quarta-feira, 5 de dezembro de 2018

movimentos



Movimentos

Das Arcádias trago
os seios da senhora a Madona
Medusa a Monalisa
os mamilos de Vênus
as cochas de Afrodite
Zeus meu pai - acredite
o desejo desse beijo
em um tempo que não foi
no teu corpo minhas lavras
as palavras – alguma ilha
na parábola de nós dois

ouço a música nesse disco estrangeiro
e essa musa tem um que de Guanabara
no silêncio ela ri da nossa cara
a flor do mangue agora mora
onde era água e no seu leito jorra lama
por sua boca desdentada peixe podre
como uma Angra no poema a carNAvalha
o sal da terra naturalismo onde supunha
eco sistema não interessa ao mato grosso
o agro-negócio só quer saber  de criar bois
e o simbolismo da escrita é só metáfora
a concretude o modernismo vem depois

Artur Gomes
www.fulinaimicas2.blogspot.com





quarta-feira, 29 de agosto de 2018

mitológicas


Jura Secreta 106

Clarice deseja o indesejável
na escuridão o que não tem nome
o abominável dos desejos
no sagrado o que não se dizia
descrevias as galáxias de Haroldo
descendo ao concreto de Augusto
como se fosse simbolismo pós-moderno
em Dante queria sempre descer aos infernos
no silêncio seu barulho nas auroras
penetrando meus abismos
em labirintos pra mastigar meus pesadelos
quando a noite se vestia de mistérios
com 7 velas que acendia para Oxossi
entre as matas do seu corpo em desconcerto


Mitológica

O sorriso de Monalisa
na boca de Clarice eletri-fica
Zeus em mim por todas Heras
deusas angelicais
beijam meus lábios canibais
cantando salmos
em hóstias consagradas
no altar – secretas juras
e os bíblicos enciumados
excluíram meus poemas
das sagradas escrituras


Enigma número 2

arde em minhas mãos teus poros
minhas unhas ainda queimam
dentro o sal das tuas ágoras
outubro era quase um mar de folhas
no coliseu dos imigrantes italianos
e nossos corpos não tinham panos
nos planos só o amor das águas
o vinho temperava nossas línguas
ao mastigar a santa ceia
Clarice trigo do pão em minha boca
fermento de Zeus em nossas carnes
no vale Olimpo onde gozamos
com fachos de fogo em nossas veias

Artur Gomes





sexta-feira, 17 de agosto de 2018

jura secreta 103




Jura Secreta 103

Clarice em tudo que ainda não disse
em tudo o que ainda disser
nas páginas de um livro branco
como fosse um chocolate
quem sabe vento de maio
as flores do mal desfolhasse
nas pétalas do bem-me-quer
num carnaval na quarta-feira
Clarice a porta/bandeira
do mestre/sala  Federico Baudelaire

Artur Gomes
Fulinaíma MultiProjetos
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sábado, 11 de agosto de 2018

intervenção poética



meu poema no Lula Livro

 intervenção poética

minha metralhadora
cospe poesia porque o tempo não para
coice dentro da noite
caçando luz na escuridão

o tempo despeja
os ponteiros do relógio
sobre nossas carcaças
fumegantes

nervos e músculos
sustentam ossos em nossos corpos
vulneráveis aos contra-templos
dos trilhos

clamo por  intervenção poética
no morro do encantado
lançando fogos de artifícios
chuva de poemas
na cabeça dos fardados
com  papel para imprimir
flores - na boca dos fuzis
de cada soldadinho de chumbo

Artur Gomes



sexta-feira, 3 de agosto de 2018

juras secretas


Juras Secretas 
feitiçarias de Artur Gomes - por Michèle Sato 

Difícil iniciar um prefácio para abordar feitiçarias de um grande mestre. A mágica aparição do texto transborda sentidos cósmicos, como se um feixe de luz penetrasse em um túnel escuro dando-lhe o sorver da vida. Diariamente, recebo um deserto imenso de poemas e a leitura se esvai com “batatinha quando nasce põe a mão no coração”. Um ou outro me chama a atenção, desde que sou do chamado “mundo das ciências” e leio poemas com coração, mas inevitavelmente aguçado pelo olhar crítico vindo do cérebro. 

A academia pode ser engessada, mas é, sobremaneira, exigente. Aplaude o inédito, reconhecendo que o poema é um caos antes de ser exteriorizado, mas harmônico, quando enfeitiçado. A leitura requer algo como canto do vento, que não seja fugaz, mas que acaricie no assopro da Terra. Por isso, é com satisfação que inicio este pequeno texto, sem nenhuma pretensão de esgotar o talento do grande mestre, mas responder aos poemas de Artur que brilham, soltam faíscas, incendeiam-se em erotismo e garras enigmáticas. Ele transcende regras, inventa palavras, enlouquece verbos. E as relações estabelecidas revelam a desordem dos sonhos na concretude harmônica de suas palavras. 

A aventura erótica não se despede de seu olhar político. Situado fenomenologicamente no mundo, e transverso nele, Artur profana o sagrado com suas invenções transgressoras. Reinventa a magia e decreta uma nova vida para que o mundo não seja habitado somente pelos imbecis. Dança no universo, com a palavra fluída, imprevistos pitorescos, mordidas e grunhidos. Reaparece no meio de um cacto espinhoso, mas é absurdamente capaz de ofertar a beleza da flor. Contemporâneo e primitivo se aliam, vencem os abismos como se ao comerem as palavras monótonas, pudessem renascer por meio da antropofagia infinita de barulhos e silêncios. O sangue coagulado jorra, as cavernas se dissolvem e é provável que poucos compreendam a beleza que daí se origina. 

Nos labirintos de suas palavras, resplandece o guerreiro devorador, embriagado, quase descendo ao seu próprio inferno. Emana seu fogo, na ardência de sexo e simultaneamente na carícia do amor. Pedras frias se aquecem, coram com o tom devasso que colore a mais bela das pornofonias. Marquês de Sade sente inveja por não ser o único déspota das palavras sensuais. E os poemas de Artur reflorescem, exalam odor como desejos secretos e risos que ecoam no infinito. 

não fosse essa alga queimando em tua coxa ou se fosse e já soubesse mar o nome do teu macho o amor em ti consumiria (jura secreta 5) 

De repente um cavalo selvagem cavalga na relva úmida, como se o orvalho da manhã pudesse revelar o fogo roubado das pinturas rupestres. Ao som de tambores, suas palavras se tornam arte em si, como se fossem desenhos projetados em um fantástico mundo vertiginoso. Seres encantados surgem das águas originários de sentimento, abraçadas nas pedras lisas, rugosas, esverdeadas da terra. O fogo dança em vulcões e a metamorfose é percebida em seus ares. Os elementos se definem como bestas, humanos, ou segmentos da natureza como uma orquestra sinfônica que vai além da sonoridade. Adentram sentidos polissêmicos e, neste momento, até o André Breton percebe o significado das palavras de Artur, pois a beleza é convulsiva e crava no peito feito cicatriz. 

e o que não soubesse do que foi escrito está cravado em nós como cicatriz no corte (jura secreta 10) 

Da violação do limite, do fruto proibido ou da linguagem erótica, os poemas de Artur são orgasmos literários que oscilam entre o sacro e o profano. Sua cultura, visão de mundo e inteligência possibilitam ir além da pura emoção sentimental, evocando a liberdade para que a terra asfixiada grite pela esperança. Artur comunga com outros seres a solidariedade da Terra, ainda que por vezes, seja devastador em denunciar disparidades, mas é habilidoso em anunciar acalentos. A palavra poética desfruta fronteiras, e Roland Barthes diria que a história de Artur é o seu tributo apaixonado que ele presta ao mundo para com ele se conciliar. Em sua linguagem explosiva, provavelmente está a intensidade de sua paixão - um amor perverso o suficiente para viciar em suas palavras, mas delicado o bastante para dar gênese ao mundo enfeitiçado pela habilidade de sua linguagem. 

A essência deste perfume parece estar refletida num espelho, pois se as linguagens podem incluir também o silêncio, as palavras de Artur soam como uma melodia. Projetada numa tela, a pintura erótica torna-se sublime e para além de escrevê-las, ele vive suas linguagens. Esta talvez seja a diferença de Artur com tantos outros poetas: a sua capacidade de transcender a tradição medíocre para viver um intenso de mistério de sua poética. Ele não duvida de suas palavras, nem as censura para não quebrar seu encanto, mas devora em seu ser na imaginação e no poder de sua criação. Criador e criatura se misturam, zombam da vida, gargalham da obviedade. Põem-se em movimento na dança estrelas que iluminam a palavra. 

Os fragmentos poéticos são misteriosos de propósito, uma cortina mal fechada assinala que o palco pode ser visto, porém não em sua totalidade. Disso resulta a sedução para que ele continue escrevendo, numa manifestação enigmática do poder surrealista em nos alertar sobre nossas incompletudes fenomenológicas. O imperfeito é o sentido da fascinação, diria Barthes em seus fragmentos de um discurso amoroso. E a poética de Artur não representa ressurreição, nem logro, senão nossos desejos. O prazer do texto pode revelar o prazer do autor, mas não necessariamente do leitor. Mas Artur lança-se nesta dialética do desejo, permitindo um jogo sensual que o espaço seja dado e que a oportunidade do prazer seja saciada como se fosse um "kama sutra poético" para além do prazer corporal. Esta duplicidade semiológica pode ser compreendida como subversiva da gramática engessada - o que, em realidade, torna seus textos mais brilhantes. Não pela destruição da erudição, mas pela abertura da fenda, para que a fruição da linguagem seja bandeira cultural da liberdade. 

E a sua liberdade projeta-se num horizonte onde a dimensão sócio-ambiental é freqüentemente presente. É uma poesia universal de representações urbanas e rurais, de flora, fauna e fontes de praças públicas. Desacralizando o “normal previsível”, borda em sua costura de mosaicos, esquinas e passaredos. 

eu sei de gente e de bichos ambos atolados no lixo tem gente que come bicho tem bicho que come gente tem gente que vive no lixo tem lixo que mora no bicho gente que sabe que é bicho e bicho que pensa ser gente (jura secreta 28) 
A poética das Juras Secretas opõem-se a instância pretérita numa espiral de presente com futuro. Metafisicamente, desliga-se do momento agonizante e os olhos do poeta não se cansam, ainda que a paisagem queira cansá-los. Seu toque lembra o neoconcretismo, por vezes, cuja aparição na semana da arte moderna mexeu com os mais tradicionais versos da literatura ordinária. Mas sua temporalidade vence Chronos, na denúncia de um calendário tirano ao anúncio de Kairós, também senhor do tempo, mas que media pelos ritmos do coração. 

20 horas 20 noites 20 anos 20 dias até quando esperaria... até quando alguém percebesse que mesmo matando o amor o amor não morreria
. (jura secreta 51) 


É óbvio que a materialidade da linguagem, sua prosódia e seu léxico se mantêm no texto. Mas foge das estruturas engessadas do arrombo repetitivo, florescendo em neologismos verossímeis e ritmos cardíacos. Amiúde, são palavras jorradas em potente cultura significante. No chão dialogante, este poeta desestabiliza a normalidade com suas criações. 

por que te amo e amor não tem pele nome ou sobrenome não adianta chamar que ele não vem quando se quer porque tem seus próprios códigos e segredos mas não tenha medo pode sangrar pode doer e ferir fundo mas é razão de estar no mundo nem que seja por segundo por um beijo mesmo breve por que te amo no sol no sal no mar na neve(jura secreta 34) 

ARTUR GOMES é, para mim, um grande relato de seu próprio devir, que sabe poetizar a partir de seu vivido. E por isso, enfeitiça. 

domingo, 20 de maio de 2018

poesia viva poesia




Poesia Viva Poesia
Livro: "Juras secretas", poesia. Autor: Artur Gomes.


Lançamento - 10 de junho - 20h
com a performance Poesia Viva Poesia
Museu Nacional de Brasília -
Festival Transepoéticas

Jura secreta 14

eu te desejo flores lírios brancos
margaridas girassóis rosas vermelhas
e tudo quanto pétala
asas estrelas borboletas
alecrim bem-me-quer e alfazema
eu te desejo emblema 
deste poema desvairado
com teu cheiro teu perfume
teu sabor teu suor tua doçura
e na mais santa loucura
declarar-te amor até os ossos
eu te desejo e posso
:
palavrArte até a morte
enquanto a vida nos procura


Artur Gomes
Fulinaíma MultiProjetos
portalfulinaima@gmail.com
(22)99815-1266 - whatsapp

quarta-feira, 16 de maio de 2018

juras secretas - livro - lançamento



Livro: "Juras secretas", poesia. Autor: Artur Gomes.


Lançamento - 10 de junho - 20h
com a performance Poesia Viva Poesia
Museu Nacional de Brasília -
Festival Transepoéticas

Jura secreta 14

eu te desejo flores lírios brancos
margaridas girassóis rosas vermelhas
e tudo quanto pétala
asas estrelas borboletas
alecrim bem-me-quer e alfazema
eu te desejo emblema 
deste poema desvairado
com teu cheiro teu perfume
teu sabor teu suor tua doçura
e na mais santa loucura
declarar-te amor até os ossos
eu te desejo e posso
:
palavrArte até a morte
enquanto a vida nos procura


Artur Gomes
Fulinaíma MultiProjetos
portalfulinaima@gmail.com
(22)99815-1266 - whatsapp






quinta-feira, 8 de março de 2018

Todo Dia É Dia Dela



Todo Dia É Dia Dela
Todo Dia É Dia D

Mulher
meu poema
se completa em teu vestido
roçando tua carne
no algodão tecido

Meu ofício é de poeta
pra rimar poema e blusa
e fica na tua pele
pelo tempo em que me usa

Artur Gomes


terça-feira, 23 de janeiro de 2018

sax blues poesia


Sax Blues Poesia
Artur Gomes - voz - poesia
Dalton Freire - Sax - Flauta
Álvaro Manhães - voz e violão
Dia 6 - fevereiro 20:00h
Tenda Para Todos - Farol de São Tomé
Realização: Fundação Cultural Jornalista Oswaldo Lima

Ind/Gesta

não prego prego sem estopa
nem tapo o sol com a peneira
não troco manguinhos por mangueira
nem pulga por carrapato
eu sou a mosca
que pousou na tua sopa
a pedrinha
que entrou no teu sapato

Artur Gomes



quinta-feira, 4 de janeiro de 2018

Mostra Cinema Ambiental

Mostra Cine Ambiental
exibição de  curtas mostrando a situação
ambiental de diversas cidades brasileiras
27 - janeiro - 2018 - 21:00h
Estação 353 - São Francisco do Itabapoana

sem meias palavras ando descalço
pra pisar a lavra da palavra chão

Studio Fulinaíma Produção Audiovisual



EuGênio Mallarmé

Meu ator preferido desabafava ontem comigo sobre as dificuldades de subir ao palco hoje para interpretar grandes personagens. Para ele não há mais diretores e produtores preocupados em produzir teatro, e sim, entretenimento, besteirol, stand up. Discípulo direto de Antonin Artaud reclama desse vazio monumental fazendo com que grandes atores se exilem dentro do seu próprio corpo.

Cristina Bezerra

“Quem sou eu?
De onde venho?
Sou Antonin Artaud
e basta que eu o diga
Como só eu o sei dizer
e imediatamente
hão de ver meu corpo
atual,
voar em pedaços
e se juntar
sob dez mil aspectos
diversos.

Um novo corpo
no qual nunca mais
poderão esquecer.
Eu, Antonin Artaud, sou meu filho,
meu pai,
minha mãe,
e eu mesmo.
Eu represento Antonin Artaud!
Estou sempre
morto.Mas um vivo morto,
Um morto vivo.
Sou um morto
Sempre vivo.
A tragédia em cena já não me basta.
Quero transportá-la para minha vida.
Eu represento totalmente a minha vida.
Onde as pessoas procuram criar obras
de arte, eu pretendo mostrar o meu
espírito.
Não concebo uma obra de arte
dissociada da vida.
Este Artaud, mas, por falta do que fazer…
Eu, o senhor Antonin Artaud,
nascido em Marseille
no dia 4 de setembro de 1896,
eu sou Satã e eu sou Deus,
e pouco me importa a Virgem Maria.




cidade veracidade

onde tudo é carnaval minha madrinha se chamava cecília nunca soube onde minha mãe a conheceu por muitos anos morou na rua sacramento ao la...