Conheço a Luiza Cantanhêde já há alguns anos e acompanho sua produção poética que é de uma força extrema. Estive duas vezes no Maranhão mas o encontro pessoal que cheguei a pensar que aconteceria não aconteceu. Agora nessa EntreVistas tenho a oportunidade de conhecer muito mais do seu fazer, sentir e pensar poesia.
LUIZA CANTANHÊDE - (Santa Inês-MA,).Reside em Teresina-Piauí. Possui formação em Contabilidade, membro fundadora da Academia Piauiense de Poesia. Membro da Academia Poética Brasileira. Membro da Associação de Jornalistas e escritoras do Brasil, coordenadoria Maranhão. Membro da Sociedade de Cultura latina do Maranhão. Publicou “Palafitas” (poemas, Penalux, 2016) “Amanhã, serei uma flor insana” (poemas, Penalux-2018) e "Pequeno Ensaio amoroso" (Penalux,2019). Recebeu menção honrosa no Prêmio H. Dobal da Academia Piauiense de Letras, e menção honrosa no Prêmio Vicente de Carvalho 2018; e "Álvares de Azevedo-2019" ambos da União Brasileira de Escritores-UBE/RJ, recebeu o prêmio "Destaque Nordeste" 2019, em Gravatá-PE. Tem poemas traduzidos para o Italiano e Espanhol.
Artur Gomes - Como se processa o seu estado de poesia?
Luiza Cantanhêde - Desde que a poesia atravessou o meu caminho e que descobri a possibilidade de lidar com o simbólico, trabalhar a linguagem imprimindo-lhe elementos poéticos e estéticos, arrisco dizer que sou poeta em "tempo integral" pois há sempre algo em mim pedindo para ser revisto, lido ou para ser escrito; já o estado de poesia é ativado quando algo me espanta ou me encanta.
Artur Gomes - Seu poema preferido? Próprio. Ou de outro poeta de sua admiração.
Luiza Cantanhêde - Impossível escolher um só, neste universo amplo e diversificado que a poesia nos proporciona; prefiro citar alguns dos que me causaram "rebuliço" nesta vida a fora
-Poema em linha reta
-Tabacaria
(Fernando Pessoa)
-Poema de sete faces
-No meio do caminho
-E agora José?
(Carlos Drummond de Andrade)
-Vou -me embora pra Pasargada
(Manuel Bandeira)
-Poema sujo
(Ferreira Gullar)
-Os três malandros
(João Cabral de Melo Neto)
-Aninha e suas pedras
(Cora Coralina)
-Eu-Mulher
(Conceição Evaristo)
Só para citar alguns...
Artur Gomes - Qual o seu poeta de cabeceira?
Luiza Cantanhêde -Todos que já passaram e/ou passam por mim e que me tocam de alguma forma, estarão sempre na "minha cabeceira" À exemplo de Ferreira Gullar, Nauro Machado Carlos Drummond de Andrade, Manuel Bandeira, João Cabral de Melo Neto, Manoel de Barros, António Ramos Rosa, Rilke, Camus, Herberto Hélder, Vicente Huidobro, Hilda Hilst, Orides Fontela, Ana Cristina César, Adélia Prado, Nathan Sousa, Paulo Rodrigues, Anna Elizandra, Mell Renault Evilasio Júnior...
Enfim, a lista é extensa.
Artur Gomes - Em seu instante de criação existe alguma pedra de toque, algo que o impulsione para escrever?
Luiza Cantanhêde -A inquietação é o primeiro toque. À partir daí o poema surge de um impulso consciente ou inconsciente onde pode me ocorrer(ou não) de ouvir os rumores da vida, a solidão, o estranhamento, o entranhamento; o que sinto mesmo é a epifania da palavra, iluminando ou escurecendo as cavernas do meu ser.
Artur Gomes - Livro que considera definitivo em sua obra¿
Artur Gomes - Além da poesia em verso já exercitou ou exercita outra forma de linguagem com poesia?
Luiza Cantanhêde -Não! Muito embora já ouço o "chamado" para enveredar por outros gêneros, contos, talvez...
Artur Gomes - Qual poema escreveu quando teve uma pedra no meio do caminho?
Luiza Cantanhêde - Muitos!
Mas posso citar um que expeli junto à minha indignação ao saber de mais um caso de feminicídio e que consta do meu livro mais recente: "Pequeno ensaio amoroso "
UM POEMA QUASE
Não fosse esse gosto
De chumbo derretido na boca
A mão estendida
Humilhada e com fome
Não fosse esse chão duro, os ossos duros de roer
Não fosse o corpo das Marieles, Camillas, Arethas, Emiles
Das Tânias, Dandaras
Marias
Não fosse a miséria nos mapas dos continentes
Não fosse esse grito preso, essa indignação essa impotência
(O silêncio que asfixia)
Eu diria que isto é quase um poema.
Artur Gomes - Revisitando Quintana: você acha que depois dessa crise virótica pandêmica, quem passará e quem passarinho?
Luiza Cantanhêde - Não seremos os mesmos ao sair dos "escombros". Porém a humanidade continuará sempre com suas maldades e bondades, muitos passarão destruindo ou edificando. E ainda que Holderlin, diga que "o poeta é o que corre até a catástrofe" Estes serão sempre "passarinhos"
Artur Gomes - Escrevendo sobre o livro Pátria A(r)mada, o poeta e jornalista Ademir Assunção, afirma que cada poeta tem a sua tribo, de onde ele traz as suas referências. Você de onde vem, qual é a sua tribo?
A poesia tem me dado os elementos para reconhecê-las!
para ilustrar esta fala deixo um poema do meu livro "Palafitas" que diz um pouco desse Universo:
A CABAÇA
Sou essa terra de chão batido, esse sertão da língua de cinza, a fome alada
O Carcará
Sou esse deserto de poeiras longínquas Sou água na cabaça o arame farpado cercando o latifúndio de sol e estrada
Sou esse fruto no avesso da terra plantada.
Artur Gomes - Nos dias atuais o que é ser um poeta, militante de poesia?
Luiza Cantanhêde - É o poeta antenado com as dores do mundo, combativo e que faz da palavra sua arma mais poderosa. Como diz António Ramos Rosa em um de seus poemas: "As palavras têm rosto: Ou de silêncio ou de sangue"
Artur Gomes - Que pergunta não fiz que você gostaria de responder?
Luiza Cantanhêde - Estão ótimas!
Só agradecer pelo convite e desejar sucesso em todos os seus projetos.
Fulinaíma MultiProjetos
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