sexta-feira, 2 de outubro de 2020

Antonio Torres - EntreVistas

 


 

Conheci Antonio Torres através da EntreVista com o poeta Carvalho Junior. Depois de adicioná-lo no face e lendo algumas de suas postagens resolvi trazê-lo para este bate papo sobre o fazer sentir e pensar poesia.

 

Antonio Torres, nascido José Carlos Antônio Freitas Tôrres em Canhoba / Sergipe no ano de 1950, no início de 1971 ao início de 1984 viveu em São Paulo, voltando a Sergipe já como profissional da Caixa Econômica Federal, onde trabalhou até dezembro de 2000. Em 1986 editou pela Edicon o livro de poemas Transluzir;  participou de diversas coletâneas e fez parte do Grupo Corpoesia, com livreto, folder, camisas e recitais em escolas e condomínios. Teve poemas publicados na coluna do poeta José Couto no Jornal Eletrônico O Alvoradense, na edição número 16 - novembro/2017 - da revista Cumbuca (Aracaju/ Sergipe) a convite do editor poeta Amaral Cavalcanti, e na Revista Eletrônica SerMulherArte (editada por Chris Hermann / Lia Sena), e em redes sociais.


Artur Gomes
 - Como se processa o seu estado de poesia?

 Antonio Torres – Em geral ouvindo música, lendo, ou no isolamento, mesmo em meio de multidão. E tenho me rebelado em atender os reclamos da madrugada.

 Artur Gomes - Seu poema preferido? Próprio. Ou de outro poeta de sua admiração.

 Antonio Torres – Pergunta ingrata essa, pois os quereres e preferências muitas vezes andam de mãos dadas com os estados e os momentos. Poderia citar O Guardador de Rebanhos, mas lembro aqui o poema “Deus ensanguentado”, do saudoso poeta órfico sergipano Santo Souza. Transcrevo o final:

 E eis mais gritos nas garras destas âncoras

rasgando os oceanos. – Marinheiros

estão singrando os mares, sem farol

que dê luz às sereias que se vão

cegas e a sós, em busca de outras dunas

para fremir e enfeitiçar as ondas.

 

Não são monstros rugindo. É o ritual

de um deus sinistro carregando guerras

nos ombros lacerados. São vampiros

sugando o ocaso morto, ensanguentado.

É o estertor das últimas estrelas

Que desmaiam no chão das alvoradas.

No escuro, o homem se esquece de sonhar,

ver Deus plantando flores, caminhar

com um cometa na mão, como se fosse

uma lanterna iluminando o abismo,

para ver nele a horrenda partitura

da música total. A vida e a morte

aqui se abraçam, rindo. Sem catástrofes

para abrasar o véu do firmamento,

vamos lançar as cinzas de oceanos

e céus aos derradeiros ventos – vindos

das narinas do caos ou dos infernos

que nós criamos, para gozo e enleio

das musas que, chorando, adormeceram

e despertarão cantando em nossos braços.

 

Artur Gomes - Qual o seu poeta de cabeceira?

 Antonio Torres – Perdoe a indisciplina: Santo Souza e Fernando Pessoa

 Artur Gomes - Em seu instante de criação existe alguma pedra de toque, algo que o impulsione para escrever?

 Antonio Torres – Se o bicho da poesia insiste em fazer algazarra na mente, eu me meto numa redoma invisível e tento aproveitar a palavra ou frase que pegou fogo enquanto eu lia, o verso da canção que provocou meu descompasso, os olhares e carinhos percebidos, as dores do outro que me invadiram.

 Artur Gomes - Livro que considera definitivo em sua obra?

 Antonio Torres – Não há, Artur. Tenho só um livro publicado (Transluzir), pueril, felizmente esgotado, e participações em coletâneas redes sociais.

 Artur Gomes - Além da poesia em verso  já exercitou ou exercita outra forma de linguagem com poesia?

Antonio Torres – Não, não.

 Artur Gomes - Qual poema escreveu quando teve uma pedra no meio do caminho?Antonio

 Antonio Torres – Inúmeros: crítica social, ilusões, desenganos.

 Artur Gomes - Revisitando Quintana: você acha que depois dessa crise virótica pandêmica, quem passará e quem passarinho?

 Antonio Torres – Como está a humanidade, tenho dúvidas se o mal algum dia passará, mas a sede de liberdade e a fome de amor sempre serão passarinhos.

 Artur Gomes - Escrevendo sobre o livro Pátria A(r)mada, o poeta e jornalista Ademir Assunção, afirma que cada poeta tem a sua tribo, de onde ele traz as suas referências. Você de onde vem, qual é a sua tribo?

 Antonio Torres – No começo de minha aventura poética foram três os poetas que mais me impactaram: Santo Souza, por sua riquíssima linguagem metafórica e fundamentação histórica e social; José Sampaio, por seu ritmo, simplicidade e visão social; e o genial Manoel de Barros. Mas, em verdade, não venho de uma tribo, não tenho uma tribo. Gosto de pensar que sou da tribo humana, e mais especificamente das tribos dos desassistidos, dos que prezam a liberdade, dos que acreditam que o amor é infinitamente superior à visão romântica que lhe pregaram como estigma.

 Artur Gomes - Nos dias atuais o que é ser um poeta, militante de poesia?

 Antonio Torres – É ser um resistente, um bastião, uma bandeira, um sonhador.

 Artur Gomes - Que pergunta não fiz que você gostaria de responder?

 Antonio Torres – Quando o amigo descobrir pode perguntar que eu respondo, pois agora o que me cabe é agradecer o convite do EntreVistas e este seu árduo e valoroso trabalho cultural!

 

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Um comentário:

  1. Grande e querido Antônio Torres. Muito bom te redescobrir nesta EntreVista. Beijos pra vc e pro Artur.

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