na língua da formosa dama no teatro da rua ipanema   nos bordeís de copacabana os cogumelos de santa cecília nas barras incandescentes da cama pornofônicas palavras fonemas pitanga urucum colorau açucena com os caldos da salsaparrilha qualquer  grande orgia    é pequena

 

garrutio

 

o sobrinho do meu tio

marcou o boi com ferro em brasa

por ordens de dom diego de la riva

e na janela da grande casa

do mosteiro de são bento

azeredo furtado  garruchava

lençóis de trigos ao vento

enquanto o boi estribuchava

com a metáfora ensanguentada

no couro cru na carne viva

do santíssimo sacramento

 


lamparão

 

lamparina acesa no trovão

relâmpagos atravessam corredores

lá fora chove canivetes e navalhas

quebradeira geral no umbral

das coisas incompletas

relampejam  nos currais sacramentados

entre a desgraça e a glória

e aqui incorporados

nos porões da  nossa história

 

são saruê

festa no sertão é bala
bola no buraco é búlica
cabral não descobriu a pólvora
por trás de cada coisa pública

a chama do lampião na palha
fogueira sempre quero acesa
linguagem meu fuzil metralha
explosão como feijão na mesa

 

são saruê 1

o vento nordeste
atiça meu ser cabra da peste
assumo o risco
sou diabo sou curisco
boto a peixeira na cinta
pra pular fogueira
em noites de são joão
meu xangô xangô menino
viva o povo nordestino
nosso deus é lampião

 

profana

 

tenho apenas

esse punhal de prata

e a lua já não é mais cheia

poesia sempre na veia

e aquele beijo guardado

que ainda não foi roubado

na noite da santa ceia

 

 

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