domingo, 26 de março de 2023

Gigi Mocidade

 

não gosto do que não gosto
gostar é um desejo intrínseco
e complexo
quase morro de ciúmes
quando dão em cima do meu amor
sou mulher de um homem só
não consigo gostar de outro
já são 10 anos entre
carne e unha
sou capixaba
não sou baiana nem mineira
e Rio das Ostras Cabo Frio
não me oferece nada
que procuro - o Campus
é um tédio - uma treva
cidade fantasma é pouco
me sinto nos 100 Anos de Solidão
nem Macondo era tão deserta
e sei que o meu amor está
em Campos cercado de  mulheres
há tempos não vem aqui
e aperta um baseado comigo
e baseada nisso
até me desespero
nem o mar me tranquiliza
nem a brisa
fico tonta fico nua
bebo algumas cervejas
noite a dentro e até uivo pra lua
homens daqui são como pipas avoadas
cortadas pelo cerol de outras linhas
e não servem pra mais nada.

Gigi Mocidade

www.porradalirica.blogspot.com


domingo, 19 de março de 2023

múltiplas poéticas


Ana Carolina – A Musa


Em tudo que Ana não disse
teus lábios molhados
talvez só quisessem
a língua lambendo Clarice
na hora do amor se fizesse
um livro com hora marcada
no instante que ela quiser
na ora H de Clarice
em Ana nascendo a mulher

Cristina Bezerra


fosse Alana
Clarice Ana
Elisa Clara Beatriz
em tudo que não me disse
em tudo o que não me quis

fosse girassóis
nos cabelos
a flor que Van Gog
me diz
teus olhos
cravados no espelho
o poema
que ainda não fiz

a jura secreta sagrada

que Alana me contradiz

Artur Gomes

o poeta enquanto coisa

www.secretasjuras.blogspot.com


Antropomágico Fulinaímico Transcedental

IncorporAção - incorporo dos Anjos quando Augusto me transporta em carne e couro para outras peles. Não me furto deixo no corpo fluir as temperâncias e a poesia vem do campo antropomórfico que a cruel realidade não me subtrai. Esse estado de coisas absurdas sobre os ombros é o que carrego e trato de me desfazer quando o peso não suporto. Mágico é sobreviver antropomagicamente no Caldeirão Fulinaímico onde Arte seja muito mais que a vida que não basta. ( com Tchello d'Barros) foto: Marcela Giannini na exposição Convergências no CCJF Cinelândia


Artur Gomes

o poeta enquanto coisa

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Jura secreta 17


meu objeto concreto
é um poema abstrato

impressionista realista
quem sabe neo concretista
poderoso artefato

uma bomba de Hiroshima
uma rosa parafina
ou quem sabe uma menina
que conheci só no retrato

Artur Gomes

Juras Secretas

Editora Penalux – 2018

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pele grafia

pele grafia

meus lábios em teus ouvidos
flechas netuno cupido
a faca na língua a língua na faca
a febre em patas de vaca
as unhas sujas de Lorca
cebola pré sal com pimenta
tempero sabre de fogo
na tua língua com coentro
qualquer paixão re/invento

o corpo/mar quando agita
na preamar arrebenta
espuma esperma semeia
sementes letra por letra
na bruma branca da areia
sem pensar qualquer sentido
grafito em teu corpo despido
poemas na lua cheia

Artur Gomes

www.fulinaimagens.blogspot.com


Aos Atores


Aos Atores
Jacques Copeau

O ator expõe-se a perder sua face e a perder sua alma. Ele as encontra falseadas, ou não as encontra mais, no momento em que necessita delas para retornar a si mesmo. Seus traços não são recuperados, seu jeito e seu verbo permanecem excessivamente desligados, destacados, como que separados da alma. A própria alma, com muita freqüência alterada pela representação, excessivamente arrebatada, excessivamente ferida pelas paixões imaginárias, contraída pelos hábitos artificiais, pisa em falso sobre o real. Toda a pessoa do ator guarda, neste mundo humano, os estigmas de um estranho comércio. Ele tem o ar, quando retorna ao nosso meio, de quem saiu de um outro mundo.

A profissão do ator tende a desnaturá-lo. Ela é conseqüência de um instinto que leva o homem a desertar para viver sob as aparências. É portanto uma profissão que os homens desprezam. Consideram-na perigosa. Tacham-na de imoralidade, e condenam-na por seu mistério. Essa atitude farisaica, que não foi eliminada pelas mais extremas tolerâncias sociais, reflete uma idéia profunda. É que o ator faz uma coisa proibida: ele representa sua humanidade e brinca com ela. Seus sentidos e sua razão, seu corpo e sua alma imortal não lhe foram dados para que os utilize assim, como um instrumento, forçando-os e desviando-os em todos os sentidos.

Se o ator é um artista, ele é de todos os artistas o que em maior grau sacrifica sua pessoa ao ministério que exerce. Ele não pode dar nada se não se dá a si mesmo, não em efígie, mas de corpo e alma, e sem intermediário. Tanto sujeito quanto objeto, causa e fim, matéria e instrumento, sua criação é ele mesmo.

É aí que habita o mistério: que um ser humano possa pensar e tratar a si mesmo como matéria de sua arte, agir sobre si mesmo como sobre um instrumento ao qual ele deve identificar-se sem deixar de distinguir-se, agir e ser o que age ao mesmo tempo, homem natural e marionete...

... Há alguma coisa no ator que depende daquilo que ele é, que atesta sua autenticidade, que se nos impõe por sua maneira, sem fraude possível, e desde que ele surge em cena, antes que tenha aberto a boca, por sua simples presença. É essa alguma coisa que, em nosso tempo, distinguia entre todas uma atriz como a Duse. É uma qualidade da natureza, que a arte pode servir para iluminar, mas que não poderia imitar...

Que o ator nem sempre sinta o que representa, que ele represente o texto sem representar a personagem nem a situação, que ele consiga representar sem erro aparente, ou seja, mais ou menos justa e corretamente, mesmo que não seja tocado - isto é verdade. É seu fracasso. É a tendência que seguem os preguiçosos e os medíocres. É o martírio a que os melhores expõem-se todos os dias, pois nenhum deles jamais sabe se não sentir-se-á subitamente devastado pela secura em um desses horríveis momentos em que ele se ouve falando, em que se vê representar, em que julga a si mesmo e, quanto mais se julga, mais se evade.

Diderot dirá que "ele está comovido sem nada sentir".

Se ele está visivelmente "comovido" é com efeito porque ele não sentia nada. Ele estava por sentir.

A idéia de uma sensibilidade que possui a si mesma, de uma espontaneidade que se busca, de uma sinceridade que se trabalha provoca facilmente o sorriso. Que não se sorria depressa demais. Que se reflita antes sobre a natureza de um ofício em que há tanta matéria a trabalhar. A luta do escultor com a argila que modela não é nada, se a comparamos com as resistências que opõem ao ator seu corpo, seu sangue, seus membros, sua boca e todos os seus órgãos.

Imagino um ator diante do texto de um papel que ele ama e compreende, cujo caráter convém à sua natureza, cujo estilo adapta-se aos seus meios. Ele sorri de satisfação. Esse papel, ele o decifra sem esforço. A primeira leitura que faz surpreende por sua justeza. Tudo é magistralmente indicado, não somente na intenção geral, mas até nas pequenas nuances. E o autor alegra-se por ter encontrado o intérprete ideal que vai levar sua obra às nuvens: "Espere, diz-lhe o ator, ainda não o sou." é que ele não se engana com essa primeira tomada de posse em que apenas o espírito fez sua parte.

Eis que ele se põe a trabalhar. Repete o texto à meia-voz, com precaução, como se temesse espantar alguma coisa dentro de si mesmo. Essas repetições confidenciais ainda guardam a qualidade da leitura. As nuances da emoção ainda são perceptíveis para alguns auditores privilegiados. O ator, agora, possui seu papel, de memória. É o momento em que começa a possuir um pouco menos sua personagem. Ele vê o que deve ser feito. Compõe e desenvolve. Realiza os encadeamentos, as transições. Racionaliza seus movimentos, classifica seus gestos, conserta suas entonações. Olha-se e ouve-se. Destaca-se. Julga-se. Parece não dar nada de si mesmo. Por vezes interrompe-se em seu trabalho para dizer: não sinto isto. Propõe, freqüentemente com razão, uma modificação no texto, uma inversão na frase, um retoque na encenação que lhe permitiria, acredita, sentir melhor. Procura meios de colocar-se em situação, em estado de sentir: um ponto de partida, que por vezes estará na mímica, ou no diapasão da voz, em uma descontração particular, em uma simples respiração... Esforça-se por encontrar uma harmonia. Arma suas redes. Organiza a captura de alguma coisa que compreendeu e pressentiu há muito tempo, mas que lhe permanece exterior, que ainda não entrou nele, não alojou-se nele... Escuta com um ouvido distraído as indicações essenciais que lhe são dadas, do proscênio, sobre as emoções da personagem, seus móveis, todo seu mecanismo psicológico. E entretanto sua atenção parece absorvida por detalhes irrisórios.

É então que o autor, com uma polidez excessiva, pega pelo braço seu ilustre intérprete e diz-lhe ao ouvido: "Mas, caro amigo, por que não mantém o que fez no primeiro dia? Estava perfeito. Seja você mesmo."

O ator não é mais ele mesmo. E ainda não é "o outro". O que fez no primeiro dia escapa-lhe à medida em que se põe na situação de representar seu papel. Precisou renunciar ao frescor, ao natural, às nuances, e a todo o prazer que lhe causava sua animação, para realizar o trabalho difícil, ingrato, minucioso que consiste em fazer sair de uma realidade literária e psicológica uma realidade de teatro. Precisou ordenar, dominar, assimilar todos os procedimentos de metamorfose que são ao mesmo tempo aquilo que o separa de seu papel e aquilo que a ele o conduz. É somente quando tiver realizado esse estudo de si mesmo em relação à personagem dada, articulado todos os seus meios, exercido todo seu ser em servir às idéias que formou e aos sentimentos para os quais prepara o caminho em seu corpo, em seus nervos, em seu espírito, até a profundeza de seu corpo, é então que reaver-se-á, transformado, e que tentará doar-se.

Enfim o ator preenche seu papel. Não encontra nada de fútil nem de artificial. Poderia vivê-lo sem palavras. Confronta sua sinceridade com esse belo "silêncio interior" de que falava Eleonora Duse.

Eis o homem exposto no teatro, oferecido em espetáculo, posto em julgamento. Ele entra em um outro mundo. Assume essa responsabilidade. Sacrifica-lhe todo um mundo real: inquietação, mal-estar, pesar, sofrimento - ou antes, é libertado dele. Mas a atitude de seus comparsas em cena, uma reação da sala, uma desordem nos bastidores, o brilho de um refletor, a dobra de um tapete, um erro da administração, um esquecimento de acessórios, um acidente no figurino, uma falha da memória, um lapso da boca, uma queda passageira de sua força vital - tudo o ameaça, tudo está contra ele que, sozinho, tem que tudo dominar; tudo pode a cada instante interpor-se entre sua sinceridade, que nada poderia forçar quando se esquiva, e o jogo que ele tem que jogar seja lá como for. Tudo pode despojá-lo do que ele pensava ter dominado através de um longo trabalho, separá-lo da personagem que havia composto de sua substância mas que pode sofrer, como esta, alterações profundas e repentinas.

A cortina sobe e o surpreende... seu primeiro ataque se dá um pouco involuntariamente... ei-lo desunido. Eu o vejo torcer a ponta de sua gravata. Deixa um instante de sentir. Bate em retirada. Procura um ponto de apoio. Respira profundamente. Creio que vai se recuperar, porque conhece seu ofício. Você me diz que a perturbação em que o colocaram esses fúteis incidentes prova que ele não sentia nada. Eu acredito que quanto mais um ator é sensível, mais está sujeito a essas vertigens. Mas ele vai voltar a sentir... porque conhece seu ofício.

Suponhamos que não tenha deixado de sentir. Ele atinge sua plenitude. Mas essa própria plenitude, ele precisa medi-la. Ele possui uma medida da sinceridade, como possui uma da técnica. Dir-se-á que o ator não sente nada porque sabe servir-se de sua emoção? Que as lágrimas que correm e esses soluços são vãos porque só estrangulam por um instante a voz do intérprete e não alteram quase nada sua dicção? Não seria antes de admirar, renunciando absolutamente a compreendê-lo, esse admirável instinto, esse dom de natureza e de razão que, há pouco, colocava o ator desconcertado na rota de sua sensibilidade e que agora impede sua emoção de descompor o jogo dramático? Um tal jogo exige uma cabeça "de ferro", como disse Diderot, mas não "de gelo", como ele escreveu antes. Também são necessários nervos flexíveis e resistentes, e operações interiores muito rápidas e muito delicadas.

Contestar ao ator a sensibilidade, por causa de sua presença de espírito, é recusá-la a todo artista que observa as leis de sua arte e não permite jamais que o tumulto das emoções paralise sua alma. O artista reina, com um coração tranqüilo, sobre a desordem de seu ateliê e de seus materiais. Quanto mais a emoção aflui nele e o agita, mais seu cérebro torna-se lúcido. Essa frieza e esse estremecimento são compatíveis, como na febre e na embriaguez.

... "abarcar toda a extensão de um grande papel, dispor nele os claros e escuros, os suaves e os fracos, mostrar-se igual nas passagens tranqüilas e nas passagens agitadas, ser vário nos detalhes, harmonioso e uno no conjunto, e formar em si mesmo um sistema elevado de declamação... É obra de uma cabeça fria, de um profundo julgamento, de um gosto delicado, de um estudo penoso, de uma longa experiência e de uma tenacidade de memória pouco comum." Diderot tem razão: "tudo foi medido, combinado, apreendido, ordenado" na cabeça do ator. Mas se a sua representação não for mais que a expressão de sua maestria e como que a exposição de um excelente método, ou bem ele descansa na rotina ou bem dissipa-se nos jogos da virtuosidade. O absurdo do "paradoxo" é opor os procedimentos do ofício à liberdade do sentimento e negar, no artista, sua coexistência e simultaniedade.

Para o ator, doar-se é tudo. E para doar-se, é preciso antes possuir-se. Nosso ofício, com a disciplina que supõe, com os reflexos que fixou e comanda, é a própria trama de nossa arte, com a liberdade que exige e as iluminações que encontra. A expressão emotiva surge da expressão justa. A técnica não só não exclui a sensibilidade, mas a autoriza e liberta. É seu suporte e sua salvaguarda. É graças ao ofício que podemos abandonar-nos, pois é graças a ele que saberemos reencontrar-nos. O estudo e observância dos princípios, um mecanismo infalível, uma memória segura, uma dicção obediente, a respiração regular e os nervos relaxados, a liberdade da cabeça e do estômago proporcionam-nos uma segurança que nos inspira a audácia. A constância nas entonações, nas posições e nos movimentos preserva o frescor, a clareza, a diversidade, a invenção, a igualdade, a renovação. Permite-nos improvisar.

Não é monstruoso que esse ator, em uma ficção, em um sonho de paixão, possa forçar sua alma a sofrer com o seu próprio pensamento a ponto de empalidecer-lhe a face; lágrimas em seus olhos, o aspecto conturbado, a voz entrecortada, e todo os seus gestos adaptando-se em formas à concepção de seu espírito? E tudo isso por nada! Por Hécuba? Quem é Hécuba para ele ou ele para Hécuba, para que a chore?

Hamlet, ato II, cena II.

Shakespeare descreve como ator a tentativa do homem que agita-se ao fazer viver uma personagem inventada... Interpretar é antes de tudo insinuar-se no conhecimento da coisa a representar. É formar um conceito. É em seguida ter o poder de fazer entrar à força sua própria alma nesse conceito: force his soul... to his own conceit. A inteligência, iluminada pela experiência e pelo raciocínio, constrói idéias coerentes e variadas. A sensibilidade as anima e aquece. No interior e nos limites de uma concepção, a alma trabalha-se, e desse trabalho decorre a operação misteriosa, precária, submetida a toda espécie de circunstâncias e de particularidades, que vai revestir com uma exatidão cada vez maior a idéia - o que Diderot denomina: um fantasma - de formas necessárias, de signos tangíveis nos quais o espectador reconhecerá a natureza daquilo que se passa dentro do ator suiting with forms to his conceit... À medida que os signos afirmam-se, em precisão, em acento, em profundidade, à medida que tomam posse do corpo e de seus hábitos, eles estimulam por seu turno os sentimentos interiores que com uma realidade cada vez maior instalam-se na alma do ator, preenchem-na, suplantam-na. É nesse grau do trabalho que germina, amadurece e desenvolve-se uma sinceridade, uma espontaneidade conquistada, adquirida, da qual se pode dizer que age como uma segunda natureza, que inspira por seu lado as reações físicas e dá-lhes a autoridade, a eloqüência, o natural e a liberdade. 



fulinaimicamente

fulinaimaicamente

te digo

o som dessa palavra

cola as tripas no umbigo

desconcerto


desconcerto
para Artur Gomes

o poeta é um jogador
joga com palavras
letra por letra
sílaba por sílaba
com nomes sobrenomes
universo das coisas
artifício das cores
tira um sarro com metáforas
desconcerta a lírica
a métrica a fonética
e os significados
onde não tem sentido
enfeitiça o sub-mundo
enaltece o desdentado

Federika Lispector

o poeta enquanto coisa


O poeta enquanto coisa

Cristina Bezerra me disse
que trepo no corpo
das palavras
na desconstrução da normalidade
dos seus significados

o poema é um jogo de dedos
um lance de dados
e o poeta enquanto coisa
é mediúnico
amoral em sua estética

na transa poética
tudo o que sai do corpo
é o que já foi incorporado

Artur Gomes

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quarta parede


Quarta parede

Origem e significado

A origem da expressão é incerta, mas presume-se que o conceito tenha surgido na Idade Média com a aplicação do Teatro Saltimbanco, onde os atores atuavam em uma carroça, e assim podiam se deslocar por outros vilarejos, uma espécie de teatro ambulante, e a peça ocorria levantando uma lona lateral, criando uma abertura para visão geral do evento. A aplicação dava-se cada vez que, erguendo esta lona (a quarta parede), o espectador tinha acesso a imagem da peça encenada, geralmente com até, no máximo, quatro personagens atuando ao mesmo tempo.

Logo em seguida, pela formação do Teatro Elizabethano, na côrte da Rainha Elizabeth I (Londres, Inglaterra), onde o teatro era realizado para a nobreza como forma de distração e era preparada, muitas vezes, com intuito de se atacar ou criticar, de forma direta atitudes, comportamentos, da própria nobreza na côrte. Essas críticas nem sempre mostravam o nome do nobre, mas o fazia de forma satírica, confrontando-os e questionando-os, no entanto, as cenas eram preparadas, escrachadas, tinha como objetivo um ataque, mas de forma leve, tão leviana, que acabava por virar comédia. Todos riam, sabiam que se falava da côrte e seus participantes. Às vezes, sabiam sobre quem estava sendo satirizado, mas aquela conduta dos atores, embora muitas vezes com maldade, deixava a crítica um tanto sarcástica, outras vezes sutil, mas sempre procurando deixar a peça em tom crítico direto, mas completamente debochada em relação a quem a assistia.

O teatro assume a apresentação como se fosse uma caixa, surgindo o teatro tradicional como conhecemos e a quarta parede, de certa forma cai, deixando de existir e dando lugar àquela plateia que assiste passivamente, quer dizer a plateia evita mexer-se e, supostamente, assiste à peça sem se deixar envolver emocionalmente com os atores, mas nem sempre ocorria. Lembremos que algumas pessoas era bufões, comiam durante o espetáculo, causando um barulho que acabava por desconcentrar, outros com o uso do leque, outros com movimentos de pernas para chamar a atenção, daí para o ator não se desconcentrar com tosses, com movimentos corporais da plateia em que se estabelece a quarta parede, imaginária, tanto para o grupo de atores, quanto para a plateia, conduzindo o grupo de atores a um estudo e domínio próprio mais profundo para se condicionar em representar sem ter a influência da plateia ou minimizando-a e exigindo uma concentração maior durante a encenação, século XVIII, com as teorias propugnadas por Diderot, quando este aponta:

"Então, caso façais uma composição, ou caso representeis, pensai no espectador apenas como se este não existisse. Imaginai, na borda do teatro, uma enorme parede que vos separe da plateia; representai como se a cortina não se levantasse".[1]

A expressão também é usada em outros mídia, como cinema, videogames, quadrinhos,televisão e literatura, geralmente para se referir à divisória entre a ficção e a audiência.

A quarta parede é parte da suspensão de descrença entre o trabalho fictício e a plateia. A plateia normalmente aceita passivamente a presença de uma quarta parede sem pensar nela diretamente, fazendo com que uma encenação seja tomada como um evento real a ser assistido (teatro tradicional). A presença de uma quarta parede é um dos elementos mais bem estabelecidos da ficção e levou alguns artistas a voltarem a sua atenção para ela como efeito dramático. Por exemplo, na peça The Fourth Wall de A.R. Gurney, quatro personagens lidam com a obsessão da dona de casa, Peggy, por uma parede em branco na sua casa. Lentamente é desenvolvida uma série de clichês teatrais, enquanto toda a mobília e a ação em cena vão cada vez mais se dirigindo à suposta quarta parede.

Derrubando a quarta parede

O ato de derrubar a quarta parede é usado no cinema, no teatro, na televisão e na arte escrita, e tem origem na teoria do teatro épico de Bertolt Brecht, que ele desenvolveu a partir e, curiosamente, para contrastar com a teoria do drama de Constantin Stanislavski. Refere-se a uma personagem dirigindo a sua atenção para a plateia, ou tomando conhecimento de que as personagens e ações não são reais. O efeito causado é que a plateia se lembra de que está vendo ficção e isso pode eliminar a suspensão de descrença. Muitos artistas usaram esse efeito para incitar a plateia a ver a ficção sob outro ângulo e assisti-la de forma menos passiva. Brecht estava ciente de que derrubar a quarta parede iria encorajar a plateia a assistir a peça de forma mais crítíca - o chamado Efeito de Alienação.

Derrubar a quarta parede de forma súbita é um recurso bastante usado para um efeito humorístico nonsense, já que tal efeito é inesperado em ficções narrativas e afins. Alguns acreditam que derrubar a quarta parede cause um distanciamento da suspensão de descrença a ponto de contrastar com o humor de uma história. No entanto, quando usada de forma consistente ao longo da história, é geralmente incorporada ao estado passivo da plateia.

Essa exploração da familiaridade de uma plateia com as convenções da ficção é um elemento-chave em muitos trabalhos definidos como pós-modernistas, que descontroem as regras preestabelecidas da ficção. A ficção que derruba ou diretamente se refere à quarta parede muitas vezes também usa outros recursos pós-modernistas, como a metalinguagem (Teatro Contemporâneo).

O recurso é muito usado no teatro improvisado, onde a plateia é convidada a interagir com os atores em certos pontos, como para escolher a resolução de um mistério. Nesse caso, os espectadores são tratados como testemunhas da ação em andamento, tornando-se "atores" e atravessando a quarta parede.

A quarta parede também é usada como parte da narrativa, quando a personagem descobre que faz parte de uma ficção e 'derruba a quarta parede' para estabelecer um contato com a audiência.[2] Isso ocorre em filmes como O Último Grande Herói e A Rosa Púrpura do Cairo, onde personagens saem dos filmes que habitam e espectadores adentram a película; O Show de Truman, onde o personagem-título percebe que sua vida é uma espécie de reality show filmado em um gigantesco estúdio; e o livro O Mundo de Sofia, onde os personagens de um livro sendo escrito percebem seu caráter ficcional e tentam descobrir como conseguir sua liberdade. Nesse caso, a 'quarta parede' que a personagem derruba permanece como parte da narrativa em si, e a parede entre a plateia real e a ficção permanece intacta. Há casos também em que a criatura encontra o criador, como no período em que Grant Morrison escrevia as histórias em quadrinhos do Homem Animal. Histórias como essas não derrubam efetivamente a quarta parede - apenas se referem a esse recurso.

Alguns personagens são notórios por quebrar a quarta parede, como Deadpool da Marvel Comics, Goku no fim de cada episódio de Dragon Ball Z (Majin Boo e Gohan também fizeram), Pinkie Pie de My Little Pony: A Amizade é Mágica [3] , Frank Underwood, de House of Cards e a série de games Metal Gear: Solid (Onde alguns personagens olhavam para a tela e interagiam com o jogador).

Referências
BORIE, Monique; ROUGEMONT, Martine de; SCHERER, Jacques. Estética teatral: textos de Platão a Bertolt Brecht, pg. 167. Tradução de Helena Barbas. 2ª edição, Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2004]
NOVAS POSSIBILIDADES EM METALINGUAGEM
The Most Fourth Wall-Breaking Moments in Television History

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