domingo, 12 de julho de 2020

Beth Brait Alvim - EntreVistas



Beth Brait Alvim, é uma amiga de face já há alguns anos, venho acompanhando atento a sua produção poética suas performances e  suas atividades com a escrita de uma forma geral. Em 2019 na cia do querido parceiro poeta e amigo Pedro Tostes, tive o grande prazer de conhecê-la, pessoalmente, numa das edições do Sarau da Paulista, na Casa das Rosas, produzido  pelos queridos amigos poetas Cesar Augusto de Carvalho e Rubens Jardim.


Beth Brait Alvim, de São Paulo, é graduada em Letras pela FFLCH da USP; pós-graduada em Ação Cultural pela ECA da USP e mestre pelo Programa de Integração da América Latina da USP, com o tema: “Desvelando uma atitude poética para o mundo contemporâneo: experiências com poesia em Diadema e Catamarca". Recebeu prêmios, e tem poemas traduzidos para o espanhol e francês. Tem contos, crônicas e poemas em antologias nacionais e internacionais, além de ensaio, artigos e prefácios. Foi contemplada com bolsa de especialização profissional pelo Programme Courants du Monde, França.

Representou o Brasil no México, no Encuentro Iberoamericano de Escritores Bajo el asedio de los signos (2008 e 2018); autografou na FLIPORTO, Feira Literária de Porto de Galinhas (Recife, 2008), e FLIP 2018, na Casa do Desejo e Edições Sesc. Tem participado em curadorias e seleções de obras e projetos. Poesia Lusófona, OFF FLIP, Paraty. Participa de debates, palestras, oficinas, e saraus, apresentando-se na performance A febre e a mariposa ao lado do multiartista Daniel Joppert.  Foi do Núcleo Musical da Cia do Tijolo e membro do Sarau da Paulista. É colunista da Revista Digital Entrementes e atriz. Tem artigos sobre poesia nas Revistas E, do Sesc, Conhecimento Prático-Literatura, etc. Teve resenhas veiculadas no Entrelinhas da TV Cultura. Obras Mitos e ritos (Sortecci, 1987), Visões do medo (Prêmio PAC, Escrituras, 2007), A febre e a mariposa (Patuá, 2018), A noite e o meio, (Córrego, 2019), poemas. Ciranda dos tempos-espaços do desejo (Escrituras, 2005-2006), ensaio. É poeta convidada de um trabalho de improvisação livre orquestral conduzida por Daniel Carrera. Dentre os temas apresentados, está Iracunda - A ópera de silício, com a Orquestra SPIO (Beth Brait Alvim, poesia; Guizado, trompete; Adriana Nunes e Isadora Prata, dança; e Guilherme Pinkalsky, projeções visuais.

Artur Gomes -  Como se processa o seu estado de poesia?

Beth Brait Alvim - Escrevo por dois impulsos: quando não suporto ou quando sinto êxtase.

Artur Gomes - Seu poema preferido?

Beth Brait Alvim - Existem muitos poemas que pautaram minha vida, vinculados a fases específicas: poemas do Desassossego do Pessoa, de Os passos em volta, do Herberto Helder, do Sentimento do mundo do Drummond... mas enfatizo, sem dúvida, todo um  Roberto Piva, sobretudo o seu Manifesto Utópico-Ecológico em Defesa da Poesia & do Delírio, além das indescritíveis Wislawa Wiborska, Alejandra Pizarnik e Silvia Plath, escritoras inigualáveis.

Artur Gomes - Qual o seu poeta de cabeceira?

Beth Brait Alvim  - Roberto Piva e
Alejandra Pizarnik.

Artur Gomes - Em seu instante de criação existe alguma pedra de toque, algo que o impulsione para escrever?

Beth Brait Alvim - Sim, sou impulsionada por paixão e desespero.

Artur Gomes -  Livro que considera definitivo em sua obra?

Beth Brait Alvim  - A febre e a mariposa, Ed. Patuá, 2018.

Artur Gomes - Além da poesia em verso, já exercitou ou exercita outra forma de linguagem com poesia¿

Beth Brait Alvim  - Sim: prosa poética, nos dois últimos livros; apresentações dramatizadas e improviso, o que tem me inspirado a experimentar formas diferentes de oralidade poética. Há quase um ano participo como poeta convidada de performances da Orquestra Spio. sob a direção de Daniel Carrera. Apresentamos operetas temáticas em vários espaços convencionais e alternativos, num jogo fascinante entre música, dança, teatro, vídeo arte e poesia. O título da montagem mais recente é Iracunda, a Ópera do Silício.

Artur Gomes - Qual poema escreveu quando teve uma pedra no meio do caminho¿

Beth Brait Alvim  - Do livro Visões do medo, 2007, Escrituras Ed.

Eu quero

meu útero seco banhado pelas águas das andorinhas
                              a lua em frente
um antro de poetas mortos nas asas do meu cérebro

a tramontana de Portbou rangendo nas travas das câmaras de gás
a transfusão do câncer que tritura minha mãe

eu quero verter lixo tóxico
pra ver se meu sangue limpo
respira por mim

Artur Gomes - Revisitando Quintana: você acha que depois dessa crise virótica pandêmica, quem passará e quem passarinho?

Beth Brait Alvim  - Todos os que sobrarmos deveríamos passar, espero, a um nível superior de humanidade. Abaixo os ególatras, os fascistas e os consumistas individualistas. Abaixo a sociedade do lucro.

Artur Gomes - Escrevendo sobre o livro Pátria A(r)mada, o poeta e jornalista Ademir Assunção, afirma que cada poeta tem a sua tribo, de onde ele traz as suas referências. Você de onde vem, qual é a sua tribo?

Beth Brait Alvim  - Entendo que o  ‘enquadrar-se’ em alguma tribo facilitaria minha inserção e minha divulgação como poeta. Mas prefiro a solidão. O convívio com outros poetas e escritores só se dá quando sigo meus impulsos amorosos e intuitivos e, daí, não enlouqueço e não amargo esse meu ofício. Escolhi e me sinto livre assim, ao invés de me preocupar em frequentar os círculos de auto promoção que pululam no meio literário. Mas sou pluritribal, diria. Sinto-me andarilha, e meu desejo em flanar muito mais é quase visionário. Por este espírito, me sinto próxima dos beats e dos surrealistas. “Minha casa é andarilha/sou mundo/ e o disfarce/ilha”. (Do livro bilíngue português-espanhol  No topo do nada ou Carta para Sabines, Ed. Penalux, a sair pós pandemia,  tradução e arte de Floriano Martins).

Artur Gomes - Nos dias atuais o que é ser um poeta, militante de poesia¿

Beth Brait Alvim  - É sobreviver. A poesia me faz viva.

Artur Gomes - Que pergunta não fiz que você gostaria de responder¿

Você é feliz?

Beth Brait Alvim - Não sei. E isso não é tão importante assim... Beijo grande, poeta.


Fulinaíma MultiProjetos
(22)99815-1268 – whatsapp
EntreVistas – www.arturgumes.blogspot.com

3 comentários:

  1. Artur Gomes... que conheci com os nossos cabelos ainda não tintos de branco... que admiro e que me dá ânimo e luz. Você é uma luz, na verdade. Que gostosa essa entrevista... Essa minha foto estava te esperando. Gratidão.

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  2. Adoro esse diálogo. Esses poetas viverais que nos fazem deitar nos laços da poesia. Fruto infinito que nos alimenta. Líquido que sacia e nos completa. Assim somos uno. Serpente angelical a procurar aonde estão as visões do medo. Abrir poesias como se fosse nosso último desejo e salvação. Adoro esses diálogos. Saudações ancestrais.

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    1. E Eu adoro "ouvir" pessoas que amo e que amam a poesia. Abraços enormes, José.

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