domingo, 19 de março de 2023

quarta parede


Quarta parede

Origem e significado

A origem da expressão é incerta, mas presume-se que o conceito tenha surgido na Idade Média com a aplicação do Teatro Saltimbanco, onde os atores atuavam em uma carroça, e assim podiam se deslocar por outros vilarejos, uma espécie de teatro ambulante, e a peça ocorria levantando uma lona lateral, criando uma abertura para visão geral do evento. A aplicação dava-se cada vez que, erguendo esta lona (a quarta parede), o espectador tinha acesso a imagem da peça encenada, geralmente com até, no máximo, quatro personagens atuando ao mesmo tempo.

Logo em seguida, pela formação do Teatro Elizabethano, na côrte da Rainha Elizabeth I (Londres, Inglaterra), onde o teatro era realizado para a nobreza como forma de distração e era preparada, muitas vezes, com intuito de se atacar ou criticar, de forma direta atitudes, comportamentos, da própria nobreza na côrte. Essas críticas nem sempre mostravam o nome do nobre, mas o fazia de forma satírica, confrontando-os e questionando-os, no entanto, as cenas eram preparadas, escrachadas, tinha como objetivo um ataque, mas de forma leve, tão leviana, que acabava por virar comédia. Todos riam, sabiam que se falava da côrte e seus participantes. Às vezes, sabiam sobre quem estava sendo satirizado, mas aquela conduta dos atores, embora muitas vezes com maldade, deixava a crítica um tanto sarcástica, outras vezes sutil, mas sempre procurando deixar a peça em tom crítico direto, mas completamente debochada em relação a quem a assistia.

O teatro assume a apresentação como se fosse uma caixa, surgindo o teatro tradicional como conhecemos e a quarta parede, de certa forma cai, deixando de existir e dando lugar àquela plateia que assiste passivamente, quer dizer a plateia evita mexer-se e, supostamente, assiste à peça sem se deixar envolver emocionalmente com os atores, mas nem sempre ocorria. Lembremos que algumas pessoas era bufões, comiam durante o espetáculo, causando um barulho que acabava por desconcentrar, outros com o uso do leque, outros com movimentos de pernas para chamar a atenção, daí para o ator não se desconcentrar com tosses, com movimentos corporais da plateia em que se estabelece a quarta parede, imaginária, tanto para o grupo de atores, quanto para a plateia, conduzindo o grupo de atores a um estudo e domínio próprio mais profundo para se condicionar em representar sem ter a influência da plateia ou minimizando-a e exigindo uma concentração maior durante a encenação, século XVIII, com as teorias propugnadas por Diderot, quando este aponta:

"Então, caso façais uma composição, ou caso representeis, pensai no espectador apenas como se este não existisse. Imaginai, na borda do teatro, uma enorme parede que vos separe da plateia; representai como se a cortina não se levantasse".[1]

A expressão também é usada em outros mídia, como cinema, videogames, quadrinhos,televisão e literatura, geralmente para se referir à divisória entre a ficção e a audiência.

A quarta parede é parte da suspensão de descrença entre o trabalho fictício e a plateia. A plateia normalmente aceita passivamente a presença de uma quarta parede sem pensar nela diretamente, fazendo com que uma encenação seja tomada como um evento real a ser assistido (teatro tradicional). A presença de uma quarta parede é um dos elementos mais bem estabelecidos da ficção e levou alguns artistas a voltarem a sua atenção para ela como efeito dramático. Por exemplo, na peça The Fourth Wall de A.R. Gurney, quatro personagens lidam com a obsessão da dona de casa, Peggy, por uma parede em branco na sua casa. Lentamente é desenvolvida uma série de clichês teatrais, enquanto toda a mobília e a ação em cena vão cada vez mais se dirigindo à suposta quarta parede.

Derrubando a quarta parede

O ato de derrubar a quarta parede é usado no cinema, no teatro, na televisão e na arte escrita, e tem origem na teoria do teatro épico de Bertolt Brecht, que ele desenvolveu a partir e, curiosamente, para contrastar com a teoria do drama de Constantin Stanislavski. Refere-se a uma personagem dirigindo a sua atenção para a plateia, ou tomando conhecimento de que as personagens e ações não são reais. O efeito causado é que a plateia se lembra de que está vendo ficção e isso pode eliminar a suspensão de descrença. Muitos artistas usaram esse efeito para incitar a plateia a ver a ficção sob outro ângulo e assisti-la de forma menos passiva. Brecht estava ciente de que derrubar a quarta parede iria encorajar a plateia a assistir a peça de forma mais crítíca - o chamado Efeito de Alienação.

Derrubar a quarta parede de forma súbita é um recurso bastante usado para um efeito humorístico nonsense, já que tal efeito é inesperado em ficções narrativas e afins. Alguns acreditam que derrubar a quarta parede cause um distanciamento da suspensão de descrença a ponto de contrastar com o humor de uma história. No entanto, quando usada de forma consistente ao longo da história, é geralmente incorporada ao estado passivo da plateia.

Essa exploração da familiaridade de uma plateia com as convenções da ficção é um elemento-chave em muitos trabalhos definidos como pós-modernistas, que descontroem as regras preestabelecidas da ficção. A ficção que derruba ou diretamente se refere à quarta parede muitas vezes também usa outros recursos pós-modernistas, como a metalinguagem (Teatro Contemporâneo).

O recurso é muito usado no teatro improvisado, onde a plateia é convidada a interagir com os atores em certos pontos, como para escolher a resolução de um mistério. Nesse caso, os espectadores são tratados como testemunhas da ação em andamento, tornando-se "atores" e atravessando a quarta parede.

A quarta parede também é usada como parte da narrativa, quando a personagem descobre que faz parte de uma ficção e 'derruba a quarta parede' para estabelecer um contato com a audiência.[2] Isso ocorre em filmes como O Último Grande Herói e A Rosa Púrpura do Cairo, onde personagens saem dos filmes que habitam e espectadores adentram a película; O Show de Truman, onde o personagem-título percebe que sua vida é uma espécie de reality show filmado em um gigantesco estúdio; e o livro O Mundo de Sofia, onde os personagens de um livro sendo escrito percebem seu caráter ficcional e tentam descobrir como conseguir sua liberdade. Nesse caso, a 'quarta parede' que a personagem derruba permanece como parte da narrativa em si, e a parede entre a plateia real e a ficção permanece intacta. Há casos também em que a criatura encontra o criador, como no período em que Grant Morrison escrevia as histórias em quadrinhos do Homem Animal. Histórias como essas não derrubam efetivamente a quarta parede - apenas se referem a esse recurso.

Alguns personagens são notórios por quebrar a quarta parede, como Deadpool da Marvel Comics, Goku no fim de cada episódio de Dragon Ball Z (Majin Boo e Gohan também fizeram), Pinkie Pie de My Little Pony: A Amizade é Mágica [3] , Frank Underwood, de House of Cards e a série de games Metal Gear: Solid (Onde alguns personagens olhavam para a tela e interagiam com o jogador).

Referências
BORIE, Monique; ROUGEMONT, Martine de; SCHERER, Jacques. Estética teatral: textos de Platão a Bertolt Brecht, pg. 167. Tradução de Helena Barbas. 2ª edição, Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2004]
NOVAS POSSIBILIDADES EM METALINGUAGEM
The Most Fourth Wall-Breaking Moments in Television History

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Irina Amaralina Severina Serafina Serafim

  Irina   mulher de Amaralina  mexe tudo dentro de mim   muito mais que Severina muito mais que Cabralina muito mais que Severina muito mais...