irina agora também é modelo dessas pinturas clássicas que a
gente não sabe qual foi o pincel usado
pelo pintor
desde guarapari
lá por por dois mil e cinco
que o meu telhado é de zinco
o meu chão é de estrelas
a minha pele tem plumas
minha língua espuma
quando roço em teus cabelos
Rúbia Querubim
https://porradalirica.blogspot.com/
Com Os Dentes Cravados Na Memória
A Mocidade Independente de Padre Olivácio – A Escola de
Samba Oculta No Inconsciente Coletivo, nasceu em dezemvro de 1990, durante uma
viagem em que cia de Guiomar Valdez, levamos uma turma de estudantes da então
ETFC(IFF), a Ouro Preto-MG, como premiação por terem vencidos a Gincana
Cultural desenvolvida durante o ano, pelo Grêmio Estudantil Nilo Peçanha. Lá
conheci Gigi Mocidade – A Rainha da Bateria, com quem vivi até 1996.
A Igreja Universal do Reino de Zeus, criei em 2002 durante a
1ª Bienal do Livro de Campos dos Goytacazes-RJ, que foi realizada nas
dependências do Ginásio de Esportes do então CEFET-Campos, onde na ocasião lancei
o livro BraziLírica Pereira : A Traição das Metáforas.
O grande objetivo da IURZ é homenagear deuses deusas da
África e Grécia para de alguma forma descobrir de onde vem as nossas
ancestralidades. De alguma forma e em alguns momentos mitologia grega e africana
se misturam e viajando metaforicamente nessas realidades reinventadas vim
desaguar no Vampiro Goytacá canibal Tupiniquim.
Artur
Gomes
https://arturgumes.blogspot.com/
serAfim 5 - federika lispector a ponta da lança
espelho
flechas que sangraram oxóssi
em meu peito quebro
espelho do outro lado
da rua mato a fera
ogum me deu a lança
tua fúria não me alcança
não ando só yansã
me leva em sua ventania
trovão estampido coice elétrico
tenho o reflexo do fluxo
do sangue que me embala
bala na veia tiro de letra
não tenho trava não tenho treta
branca ou preta eu traço o tempo
ao sabor do vento que vem
ao sabor do vento que vai
onda do mar eu tenho o sal
e quero sol a solidão não pega
de surpresa nunca fui presa
fácil pra tua armadilha
eu tenho a trilha que os teus pés
jamais irão pisar
não tenho certeza que isto
é um país ando por recife entre pedras como quem vomita um planalto dentro do
palácio grafito a porra no muro tenho vontade de explodir este barril de
pólvora esta é a palavra que não basta eu trovoada relâmpago ventania temporal
elevada a múltipla potencialidade dessa
miséria quântica
nessa imoral brasilidade
o dia que eu
estiver vestida
não me toque
deixe que eu troque
o sentido para o truque
na armadura de ogum
a trama pro desejo
que não dou a qualquer um
desassossego
o meu amor não tem sossego
morde lambe chupa come
teu corpo que ainda não conheço
tua carne - nem se quer tem endereço
o meu amor não tem apego
agarra larga prende solta
atira ampara - é cachoeira
escorre como trovoada
iansã em tempestade
o meu amor é livre e limpo
quando a alma está lavada
desejo sexo amor
paixão
fantasia
aos olhos de wermmer
tudo é possível crer
até em quem não cria
diante do espelho fico zen
chamo zeca baleiro de meu bem
canto a mama canto o papa
canto o negão do rappa
canto até quem não conheço
e não preciso de endereço
pra mandar cartão postal
canto a mina da esquina
que se chama lys cabral
translúcida
levanta natureza morta você não é
cubism0 de picasso nem
surrealismo de dali diante os cabelos de aço de frida calo muitas vezes
vejo muitas coisas ao mesmo tempo
na fotografia dou um corte no pensamento para que o vento me traga o norte levanta pássaro sem sorte o passo
em falso
o cadafalso predestinada a sina
em sua morte
não tenho panos
fico nua para o vento
relâmpagos trovões
tempestades temporais
e ventania
não tenho em mim calmaria
trago vulcões em pensamento
subversiva 1 - 15 – outubro - 2022
eu não sou santa nem casta a vida é bruta e
não me basta vou a
luta uma quadrilha
de filhos da puta tomou o planalto de assalto o
lugar deles é a lata de lixo de onde
nunca deveriam ter saído vamos enxotar
essa putada varrer do mapa esses canalhas
nem que seja a golpe de gilete a fios de navalhas
se é esse jeito ou única saída subverter a ordem acelerar
o ritmo da libertação a arte é arma
e não temos tempo de temer a morte arte é
intervenção da massa armemos o povo
para o povo entender e aprender a ocupar democracia é palavra gasta “a arte
existe porque a vida não basta” se a massa está inerte vamos fermentá-la vamos fomentá-la
com fermento do biscoito fino antes do anoitecer “quem sabe faz a hora não espera
acontecer” vamos a hora é essa eu tenho pressa não
temos tempo pra espera o trem das onze
está partindo e quem perder já era
a cara a tapa
tenho minha arma na língua
não nas coxas
veneno na saliva
só a cara é de anjo
o sal da ilha de creta
a pedra da boa viagem
tenho na bagagem
faca estilete canivete
afiada navalha malandragem de moleque
para raspar pentelhos
rasgar bandeiras dessas cara/velas
da milenar tropicanalha
mitológica
fosse afrodite
ou fosse vênus
mariana fosse quanto
a flor sagrada de lótus
secreto o espírito santo
os girassóis entre os cabelos
nos lábios lírios do campo
serAfim 6 - artur gomes fulinaíma
talvez não tenha lógica o que
escrevo minha escrita grita do inconsciente coletivo vivo re-par-ti-do em três
em quatro em cinco em seis em sete quem não conhece não se mete
em tudo aquilo que excita
salve meus erês meus eguns meus xangôs e meus exus salve
meus oguns meus oxossis omulus salve iemanjás oxuns e iansãs todas as manhãs
que ainda ardem minhas mordidas nas maçãs das coxas de nanãs
irreverência ou morte disse
gigi mocidade pra federico baudelaire homem com flor na boca mestre/sala dos
mares mocidade independente de padre olivácio e
escola de samba oculta no inconsciente coletivo não
fujo do perigo no asfalto o beijo sujo é
preciso
estar
atento e forte não temos tempo de
temer a morte disse-me caetano na
canção tropicalista o genocida anda
solto
não
podemos
nos
perder de vista
tenho andado vermelho de sangue caranguejos explodem no mangue boca da barra guaxindiba gargaú balas pipocas nos becos na corda bamba do hemisfério sul tenho andado nas tralhas das trilhas vendo fantasmas nos telhados e o caroço desse angu nas entrelinhas dos tratados com cascavel surucucu quem foi que
disse que essa terra é santa ? quem foi que
disse que isso aqui é ilha? só pode ser
filha da outra a que pariu o boi zebu
linguagem
o que vai
de um lado da ponte
a outra
é o que sai da boca
o que entra é a língua
a que entorta
beija sem pedir licença
chupa morde goza
na entrada e na saída
sem ter adeus na despedida
A Traição das Metáforas
em brazilírica pereira de campos ex-dos goytacazes no
presídio federal a rainha das artes
cínicas federika bezerra esfola um cordeiro a unha e desafia macabea a estrela
que não sobe para uma cena melodramática no pasto das oliveiras
“gosto de sentir a minha língua roçar a língua de luís de camões gosto de ser e
de estar e quero me dedicar a criar confusões de prosódia e uma profusão de
paródias que encurtem dores e furtem cores como camaleões” (caetano veloso)
zé do burro carregava sua cruz misticamente enquanto rosa sua mulher adúltera
prevaricava no terreiro dançando ao som dos atabaques em louvor a iansã
foi aí que macabea deu o troço:
- não admito poeta no presídio fazendo filme pornô mas enquanto falava seus
olhos esbugalhados não cansavam de olhar
a rosa gozando descaradamente da sua cara de santa do pau oco pessoas fingem
que vivem quando não gozam federika não - goza da cara cínica do cordeiro sendo
destrinchado no anquete antropofágico em homenagem a oswald de andrade na porta
do teatro trianon enquanto o poeta pornô desflauda sua bandeira nua e crua
descabaçando as flores da rua espuma/esperma semeia e o corpo despido da prosa
grafita na lua cheia
se eu não fosse macunaíma
fulinaíma também não seria
por qualquer coisa que fosse
poeta não caberia
mesmo se filho eu fosse
de uma santa maria
afilhado de grande otelo
neto da romaria
e quando ao mundo eu viesse
em outro lugar não podia
tinha que ser cacomanga
onde EU então nasceria
poema atávico
e se a gente se amasse uma vez só a tarde ainda arde primavera tanta nesse outubro quanto de manhãs tão cinzas nesse momento em bento gonçalves mauri menegotto termina de lapidar mais uma pedra tem seus olhos no brilho da escultura confesso tenho andado meio triste na geografia da distância esse poema atávico tem a cor da tua pele a carne sob os lençóis onde meus dedos ainda não nasceram algum deus anda me pregando peças num lance de dados mallarmaicos comovido ainda te procuro em palavras aramaicas e a pele dos meus olhos anda perdida em teu vestido
para gigi
mocidade
procuro uma menina
que seja assim quase criança
que seja assim quase mulher
procuro uma menina
que saiba bem a diferença
entre o mal e o bem-me-quer
que saiba bem a flor que cheira
pra desfolhar o mal-me-quer
sabendo tudo brincadeira
saiba beijar o que ela quer
saiba que o beijo é um desejo
que nasce da flor quando mulher
saiba que o desejo quando beijo
não é por amor qualquer
miles davis fisgou na agulha
oscar no foco de palavra
cobra de vidro sangue na fagulha
carne de peixe maracangalha
que mar eu bebo na telha
que a minha língua não tralha?
eros
tua blusa de seda
entre meus dentes
o nó se desfez depois do vinho
sob as folhas dos parreirais
vale - os vinhedos
quantas vezes eros
eletrizou os nossos dedos?
escridura
esse poema absurdo
direto no ouvido do surdo
escridura nos olhos dela
ela bem sabe o que desejo
ela bem sabe o que espero
tem canivete no sangue
tem um alfinete entre dentes
a faca que corta a navalha
sangrou as tripas no ventre
o beijo quando for que seja
de língua lambendo a carne quente
algaravia
eu
sou o vento
que
remove teus cabelos
e
repousa em tua face
a
outra face do que sente
mas
não vê
a
palavra que um dia
escreverá
- algaravia
na
películas da memória
na
ficção que entender
come poesia menina
come poesia
não há mais metafísica
no mundo
do que comer poesia
temos delicados
drops de anis
ou
chocolate de café
para festejar
Leila Diniz
temos as líricas
tímidas românticas
abstratas metafóricas
atrevidas
temos
os chuviscos
bomucados
maria mole
rapadura
temos também
as ácidas viscerais
eróticas
concretas
sensuais
as que não livram
a cara do fascismo
e dão porrada em ditadura
serAfim 7 - artur fulinaíma o outro
carne viva
da loucura
escrevo pra não morrer antes da morte me disse gigi mocidade no homem com a flor na boca transitivo ou intransitivo vivo na mais sagrada ilógica do inconsciente coletivo na semeadura dos ossos carnadura enquanto posso palavrar o que procuro enquanto ócio vou lavrando o criativo na carne viva da loucura quando da morte sobrevivo
inquieto procuro mais uma palavra
cínica fulinaimânica sagarínica no corpo da palavra corpo o sangue no corpo da
palavra polifônico sinético poema biotônico ressigni –ficar cada lugar na sua
coisa cada coisa em seu lugar o ser da coisa serafim vampiro goytacá canibal
tupiniquim cbf vergonha geral desastrosa overdose poética você entra com a dose
eu entro com a boca depois a gente troca para o over não dormir de toca meu
diário escrito em aramaico me persegue quero mais que o quiabo vos carregue uma
tragédia chamada enel se alastra pelo país quando nasci meu pai me deu caju
minha mãe severina cuscuz com carne seca no leite da manhã vã filosofiia lembra
daquele dia dezembro mil novecentos e noventa e quatro?
j medeiros deu um show trepado no túmulo do torquato saímos do cemitério pro mercado para lamber a cajuína era uma tarde de sol em teresina não sei se foi assim só sei do mal-me-quer nas pétalas das flores do mal tem euGênio mallarmè sangrei a carne da rosa com duas dentadas devorei as pétalas vermelhas de sangue abri um vinho com meu leque de vento e ofereci aos deuses das encruzilhadas com federika bezerra - a porta bandeira da imperial tropicanalha na escola de samba da poesia contemporânea brasileira não curto palavra morta oca prefiro minha língua torta lambendo a saliva viva no canto da tua boca
irina é um sol
que dói no crânio
quando dentes mordem
os beiços da tarde
não posso
permitir irina vestida de cetim de seda fina se a quero felimina vestida de
sombra e luz a carne em flocos de lua olhos de não sonhar um abajur cor de
carne nas pedras de lumiar
impossível pensar irina vestida com outras vestes este ser cabra da
peste do inconsciente coletivo
do imaginário incandescente
inútil pensar irina vestida de serpentina como fez cinzia farina em seu
poema visual era uma tarde de chuva num sonho de carnaval
naquela hora marcada do encontro que não tivemos
muitas vezes demoro sim levo um tempo para poder decodificar algumas informações não muito previsíveis nem compreensíveis para massas cefálicas como as minha tenho andado em estados como se tivesse não estado essa enel tem me furtado a paciência muito mais que os amores não furtados acabei de ler saramago em seus instantes de lucidez furiosa jiddu saldanha acaba de me dizer que continuo com a mesm a fúria de antes e nem sei se isso é possível diante dessa letargia nostálgica que as vezes me abate como uma lâmina ninja do cinema japonês li uma resenha a pouco de um cara chamado fernando naporano lembrei-me de 1997 quando juntos no festival de inverno de ouro preto criamos a antologia do requinte do lírico ao delicado do erótico impressa em papel criado com folhas de bananeiras com a super direção do mestre dos mestres sebastião nunes desse livro coletivo nasceu a ideia final dos retalhos imortais do serafim iniciada em 1994 no cefet campos e em 1995 no sesc consolação-sp daí em diante começamos a dar voz e fala para alguns serafins que até hoje me acompanham nessa não viagem que muitas vezes tento mas não faço assim como o encontro com stella naquela hora marcada do encontro que não tivemos
meta metáfora no
poema meta
como alcançá-la plena
no impulso onde universo pulsa
no poema onde estico plumo
onde o nervo da palavra cresce
onde a linha que separa a pele
é o tecido que o teu corpo veste
como alcançá-la pluma
nessa teia que aranha tece
entre um beijo outro no mamilo
onde aquilo que a pele em plumo
rompe a linha do sentido e cresce
onde o nervo da palavra sobe
o tecido do teu corpo desce
onde a teia que o alcançar descobre
no sentido que o poema é prece
serAfim
8 - euGênio mallarmè o filho de
Severina conterrâneo de torquato
eu sou menino eu sou menina e não venham me dizer que lança perfume é
parafina diversidade de gêneros podes crer – não me alucina eu nasci da minha
mãe que se chama severina lá dos sertões
do nordeste nor/destino nor/destina como o sal do maranhão bumba-meu-boi não
desafina conterrâneo do torquato eu nasci em teresina
aqui
em casa
lavo pinto
bordo
o corpo
a alma
os pelos
cada um que
pinte seus
delírios
cada um que
desenrole
seus novelos
irina me disse há um poema seu debaixo das escadas atrás de cada porta dos palácios metaforicamente fulinaíma desvenda todos os mistérios interplanetários na invasão dos intra poderes que comandam a invasão cibernética dos ventos e por consequência a invasão dos corpos
itabapoana
pedra de toque
língua de rock
blues bodoque
não gaste seu silêncio atoa
um beijo nessa pedra
e a palavra voa
ouvindo música pra remédio
quando se trata de metáforas macabea invade a meta do poema afora e se esconde atrás do personagem trancada no sub-inconsciente semi-morta pra toda fauna toda flora na moralidade mata o que o corpo sente deixa a carne apodrecer ao sol da mordacidade
entre hóstias e cultos anti-bíblicos
castrada de toda e qualquer sexualidade prende o gozo na boca quando se masturba mentalmente ouvindo
música pra remédio travestida em todo
tédio
que o histerismo a
converteu
suspenso
no Ar
não penso
atravesso
o portão da tua casa
o corpo em fogo
a carne em brasa
tudo arde
nas cinzas das horas
no silêncio da tarde
vou entrando sem alarde
sem comício
como o pássaro
que acaba de cantar
em pleno hospício
você pensa que escrevo em rua reta ou estrada sinuosa para você poesia é verso do inverso ou avesso de uma prosa? escrevi pscanalítica 67 em mil novecentos e sessenta e sete numa madrugada de setembro outubro quando visitei meu pai no henrique roxo e vi vespasiano contra a parede dando cabeçadas no manicômio mais uma vida exterminada e no fim das contas noves fora nada tudo o que eu queria dizer naquela hora explode agora quando atravesso o portão da tua casa o corpo em fogo a carne em brasa sem pensar estética estrutura estilo de linguagem sinto o desejo entre os teus mamilos a espera do beijo da esfinge que devora
irina
serafina onça branquinha brincando de ninfeta com sua língua de fogo devassa o
imoral queima boletos da sabesp na cara de tarcísio desfila na paulista com sua
bu(a)nda de metal
poética 48
era quase uma menina
nem bem sei se era
pois me dera amor carnal
como o que eu quisera
como nunca antes
outra mulher me dera
tão distante teresina
me lembro da cajuína
saudade da faustina
que conheci no carnaval
da mostra visual de poesia
brasileira
tinha carlos careqa
jormmad muniz de brito
rubervam du nascimento
o verbo então carnal
argamassa no cimento
mas a carne tão macia
viva crua quase nua
acendeu a luz no apartamento
poética 38
enquanto
escavo a seiva
entre o vão das suas coxas
para desfrutar do teu cio
e santificar o nosso ócio
a
selva amazônica perde
mais 200 mil hectares de mata virgem
para as moto serras assassinas
desse venal agro negócio
serAfim 9 – federika bezerra a porta bandeira
na pele do poema
o cavalo selvagem
cavalga a pele do poema
enquanto transa na pastagem
um novo trote
a deusa do rock
berra em outro canto
enquanto na voragem da vertigem
assento a pedra de xangô
na vitória do espírito santo
naquela noite de chuva
as cores no vestido de iansã passaram despercebidas por aqui o sangue encarnado
nas matas de oxossi e o olho do dragão na ponta da espada de ogum ainda que
aline na porta da casa velha tivesse sobre a pele meus olhos presos por palavras escritas na parede as sagradas
escrituras não dissessem o quanto ali brotavam flores naquela noite de chuva um
coração estraçalhado
61
revirei sacramento pelo avesso do avesso aline
me acompanhou passo a passo pela ladeira até a casa dos fundos canários no
quintal catavam o que comer fotografamos e filmamos o que pairou no ar e não
perdoa o éter dentro o cafezal nos convidava ao êxtase aline olhou pelo espelho
da janela que dava para o outro lado da alma e levitou entre as trilhas dos
canteiros ouvindo o som que nos unia
frente ao espelho
penso o tempo que não veio o mar que se foi o amor que não ficou o mamilo dos
teus seios os olhos de um boi tudo que restou o sol a luz a cruz a dor de não
dormir o berro a barra a lua o punhal a faca a fruta no quintal a pele o tecido
a cor do teu vestido a flor no temporal a chuva o arco íris teus olhos a retina
a cera a parafina e a nossa vida de animal
a
musa do guarda chuva
a musa do guarda chuva não mora mais aqui nem desfila em
minhas performances no teatro municipal baby magrelinha se mudou para santo
andré depois da tarde de chuva era um sábado de tropicnAlices e carolina na
outra ponta do tapete todo grafado em poesia a orquestra tocou uma valsa
dançamos a distância no meio do povo antes da chegada de pirandello na voz de
mônica cardela ainda não havia o homem com a flor na boca só algum tempo depois
cacá de carvalho me apresentou na sala maria antônia numa semana da usp tenho
desejos de sampa hoje amanheci com a traição das metáforas enroladas em minha
garganta coloco o vinil na vitrola enquanto cássia eller me canta
a carNAvalha em
são luis do paraitinga
certa vez foi ao carnaval de são
luis do paraitinga queria conhecer o povo caiçara ver os folguedos de
artifícios no jogo do baralho do batman com o coringa mas o dilúvio nos aterrou
na estrada só chegamos em profunda madrugada nem ás de copas muito menos ás
espadas em nossa bagagem cerveja era só o que restava no culler da federika a
mulher mais rica do bordel da boemia muito mais até que a diva a maior puta do
país no curral das éguas da planície montanhosa na madrugada iluminada como se diz lá nas quebradas
pohermeto
oswaldiano
que a cia das letras ainda não publicou
pedaladas ao mar
quando invento
poema ao sabor do vento
as mambucabas quando chegaram em santa clara traziam pimentas caiçara conchas vermelhas de
ubatuba salsinhas de itacoatiara miçangas azuis de são luiz do paraitinga trilhas da serra de paranapiacaba muitas garrafas de pinga para as mesas do interventor godot não perdia tempo metia a boca na moringa pensando que era um coringa dos bailes do imperador tomava banho em guaxindiba enrolado nos trapos do enxugador
faroeste
lamparão
para
torquato neto – in memória
quando saí de casa ia dar um tiro na cara do delegado mas estava
desarmado estão me colocando em histórias dos tempos do não sei onde como se eu
durando kid comesse a filha do conde nunca comi amarela em cinema mexicano
muito menos a ruiva do faroeste americano disseram que eu tive caso de amor que
se tornou pernambucano quando encontrei o poeta no trailer do ricardinho foi me
falando de mansinho como se trampa uma batalha pra não cair na armadilha a grana palavra cilada
agora não se
fala mais agora não se fala nada
o homem com a flor na boca
federico pensou iracema com seus grandes vestidos folgados como a grande ninfeta iolanda trajada em vestes de penas nos bailes do império em luanda nas barras das saias da fama ele então grafitou grumixama palavra que ouviu numa cena na língua da formosa dama no teatro da rua ipanema nos bordeís de copacabana os cogumelos de santa cecília nas barras incandescentes da cama pornofônicas palavras fonemas pitanga urucum colorau açucena com os caldos da salsaparrilha qualquer grande orgia é pequena
garrutio
o sobrinho
do meu tio
marcou o boi
com ferro em brasa
por ordens
de dom diego de la riva
e na janela
da grande casa
do mosteiro
de são bento
azeredo
furtado garruchava
lençóis de
trigos ao vento
enquanto o
boi estribuchava
com a
metáfora ensanguentada
no couro cru
na carne viva
do
santíssimo sacramento
lamparão
lamparina acesa no trovão
relâmpagos atravessam corredores
lá fora chove canivetes e navalhas
quebradeira geral no umbral
das coisas incompletas
relampejam nos currais sacramentados
entre a desgraça e a glória
e aqui incorporados
nos porões da nossa
história
são saruê
festa no sertão é bala
bola no buraco é búlica
cabral não descobriu a pólvora
por trás de cada coisa pública
a chama do lampião na palha
fogueira sempre quero acesa
linguagem meu fuzil metralha
explosão como feijão na mesa
são saruê 1
o vento nordeste
atiça meu ser cabra da peste
assumo o risco
sou diabo sou curisco
boto a peixeira na cinta
pra pular fogueira
em noites de são joão
meu xangô xangô menino
viva o povo nordestino
nosso deus é lampião
profana
tenho apenas
esse punhal
de prata
e a lua já
não é mais cheia
poesia
sempre na veia
e aquele
beijo guardado
que ainda
não foi roubado
na noite da santa ceia
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