quinta-feira, 28 de dezembro de 2023

Vampiro Goytacá Canibal Tupiniquim


vampiro goytacá

canibal tupiniquim

             poesia muito prosa

viagens metafóricas por realidades reinventadas

 

 veraCidade

 

por quê trancar as portas tentar proibir as entradas se já habito os teus cinco sentidos e as janelas estão escancaradas ? um beija flor risca no espaço algumas letras de um alfabeto grego signo de comunicação indecifrável eu tenho fome de terra e esse asfalto sob a sola dos meus pés agulha nos meus dedos quando piso na augusta o poema dá um tapa na cara da paulista flutuar na zona do perigo entre o real e o imaginário joão guimarães rosa caio prado martins fontes um bacanal de ruas tortas eu não sou flor que se cheire nem mofo de língua morta o correto deixei na cacomanga matagal onde nasci com os seus dentes de concreto são paulo é quem me devora   selvagem devolvo a   dentada na carne da rua aurora

serAfim 1 -                  Artur Gomes

 

 para ademir assunção

um nome escrito no vento

 

não quero o sentido normal

da coisa como me aparenta

quero a realidade

exatamente como a gente inventa 

 

     no concreto do abstrato

na argamassa do concreto

sou

vampiro bêbado de sangue

assassinei os alfarrábios

para inventar meu alphabeto


tempo de poesia

para renata magliano

 

lancei o tempo

numa agulha da fresta

 

ainda bêbado de ontem

bebo as trina e cinco pausas

de uma mulher em chamas

que ainda não conheço

 

o tempo me dirá o endereço

como metáfora ou alquimia

 

e sendo drama ou festa

tempo de poesia

é o que nos resta

 

vamos comer mastigar chupar beber

devorar  deglutir cuspir escrever  xingar falar sobreviver  sobrevoar os telhados  de todos os fantasmas  goytacá  ancestrais  invadir os palácios de todos tupiniquins canibais  mesmo que o templo esteja escuro não me mostre o que preciso não quero perder o meu  juízo nos currais de assombradado tem um morcego nas cancelas principais vamos pichar nos muros : sem justiça não haverá paz

 

 no lado esquerdo

do peito

o direito não conforta
nem comporta a estrada
que preciso

nu poema 

a porta
que se abre
a procura do inciso


31 janeiro 2010

era um domingo de sol rock and roll e poesia irina gozou comigo quando beijei santa teresa no parque das ruínas com uma bela imagem de cristo tatuada em nossas costas depois de uma noite de sonhos amanhecemos nas laranjeiras dentro do severina o famoso botequim mais uma vez me beijou e bem ali no pé do ouvido me falou assim:

 - vamos pra saideira

meu vampiro goytacá

canibal tupiniquim meu serafim

 

a saideira foi itacoatiara itaipu

 

engenho do mato dentro

engenho de dentro fora

quando penso que clara está vindo

irina já foi embora

 

o barro de alguns barracos  continuam entranhados na carne com seus  nomes tapera cacomanga cupim queimado cambaíba ururaí olinda morro grande santa cruz quilombo lagamar guriri trago a poeira na sola dos meus pés o sangue das pessoas trouxe impregnados nas  unhas vampiro  goytacá canibal  tupiniquim 

no  branco do papel deponho a faca a foice navalha canivete já fui moleque pivete das esquinas dos bordéis da rua do vieira paraíso perdido joazeiro coqueirinho nas mallarmargens da br

já fui do breque dos pandeiros das cuícas do couro cru na carne viva goytacá boy perdido na paulista  roubei poemas do piva para vender nas lanchonetes mar a vista em bertioga e o coisa ruim do ademir continua na ponta da língua da memória

 quando  criança brincava nos sonhos com cobras de pique esconde no porão da casa onde aprendi a enxergar   clara/luz na escuridão quando seus olhos de vidro

 viraram espelhos para os meus numa madrugada  27 agosto  1948 datas também me acompanham desde que vi o primeiro clarão diurno quando o trem passou para dores de macabu 

quando estive na bolívia senti o cheiro de corumbá ali de perto em assunção do paraguai porto viejo canavarro o barro vermelho no carnaval pelas fronteiras cerveja com caldo de piranha  a dona de um bordel no pantanal chamava os jacarés com nomes de jogadores de futebol quando perdi o avião pra boa vista

 

 tem noites que a lua cheia me chega com sangue entre os dentes com aquele gosto de veneno escorrido das serpentes tem dias que as serpentes me chegam com gosto de lua cheia


a mulher dos sonhos me deixou de quatro a ver navios com pavio aceso essa palavra incendeia os poros pelos orifícios esse meu ofício de perfurar na carne o que não cabe in-verso nem por um segundo nem por um milímetro nesse acampamento logo depois da febre como marimbondo provo o teu veneno

quem me vê

assim

tão comportado

não sabe

o que se passa

aqui no centro

 

não sabe do vulcão

em erupção

nesse serTão

do mato dentro

 

  a traição das metáforas

para juliana stefani

 

dandara ainda mora

naquela beira  de estrada

com seu vestido amarelo

no rio grande do sul

mesmo que não esteja

ainda a vejo

atravessando a calçada

saindo do carro azul

abrindo o portão da casa

de 7 portas douradas

 com mil  garrafas de vinho

psicografadas na sala

por algum poeta dos pampas

que escreveu por aquelas rampas

o que testemunhou nos vinhedos

quando italianos chegaram

nas serras dos meus segredos





origem

 

sou afro-tupi

guarani

goitacá que subiu o paraíba

para o litoral paulista

nasci na cacomanga

bicho do mato

curupira carrapato

sou campista

não tiro onda de turista

sou Retalhos Imortais do SerAfim

comigo é assim

:

nem fiado nem à vista

 

 II

 

áfrica sim

minha mãe de sangue

cresci mamando do teu leite

lambendo o sal

da tua carne quente

bebendo água suja

no tanque

sou fel pimenta azeite

quem quiser que me aguente

eu sou a lama do mangue

 

 metáforas em linhas curvas

quando manhã canta e não chove lucia me fala das coxas de yve mergulhadas no pontal até a última sílaba do poema letras salgadas de mar embora mesmo que agora chova e a noite seja um relâmpago de estrelas sinto que nos falta um vagalume para alumiar a escuridão tantas vezes lamparina acesa no bar de neivaldo foram lâmpadas florescentes entre olhos famintos de luz no verão de 2010

 

 minha escrita

grita

muitas vezes

invento 

palavras soltas ao vento

 

 a flor dos meus delírios

 

tem cheiro de poesia

relâmpagos de Iansã

incêndio no meio dia

netuno em polvorosa

me disse em verso e prosa

que ela vem com o frescor da maresia

e eu serei o seu Ogum

anjo da guarda e companhia

hoje mesmo distante

essa preamar me incendeia

ondas espumas explodem na areia

tempestades trovoadas ventania

e nem sei se estando perto

calmaria

 

 estação 353

para cecília in memória



eu planto
minha estação existe
a adubagem orgânica está completa
não sou negacionista nem sou triste
sou poeta

irmão das coisas da alegria
eu sinto o gozo no tormento
atravesso noites e dias - invento

eu sei que planto
e o sistema é bruto
mas a terra gira como pomba gira
amora minha eterna namorada
e amanhã eu sei colherei teus frutos
nessa minha estação amada


hoje me surgiu esta ideia:

estava lendo antonio cícero

e antonio carlos secchin

e ai pensei - ler ler ler ler re-ler

não escrever - parece-me brincadeira

aprendizado para vida inteira

do mim dentro de mim

o Eu dentro do Eu

o Não dentro do Sim

 

metáfora 1


suspenso no ar às vezes penso se devo pensar tanto como um poema de mayakóvisk ela um dia virá ao meu encontro e ressuscitará o poema que ontem não nasceu a vida não é só flores ela me disse clarice em cada coisa tem o instante em que ela é as vezes também penso ela não virá aí vou para praça jogar milho aos pombos ao jardim zoológico dar comida aos patos os meus sapatos já conhecem os anos de espera na última primavera os lírios não nasceram e as rosas eram só espinhos com minha língua na faca cortei a fala ainda na garganta e fui pra sala afiar o taco ela não sabe que o vinho que guardei pra ela é de      uma safra especial de bacco

 

hipotemusa

 

a menina da lanchonete hoje rói as unhas de ira pira quando quero  o que ela pensa que é apenas bolero na praça são salvador com esse poema torto que te leva ao desconforto de pensar o que não sinto como ela vive sozinha entre pastéis e empadas sua vida é hora marcada de entrada e de saída não conhece uma outra vida por isso me olha estranha com uma sede faminta de comer meus olhos  com palavras – quando te digo : não minta

 

 

 

hipotemusa 1

 

a menina da lanchonete

em frente a floricultura

são salvador

mexe na flor dos cabelos

dedos entre pelos

enquanto aguço os olhos

pensando mar de abrolhos

na terceira margem do rio

leio um poema no cio

 grafitado em isopor

 

não sendo assim

    seja como for

 

 hipotemusa 2

 

ela bagunça meus 7 sentidos

aguça lambuza

planta um punhado de brócolis

no pé do meu ouvido

me dá de beber mastruz com leite

de comer esphirra koreana

lhe chamo de sacana

ela me diz que é bacana

me fazer de pé de moleque

pra lamber meus sustenidos


hipotemusa 3

 

 ela agora usa piercing no nariz

sem medo de ser feliz

joga capoeira no mercado

aprendeu dançar suing

não dá mole pra racista

nem pra patrão

que escraviza empregado


 hipotemusa 4

 

essa garota me alucina

não sabe ficar quieta com santa teresa

no parque das ruínas

tem mais de mil desejos

um deles é quebrar meus óculos

com sua fome de beijos

tem mais de mil ofícios

um deles é mapear o litoral

das minhas costas

pelas praias de são francisco

essa garota é bárbara

afrodite artemanha de iansã

me banha com sua língua de vênus

as terças-feiras de manhã

 

 hipotemusa 5

 

quero botar no seu orkut um negócio sem vergonha um poema descarado já chegando fevereiro e meu rio de janeiro fica lindo mascarado

 quero botar no seu e-mail um negócio por inteiro eu não sou zeca baleiro pra ficar cantando a mama que ainda tem medo do papa

 meu negócio é só com a mina que me trampa quando trapa meu negócio é só com  a mina que me canta ouvindo rappa

 

 hipotemusa 6

 

vou encontrá-la no rio psiu poético sentidos todos plural um tanto cético nessa ponte para o nada - duvido que não exista alguma esperança nos olhos de uma criança disse-me a hipotemusa no amarelinho da lapa antes de atravessarmos para o ccjf com alguma poesia na manga do lado esquerdo do pulso rasgar o verbo da fome e entregar à  cara a tapa

 

 hipotemusa 7

 

hoje acordei com uma vontade da porra de trepar na goiabeira talvez assim quem sabe ela me chame de jesus e tire ele da cruz

 ou quem sabe bacurau ou quem sabe bacuri para acabar com carkamanos

 ou então até quem sabe ela me chame de exu cabra da peste do nordeste koreano

 

hipotemusa 8

 

pode ser que ela nem saiba

o quanto o tanto o torto

pode ser que ela me queira

bem debaixo do vestido

e me chegue como sempre

me rasgando a roupa

me lambendo a boca

sem vergonha alguma

e me pegue bem assim

descabelado

displicente distraído

pra querer mais uma

poesia pra entortar 7 sentidos

 

 hipotenusa 9

 

ela me deu um beijo na boca e me disse carne seca me interessa assada na brasa como sua língua quente salivando entre meus dentes enquanto conto peixinhos na baia da guanabara na hora do gozo pode cuspir na minha cara essa gosma de lesma na calçada pedra faca trinca ferro na janela casa mal assombrada cosme velho coisinha de sal e o bruxo ainda escreve dentro dela 

 

 hipotemusa 10

 

quando alvoroçar os teus cabelos

quero outras coisas alvoroçadas

poros pelos entradas

 

maria padilha

pomba gira cigana

presente na trilha

de qualquer oxossi caçador

 

beatriz sua filha de santo

foi quem vi no espelho

da minha mesa de búzios

quando joguei para xangô

 

 hipotemusa 11

 

fulinaimânica sagarínica

algumas vezes muito prosa

tantas vezes muito cínica

 

hipotemusa 12

 

foi em são carlos

a última vez que fui

encontrei alzira

pira da pira de pira  cicaba

incendiou minha carne

devorou meu esqueleto

o lance só acaba

quando mergulhamos

em são josé do rio preto

 

era uma japinha

que conheci em batatais

depois da prova dos 9

deu adeus e nunca mais 

 

 hipotemusa 13 –

 

como ninfa estrangeira ontem me veio envolta de plumas em estado de poesia na baia da guanabara estudava antropologia pelas marinas do rio no sexo sempre quentinha feito uma gata selvagem gozando a vida no cio vestida em pele de algas despida nos desvarios lambeu o mel entre as coxas    desapareceu no navio

 

hipotemusa 14 

 

nem bem havia anoitecido no parque das ruínas teus olhos de lamparina tocaram a pedra do reino nas águas da guanabara coisa rara aquele peixe brilhante dentro daquela boca com seios de primavera e vinhos da santa ceia em tua língua muito louca

 

 jura secreta 101


as orquídeas ainda são azuis
girassóis relâmpagos na chuva
na surpresa dentro a tempestade
dessa manhã que finda
pimenta tua boca em chamas
incendeia meus lençóis profana
essa linguagem como arco-íris
como fosse pulsação que arde
nas entranhas dessa luz de fogo
nos meus dentes mastigando a tarde

 

 todo dia que não amanhece

anoitece

quem nunca leu sagaranagens

não pode dizer que me conhece

 

 hoje na michigan vi o cara de bunda pra lua tirando cocô de cachorro na calçada torta tonto na califórnia cachorros moram em apartamentos bem diferente lá no engenho de dentro os cães uivam na ferrovia não são lobos mas parecia o outro cara dando marretadas na laje na esquina da santo amaro estação corpo belo universo paralelo vida louca vida Irina sorria enquanto beijava o sorvete trepada na padaria na outra esquina do dia rúbia querubim quase entuba enquanto volto pra munduba setenta e um guiado por federika a flor delírio de oxum 

 

 hoje reencontrei renata que pensava ser miragem em 2018 quando lia poemas tortos juras secretas linhas curvas nada em linha reta agora percebo a metáfora na flor da pele da meta renata metamorfose beija flor mirando a seta 

 

minha irina toda via

é travessa e atravessada

em transversas travessias

trepa sempre nas esquinas

contra o poder da tirania


no princípio era fábula depois veio o verbo logo depois a ficção e aí começou a invenção depois das sagaranagens

a selva de concreto fala pelos seus poros ela veio de outra mata virgem agora devorada pelos dentes da veraCidade

 

onde tudo é carnaval

minha madrinha se chamava cecília nunca soube onde minha mãe a conheceu por muitos anos morou na rua sacramento ao lado do colégio estadual nilo peçanha primeiro endereço que conheci nesta cidade antes de estudar no grupo escolar 15 de novembro de onde muitas vezes assisti desfilar a mocidade louca ao lado do meu padrinho benedito que inventou deixa que eu chuto meu guardião absoluto

 

 entre muros e paredes do presídio federal de brazilírica macabea foi jantada pelo pastor de andrade no carnaval da mocidade tem memórias por lá adormecidas que ninguém ousa contar a hipocrisia  varreu daquele território a rebeldia marca registrada de um tempo que não podemos apagar trago nas nervuras entre a   carne e os ossos marcas de explosões da caldeira na tipografia das letras onde tentaram me domesticar

mas sou vampiro goytacá

          endiabrado serAfim

    sou canibal tupiniquim


meus 7 sentidos

 

fulinaíma me veio no vento um instrumento invento para acrescentar a minha escritapara escancarar a minha fala percorria a   bandeirantes quando me dirigia para campinas com oficina de artifíciose não sei em que ofício a pedra do rock rola a pedra do vento voa depois de um instante qualquer que seja o estalo nos meus 7 sentidos já perdi a conta do tanto faz então pra mim tanto fez o faz de contas que me quiseram impor sem ao menos saber se quero o tempo ajusta as pedras que rolam meu calcanhar é testemunha em toda veracidade verdade deve ser dita em qualquer tralha da cidade porque bem sei por quantas trilhas já trilhei para chegar até aqui

 

afora em mim grafitemas  nenhuma figuralidade  frutas legumes verduras quem cala a fala consente  houve um tempo que a dita/dura  calou a fala da gente grafito em tua carne de pedra  medusa de sete patas  poema de sete cabeças miragens do amor que enlouqueça  apóstolos na santa ceia  miró brincando de circo  com os olhos na lua cheia


poesia

tesão teu nome

transforma ritual & gesto 

não presto porque e te amo

te amo porque não presto


virgem santa

a fome ainda é tanta

 

mas vida é pra sorrir

se divertir gozar brincar

 

seriedade

só no instante mais preciso

 

aí meu dente siso

morde a carne do decreto

no parágrafo do inciso

 

Artur Gomes

https://fulinaimagens.blogspot.com/

 

serAfim 2 -                 rúbia querubim a desejada de federico baudelaire

 quieta aqui nessa solidão capixaba quantas vezes me vem em sonhos ou alucinações contemporâneas tudo o que não fui eu não era a bruna beber muito menos débora seco mas ele gostava até queria que fosse assim como biúte me chamava de vários nomes ao mesmo tempo aquela profusão de palavras como inseto em volta da lâmpada e os cálices nos lençóis de algodão as vezes linho para atiçar nossa luxúria com a contribuição da enel que nos deixava quase sempre no escuro na guarapari do espírito santo uma noite ele passou o tempo todo lendo pagu no meu ouvido e macabea não se conforma por ter sido deixada de lado nas artes cínicas do presídio federal de brazilírica trafega com seus fantasmas pelos corredores falando para o vento que entra pelos buracos das fechaduras

 

nasci no dia nacional do samba talvez por isso aos 15 entrei para mocidade independente de padre olivácio – a escola de samba oculta no inconsciente coletivo instituição criada pelo intrépido artur gomes uma filial da igreja universal do reino de zeus pastor de andrade o antropófago não anda muito satisfeito com meu comportamento a frente da bateria da escola mas como sou capixaba e não amo capixaba e a única coisa de capixaba que gosto é a torta e o quibe de peixe amor com capixaba não faço já disse isso milhão de vezes mas faço amor não faço guerra e quem quiser que me queira por essa terra inteira


 não conheço

mas é como

se conhecesse

 

disse-me ontem

a psicóloga

 

antes que

amanhecesse

 

depois de uma noite

de trégua

depois de passar a régua

 

na direção dos caminhos


irina serafina

nem minha nem tua

toda dela semi-nua


os olhos da janela

me espreitam

enquanto devoro

este poema

salgado de sol

 

 sede


eu tenho sede de água
eu tenho sede de mar
girassol nos meus cabelos
espuma de sal esperma e pelos
por onde eu possa delirar
eu tenho sede de sexo

em noites claras de luar

 

 

 se eu não beber teus olhos

não serei eu nem mais ninguém

 

quando beijar teus lábios

desço garganta mais além

 

quando tocar teu íntimo

onde o desejo é mais intenso

 

jura secreta não penso

bebo em teus cios também

 

 a flor da tua pele

me provoca
me toca
e não sei o que fazer
me perco nas esquinas
do teu corpo
em noites de lua nova
como uma prova de física
que eu nunca soube resolver


espírito santo


guarapari aqui estou
aqui me encontro
em estado de espírito santo
nesse mar azul e branco
como as cores da portela
o rio já passou em minha vida
nas marés de um serafim
mar é o que me fica
como o deus que me habita
sem princípio meio ou fim


musa
que é musa
não tem vergonha de nada
escancara a cara no espelho
se desnuda pra fotografia
teu corpo camisa de vênus
a flor da pele irradia
rasgando a camisa de força
tua carne é só poesia

   

mulher de nuvens
para Micaela Albertini

fosse eu uma mulher de nuvens
não estaria aqui presa
a este mar nas marés suor ou cio
passaria com o vento
sem deixar rastros vestígios
pegadas
voaria sobre estradas
sem destino cais ou porto
viajar mesmo sem nenhum conforto
ou calmaria nas partidas
ventania nas chegadas



serAfim 3 -        federico baudelaire o mestre sala dos mares


irina serafina

nem minha

nem tua

toda dela semi-nua

 

escrevo

como quem

pesca uma piaba

no rio ururai

 

vou por aí

de itabirina

a iriri

 

se não cansar

cato conchinhas

de anchieta

a guarapari

 

você está se aproveitando da nossa situação e está de olho na minha mulher não vai colar porque gigi federika lady rúbia eu gênia agora é minha quem mora com ela em iriri do espírito santo sou eu pode tirar seu cavalhinho da chuva seu tempo de guarapari passou se não é capixaba que se dane quero mais que o quiabo voz carrege porque sua banda de reggae aqui não toca aqui não é freguesia do ó e você nem conhece quibe de peixe pra ficar jogando isca no meu quintal de areia sua sereia já morreu faz tempo o templo agora é outro pastor de andrade me deu a chave de entrada da cancela principal gado não entra e o bom cabrito vai berrar do lado de fora



só quem sabe do riscado

        entende o seu ofício

 

procura palavra nua toda viva toda crua  

 

o resto que se foda

 

quero toda palavra toda

      toda bruta toda puta

 

na artimanha o concreto

        no abstrato do ereto


 

para rúbia querubim

 

a pétala da flor deságua sobre a flor da tua pele nas águas salgadas desse mar
na correnteza desse rio eu bebo tudo que revele cada gota dessa água na
leveza do teu cio

 

alfândega

em santa cruz de la sierra
o poema e o anjo torto
se beijam num copo de vodka
com pimenta boliviana
e traçam maydoida cigana
que me deixou no desconforto

 

a metáfora da esfinge rúbia querubim tem o destino torto do anjo serAfim que mesmo sabendo de oswald nada sabia de mim

 

bolivariando 2

 

eu sempre andei no encalço dos olhos de carolina na fantasia dos meus passos
tem confete/serpentina
onde o profano e o sagrado em puerto viej cavajarro se encontram em outro tom a cigana boliviana com seus olhos de pimenta com suas pimentas nos olho me levou para lá sierra de santa cruz da bolívia onde se masca folhas de coca antes do coito das cinco sem chá e nem torrada e cerveja muito menos o sexo ali é na porrada com  fogos de artifícios comendo no carnaval do mato dentro

 

poética 43

 

a percepção acho que é um dom uma descoberta um pássaro que pousa em nossa cabeça e nos atira aos fios elétricos do corpo  liberdade vem de dentro do motor  dos músculos os ponteiros que só se movem quando querem o repouso absoluto é uma forma de silêncio não vejo muita graça em ser sozinho solidão as vezes faz bem noutras assusta mas sou tenho um amor que ainda não me diz abertamente do diamante que mora dentro dele mas toco a música dela tem itálias e palavrões as vezes quando me pergunto onde vou nem sempre tem resposta  aliás respostas é o que menos tenho encontrado para as 25 mil perguntas paradas no ar  o rascunho dos meus primeiros dias ficou esquecido numa tipografia do tempo emoldurado na tinta que mudou de cor

 

poétttica

imburi – essa palavra estranha
só existe em são francisco
e me arrisco
a pensar que seja engano
o biscoito de polvilho
farinha branca no trilho
morreu mais um – menos nada
a tapioca na telha
e o sol sumiu na estrada


pedra dourada


amo a pedra
onde mora
estive lá
já vim embora
assim sozinho
mas é como se a pedra
estivesse ainda em meu caminho


                       come poesia menina

come poesia

não há mais metafísica

no mundo

do que comer poesia

 

temos delicados

drops de anis

 

ou

 

chocolate de café

 

para festejar

Leila Diniz

 

Artur Gomes Fulinaíma

https://braziliricapereira.blogspot.com/



https://fulinaimacarnavalhagumes.blogspot.com/

 


cidade veracidade

onde tudo é carnaval minha madrinha se chamava cecília nunca soube onde minha mãe a conheceu por muitos anos morou na rua sacramento ao la...