quinta-feira, 11 de março de 2021

Mariana Belize - Entrevistas

Conheci Mariana Belize através de um post que ela fez para divulgar o seu Projeto Literário Olho de Belize, o título me atraiu, pois tudo do Olho me atrai. Fui conferir e gostei de tudo que li. Vi que além de mestranda em Literatura escreve crítica e poesia. Então convidei-a para a EntreVistas, ela aceitou e segue nosso bate papo.

 Mariana Belize, que criou e escreve no Projeto Literário Olho de Belize, é poeta e mestranda em Literatura Brasileira pelo Programa de Letras vernáculas da UFRJ. Formada em Letras - Língua Portuguesa/ Literaturas - da UFRRJ – Nova Iguaçu Escreve resenhas críticas com base nos seus estudos de Crítica e Teoria Literária com base na Estética da Recepção e estudos sobre a relação entre arte e vida.

 Artur Gomes - Como se processa o seu estado de poesia?

 Mariana Belize - No cotidiano. Não acredito no transcendental, nem em alguma epifania. O meu estado de poesia se processa lentamente porque eu mesma sou lenta, tacanha e teimosa.

 Artur Gomes - Seu poema preferido? Seu ou de um outro poeta de sua preferência.

 Mariana Belize - XXXII – Hilda Hilst, do livro Odes mínimas

Por que me fiz poeta?
Porque tu, morte, minha irmã,
No instante, no centro
De tudo o que vejo.

 

No mais que perfeito
No veio, no gozo
Colada entre eu e o outro.
No fosso
No nó de um íntimo laço
No hausto
No fogo, na minha hora fria.


Me fiz poeta
Porque à minha volta
Na humana ideia de um deus que não conheço
A ti, morte, minha irmã,
Te vejo.

 Artur Gomes - Qual o seu poeta de cabeceira?

 Mariana Belize - Hilda Hilst.

 Artur Gomes - Em seu instante de criação existe alguma pedra de toque, algo que o impulsionar para escrever?

 Mariana Belize - Busco respostas para o que não há resposta, o mistério mesmo da vida. Tento, através da palavra, processar o elaborado senso da existência sempre em movimento.

 Artur Gomes - Livro que considera definitivo em sua vida¿

 Mariana Belize - A obscena Senhora D., de Hilda Hilst.

 Artur Gomes - Além da poesia em verso , já exercitou ou exercita outra forma de linguagem com poesia?

 Mariana Belize - Sim, através de contos, algumas tentativas de iniciar um romance e um flerte com a prosa poética.

 Artur Gomes - Qual poema escreveu quando teve uma pedra no meio do caminho?

 Mariana Belize – todo dia ela faz tudo sempre igual:

café, escrita, almoço, descanso

escrita, escrita, escrita, ABNT

exercício, jantar e dormir

todo dia ela diz a si mesma

pra se cuidar, essas coisas que diz

toda mulher

diz que está esperando alguma coisa

mas logo levanta num ímpeto

interrompe o próprio sonho

três luas e dois sóis que ela teria para beijar

flutuam esquecidos no véu carmim da noite

e a mulher segue seu destino

sem sombra de dúvidas

a escrita mais uma vez

reflete-se na tela

aos olhos

ela acha tudo uma merda

mas segue plantando as rosas

podando e se cortando nos espinhos desse jardim

 que é o texto escrito

nesse papel que parece alheio

repete a si mesma: pesquisadora

pesquisadora

investigadora

investigadora

corre mundo e foge da própria Vida

mas não sabe o que a espreita:

todo dia a Vida vem e alcança seu peito

o coração se despedaça num verso perdido

sofre, sua, cansa, elabora

nunca será, nevermore, Mefisto sorri:

está errado, princesa, desça desse palco

mulher não chega a lugar nenhum nesse mundo

quatro lugares reservados pra ti:

cova, prisão, manicômio, casamento

as quatro palavras definem quem és

louca, perdida, mal sabes

o que queres...

ela, no entanto, em silêncio e fúria

mantém o movimento das teclas que bate

letra por letra, vai catando feijão

palavra por palavra, sem lágrimas

numa carapaça poética

ela se reveste

e repete:

eu sou a mulher do fogo

e vigio para que sempre arda.

Amém.

 Mariana Belize

 Artur Gomes - Revisitando Quintana: você acha que depois dessa crise virótica pandêmica, quem passará e quem passarinho?

 Mariana Belize - Quem passará? Espero que os bolsonaros-bolsonaristas-militaristas. Esse povo devotado à morte.

Os passarinhos são todos aqueles que seguem, mesmo cansados, caminhando. O povo que se devota à vida.

 Artur Gomes – No prefácio do livro Pátria A(r)mada  o poeta e jornalista Ademir Assunção, afirma que cada poeta tem a sua tribo, de onde ele trás as suas referências. Você de onde vem, qual é a sua tribo?

 Mariana Belize- Eu sou uma bruxa solitária. Mas sei que sem as mulheres que me pariram, eu não seria ninguém. Minhas mães, minhas irmãs são todas as poetas, escritoras, pesquisadoras, médicas, curandeiras, donas-de-casa. São as Mulheres comprometidas consigo mesmas, com a sobrevivência das outras mulheres. Minha tribo é essa, mesmo que eu seja uma mulher desgarrada.

 Artur Gomes - Nos dias atuais o que é ser um poeta, militante de poesia?

 Mariana Belize - É não só escrever poesia, mas sobretudo divulgar os trabalhos dos outros poetas, escrever sobre poesia para as pessoas que não conhecem, apoiar a educação, e sobretudo não apoiar o desgoverno que vivemos.

 Artur Gomes - Que pergunta não fiz que você gostaria de responder?

 Mariana Belize - Se ouço música para escrever. Não ouço nada pra escrever porque sou distraída e a poesia me escapa fácil. Daí prefiro dar atenção total ao que escrevo, pra não esquecer ou me perder do fluxo.


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Um comentário:

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