Poeta Artur Gomes é eleito para cadeira 12 da Academia Campista de Letras
O último ocupante dessa cadeira foi o professor e ex-presidente da ACL Hélio de Freitas Coelho
*
Os membros da Academia Campista de Letras (ACL) elegeram Artur Gomes, poeta, ator e produtor cultural, para ocupar a cadeira n. 12 da instituição, na noite de quinta-feira (3).
O último ocupante dessa cadeira foi o professor e ex-presidente da ACL Hélio de Freitas Coelho, tendo como patrono Heitor de Araújo Silva.
Candidataram-se como postulantes à vaga os escritores Diego Nunes Abreu, Ivan Vilela Júnior, Pedro Henrique Rodrigues Ribeiro, Thais de Souza Silva, Wedson Felipe Cabral Pacheco e Wesley Barbosa Machado.
As candidaturas, previamente analisadas pela comissão eleitoral (formada pelo presidente Ronaldo Junior, pelo segundo vice-presidente Carlos Augusto Alencar e pela Secretária Titular Sylvia Paes), foram deferidas e assim votadas: Artur Gomes obteve 15 votos, enquanto Pedro Henrique Ribeiro obteve 1 voto. Os demais não receberam votos.
A cerimônia de posse está marcada para ocorrer no sábado, dia 19 de outubro, às 16h, na sede da ACL, localizada no Jardim São Benedito.
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Artur Gomes – Fulinaimagens
https://fulinaimagens.blogspot.com
O Homem Com
A Flor Na
Boca
:
Deus Não
Joga Dados
Deus não
joga dados
Mas a
gente lança
tenta –
em arte tudo se inventa
Eu tenho
flores
com a
língua atravessada em cada canto da boca
EuGênio Mallarmè
Dê Líricas
Bebo teus olhos atlânticos
e tua voz portuguesa
como quem bebe no Tejo
saudades de Lisboa
caminho com os teus passos
em direção ao poema do desassossego
Florbela Espanca Alberto Caieiro Fernando Pessoa
Baudelíricas Baudeléricas
o poema um beijo em tua boca bruna tem um B entranhado entre as coxas a pele das amoras gemem quando venta forte em tuas fendas do hoje comi duas nessa manhã incendiária quando vim da cacomanga trouxe nos bolsos da calça remendada linha carretel cola de tribo cerol bambu papel de pipa pique bandeira pique esconde jabuti preá da índia pés de abóboras replantáveis o pé de abacate ainda não nasceu Isadora chegou ontem 30 de março numa tarde outono à sol aberto noite gelada frio na medula maya ainda escreve sobre depressão no tempo falks may abriu as asas pra malásia e a outra mora do outro lado em outra terra rio grande muito longe tenho sede
com os
dentes cravados na memória
com os
dentes cravados na memória
tontas
vezes me re-par-to mul-ti-pli-co em 7
alegria noves fora nada tudo é baudelérico federico me dizia leonardo fez 80
afonso 84 na rede somos 3 quando ele vem já somos 4 em temporais escrevo e
sangro como boi antes da morte muitos outros já se foram e nem gozaram em 69 se
eu me lembrar 64 não posso esquecer 68 era uma noite de maio peguei o trem pra
são cristóvão depois avião para brasília quando voltei no espelho dédala estava
dentro da tipografia
*
Em 1995 no Centro Cultural Maria
Antônia, na USP, em cia da minha querida amiga Silvia Passareli, assisti uma
encenação de Cacá de Carvalho, com texto de Pirandello que me pegou da medula
ao osso. A plateia era de 40 pessoas apenas e Cacá circulava entre nós com a
sua energia pulsante magnética. O texto era um fragmento de uma trilogia que ele
deu o nome de O Homem Com A Flor Na Boca.
E a ele, Cacá de Carvalho, dedicamos este livro.
*
Ofício de
Poeta
franzir a noite
é o mesmo que bordar o dia
costuro o tempo
com linha de pescar moinhos de vento
entre o franzido e o bordado
escrevo um desenredo
e vou foto.grafando
filmando poesia
na solidão dos meus brinquedos
II
costuro arco-íris
com linhas de bordar
teus olhos d´água
III
pego na enxada diariamente
para capinar o quintal
da estação três cinco três
literalmente
não é metáfora
para lamber cio da terra
como na canção que Chico fez
IV
a poesia as vezes me vem da fala
outras de vozes absurdas
na travessia cantei pontos de Jongo
em Folias de Reis Festas Juninas
despachos de Macumba
para me defender dos capataz
nunca vivi porto seguro
na minha praia não tem cais
escrevo como falo aprendi com os ancestrais
V
com uma câmera nas mãos
um poema na cabeça
vamos filmar o poema
antes que desapareça
A folha de papel em branco sobrevoa a transparência diante do espelho onde me espreitam dois grandes olhos feito jabuticabas de um pomar que inda procuro a palavra escrita ainda não dita de um desejo impuro e a folha branca de papel pousa em tuas mãos como um pássaro não nascido ainda vindo do futuro.
*
carne proibida 2
abusas no meu e-mail
no centro de gravidade
desse meu corpo elétrico
não me dissestes porque veio
acender a lâmpada
na metafísica dos poros
devoro teu corpo atlântico
com meu canino esquerdo
minha fome é quântica
como um barril de pólvora
com o pavio aceso
II
salsa alecrim alfavaca cebolinha
azeite limão hortelã vinagre
azeite com pimenta
quem resiste esse peixe temperado
que a poesia em mim inventra
vem lambe minha língua
que esse me(u)l sal te alimenta
tempestade/temporais
eu
sou avesso atravesso a cidade
com
o que me interessa
as
vezes sou sossego outras vezes tenho pressa
não
procuro o que não quero
me
abstenho no que faço
me
abstrato quando posso
me
concreto em cada passo
o
compasso é argamassa
o
absinto quando traço
uma
linha nunca reta
da
palavra em descompasso
se
sou torto não importa
em
cada porta risco um ponto
pra
revelar os meus destroços
no
alfabeto do desterro
a
carnadura dos meus ossos
Terra em Transe
em 1990 estava eu em Registro em mais uma transa literária que tinha sido iniciada em
Jardinópolis depois de uma passagem por Batatais, onde Hygia Calmon Ferreira, a
musa do poema Sagaranagens Fulinaímicas, me apresentou algumas estudantes do curso de letras na UNESP, em São José do
Rio Preto.
Em Batatais, quando desci do palco do Teatro Municipal, dois
lábios vermelhos carnudos encarnados e dois olhos azuis vidrados vibravam em
minha direção, era Cláudia, que ganhou beijo na boca e alguns anos depois Copacabana
consumou nossos desejos.
Em Registro era uma noite de Sarau no restaurante onde
jantávamos e eu ali absurdado com os
poetas soprando palavras ao vento, foi quando Mariana de Piracicaba, vindo a
mim feito ondas, me ofereceu saliva ardente numa pétala de rosa branca e espuma
vermelha de batom - delírios em sua língua de Vênus.
Desde então queimando em mar de fogo me Registro
hoje
o maior desafio
permanecer Nu cio
Ando
alpha
Quase
beta
Meu
destino ser poeta
A mulher dos sonhos
ela ainda guarda na boca este poema
entre os dentes a língua saliva sílaba por sílaba as palavras que invento ela
fala em meus versos ao sabor do vento enquanto freud não explica o que ainda
não fizemos ela mastiga meus biscoitos finos e vê nos búzios minhas mãos de
fogo quando tem no livro este incenso aceso as entre minhas em entre linhas
salta das metáforas por entre portas e janelas
no poema o que ficou?
para
Cesar Augusto de Carvalho
no poema ficou caco de vidros
azulejando nos azuis
no poema ficou o corte mais aberto
o sangue mais secreto
tanto mal secando blues
no poema ficou a língua cega
a faca desdentada
a fome afiada onde era mel agora é
pus
no poema ficou o obsceno não sagrado
o beijo ensanguentado
o abstrato do concreto
no poema ficou um objeto
um soneto esfacelado
um hiato no decreto
no poema ficou mais um retalho
mais um trapo do espantalho
nesse circo abjeto
no poema ficou o sangue amargo
numa noite quase nada
num curral analfabeto
no poema ficou a escuridão
nuvens de cinzas
onde antes era luz
no poema eu fiquei de pé quebrado
no velório esquartejado
nessa terra de
tanta cruz
Dédalus
para
Alberto Bresciani
e o seu
magnífico Hidroavião
O poeta pesca peixes
na floresta de concreto
lâminas de cimento
há séculos
não está pra peixe este mar
aqui redes em pânico
pescam esqueletos no ar
linhas de nylon
degolam tartarugas
que morrem náufragas
na Av. atlântica
o poeta cata os cacos que restaram
desta pátria desossada
*
arde em mim
um
rio
de
palavras
corpo
larvas erupção
mar
de fogo
vulcão
no romance do Poema
Mário Faustino traçou o seu
destino
FederikaLispector
havia ali
o voo
em que Faustino
se dissolveu
no ar
tornou-se
fausto
anjo
aéreo
Herbert Valente de Oliveira
Irreverência ou Morte!
Gigi
Mocidade
escrevo
para não morrer antes da morte
Federico Baudelaire
o
poema é um lance de dados
mas
não fugirá ao acaso
Stéphane Mallarmè
linguagem toda viagem
imagens sempre me levam a viagens impensadas fotografias me
levam a grafias outras imagens recriadas escrevo não como Manuel Bandeira para
não morrer mas como Federico Baudelaire para não morrer antes da morte. ontem o
sonho me trouxe ela de volta leve como espuma quando beija a pele da areia.
muitas vezes imagens me levam a viajar - como deve ser escrever para não enlouquecer ? muitas vezes algas que ela traz no mar da boca desce abaixo do umbigo e
se encaixa entre as coxas encharca a língua de saliva e me lembra algum
despacho Olga Savary quando me diz que mar é o nome do seu macho.
poema
o poema pode ser um
beijo em tua boca a orelha de Van Gog bandeirinhas de Volpi os rabiscos de Miró
o assassinato de Lorca o poema pode ser o que vai o que não fica Lupicínio na
Mangueira Noel Rosa na Portela uma jangada de velas um parangolé do Oiticica o
poema pode ser os meus músculos de ossos a minha pele de sangue a morte
ancestral em cada mangue e os negros nervos de aço estraçalhados em Martinica o
bombardeio de Guernica o cubismo de Picasso
o
Delírio é a Lira do
Poeta
se o
Poeta não Delira
sua
Lira não Profeta
Artur Fulinaíma
ando tendo sonhos antropológicos que mais parecem pesadelos e a desgraça é tanta que dói até nos cotovelos
poesia
à flor da
barra
amor à primeira vista
meu livro vermelho de sangue
Ouro Preto na contra capa
a musa morta no mangue
rosa vermelha no altar
desejo paixão fogo brasa
incêndio na minha casa
para nunca mais se apagar
poema 1
o que você faria
se soubesse que és musa
de dois poetas tortos ?
um visivelmente você sabe
o outro se oculta
por trás da lua nova
quando deita rede na varanda
com sua
luz de zinco prata
o que você faria
se hoje eu te dissesse
que o tempo tarda mas não finda
e que a lua só é nova
por quê se preservou dentro da mata
curuminha ainda?
poema 2
esse poema mora dentro de ti
entre pele pelos músculos nervos ossos
quase pronto mas
sempre inacabado
não importa o caminho que o tempo
o disperse em curvas de distâncias
ou que o carinho não baste
quando é sede e fome que que se tem no corpo
não sei por quantas vezes
nem sei por quantos anos
um pássaro leva para se abrigar no ninho
ou para fazer de um fio elétrico
o seu lugar de pouso
quando quase tudo no poema ainda está por vir
só sei que pode sol e chuva atrapalhar o canto
mas será sempre no teu colo que ele
um dia irá dormir
poema 3
o homem com a flor na boca
faz dos seus versos
poesia um tanto prosa
tem na pele o couro cru
e um parangolé
pendurado no pescoço
onde pensamos nervos
no seu corpo - ali é osso
tua língua atravessa
o pontal das coxas
quando o leito do seu rio
transborda um oceano
carrega espinhos na carne
como fossem pétalas de rosa
com os dentes rasga da musa
- todo pano - e ali
mesmo goza
poema 4
para
Jorge Ventura
a faca não cala do poema a fala
Dionísio Neto de Bacco
quem sabe filho de Zeus
jantou comigo a Santa Ceia
na casa de Prometeus
nas madrugada de Bento
lambeu o vinho nos seios
das Bacantes no convento
por todos poros do corpo
por todos pelos
e meios
depois grafitou nas vidraças
com dedos de diamantes
a Rosa de Hirochima
num coração estudante
depois de
romper o dia
por volta da
seis e meia
era um coração de poeta
com poesia na veia
poema
10
meus caninos
já foram místicos
simbolistas
sócio políticos
sensuais eróticos
mordendo alguma história
agora estão famintos
cravados na memória
poema
11
escorre - nus
teus seios
espuma que jorrei
em tua boca
ainda existe algo
entre as coxas
e as costas
algas - água
o sal da língua
que lambeu a tua ostra
poema 12
tem algo de errado
nessas estatísticas de mortes
dessa pandemia
multipliquem 60.000 X
10
e ainda não vai ser exato
o número de cadáveres
empilhados nos campos de concentração
que dá um nome ao país
que ainda nem era uma nação
poema 13
arranco mais uma pérola
do ventre de hilda triste
na porta da tua casa
meu poema ainda insiste
a menina que matou o tempo
o vento também comia
na lâmina do catavento
pra espantar a maresia
nas ruínas de santa teresa
era domingo de poesia
bateu uma pedra no rock
e nos levou na ventania
poema 14
profissão – poema do livro
Suor & Cio revisitado
meu ofício é de poeta pra rimar
poema e blusa e ficar na tua pele pelo tempo em que me usa pelos mares de
Ipanema nessa minha epifania disse pra flor do lácio vista-se de poesia rasgue
os tecidos da carne pegue a língua que lambuza lambe também minha língua na
linguagem - minha musa
com os
dentes cravados na memória
I
por todos anos 80
ipanema 83
flora recém nascida
e eu chegando aos 40
gomes carneiro visconde de pirajá
bem próximo ao carinhoso
bartolo com seu trompete
depois que a noite dormia
tocou numa pérola negra
e beijou o novo dia
no boteco de onde estava conselheiro lafaiete
refúgio da boemia
me acordou da noite fria
clara clarividência
aflora sonoridade – melodia
logo depois era drummond
na praça general osório
pra enriquecer meu repertório
na pedra da poesia
II
ipanema 84
filipe recém nascido
por esses tempos vividos
na aldeia carioca
com todo vapor barato
na tribo os sete sentidos
nesses dentes da memória
os 5 presentes no corpo
outros 2 ganhos no tapa
pelas ruas de ipanema
até os botecos da lapa
poema 16
respiro-te enquanto escrevo
teu cheiro trazido pelo vento
vem da carne de manga
que mastiguei cinco minutos
tens o poder de me deixar em alfa
e me levar aos píncaros
nesse estado êxtase
quando estou em transe
quando alfa é beta
e o luar da tarde são teus olhos raios
quando os meus acerta
poema 17
fiz um trato com a ironia
o sarcasmo a
poesia
o bom humor a picardia
para enfrentar essa tragédia
tenho de sobra a alegria
e o que não falta em mim é sobra
visceral
antropofagia
tenho de sobra em minha obra
profanação
sagrada orgia
poema 18
nos meus delírios baudeléricos
ou mesmo fossem baudelíricos
sonho teu corpo flor de cactos
como se fossem flor de lírios
toco teus pelos flor do mangue
pulsando sangue em teus martírios
penso teu sexo flor de lótus
sagrada flor dos meus delírios
poema 19
a língua hoje passeia
pelos martírios de florbela
em tudo que ela não disse
ou mesmo exposto não revela
pelas
janelas do corpo
por todas dores prazeres
no que ficou por dizeres
no silêncio quando cala
por tudo que ainda não cabe
na sensualidade da fala
dor de cabeça
para Walter Franco - in memória
hoje me peguei
com uma dor de cabeça?
o que é que eu tenho
nessa cabeça?
perguntei ao seu doutor
essa dor de cabeça
é minha ou é na cabeça do senhor?
essa fumaça densa espessa
nessa manhã de fevereiro
quando no Rio de Janeiro
se assanha o carnaval
será Brasília o vendaval
o desespero, esse fascismo brasileiro
com cara de neonazismo
ou fanatismo Imperial?
tantos pratos
e talheres sobre a mesa
onde tudo cabe
desde que não seja lama
desde que não seja Vale
Holocausto
quem se alimenta
dessa dor
desse horror
desse holocausto
desse país em ruínas
da exploração dessas minas
defloração desse cabaço
quem avaliza o des(governo)
simboliza esse fracasso?
metafórica
dialética
quantas teorias terei
para escrever o que falo?
quantos sapatos ainda apertam
os calcanhares do meu calo?
me esqueço as vezes sobre a mesa
no jantar ou no almoço
garfos facas pratos talheres
me perco sempre em incertezas
se são onças leoas leopardos tigresas
e não saber se amanhã
vão morrer quantas mulheres
nas fardas
da realeza
Zeus
me livre
Zeus me livre dessa trágica comédia brasiliense
prefiro o nonsense - a patafísica
o teatro do absurdo de Ionesco, Arrabal
Fando e Liz, A Cantora Careca
As Cadeiras, A lição, Rinoceronte
As Mortes do Tanussi
me removem cicatrizes
como dias mais felizes?
se Belo Horizonte chora
a morte de 56 mineiros
e o Espírito Santo também chora
os corpos soterrados pela lama
a Máquina do Mundo nos devora
nessa tragédia social
os 270 mortos em Brumadinho mostram que nesse hospício
há muita lama no meio do caminho
fake book
o face detonou
minha família inteira
e lá se foram
os meus amores carnais
e agora o que eu faço
sem as Anas sem as Eras
as Cristinas Isadoras Micaelas
Vênus Afrodites todas elas
os bem-me-quer dos carnavais
essa rede assim fascista
não comporta
os meus poemas canibais
crise
diante dessa crise tanta
não adianta
fazer o que não deve
no improviso do repente
poeta inteligente
não inventa: escreve
poética 56
é ela mica bela
a mulher dos sonhos
que me acorda sempre
de um sono atávico
um
delírio pleno
uma vertigem calma
na viagem metafórica
dessa noite quântica
em que meus dedos sonham
tua pele clara
tua alma atlântica
esse pássaro raro
que me acende a lâmpada
poética 57
se a negritude ameríndia
do meu canto
lhe causa desconforto
insana criatura
desse
brasil escroto
sai do esgoto
não
se assuste
com
essa química
isso se chama
Sagaranagens
Fulinaímicas
meu girassol de metáforas
meu caldeirão de misturas
À Flor da Pele
para Zeca
Baleiro
o beijo partido tantos anos de infância já pensando o sexo o
cavalo baio no curral sem cela desejando a égua entre as primas dela esse amor me
corroía as tripas devorava o crânio dilacerava
estômago me comia os ossos tendo a carne em febre como tremia
o corpo numa noite fria sem oração ou prece na secreta inconsciência
"como um poeta que envelhece lendo Mayakowski na loja de conveniência"
ando
tão tenso
nesse tempo
estático
diagnóstico urológico
segundo o urologista
o sangue na urina
transbordou da próstata
sem passar pela bexiga
direto na ureta
e se não fosse tanta dor
juro quem sabe um dia
eu seria um bom poeta
FULINAIMAGEM
mais breve que
ponteiros de relógios
o amor roeu os ossos
comeu a cartilagem
da
linguagem dos negócios
minha vida de cachorro
não está pra peixe inteligente
tenho chorado
as mortes que não tive
o morto que ainda vive
tem gente que aterroriza
minha pobre paciência
tamanha a indecência
dos seus discursos de bestas
da sua língua
de bosta
Da série FAP
(Festival
Amargas Palavras)
minha língua faca
corta cana brava
pra vingar meus ancestrais
se
não é álcool
nem açúcar
o que é que essa usina faz?
bacantes
na minha cama de vênus
minhas putas não me levam à sério
me comem sorrindo
como se estivessem saboreando
um
manjar dos deuses
me chamam de Dionísio
gozar querem demais
nunca de
menos
só se vestem de Bacantes
em nossas camas de
Vênus
Federico
Baudelaire
FULINAIMAGEM
3
Overdose Nu Vermelho revisitada*
na
linguagem dos 80
o
corpo não precisava
de
puteiro prostíbulo bordel
faltasse
carne
pra
roçar os óvulos
a língua jorrava tinta
no papel
*Overdose Nu Vermelho – poema do livro Couro Cru & Carne Viva - 1987
FULINAIMAGEM
4
muitas vezes a língua pulsa pula para o outro lado do muro outras
vezes a língua pira punk nesses tempos obscuros às vezes a língua Dada vai
rolando dados nesse jogo duro muitas vezes a língua dark jorra luz nas trevas desse
templo escuro
FULINAIMAGEM 5
nessa
linguagem de palavras ostras
marisco
em minha língua
espuma
escorre
entre tuas coxas
o mel da palavra
pluma
gosma dessa baba enguia
feito
fogo queima o sal
dessa água impune fosse
espada peixe
flecha
ao sol no meio dia
FULINAIMAGEM 6
minha
língua baudelérica
faca
de dois gumes na métrica
morde o outro gumes na delírica
a minha língua só fonética
mallarmaica
brazilírica.
minha
língua pós andrátrica
drummundana
cibernética
afrodite na genética
mata o verme da quadrilha
bomba de nêutron energética
assassígna de brazilha
FULINAIMAGEM 7
língua
nova não tem dono pode estar em qualquer boca na minha na tua na dele na dela morde portas e janelas como se algum dente
fosse língua nova está na casa na areia na argila nesse barro chão batido nas
paredes de tijolos nos telhados de alguma casa mesmo fosso língua nova está no corpo está na carne
está no sangue está nos ossos língua
nova é quando posso catar o caranguejo pra escavar um novo poço
FULINAIMAGEM 8
a
língua cospe da boca essa saliva sangue escarro
do beijo que me foi roubado de outras
bocas bêbadas desses dias inglórios descem cascatas de trovões anunciam tempestades o sal amargo de algum ventre
exposto as sevícias da barbárie nas ruínas dos castelos entulhos dos palácios
esqueletos carcomidos por longos séculos de ócio
FULINAIMAGEM 9
rasgo
o véu na membrana em tua íris espinho minha língua cavalo no galope nesse pasto
de quimeras era foice faca e vieste de
outra Hera fosse febre fértil fumo nas artérias fosse sangue venoso em
minhas veias óxidas rios de carbono e chumbo lama mineral nos restos dos
impérios que um rei tirano trouxe
BraziLírica
Pereira: Revisitada
*
Leminki Ando
só olho ana à vera faça outono ou primavera quantas eras
quantas anas em carnaval meu olho disse: ana à vera vera ana ana clara claralisse vejo ana lendo eunice quando
li eu vi luana e ana ali só vi liana ana verso analice
um
lance de dados
doze e quarenta e seis mallarmè
na hora incerta dormindo invisível na grama segunda semana de dedos nas bocas sinal
inviável na quarta dedo de deus na montanha descendo a serra na terça apontando
os dardos pra besta beijou a dama de copas cuspiu no reizinho de espadas
jogando dados na sexta
macabea vozifera
lady gumes a diretora geral do presídio federal de
brazilírica, impressionada com a decisão pungente das metáforas em produzir
libertinagens, traçou um plano para que as meninas pudessem vez em quando
sobrevoar os céus do parador em grande falo gigante capricónio tropical.
macabea, a ofendida tentou de tudo: forjou mentiras, corrompeu
guardas, comprou juízes, cooptou alunos, advogados de deus e do diabo, para que
o vôo libertino das metáforas fosse exterminado.
"não estou aqui para que pintores sem a mínima
competência pictórica tentem lambuzar com qualquer tinta da porra a minha
estrela que não sobe". voziferou Macabea.
lady gumes, decidida, prosseguiu afinando a faca nos dois legumes,
e no momento exato final e derradeiro serrou as grades de ferro que amarravam
as portas do corredores do presídio central. assim feito, as metáforas sobrevoaram com um
zepelin rasante, levando nas asas o seu másculo músculo aninal, e as metáforas
se abriram flor de lótus em bandeiras brazilíricas tropicalhas como as filhas
do chico da mangueira.
murilínDia
o poeta experimental passeia sua cueca monossilábica por cima
dos pianos na madrugada devorando amoras. macabea invoca nossa senhora das
derrotas para enfrentar o desvario. o poeta está nu cio. macabea corre o poeta
flama inverso macabea chora. experimental barroco o poeta sobrevoa palácios e
urubus. macabea tenta mas não consegue
ser pagu. o poeta é phoda. macabea pede: o menino maluquinho faz que não
entende. macabea implora: e o poeta põe na metáfora do cu.
B
no
coração dos boatos
isso aqui não é a hora da estrela, minha mãe não é alice que
apesar de freira, de hábito só tinha o vício de me prender pro entre o
crucifixo colocado em suas pernas. macabea
vivia falando sozinha pelos corredores federais da outra inquisição. conseguia
vez em quando reunir alguns habitantes mal informados sobre a insurreição das
artes aromáticas e passava o tempo querendo mostrar seus dotes na culinária nua e crua. seviciada
pelos estivadores daquele cais do porto tentou arrancar o sexo com as unhas e
enlouqueceu uivando como loba amarrada à santa cruz com jesus da goiabeira.
Obs.: BraziLírica
Pereira : A Traição das Metáforas, foi editado pela Edições Alpharrabio e
lançado no ano 2000 no Centro Cultural e
Livraria Alpharrabio em Santo André-SP e na I Bienal do Livro de Campos dos
Goytacazes-RJ
FULINAIMAGEM 11
pessoas que me comovem são
aquelas que vivem ou viveram com os seus fios elétricos ligados cuspindo seus
relâmpagos suas trovoadas sobre as nossas tempestades. sou fanático sim por
blues samba e reggae. faço as minhas escolhas independente do meu coração partido
e sigo vivo com os Dentes Cravados na Memória para nunca jamais esquecê-las
como a carne que comia - pessoas que me
comovem rasgam o peito e deixam sangrar porno grafia
Poética 100
desconstruir os objetivos fascistas
:
eis a questão
diária missão
de cada um de nós
poetas
quando sabemos que
linha torta
é muito mais
que um poema em linha reta
fulinaimagem
:
linguagem
toda viagem
:
FULINAIMAGEM
12
quando zeus
me apresentou o raio
umbanda venceu demanda
conheci um cão azul
que me guarda
na varanda
tragicomédia brasileira I
a boca salta pela língua
vísceras de peixes nos varais
meu corpo parede sem reboco
anjo barroco em trapos ancestrais
a casa de cimento pai à pique
roubaram da criança
o piquenique
puseram no palanque
o satanás
no país que já foi meu
hoje não mais
FULINAIMAGEM
13
escrevo como quem cata estrelas do mar na areia da praia como
quem come o rabo da arraia montado no cavalo marinho lambendo escamas de sereia
com os dentes cravados na memória e as unhas entranhadas em tua veia
o cão azul
para
Rodrigo Sousa Leão
in memória
ele cantava
como um pássaro engaiolado
as 4 da madrugada
no seu apartamento
e me
perguntou
se eu tinha gostado
da garganta da serpente
e se
era também azul
o cachorro que estava ao meu lado
invisível para mim
naquele momento
nas fímbrias da memória
o meu espelho hoje
só reflete tempestade
sem memória o vazio
nos atropela
pela língua pela lavra
fogo e brasa
do teu corpo me acelera
perdi
a conta quantas vezes
o teu nome me arrancou do sono
nas fímbrias
da memória
tua memória nua
olhando na janela lua
o dia que não amanheceu
a
rua com sua língua de foca
ainda
me causa um arrepio
quando o
telefone toca
o
amor
é um barco bêbado
depois da chuva
naufragado frente ao cais
em Ubatuba
mulher de nuvens
ou as artimanhas inconsciente dos desejos
fosse eu uma mulher de nuvens não estaria aqui presa a
este mar nas marés suor ou cio passaria
como vento sem deixar rastros vestígios pegadas voaria sobre estradas sem destino cais ou porto viajar mesmo sem nenhum conforto ou
calmaria nas partidas e ventania nas chegadas
vasto brasil esse nordeste centro oeste norte sul se der na telha vou pra leste fosse eu mulher ou vento sul jamais eu manso em calmarias me romperia em tempestades pânico espanto poesias da cacomanga só saudades que mulher de nuvens seria a mulher que me invade ou a que me prende em sertanias
*
quero saber das incertezas das marés altas baixas frias e mergulhar nas correntezas mesmo que me afogue mais um dia em ilhas belas portuguesas na mais terrível ventania nas ferraduras de búzios ou algum mar algaravias onde mulher das nuvens me leva ao altar das carnavias em noites de sonhos quando eu era seu Dionísio em sacristia lambia a hóstia nas coxas a ostra que padre benzia primeiro delírio concreto em meu estado de poesia
reveillon
na sousa leão 22 ela tinha um mar
azul por entre as coxas os pelos dourados levaram-me aos campos girassóis - mergulhamos
peixes nossos fogos de artifícios - na pele de água
sal e algas concentrados
na yoga - depois do omelete com salame em
nossa cama tatame antes do amor em pleno mar de Bertioga. catamos mariscos nas sextas comemos algas aos
sábados cada uma com suas togas com seus aventais adestrados os demônios do
inconsciente todos soltos levados pelas
ondas da noite entre os corais
enfeitiçados
FULINAIMAGEM 14
viagem para a Rio + 20 – em 2012 –
tendo ao lado minha musa Sanya Hoen
a cinegrafista da viagem
a
passageira da poltrona ao lado observa
a paisagem atentamente na janela meus
olhos focam o seu perfil na tela meu dedo
aciona o dispositivo do zoom para ter a
sua imagem mais de perto o coração
entende a sensação do seu olhar flertando a câmera o sentido está aberto na viagem onde a surpresa não tem planos e a arte é puro acaso do que possa acontecer
na engenharia dos músculos que se movem inconscientes onde poema houver na miragem oculta numa manhã de sexta depois de noite inteira de cerveja para perder o sono
sem saber que na poltrona ao lado na luz desta miragem iria amanhecer
FULINAIMAGEM 15
quando pela primeira vez mergulhei teus mares Rio das Ostras gozei
de amor e ócio pelos caminhos de Darwin ainda não existiam vândalos - selvagens
para mastigar os seus destroços - agora
existem os que vieram para destruir a tua história e a arqueologia dos teus ossos – para eles meio ambiente
tanto faz como tanto fois - e a conservação dos manguezais fica sempre pra
depois
O Poeta enquanto coisa -
revisitado
ancestral
há muito tempo não recebo cartas de ninguém mas não rezo padre
nossos simplesmente para dizer amém já fui católico rezei terços ladainhas
acompanhei a procissão dos afogados na tapera para soletrar a palavra ca co man
ga e entender que o barro da cerâmica trago grudado na retina - meu batismo de
fogo foi numa santa cecília entre víboras e serpentes mordi a hóstia do padre - sua saia preta - me levou a pânicos e pesadelos - de sonhar
com juízes que hoje posso saber o que
são - minha África são os olhos negros de
Madame Satã - na língua tenho uma sede felina na carne essa
fome ancestral pagã – de ser um homem comum filho de Ogum com Iansã
bandeira nacional
com palavras sons imagens versos inauguro o monumento no
planalto central araçá azul domingo no parque vapor barato mal secreto pérola
negra construção cabeça poema concreto arte poesia teatro cinema pós poema terra
em transe tropicália grande sertão veredas vidas secas memórias do cárcere parangolés
hélio oiticica artur bispo do rosário bacurau - seja herói seja marginal
marginalha
os
caranguejos explodem no meu crânio mariposas pousam mas não cantam borboletas
voam
mas não falam os papagaios estão mudos
desde o grito de cabral: por Terra à
Vista!
a amazônia é exterminada por moto-serras ruralistas - juro que não sou correto juro que não sou
decente
poesia é faca entre os ossos carnavalha canivete entre os dentes desde todo
tempo as milícias des(matam) nas favelas e todo Dia é Dia D Todo Dia É Dia Dela
vivo num brasil subvertido na cadeia esteve preso um presidente e os palácios
são os covis desses bandidos.
cato cacos de vidros nos azuis dos alumínios lâminas de fogo azulejos nesse olho d'água algas e pedras nesse tempo ostras antes das horas que o dia tarda e os tiranos engatilhem seu torpor maligno - cato caco de vidros nessa areia carma e provo o sal o sangue o sexo a saliva o cio dessas horas tontas - são tantas horas perdidas outras desencontradas na areia da praia no rabo da arraia na ponta da lua branca nas espumas nos espermas que não fizeram filhos nas pernas nas coxas no litoral dos anus - essas horas que se perderam em ondas elétricas que se ejaculou nos ventos nas marés do zeus me livre onde netuno não aporta mais os seus navios
com os
dentes
cravados
na memória
em são sebastião do sacramento suas coxas em movimentos me lembravam peixes sagrados nos mares que minas não tem - mãos
por teus montes claros provocavam marés
- atropelos passeios de língua entre pelos também em outras partes lábios de
mel abissal um peixe espada - prometeus -
desejos despindo teus seios teus dentes cravados nos meus e a lua por
sobre a capela a luz em tua alma - donzela -
afrodite - uma caça indefesa - presa - em minhas unhas de
zeus
FULINAIMAGEM
17
essa espessa nuvem de fumaça arregaça meus intestinos me
provoca esse estado de não sei quantas adrenalinas
essa besta no cio esse desatino e o destino do menino esse veneno em cada grão
de soja em cada grão de milho em cada folha de alface essa face carcomida antes
dos trinta e eu pensando no meu filho – o paiol de milho na cacomanga que
toquei fogo aos 7 e meu pai num silêncio profundo me colocou na garupa em seu cavalo e cavalgou pela
fazenda eu com medo da bronca ele em tom de ironia e um tanto que de profeta disse-me em seu silêncio - meu filho vai ser
poeta disso tenho certeza disso sei que estou certo ele vai desbravar céus e terra para apagar seus incêndios com
água de sal dos desertos
ainda que eu fosse
ainda que eu fosse peixe
ainda que fosse pedra
maré de maio não medra
maré de junho não fedra
a senhora das tempestades
vestiu meu vestido de chuva
vestiu minha blusa de vinho
nas festas das horas marcadas
a senhora das trovoadas
despiu minha roupa de sexta
despiu minhas roupas de quarta
deixou-me com saldo das festas
com
gosto de encruzilhadas
Rúbia Querubim
delirante
no mirante
do Leblon
estava aqui pensando exatamente agora a
fantasia que vou usar no carnaval - pensei em sair nu pela avenida atlântica e
subir o corcovado e dar um abraço no cristo redentor encontrar um amor vadio em
são conrado encarar de frente a barra da tijuca na certa vão me chamar filho da
puta viado descarado mas não estou nem aí pra preconceito encontro Mym Mesma no caminho e sei
que no carnaval nunca vou estar
sozinho
EuGênio Mallarmè
a mulher dos
sonhos
será que Freud explica?
ontem sonhei com a mulher dos sonhos não era minha mas procurei
saber quem era encontrei o endereço não estava - a governanta me falou que estava em búzios - não
a vi mas ouvi uma voz e me dizia: - todo escrito deve ser falado todo livro
deve ser bem lido e quem fala deve ser sempre escutado - o telefone toca não
atendo nem sei quem está do outro lado - deu pra ver dois olhos nos búzios na
areia ainda molhada pela espuma das ondas e o vai e vem me deu um susto era ela toda de branco lenço azul
nos cabelos 3 contas de vidros nas mãos quando percebi quem era acordei do
outro lado da praia ela gritou meu nome – perguntei quem era – ela me disse o
sobrenome – não decifrei o sonho – mas perguntei se freud explica – ela me deu
um beijo na boca.
mallarmè
me deu o toque
poesia é pau é pedra
palavra sem retoque
quem conhece o lance de dados
não joga com dado lance
não troca flecha por lança
nem armadura por bodoque
quem sabe que vida é fedra
não teme a hora do toque
nem quanto custa ler Roberto Piva
e ouvir Fil Buc com a sua banda de Rock
Gigi Mocidade
escridura
ela já foi
meu grande amor
chegou na trovoada
feito ventania
foi como tempestade
morreu na calmaria
poema 6
poema não é
só palavra doce
cristal de açúcar
mel néctar flor
pode ser até
um gesto de ternura
poema
também é dor
nas entranhas da nervura
é peixe morto
agro tóxico
lixa na tessitura
desc0ncerto desconforto
pedra na rapadura
nos alumínios
em cada mínimo
que vejo
azulejo
meu tio
era Yauratê
meu tio era Yauratê no corpo de Cacá de Carvalho homem tigre
leopardo onça índio endiabrado caiçara caipora
agora minha
tribo chora na terceira margem do rio Guimarães Rosa – sagaranas em prosa noutra aurora a espreita
do silêncio - vozes em desespero no vazio na fala na estação
de trem a mesma coisa no hospital a mesma coisa no vagão do metrô a mesma coisa
vida e morte entrelaçadas na ante sala do horror no instante da partida a hora da chegada onde
a inesperada não avisa o momento do terror no país do cemitério um carnaval
engana-dor
estação
353
um girassol se escondeu
por trás do portão de entrada
entre suas pétalas
cantava minha amada
pegando seu barco no cais
um blues rascante rasgado
desses que não se houve mais
dada
um poema mallarmaico
satírico freudelírico aramaico
onde voz nenhuma me alcance
um lance de dedos nos dados
uns dados de dedos no lance
disfunções léxicas na fala
onde vai cinzia farina
toda vestida de letras
como quem grafita na areia
esse seu espelho d´água
à beira mar na lua cheia
nonada
nonada no meu prato
na hora do almoço
nonada no meu prato
na hora do jantar
nesse país a fome é tanta
comeram meu calcanhar
sem decifrar os significados
se continuarmos
a dar o queijo aos ratos
eles continuarão a
a roer nossos sapatos
grafitemas
e figuralidades
estou escrevendo um mini conto um grafitema umas figuralidades não é coisa de cinema a mais nua e crua realidade certa noite ela me veio não era sonho era uma noite de chuva com seus dois grandes olhos e mãos tão pequenas como quem grafita na areia um espelho d´água à beira mar na lua cheia vinha vestida de letras como o som da flauta de bambu dentro do fonema veio de longe da outra margem do rio dentro da tapera o cauim me trouxe na tigela bebi como índio na hora que vê nascer o filho beijei teus cabelos de milho e ela me perguntou quem eu era
quadrilha
para
Ademir Assunção
das minhas metades restaram só o nada nesse poema cego surdo mudo mendigo de rua sem rumo sem terra sem
teto nas minhas metades guris nas favelas morrem de balas achadas nunca
perdidas sempre pretos sempre pretos sempre
perigo de vida nas tenebrosas quebradas agora também verme vírus agora também vírus
verme a morte é desenfreada pelo descaso
na fala e quem deveria proteger só quer saber de mais um corpo na vala
poema 7
aninal indesejado
poeta feito cachorro
não late a pedir socorro
nem nas entranhas do norte
e por todas as tribos
e trilhas no país das armadilhas
pelo futuro de Alice minha filha
o meu latido é mais forte
até o último suspiro
o último - delírio
vou infernizar essa quadrilha
até na hora da morte
a transa as tralhas os truques
para abalar os murais
desse coreto
menos flayer mais panfleto
a minha rima mallarmétrica
romance idílico com a musa
para os meandros
engenhosos
da poética
grafitei meu nome em tua blusa
cai o pano
nenhuma surpresa
pratos vazios sobre a mesa
do outro lado do mar
marés maresia frutas
podres
no mercado - horror
do outro lado do amor
esse poema inacabado
festa ferro fogo
lance de dedos é só um
lance
lance de dados um jogo
tripa trepa tropa
a língua que me trampa
não é a mesma que me trapa
a língua que me trepa
é da mulher que me maltrata
pohermetos
para
Claudinei Vieira
brincando com a língua
a gente transa
desconcertos
faca paca pata rapa
cuidado para não quebrar a
língua
e entregar a cara à tapa
nessa
pedra me abstenho
nessa
pedra me abstrato
não
concreto o que não tenho
nem des(calço)
o teu sapato
o cateto na hipotenusa
a hipotenusa no cateto
o som dessa flauta me
parece
sinfonia do Hermeto
essa minha obsessão
por beleza na ternura
abstrata no concreto
vem da plasticidade
de uma nova arquitetura
no poema do objeto
quanto
trabalho
dá
para entender
as
cartas do meu baralho
o amor
esse bandido
levou-me os fios de cabelo
roubou meus sonhos
e transformou em pesadelos
Poema 8
o dia
que não te vi
foi baudelérico
a
noite que não beijei sagaranagem
quando vi e não me viu não entendi
porque o amor não foi selvagem
quando
beijei e não sentiu
só mallarmélico
para
escrever o que ainda
está por vir quando delírico
O Homem
Com A Flor Na Boca
amoras : ame-as ou devoras
Isadora ou me decifra ou juro que vou embora
aqui nem só jabuticabas florescem nesses meus enredos a terra
ancestral do meu sangue amoras roçam as palhas da cana caiana doce
carne das frutas a flora na flor dos
mangues em mim são cajás e são mangas como a carne
do corpo laranjas bananas siriguelas o agridoce das pitangas como quem goza na multicor das aquarelas
eu não queria
selfie servisse nem aquilo
nesse tempo embaraçado
nesse país intranquilo
regido a golpe de estado
mini
conto - a faca
poesia não é manchete de jornal para espremer escorrer sangue -
mas poema não pode ser facada que entra na carne
mas não sangra como aquela em Juiz de Fora que até agora ninguém me explicou se
o melodrama estava ali e não vi Adélio no curral do tal comício palanque armado
para levar o brazyl a uma quaderna - pra fazer do brazil um precipício
última
ceia
do peixe vamos comer
somente espinha
na rapadura com farinha
auto biográfico
a minha relação poesia.teatro.poesia é visceral vital para o
que escrevo como quem encena a
necessidade do corpo como expressão não planejo nem penso o que ele sente
quando jorra palavras no deserto branco
do papel - o corpo dada lance de dados jogos e lances na ponta dos dedos o dado
rola quando o estômago ronca e as tripas falam quando as vísceras sonham
transborda sangue esperma nos mar das
belas coxas quando ela tinha 17 e eu já 39 no ato do boi pintadinho por
avenidas e campos cidade dos precipícios onde uma musa estudante quase me leva pro hospício
pátria
que me pariu
para
Rubens Jardim
os dentes das pedras
mordem a língua
dos meus dias obscuros
esse país teve passado
não tem
presente
nem tem futuro
peixe é bicho inteligente
foge do óleo criminoso
derramado
nos mares do nordeste
- eita peixe cabra da peste!
nem sei em que planeta
estamos hoje
nessa infernal atmosfera
capitão boçal pede
desculpas
pelas cagadas dos 3 filhos
Aí 5 é apenas os
centímetros
que um deles carrega
pendurado entre as pernas
esperma já virou porra
nesta pátria que pariu
a besta fera
psic/analítica
não durmo - sonho
Dédala passeia em minha cama
sob os meus lençóis de lã
toda palavra sã me despe
desejo pelos poros pelos
nossos corpos separados
apenas pela penugem do tecido
quase dentro como Joice
me trazendo Dédalus
para o travesseiro
*
eu te desejo
como tudo que seja carne
nervos músculos ossos
ela foge quando toco
fogo paixão fome
sede tesão sexo
acho até complexo
ela gostar de conversar
mas não sentir ou não querer
ficar olhando a janela
com seu olho gótico
como quem analisa
mas não pode se envolver
vertigem 12
o
barro do valão
que meus pés pisaram
impregnou o sangue
transpirou nos poros
o
limo embaixo das unhas
lembra-me o lugar de onde vim
aquele
sertão alado
como
uma ilha de creta
montando
alazão enluarado
pre-destinado a ser poeta
não
tracei a linha reta
já nasci um anjo torto
nada
em mim se concreta
no
meu sonho - desconforto
tudo
em mim é impossível
até mesmo imprevisível
muito mais que inalcansável
não
gosto de automóvel
muito menos televisão
cresci
dentro do mato
conheci olho de cobra
tigre felinni felino gato
dentes afiados de cão
catando
cacos de cogumelos azuis
procurava apagar os rabiscos de giz nos azulejos enquanto
ouvia edvaldo santana adonirando um blues - vivi-ane preparava um chá de cogumelos azuis para
depois do almoço - havíamos nos encontrado nas trilhas para são tomé das letras
em outras histórias de minas fragmentadas com pimenta azeite e alho num
caldeirão mágico incandescente - a voz
ultrapassava os corredores e entrava na cozinha como uma ladainha em cortejo de
reis nessa fulia - alguns palhaços com máscaras de bode no rosto
imaginava a procissão em romaria - era tudo real o chá ainda estava sendo
preparado mas os efeitos já surgiam como se o líquido já tivesse sido ingerido -
ouvi uma das vozes da procissão me pedindo um gole - não
tomou – mas vestida de azul vermelho dançou com muito mais volúpia e num passo
de mágica todos os outros elementos da procissão também começaram um ritual
fulinaímânico se lançando para o alto
como se fossem fogos de artifícios - ninguém provou do chá mas quando a dança
terminou não havia mais um gole dentro do caldeirão - vivi-ane quase teve um troço ao ver o
utensílio vazio.
vozes
outras
hoje amanheci aguardente água que passarinho não bebe no
quintal um turbilhão de vozes deles - fui
lá fora me enriquecer de vitamina D Todo Dia É Dia D procuro outras vozes outras
que me levem que me lavem me desnudem desconcertem me joguem para frente por
caminhos outros trilhos tralhas trilhas por
muitas estações de trem trafego até
chegar Porto Viejo Canavarro onde ando nos quintais desses barracos Bolivariando
cada um com seus desejos
e o amor em desalinho
eu tinha fome de beijos
ela tinha sede de vinhos
pandeprosa
para
Divanize Carbonieri
poesia
poderosa
muitas vezes
pandeprosa
muitas vozes
vozes muitas
muitas outras
línguas claras
mesmo em noites
obscuras
o abstrato se depura
em raras vozes
vozes raras
ave palavra
criaturas
poesia
é coisa cara
pandemônia
ela chegou sem aviso prévio foi direto ao sangue como um soco no fígado febre alta – 39.5 madrugada de 24 de junho os ponteiros do meu relógio de músculos marcavam 4 horas festa de São João na cama sem fogos de artifícios mas por ofício a poesia queimava na carne dos lençóis entrelaçada nas tripas num soneto anti-pós às 17 horas do dia 25 ela partiu sem me dizer o motivo da visita deixando vestígios na carne nas vísceras entredentes agora só quero saber o que faço para controlar os impulsos na memória do inconsciente
roteiro para um poema épico
estou liquidi-ficando com a fome dos desejos que se foram
antes
itinerário
esse poema contém vírus desejos pecados rasgados com Stella em
São Conrado subindo ao Cristo Redentor do morro do Corcovado a pedra do
Arpoador
poesia pecados da carne sem limites
feito lâmina a luz do sol penetra em minha carne água sol sal céu mar limão alho mel de cana azeite suor pimenta atum sardinha gema no poema inventa cama em chamas acredite receita infalível para o sexo dinamites nesse mar de espuma voa leve pluma nos teus olhos d´água travesso desde menino pelo destino em ser felino por travessura e desatino nas entre linhas das minhas vinhas uvas passas ao rum línguas de vinho
Po Ema
se penso resisto mesmo tenso insisto atravesso o tempo como quem partia nesse azul de sal num mar de algaravias como quem se esquece numa quinta feira grafitando ideias com um giz de cera em um mar de algas em tua pele pera na corte dos fellinis gato véio o mais felino quebra as regras da estética desde menino zomba da rima rica na poética por ironia do destino
a solidão berra entre céu e
terra
pala(r)vras de fogo em cartas incendiárias
queimaram horas e dias nem sei mais o que pensam as 7 medusas
do monstro encontradas no manguezal
tupi or not tupi
Itapetininga pedra de sal no mar de Pirapetinga tem gente que de repente deixou de ser ou já não era¿ quem disse que amor é santo¿ nem tudo que poderia te dizer escrevo nem sei mais quem habita as costas do teu litoral e quantas algas já contei nas asas do temporal[ imagens em chamas vieram nas entre linhas rasgando as entre minhas esporas palavras dela
quem
disse que desejo
não cabe no poema?
meu objeto do desejo tem nos olhos cor de algas e algum peixe que se foi sem teatro a alma não respira perde-se a vida Serafim Ponte Grande ainda me aponta uma ponte algumas trilhas tenho uma amiga que ainda não sabe quanto é musa - nas Juras Secretas para ela muito já foi escrito e muito mais ainda tenho a escrever até rasgar as entranhas nas armadilhas do ser estou desde dezembro sem poder fazer o que gosto e isso me deixa em desgosto a vida sem tira-gosto vida de gado: depois da engorda o matadouro céus de fogo já rompendo as madrugadas em noites claras do sertão por serTão iluminadas trago essas noites dentro das cercas e arame farpados os currais dos campos cerrados meu mato grosso de sangue vermelho fincou na cancela imagem do corpo estirado depois do tiro no peito na fazenda encharcada abandonada trago essas noite no tempo da cacomanga assustado um menino que aos 7 anos viu a morte de perto por dentro de uma garrucha do seu tio ali suicidado
hoje nem sei se escrevo
poema em linha reta
ou se embarco direto
para ilha curva de Creta
dada ista
des nudo
das tudo
diz quanto
dou nada
du verbo
da dada
ista dada
ista era uma menina que me queria quântico
metafísico se o amor não fosse em carne até mesmo osso com o estigma da
crueldade presente em cada ato quando a pimenta do reino ardesse em vossa
língua ou queimasse à flor da pele o céu da boca e a carne nua e crua exposta
ao sol ao vento fosse apenas um feixe de lenha a ser levado por qualquer
lenhador que ousasse invadir seu mato dentro
ista me queria dentro de um versículo bíblico mastigando a pedra até o pó a memória é uma língua suja que lambe a carne das palavras morde com seus dentes até sangrar melado dos canaviais dessa lavoura arcaica que hoje cultivo em meu quintal tem dias que a ossatura no corpo não é mais que uma carcaça segurando a capsula da pele aqui de fora esse corpo que carrega 288 estações primaveras verões outonos invernos à beira de um abismo sem luz no fim do túnel pra clarear meu modernismo
nonada
:
O Homem Com A Flor Na Boca
vida toda linguagem
língua o trem da viagem
pinda o nome
na terceira margem do rio orucun
o mato grosso
me acertava
com algo
que ainda não conhecia
flecha de fogo certeira
Divanize me alertava
e o coração estremecia
os dias selvagens te ensinam
Aricy de minas
refletia
o amor no cerrado sangrava
como um beijo no asfalto
na boca de quem comia
o barco deslizava nas águas do Paraguai
em direção ao futuro que não vinha
o homem com a flor na boca
atravessou o pantanal
com o seu poema pássaro
ave palavra profana
cabala que voz fazia
moro no teu mato dentro
não gosto de estar por fora
tudo que me pintar eu invento
como beijo no teu corpo agora
de suas janelas ela me olhava
como alguém que ainda não me percebia
o barco seguia seu fluxo
o sangue na veia era o que mais me ardia
ela só tinha nos olhos
animais aquáticos
os pássaros vez em quando
pousavam em suas janelas
minha língua lendo Ivo
me revelava o tempo e a ostra
campos era uma cidade
noblesse uma livraria
nas veias da mocidade
arte era o que existia
e a bruxa dos cacos de cogumelos azuis
me confessou rasgando um blues
com os gumes da carnavalha
e as lâminas de um canivete
prometeu esquartejar os vermes
na próxima sexta vinte e sete
na noite consagrada ao desfile
toda cidade enfeitada
para um
novo ritual
amanheceu a flor do pântano
e era domingo de carnaval
colorau o nome do vermelho
com que batizei o festival
no nine nem
língua toda viagem
linguagem que me convém
em meu estado de surto
Sartre de
poesia
mama áfrica
a minha mãe já me dizia
ferramenta de barbeiro é carnavalha
a do poeta deve ser filosofia
retorno da viagem o hiato (entre parênteses) porto viejo canavarro onde o barro da carne era mais quente carnaval com fogos de artifícios um ritual em algum navio alguma nave o pantanal o mato grosso uma viagem a travessia
cada escola de samba que passava era um grito de nostalgia o pelo na pele arrepiava oswaldívia me visitava e quem disse que me alivia o corpo em transe delira e o povo de lá sucupira entre o pantanal de Corumbá e a fronteira na Bolívia meu corpo todo à deriva no mato grosso do sul no barco só tripulantes com seus turbantes azuis lábios vermelhos das tintas extraídas dos urucuns onde índios mascam contentes as suas folhas de coca e celebram seu presidente Evo Morales nativo no fogo daquela gente num ritual transitivo me leva a muitas cervejas do outra lado a fronteira de santa cruz de lá sierra a barra do sol cana brava usina de sal minha terra onde Stella me esnobava mas bom cabrito não berra atravessei a fronteira fui dançar com Gabriela uma índia boliviana que me agarrou pelas costelas e me amarrou num trava língua como os meus tempos na tapera
não é fácil
uma linguagem fácil
complexa ou metafórica
no ritmo de uma roda gigante
que a tua língua não controla
sensualidade
água
escorrendo
sobre
a
pele
da
saudade
minúsculas nas origens
não fosse macunaíma
fulinaíma também não seria
por qualquer coisa que fosse
poeta não caberia
mesmo se filho eu fosse
de uma santana maria
afilhado de grande otelo
neto da sesmaria
e quando ao mundo eu viesse
em outro lugar não poderia
tinha que ser na cacomanga
matagal onde um outro EU nasceria
incorporação
para Igor Fagundes
esse poema bárbaro
com um fonema brazilírico
vai fazer meu aramaico
ir dançar no seu delírico
palavras que incorporo
dança vento movimento
folhas verdes no algodão
fulinaímico dançarino
moleque um tanto menino
no frevo xaxado xote
na zabumba do baião
nos atabaques da macumba
te incorporei cantando rumba
em bandas de rock and roll
pelos terreiros da lapa
nas noites por onde vou
tragédia infame
empresto minha voz aos deserdados
os desnutridosos que não tem pela manhã café com pão e sobre a mesa no almoço
nem mesa nem carne seca com farinha espinha de peixe na garganta é o que sobrou
pra curuminha
empresto meu corpo minha voz a
esses personagens os que tem sede os que
tem fome ou os que morrem assassinados nos
guetos nos campos nas cidades por balas de fuzil está fudido esse brasil entregue as traças e só me resta exterminar o nome o sobrenome o
apelidodo causador dessa desgraça
Goytacá Boy 2
araraquara guaxindiba itaocara grumari o que liga essas palavras ao eu vocabulário a carne índia o sangue a cachaça paraty grussaí guarapary baia da guanabara
juntei meu goytacá seu guarani
tupi or not tupi
não foi a língua que ouvi em tua boca caiçara
capivari tucuruvi taubaté pindamonhangaba piracicaba pirapora piraí paranapiacaba
vim da tapera carioca do roçado do aipim cacomanga minha toca meu coração ururaí tupinambá goytacá tupiniquim
quanta selva quanta mata desmatada desde o dia que o português pisou aqui
para falar para lamber para lembrar
da sua língua arco íris litoral
como colar de uiara
é que eu choro como a chuva curuminha
mineral da mais profunda lágrima
que mãe chorara
para roçar para provar para tocar
na sua pele urucun de carne e osso
a minha língua tara
sonha cumer do teu almoço
e ainda como um doido curuminha
a lamber o chão que restou da Guanabara
juntei meu goytacá seu guarani
tupi or not tupi
não foi a língua que ouvi
em sua boca caiçara
gargaú guriri itapevi abapuru
minha musa antropofágica tem o nome de pagu
tarcila anita d´alkmim itaim guarujá piratininga itapetinga itaquera quantas palavras ensanguentadas nas taperas
santeiro do mangue minha pátria meu tesouro 100 anos se passaram como vento e são paulo transformou-se numa selva de concreto uma cidade de cimento
corpo
em trânsito
em São Paulo uma menina
me chamou de SerAfim
por saber que poesia
é tudo que transa em mim
e ainda uma outra
me chamou de desvairado
por saber que concretismo
anda sempre do meu lado
foi então que em Teresina
me chamaram de Torquato
ao perceberem minha boca
com esse meu vapor barato
e uma outra feminina
me chamou de Faustino
por re-V(L)ER no meu poema
esse sotaque feminino
no Recôncavo baiano
bem no centro o reconvexo
rasguei todos meus planos
quando fiz primeiro sexo
numa feirinha de verdura
uma linda criatura elegante sensual
me pediu pra ler Leminski
quando viu meu visual
no poema de Kandinsky
e encontrei fulinaíma
no universo paralelo
pra revirar o céu de anil
desse país verde amarelo
revirando a tropicalha
pelo avesso do avesso
foi tamanha a CarNAvalha
que perdi meu endereço
fui parar em Ipanema
num 1º de Abril
quando assisti pelo cinema
a pátria mãe que me pariu
fui pro morro da Mangueira
re-inventar Parangolé
por entender que esse brasil
ainda vai ficar de pé .
Federico Baudelaire
Federika Bezerra : A Porta Bandeira
Que BorTou Olivácio Doido
Em mil novecentos e vinte e cinco
na noite de orgias satanazes
um raio de trovão incandescente
rachou a igreja em Goytacazes
um vulto do despacho então desceu
movido por farol de grande luz
tocou na pedra quebrou cruz
a Rainha do Fogo dessa gente
Federika de ouro azul e prata
na porta da igreja foi parida
criada pelo Padre Olivácio
que logo depois lançou na vida
aos cindo de idade encantada
foi pega masturbando em sacristia
por causa de um sonho com o príncipe
DuBoi da mais sagrada putaria
Expulsa da cidade foi pra longe
cresceu entre os jardins de JardiNÓpolis
mas se você pergunta Freud Explica:
- o seu palácio agora é em Petrópolis
Aos dezenove plena de alegria
conheceu Gigi da Bateria
na porta do Beco de Satã
na festa federal do Bar da Lama
a Deusa dos Lençóis de toda cama
sorrindo para ver como é que fica
dá um corte na história inverte o drama
e transforma Ouro Preto em Vila Rica
e assim vamos cantar em verso e prosa
a saga dessa Deusa Iansã
que em busca da mordida na maçã
sonhava encontrar Guimarães Rosa
Viemos do SerTão para os seus braços
porque a Mocidade Independente
é a mais fina e pura Flor do Lácio
afilhada do secular Padre Miguel
e fiel ao seu pai Padre Olivácio
e para completar a grande roda
trazemos o cacique Pau BraZil
o centenário Oswald de Andrade
filho da paulicéia que pariu!
Passando pelas bandas do Catete
dançando na maior intensidade
macumba com o índio brasileiro
nossa Ex-Cola campeã da liberdade
Federika engravidou o grafiteiro
do famoso cacete Samaral
que escrevia pelos muros da cidade:
Mocidade já ganhou o Carnaval!
e assim vamos cantar na grande roda
tudo o que deu e o que não deu
o dia que um pastor bem collorido
pensou ser pai de santo e se fudeu!
Artur Gomes
poeta.ator.produtor cultural vídeo maker
2021 - Curador da Mostra Cine Vídeo de Poesia Falada realizada pelo
SESC – Piracicaba-SP
Curador do 1º Festival Cine Vídeo de Poesia Falada
Integrou a Mostra De vídeopoemas dentro do Projeto Arte de Toda Gente realizado pela FUNARTE-Rio com curadoria de Tchello d´Barros
livros publicados:
Um Instante No meu Cérebro – 1973
Mutações Em Pré-Juízo – 1975
Além Da Mesa Posta – 1977
Jesus Cristo Cortador De Cana – 1979
Boi-Pintadinho – 1980
Carne Viva – 1984 – Antologia de Poesia Erótica –
Org. Olga Savary
Suor & Cio – 1985
Couro Cru & Carne Viva – 1987
20 Poemas Com Gosto de JardiNÓpolis & Uma Canção Com Sabor de Campos – 1990
Conkretude Versus ConkrEreções – 1994
CarNavalha Gumes – 1995
BraziLírica Pereira : A Traição das Metáforas –
Alpharabio Edições – 2000
SagaraNagens Fulinaímicas – 2015
Juras Secretas – Editora Penalux 2018
Pátria A(r)mada – Editora Desconcertos – 2019
Prêmio Oswald de Andrade – UBE_Rio- 2020
O Poeta Enquanto Coisa – Editora
Penalux - 2020
Criador dos Projetos:
Mostra Visual de Poesia Brasileira – realizado de 1983 a 1994 em diversas cidades brasileiras.
Mostra Visual de Poesia Brasileira – Mário de Andrade -100 Anos – realizado pelo SESC-SP em 1993
Retalhos Imortais do SerAfim – Oswald de Andrade Nada Sabia de Mim – realizado pelo SESC-SP em 1995
FestCampos De Poesia Falada – realizado pela Fundação Cultural Jornalista Oswaldo Lima, na cidade de Campos dos Goytacazes, de 1999 a 2019
De 1975 a 2002 Dirigiu a Oficina de Artes Cênicas do Escola Técnica Federal de Campos e Cefet-Campos
Em 2002 lançou o CD Fulinaíma Sax Blues Poesia e tem gravado e ainda inédito o CD Fulinaíma Afro Tupiniquim
De 2011 a 2012 – Dirigiu o Laboratório de Produção Cine Vídeo – no IFF Campos Campus Centro
De 2011 a 2012 – Dirigiu no SESC Campos Oficinas de Produção Cine Vídeo
De 2014 a 2016 – Dirigiu no SESC Campos Oficinas de Artes Cênicas
De 214 a 2017 – Dirigiu no SINASEFE – seção Campos o Curso de Teatro Multi Linguagens
De 2018 a 2018 – Lecionou Poéticas no Curso Livre de Teatro da Fundação Cultural Jornalista Oswaldo Lima em Campos dos Goytacazes-RJ
Tem poesia publicada nas principais revistas
digitais de arte e literatura, tais como: GERMINA, GUETO, ACROBATA, RUÍDO
MANIFESTO, QUATETÊ, ESCRITA DROIDE, MALLARMARGENS, CRONÓPIOS e ALGUMA POESIA
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tem inédito os livros: Itabapoana Pedra Pássaro Poema
Mar De Letras Rio De Palavras
e
Vampiro Goytacá Canibal Tupiniquim
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Fulinaíma MultiProjetosleia mais no blog https://arturkabrunco.blogspot.com/
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