Conheci Antonio Torres através da EntreVista com o poeta Carvalho Junior. Depois de adicioná-lo no face e lendo algumas de suas postagens resolvi trazê-lo para este bate papo sobre o fazer sentir e pensar poesia.
Antonio Torres, nascido José Carlos Antônio Freitas Tôrres em Canhoba / Sergipe no ano de 1950, no início de 1971 ao início de 1984 viveu em São Paulo, voltando a Sergipe já como profissional da Caixa Econômica Federal, onde trabalhou até dezembro de 2000. Em 1986 editou pela Edicon o livro de poemas Transluzir; participou de diversas coletâneas e fez parte do Grupo Corpoesia, com livreto, folder, camisas e recitais em escolas e condomínios. Teve poemas publicados na coluna do poeta José Couto no Jornal Eletrônico O Alvoradense, na edição número 16 - novembro/2017 - da revista Cumbuca (Aracaju/ Sergipe) a convite do editor poeta Amaral Cavalcanti, e na Revista Eletrônica SerMulherArte (editada por Chris Hermann / Lia Sena), e em redes sociais.
Antonio Torres – Em geral ouvindo música, lendo, ou no isolamento, mesmo em meio de multidão. E tenho me rebelado em atender os reclamos da madrugada.
Artur Gomes - Seu poema preferido? Próprio. Ou de outro poeta de sua admiração.
Antonio Torres – Pergunta ingrata essa, pois os quereres e preferências muitas vezes andam de mãos dadas com os estados e os momentos. Poderia citar O Guardador de Rebanhos, mas lembro aqui o poema “Deus ensanguentado”, do saudoso poeta órfico sergipano Santo Souza. Transcrevo o final:
E eis mais gritos nas garras destas âncoras
rasgando os oceanos. – Marinheiros
estão singrando os mares, sem farol
que dê luz às sereias que se vão
cegas e a sós, em busca de outras dunas
para fremir e enfeitiçar as ondas.
Não são monstros rugindo. É o ritual
de um deus sinistro carregando guerras
nos ombros lacerados. São vampiros
sugando o ocaso morto, ensanguentado.
É o estertor das últimas estrelas
Que desmaiam no chão das alvoradas.
No escuro, o homem se esquece de sonhar,
ver Deus plantando flores, caminhar
com um cometa na mão, como se fosse
uma lanterna iluminando o abismo,
para ver nele a horrenda partitura
da música total. A vida e a morte
aqui se abraçam, rindo. Sem catástrofes
para abrasar o véu do firmamento,
vamos lançar as cinzas de oceanos
e céus aos derradeiros ventos – vindos
das narinas do caos ou dos infernos
que nós criamos, para gozo e enleio
das musas que, chorando, adormeceram
e despertarão cantando em nossos braços.
Artur Gomes - Qual o seu poeta de cabeceira?
Antonio Torres – Perdoe a indisciplina: Santo Souza e Fernando Pessoa
Artur Gomes - Em seu instante de criação existe alguma pedra de toque, algo que o impulsione para escrever?
Antonio Torres – Se o bicho da poesia insiste em fazer algazarra na mente, eu me meto numa redoma invisível e tento aproveitar a palavra ou frase que pegou fogo enquanto eu lia, o verso da canção que provocou meu descompasso, os olhares e carinhos percebidos, as dores do outro que me invadiram.
Artur Gomes - Livro que considera definitivo em sua obra?
Antonio Torres – Não há, Artur. Tenho só um livro publicado (Transluzir), pueril, felizmente esgotado, e participações em coletâneas redes sociais.
Artur Gomes - Além da poesia em verso já exercitou ou exercita outra forma de linguagem com poesia?
Antonio Torres – Não, não.
Artur Gomes - Qual poema escreveu quando teve uma pedra no meio do caminho?Antonio
Antonio Torres – Inúmeros: crítica social, ilusões, desenganos.
Artur Gomes - Revisitando Quintana: você acha que depois dessa crise virótica pandêmica, quem passará e quem passarinho?
Antonio Torres – Como está a humanidade, tenho dúvidas se o mal algum dia passará, mas a sede de liberdade e a fome de amor sempre serão passarinhos.
Artur Gomes - Escrevendo sobre o livro Pátria A(r)mada, o poeta e jornalista Ademir Assunção, afirma que cada poeta tem a sua tribo, de onde ele traz as suas referências. Você de onde vem, qual é a sua tribo?
Antonio Torres – No começo de minha aventura poética foram três os poetas que mais me impactaram: Santo Souza, por sua riquíssima linguagem metafórica e fundamentação histórica e social; José Sampaio, por seu ritmo, simplicidade e visão social; e o genial Manoel de Barros. Mas, em verdade, não venho de uma tribo, não tenho uma tribo. Gosto de pensar que sou da tribo humana, e mais especificamente das tribos dos desassistidos, dos que prezam a liberdade, dos que acreditam que o amor é infinitamente superior à visão romântica que lhe pregaram como estigma.
Artur Gomes - Nos dias atuais o que é ser um poeta, militante de poesia?
Antonio Torres – É ser um resistente, um bastião, uma bandeira, um sonhador.
Artur Gomes - Que pergunta não fiz que você gostaria de responder?
Antonio Torres – Quando o amigo descobrir pode perguntar que eu respondo, pois agora o que me cabe é agradecer o convite do EntreVistas e este seu árduo e valoroso trabalho cultural!
Fulinaíma MultiProjetos
(22)99815-1268 – whatsapp
EntreVistas
Grande e querido Antônio Torres. Muito bom te redescobrir nesta EntreVista. Beijos pra vc e pro Artur.
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